Para livrar-se do EUA-dólar, China avança nos testes da moeda digital soberana

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6/5/2020, Drago Bosnic, Fort Russ

PEQUIM – Conforme a China expande-se globalmente, buscando autonomia financeira significativa e menor dependência dos EUA, em plena guerra comercial com Washington, o país já há muito tempo procura livrar-se do sistema financeiro dominado pelo EUA-dólar. Finalmente, depois de anos de esforços, a China prepara-se para pôr em operação a primeira moeda digital soberana do mundo, e-RMB, ou DCEP, Digital Currency/Electronic Payments [“Moeda Digital/Pagamentos Eletrônicos”

O Banco Central da China lançou um programa experimental em quatro cidades – Shenzhen, Suzhou, Xiongan e Chengdu – para testar o uso de sua moeda digital, que deve incorporar alguns traços de criptomoedas, mas sem o anonimato desses ativos digitais, o Instituto de Pesquisa para Moeda Digital do Banco do Povo da China [ing. Digital Currency Research Institute of the People’s Bank of China] confirmou para The South China Morning Post (SCMP).

A confirmação veio depois que matérias jornalísticas dispararam uma onda de imagens pelas mídias sociais, que mostravam uma carteira DCEP. O teste da DCEP será direcionado para pequeno grupo de bancos e utilizadores finais, antes de ser expandido para maior âmbito, conforme se introduzam as necessárias melhorias na tecnologia e no sistema.

O que se sabe é que haverá três principais diferenças entre a DCEP e as criptomoedas já existentes, como a bitcoin, segundo Terry Liu, CEO da empresa VoneChain Technology, de consultoria para blockchain com sede em Xangai, citado pela [revista] Wired UK. Primeiro, que a Bitcoin is “mined” [a fonte é descentralizada e controlada por um algoritmo; e a fonte da DCEP chinesa é garantida e centralizada pelo governo].

Em segundo lugar, a tecnologia subjacente é diferente. A contabilidade do blockchain (?) será controlada pelo governo e não será distribuída ao longo do sistema. E em terceiro lugar, operará como moeda normal e será integrada no sistema comercia – diz a mídia, citando Terry Liu.

O início da moeda digital chinesa foi amplamente comentada e surge contra o pano de fundo de guerra de palavras em plena escalada, com os EUA. Em plena pandemia global do COVID-19 e hecatombe econômica que a pandemia deflagrou, os EUA só fazem subir o tom das acusações contra a China, pretendendo que os chineses teriam ocultado os números iniciais do surto, e não teriam sido transparentes na informação sobre o número de mortos.

Mais recentemente, houve declarações dos EUA, sem qualquer prova, de que o vírus teria sido gerado num laboratório em Wuhan, onde o surto começou, em dezembro de 2019. A China desmentiu enfaticamente as especulações, como “acusações sem qualquer fundamento”.

A China tem tentado livrar-se da exigência de pagamentos em dólares, que permitem que Washington imponha sanções punitivas unilaterais contra empresas, servindo-se da ameaça de excluí-las do sistema SWIFT de compensação internacional em dólares.

O sistema DCEP, como parte do posterior desenvolvimento de um sistema de compensações internacionais baseado no RMB pode servir para compensar o que Pequim chama de “usar o EUA-dólar como arma de guerra”, como ferramenta de política exterior, noticiou o China Daily de 24 de abril.

“Uma moeda digital soberana garante uma alternativa funcional ao sistema de pagamentos internacionais em dólares, e anula o impacto de quaisquer sanções ou ameaça de exclusão, seja contra países seja contra empresas” – diz o China Daily.

A crise COVID-19 em curso, com seus protocolos de distanciamento social e pagamentos “sem contato físico”, pode também ampliar o apelo à moeda digital chinesa. O lançamento da Libra Facebook no início desse ano também é considerado um dos fatores que acelerou o desenvolvimento da DCEP.

Antes, Pequim tomou várias medidas para globalizar e promover o status do yuan de modo a torná-lo correspondente ao futuro e às dimensões da economia chinesa, embora essas ambições não fossem isentas de graves desafios. Em primeiro lugar e sobretudo, autoridades chinesas restringiram a conversão do yuan e a saída de capitais.

Embora sem regular a convertibilidade do yuan para pagamentos comerciais, a China impõe restrições à conversão para transações de capital, como se lê em Asia Times, citando pesquisador do Korea Center for International Finance.

“Fundamentalmente falando, para que o yuan seja globalizado, é preciso que tenha valor estável, e tem de haver ativos de boa qualidade em yuan, para que os investidores detentores de yuan possam obter lucros em yuan… Se não for assim, o yuan não interessará a ninguém” – disse Lee.

Agora, muitos especialistas veem o lançamento da moeda digital chinesa como parte de um projeto chinês de longo prazo para apoiar a globalização do yuan.

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga


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