Porque eleições antecipadas no Egito?

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Por Mahmoud Fouly*Xinhuanet, China. Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu.

A decisão do presidente interino do Egito, Adly Mansour, anunciada domingo, de realizar eleições presidenciais antes das eleições parlamentares, “pode aliviar pressões estrangeiras” contra o Egito relacionadas ao mapa do caminho do atual governo apoiado pelos militares, dizem alguns especialistas em segurança.

Nações estrangeiras estão encarando o Egito como estado “acéfalo”, porque tem presidente provisório e governo de transição; nesse contexto, a decisão sobre antecipar eleições dará ao Egito mais peso e mais credibilidade nas relações com a comunidade internacional – disse Gamal Salama, diretor do Departamento de Ciência Política na Universidade de Suez.

Salama observou que a decisão aliviará pressões de estrangeiros sobre o Egito, na implementação de seu mapa do caminho para o futuro, depois da derrubada do presidente islamista, Mohamed Mursi, por golpe militar, em julho de 2013.

O presidente interino assinou também no domingo um decreto presidencial, baseado na Constituição recentemente aprovada, no qual ordena que a comissão eleitoral comece, no prazo de 90 dias, os procedimentos para a eleição.

Eleições presidenciais antes das eleições parlamentares podem acelerar o processo de cristalizar uma personalidade egípcia, no relacionamento com outros países – disse Salama em entrevista à rede Xinhua.

A decisão também teve efeito interno positivo, segundo o especialista; para ele (…) a mentalidade egípcia tende a acreditar no poder do presidente, mais que em qualquer outra autoridade.

A decisão de antecipar as eleições presidenciais e o decreto foram noticiados um dia depois que egípcios pró-militares organizaram manifestações de massa para comemorar o 3º aniversário do levante popular que derrubou o governo do ex-presidente Hosni Mubarak.

Durante as celebrações do sábado (25/1/2014), houve confrontos em todo o país, entre manifestantes antigoverno, tanto islamistas como secularistas, e forças de segurança, que dispersaram várias passeatas e tentativas de organizar bloqueios à passagem de pessoas e veículos [orig. sit-ins], deixando 49 mortos e cerca de 250 feridos. No sábado, a polícia também prendeu mais de 1.000 suspeitos de apoiar Mursi e manifestantes de grupos de esquerda acusados de incitar tumultos e violência.

Na 6ª-feira (24/1/2014) e no domingo (26/1/2014), houve atentados terroristas contra prédios e pessoal da polícia, inclusive várias explosões, na capital, Cairo, em Suez e no Sinai, que mataram pelo menos 20 pessoas e feriram cerca de 120.

Yousri al-Azabawi, pesquisador do Al-Ahram Center for Political and Strategic Studies, concorda com Salama, e também entende que modificações no mapa do caminho no que se refere à ordem das eleições podem, sim, “aliviar as pressões estrangeiras sobre o Egito”.

A decisão também pode reduzir o tamanho do financiamento para a Fraternidade Muçulmana de Mursi, já declarada organização terrorista – disse Azabawi em entrevista à rede Xinhua.

Para Azabawi, a realização de eleições livres e justas para eleger um presidente dará ao eleito e às forças de segurança “chance real no enfrentamento contra o terrorismo e para adotar procedimentos mais efetivos apoiados pela população egípcia”.

Mas Azabawi entende que fazer eleições presidenciais antes das eleições parlamentares “dificilmente afetará a Fraternidade Muçulmana ou fará diminuir os protestos antigoverno que organizam regularmente”. Para ele, “muitos ainda acreditam na possibilidade de reconduzir Mursi à presidência”.

Eleger um novo presidente enviará mensagem forte à comunidade internacional, de que o Egito está, sim, implementando seu mapa do caminho pós-Mursi, com vistas a construir um estado forte, civil e democrático – disse à rede Xinhua o general Mohamed Okasha, especialista em segurança.

Sobre a popularidade entre os egípcios do chefe militar e Ministro da Defesa, general Abdel-Fattah al-Sisi, e rumores de que se candidará à eleição presidencial, Okasha disse que “as urnas terão a palavra final”.

Mahmoud Fouly é correspondente do Xinhuanet no Egito.

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