Por que EUA e UE querem impor sanções contra a Líbia?

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Andrei Fedyashin – Voz da Rússia- 19/10/2014
Líbia, EUA, Kadhafi, UE

Foto: RIA Novosti/Andrey Stenin

Os Estados Unidos e a União Europeia ameaçaram com sanções aqueles que “ameaçam a paz, segurança e estabilidade na Líbia”. A respectiva declaração conjunta foi adotada por França, Itália, Alemanha, Reino Unido e EUA.

A ameaça de sanções foi aprovada pouco antes do terceiro aniversário da conclusão da “vitoriosa” “intervenção humanitária” dos Estados Unidos e da OTAN. Foi justamente sob o pretexto de “salvar a população” que Paris, Londres e Washington começaram a bombardear em março de 2011 as tropas de Kadhafi e a auxiliar a oposição radical islâmica na guerra civil contra Trípoli. Entretanto, foi completamente distorcido o significado da resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 1973 sobre a Líbia, e em vez de ajuda humanitária Washington e a União Europeia se envolveram numa guerra civil.

Agora a Líbia. De fato, não existe como estado. O último acorde da “intervenção humanitária” na Líbia foi o assassinato brutal do antigo líder líbio Muammar Kadhafi em Sirte, em 20 de outubro de 2011, e depois também de seu filho. Ambos foram literalmente despedaçados pela multidão.

No caso da Ucrânia, as sanções do Ocidente contra a Rússia são explicáveis: Moscou está defendendo os direitos da população de língua russa no país vizinho e irmão, tendo atrapalhado os planos dos Estados Unidos de uma rápida “amputação da Ucrânia”. E a irritação de Washington resultou em sanções.

Ora na Líbia não está claro contra quem será lançado o mecanismo de proibições e restrições. O parlamento e o governo da Líbia foram expulsos por grupos islamistas para mil quilômetros de Trípoli, para Tobruk, uma cidade perto da fronteira com o Egito. Eles estão pedindo ajuda ao Ocidente, de modo que as sanções claramente não se destinam a eles. E contra os grupos de oposição radical nenhumas sanções funcionarão. Muitos deles estão estreitamente ligados ao Estado Islâmico que já capturou metade do Iraque e parte da Síria.

Os Estados Unidos e a União Europeia prometeram à Líbia ajuda, dinheiro, assistência na construção de “instituições democráticas”. Nada disso foi feito, e a Líbia hoje é uma cópia exata da Somália, composta de pequenos pedaços muito diferentes, mas na costa do Mediterrâneo.

Lá, já há três anos continua uma guerra civil de radicais islâmicos contra os restos das tropas do governo. Já foram capturadas Trípoli e muitas outras cidades, campos de petróleo muito importantes no país da África mais rico em hidrocarbonetos. A culpa pelo colapso completo da Líbia é principalmente do Ocidente, e especialmente dos Estados Unidos: Muammar Kadhafi foi derrubado, mas nenhuma ajuda foi prestada à Líbia na organização de infraestruturas do estado, do próprio estado, das estruturas iniciais de poder. Mas não podem introduzir sanções contra si próprios, nota o analista Alexander Kuznetsov:

“Na Líbia, nos últimos três anos mudou apenas uma coisa – a Líbia não existe mais. Nos três anos após a morte de Kadhafi aconteceu uma destruição absoluta do estado. Estamos vendo no país mais uma eclosão da guerra civil. Ela ora se acalma, ora se amplifica. Não existe nenhum plano real para normalizar a situação. E, mais importante ainda, não foram elaborados instrumentos reais para a normalização. A Líbia não tem instituições governamentais normais, mas têm uma supermilitarização da população”.

Em torno de Muammar Kadhafi foram inventados tantos mitos e embrulhadas tantas mentiras que muitos já nem sequer se lembram do que exatamente Kadhafi fez com a Líbia e para a Líbia, acredita a vice-presidente do Comitê de Solidariedade com os povos da Líbia e da Síria, Daria Mitina:

“Ele foi um homem que realmente fez seu país próspero. Tendo ganho na revolução, e note-se que foi sem sangue, há mais de 40 anos, ele conseguiu não só se manter no poder, mas organizar uma vida digna para os líbios num país, que antes dele era apenas um pedaço de deserto com três cidades do litoral. Isso pouco parecia um estado. Mas com a chegada de Kadhafi, com a derrubada do rei-marioneta Idris, a Líbia se tornou um estado-nação”.

A descrença em ajuda do Ocidente está agora forçando o governo do país a procurar ajuda e apoio entre parceiros de longa data da Líbia na construção econômica. O primeiro-ministro líbio Abdullah al-Thani disse em 20 de outubro que ele e alguns membros do governo pretendem visitar a Rússia no final de outubro ou no final de novembro. Segundo ele, a Rússia é o principal parceiro na reformatação do Exército da Líbia. “Cerca de 80% das armas do exército líbio provêm da Rússia ou de países da CEI. Nós acreditamos que é preferível desenvolver relações com a Rússia, pois as armas russas são as mais comuns entre nós”, disse al-Thani.

A Líbia ainda não pediu qualquer ajuda à Rússia. Segundo o primeiro-ministro líbio, a Rússia pode ajudar em primeiro lugar na reconstrução da infraestrutura do país no rearmamento do Exército. A Líbia tem projetos conjuntos com a Rússia nas áreas de estradas de ferro e de petróleo e gás, e al-Thani disse que para empresas russas estas áreas estão abertas.

http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_10_20/Porqu-EUA-e-UE-querem-impor-san-es-contra-L-bia-1077/
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