Pepe Escobar: Tudo calmo (em pânico) no Front Ocidental

Share Button

“Os propagandistas superstar de Davos são apenas vassalos bem-remunerados”, escreve Pepe Escobar sobre o fórum econômico global

www.brasil247.com - Fórum Econômico de Davos

Fórum Econômico de Davos (Foto: Reuters)

Por Pepe Escobar 

 As sombras vêm caindo/ Passei o dia todo aqui/ Está quente demais para dormir/ E o tempo passa rápido/ Parece que minha alma/ Virou aço/ Ainda tenho as cicatrizes/ Que o sol não curou/Não há nem espaço suficiente/ Para estar seja onde for/ Senhor, ainda não escureceu/Mas não vai demorar

 Bob Dylan, Not Dark Yet

Luzes! Ação! Reset!

A mídia convencional do coletivo ocidental, em uníssono, passará a semana urdindo narrativas intermináveis, usando todas as “notícias” dignas de serem publicadas para exaltar as novas declinações do Grande Reset, rebatizado de a Grande Narrativa, mas, na verdade, apresentado como uma oferta benigna do “capitalismo de acionistas”. Essas são os principais pontos da suspeitíssima plataforma de uma suspeitíssima ONG registrada em Cologny, um subúrbio chique de Genebra.

A lista dos participantes de Davos foi devidamente vazada. Proverbialmente, temos aí um festival de Excepcionalistas Anglo-Americanos, onde não faltaram nem os chefões da inteligência, como a  Diretora do Serviço Nacional de  Inteligência dos Estados Unidos,  Avril “Madame Tortura” Haines, o chefe do MI6, Richard Moore, e o diretor do FBI, Christopher Wray.

Uma remixagem das Enciclopédias de Diderot e D’Alembert poderia ser escrita sobre a patologia de Davos – onde uma polpuda lista de multibilionários, chefes de estados e queridinhos do mundo corporativo (de propriedade da BlackRock, Vanguard, State Street e companhia) “se engajam” em vender pacotes de Distopia Demente às massas ingênuas.

Mas vamos direto ao ponto e foquemos alguns poucos painéis que ocorrerão na semana que vem – que poderiam facilmente ser confundidos com sessões de Direto ao Inferno.

A lista para terça-feira, 17 de janeiro, é particularmente atraente. Dela constam o painel “Desglobalização ou reglobalização?”, tendo como oradores  Ian Bremmer, Adam Tooze, Niall Ferguson, Péter Szijjártó e Ngaire Woods. Três Atlanticistas/Excepcionalistas se destacam, em especial o ultra-tóxico Ferguson.

Depois de  “Em Defesa da Europa”,  trazendo um bando de nulidades, entre elas Andrjez Duda, da Polônia, os participantes serão saudados com uma Sessão Especial no Inferno (sinto muito, Rimbaud), estrelando ninguém menos que a dominatrix da Comissão Europeia  Ursula von der Leyen, conhecida da vasta maioria dos alemães como Ursula von der Leichen (“Ursula dos Cadáveres””) em dupla com o mentor intelectual do Fórum Econômico Mundial e emulador do Terceiro Reich  Klaus “Nosferatu” Schwab.

Correm boatos de que Lúcifer, em sua privilegiada morada subterrânea, está verde de inveja.

Há também “Ucrânia: o que vem a seguir?”, com um outro bando de nulidades, e “Guerra Na Europa: Ano 2”, estrelando a menina politicamente correta da Moldávia  Maia Sandu e a garota festeira finlandesa Sanna Marin.

Na sessão dos Criminosos de Guerra, o prêmio vai para “Uma Conversa com Henry Kissinger: Perspectivas Históricas sobre a Guerra”, onde o Dr. K irá vender sua marca registrada, as permutações  do Dividir para Dominar. Uma dose adicional de enxofre será fornecida pelo estrangulador de Tucídides  Graham Allison.

Em sua Fala Especial, o Primeiro-ministro Olaf Scholz, o “Salsichão de Fígado”, estará ao lado de Nosferatu, esperando não ser – literalmente –  grelhado.

Então, na quarta-feira, 18 de janeiro, vem a apoteose: “A Restauração da Segurança e da Paz”,  sendo os oradores Fareed Zakaria – o homem pardo de estimação do establishment dos Estados Unidos; Jens “Guerra é Paz” Stoltenberg da OTAN; Andrzej Duda – de novo; e a belicista canadense  Chrystia Freeland – que, segundo boatos, será a próxima Secretária-Geral da OTAN.

E fica ainda mais suculento: o comediante cocainômano posando de chefe guerreiro talvez entre via Zoom, de Kiev.

A ideia de que esse painel tem o direito de emitir juízos sobre “paz” merece nada menos que o Prêmio Nobel da Paz.

Como monetizar o mundo inteiro

Cínicos de todas as profissões de fé podem ser desculpados por lamentar que o Sr. Zircon  – atualmente em uma patrulha oceânica cobrindo os Oceanos Atlânico e Índico e, é claro, o Mediterrâneo “Mare Nostrum” – não venha apresentar seu cartão de visitas em Davos.

O analista Peter Koenig desenvolveu a convincente tese de que o Fórum Econômico Mundial, a Organização Mundial de Saúde e a OTAN talvez estejam encenando algum tipo de sofisticado culto à morte. O Grande Reset não se mistura bem com a agenda da OTAN como agente provocador, financiador e fornecedor de armas da guerra por procuração do Império contra a Rússia no buraco negro da Ucrânia. A OMAN – acrônimo para Organização Matadora do Atlântico Norte – seria, neste caso, um nome mais adequado.

No resumo de Koenig, “A OTAN entra em qualquer território onde a máquina de mentiras da mídia “convencional” e da engenharia social venham fracassando, ou não completando de forma suficientemente rápida os objetivos de ordenamento de pessoas”.

Em paralelo, são muito poucas as pessoas que sabem que em 13 de junho de 2019, em Nova York, um acordo secreto firmado entre a ONU, o Fórum Econômico Mundial e um batalhão de ONGs armadas por oligarcas, com a Organização Mundial de Saúde na linha de frente – e, por último, mas não menos importante – as maiores corporações do mundo, todas de propriedade de um labirinto interligado, tendo a Vanguard e a BlackRock ao centro.

O resultado prático do acordo é a Agenda da ONU para 2030.

Praticamente todos os  governos da região do OTANistão  e o “Hemisfério Ocidental” (definição cunhada pelo establishment dos Estados Unidos) foram sequestrados pela Agenda 2030 – que se traduz, essencialmente, como acumular, privatizar e financializar todos os bens da terra a pretexto de “protegê-los”.

Tradução: a marquetização e a monetização de todo o mundo natural (ver, por exemplo, aqui, aqui e aqui.)

Os propagandistas superstar de Davos, tais como o insuportavelmente chato Niall Ferguson, são apenas vassalos bem-remunerados: intelectuais ocidentais formados em Harvard, Yale e Princeton, que jamais ousariam morder a mão que os alimenta.

Ferguson acaba de escrever uma coluna sobre a Bloomberg intitulada “Tudo não está Calmo no Front Ocidental” – para, basicamente, tentar vender o risco da Terceira Guerra Mundial em nome de seus senhores, culpando a China, é claro, “a China como o arsenal da autocracia”.

Em meio a uma série de vacuidades arrogantes, esta se destaca. Ferguson escreve: “Há dois problemas óbvios com a estratégia dos Estados Unidos  (…) O primeiro é que se os sistemas algorítmicos de armamentos são equivalentes a armas nucleares táticas, Putin pode, futuramente, ser levado a usar estas últimas, uma vez que ele claramente não possui os primeiros”.

Ignorância, aqui, é um eufemismo. Ferguson, obviamente, não faz a menor ideia do que venham a ser  “armamentos algorítmicos”. Se ele está se referindo à guerra eletrônica, os  Estados Unidos talvez tenham conseguido manter superioridade por algum tempo na Ucrânia, mas isso acabou.

Bem, isso é típico de Ferguson – que escreveu toda uma hagiografia sobre os Rothschild muito parecida com essa coluna, bebendo na fonte dos arquivos Rothschild que parecem ter sido sanitizados, já que ele não sabe nada de importante sobre sua história.

Ferguson “deduziu” que a Rússia é fraca e a China é forte. Bobagem. Ambas são fortes – e a Rússia é mais avançada tecnologicamente que a China em seu desenvolvimento de mísseis ofensivos e defensivos, e conseguiria derrotar os Estados Unidos em uma guerra nuclear, uma vez que a o espaço aéreo russo é selado por camadas de defesas, que vão desde  o  S-400 até os já testados  S-500s e o projeto dos  S-600s.

No que se refere aos chips semicondutores, a vantagem de Taiwan é a produção em massa dos chips mais avançados, mas a China e a Rússia conseguem fabricar os chips necessários para uso militar, embora não para produção comercial em massa. Os Estados Unidos contam com uma vantagem comercial importante com relação a Taiwan, mas não se trata de uma vantagem militar.

Ferguson entrega o jogo quando se lamuria da necessidade de “deter uma combinação nascente  do tipo Eixo entre Rússia, Irã e China, que coloca o risco da criação de três áreas de conflito simultâneas: Leste Europeu, Oriente Médio de Extremo Oriente”.

Aqui temos a típica demonização atlanticista dos três maiores vetores da integração eurasiana misturados a um coquetel tóxico de ignorância e arrogância: é a OTAN que vem atiçando o “conflito” no Leste Europeu, e é o Império que vem sendo expulso do “Extremo Oriente” (ah, que coisa mais colonial!) e, em breve, também do Oriente Médio (na verdade, Oeste Asiático).

Um conto do AMGOT

Ninguém com um QI mais alto que a temperatura ambiente espera que Davos, na semana que vem, discuta com seriedade quaisquer aspectos da guerra existencial da OTAN contra a Eurásia – e muito menos, que venha a propor uma solução diplomática. Portanto, deixarei vocês com mais uma típica e indecorosa história sobre como o Império  – que manda em Davos – lida na prática com seus vassalos.

Quando estive na Sicília, no início deste ano, fiquei sabendo que um valiosíssimo ativo do Pentágono havia aterrissado em Roma, às pressas, como parte de uma visita não programada. Poucos dias depois, a razão da visita foi divulgada no La Repubblica, um dos jornais do tóxico clã Agnelli.

Tratava-se de uma tramoia da Máfia: uma “sugestão”, feita cara a cara, de que o governo Meloni fornecesse a Kiev, imperativamente, o caríssimo sistema de mísseis  anti-Samp-T, desenvolvido por um consórcio europeu, o  Eurosam, unindo a MBDA Itália, a MBDA França e a Thales.

A Itália possui apenas cinco baterias desse sistema, não exatamente brilhante contra mísseis balísticos, mas eficiente contra mísseis cruzeiro.

O Consultor de Segurança Nacional Jake Sullivan já havia ligado para o Palazzo Chigi para anunciar “a oferta impossível de recusar”. Ao que parece, a oferta não bastou, daí a viagem às pressas do enviado. Roma terá que andar na linha. Se não… Afinal, não se esqueçam da terminologia empregada pelos generais americanos para designar a Sicília e a Itália como um todo: AMGOT- American government occupied territory (território ocupado pelo governo dos Estados Unidos).

Divirtam-se com o show de horrores de Davos.

(Tradução de Patricia Zimbres)

Fonte: Brasil 247

Share Button

Deixar um comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.