Palestina: Um pavio chamado Sheikh Jarráh 1

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Sheikh Jarrah families' 50-year battle for homes - The Jerusalem Post

Por Gilberto Feres Abraão

Cena rápida, de um ato só: Uma mulher palestina, parada no pátio defronte à sua casa em Sheikh Jarráh, grita raivosamente para um colono israelense, num inglês escolar:

You are stealing my house! (Você está roubando minha casa!)

O colono judeu, barbudo, encorpado, robusto, de um metro e noventa, continua caminhando ameaçadoramente em direção à casa e responde num perfeito inglês nova iorquino, que identifica sua origem:

If I don’t steal your house, someone else’s gonna steal it! (Se eu não roubar a sua casa, algum outro (judeu) vai roubá-la).

Cai o pano e fecham-se as cortinas.

Isso não é ficção, não é uma peça teatral. E a cena real de um vídeo que correu o mundo e viralizou pela internet.
Outras casas em Sheikh Jarráh já vinham sendo tomadas dos palestinos à força, pelos colonos judeus.

Sheikh Jarráh é um pequeno bairro que fica a quinhentos metros do Portão de Damasco em Al Quds (Jerusalém) Velha. Habitado por palestinos muçulmanos e cristãos há séculos. O bairro leva o nome do médico pessoal de Salah Ed din (Saladino), o grande comandante muçulmano que libertou Al Quds (Jerusalém) do domínio dos cruzados em 1187.

Desde que Israel – a entidade sionista –  tomou a parte oriental de Al Quds, os vários governos têm despejado famílias palestinas de suas centenárias casas para nelas estabelecer colonos judeus vindos da Europa Oriental. Com o governo fascista e racista de Benyamin Netanyahu a expulsão dos palestinos aumentou.

No fim do mês de Ramadan foi a gota d’água. Ou a palha que quebrou a espinha do camelo, como dizem os árabes. Paralelamente aos despejos, em Sheikh Jarráh, havia o conflito entre palestinos e colonos judeus no pátio da Grande Mesquita Al Aqsa. Os judeus sionistas querendo invadir o templo e conspurcar o lugar sagrado, como já tinham feito inúmeras vezes, e os palestinos tentando impedi-los.

Nos dois episódios – o de Sheikh Jarráh e o da Al qsa – houve agressões e mortes de palestinos. Foi aí, então, que aquele tiquinho de terra chamado Gaza, bloqueado por terra, ar e mar pelo regime sionista, se revoltou e saiu em defesa dos irmãos da Margem Ocidental do Jordão. Começaram a despejar foguetes nas cidades e colônias israelenses. A resposta do regime sionista, que é, sem dúvida, a maior base militar americana do mundo, foi e está sendo violenta e desumana. Israel simplesmente bombardeia casas e edifícios residenciais em Gaza, na tentativa de atemorizar a população gazense e silenciar a resistência palestina do minúsculo território (365km²). Há um vídeo de um prédio de 12 andares sendo bombardeado e posto ao chão como se fosse feito de areia. No mínimo trinta famílias pereceram.

Mas a estratégia dos sionistas foi em vão. A violência deles atiçou ainda mais a revolta dos palestinos em todos os territórios. E a grande surpresa foi a participação dos palestinos que ficaram na Palestina ocupada depois de 1948. As populações de Lod, Ashkelon,  Haifa, Jaffa, Umm el Faham, Nazaré e outras, revoltaram-se com a mesma intensidade e fúria que as cidades da Margem Ocidental do Jordão. A bandeira israelense foi arrancada de alguns prédios e substituída pela bandeira palestina. Carros policiais israelenses queimados, edificações governamentais atingidas pelos foguetes da resistência, corpo a corpo entre a população palestina e as forças sionistas. Houve o martírio de muitos palestinos e a morte de alguns judeus.

Está havendo uma revolta como nunca dantes experimentada pela entidade sionista desde a sua fundação na Palestina em 1948. Isso está deixando as autoridades israelenses profundamente preocupadas. Eles sabem que está em jogo a existência dessa entidade que foi criada pelo imperialismo ocidental para policiar os árabes. Eles pensam que se não conseguem derrotar aquele minúsculo pedacinho de terra que se chama Faixa de Gaza, como farão se o Irã, o Hezbollah, a Síria (apesar de enfraquecida), o Iraque e até o Iêmen. Imaginem, até o Iêmen tem misseis que podem alcançar a planta nuclear de Dimona no Deserto de Neguev.

Mas a mãe de todas as surpresas foi a solidariedade das nações ocidentais para com o povo palestino. Cem mil manifestantes saíram às ruas de Londres, Washington, Nova Iorque, Chicago, Paris, Berlim, Milano, Madri, Bruxelas, Sidney, etc.

Até aqui no Brasil, apesar do governo baba-ovo de Israel, houve manifestações pró-palestinas e antissionistas nas principais cidades brasileiras.

A preocupação do Estado Sionista é densa e dramática. Estão perdendo a simpatia que gozavam do Ocidente, até mesmo dos Estados Unidos. Os ventos começaram a soprar a favor dos palestinos. Será que não seria o espírito de Sheikh Jarráh, o médico particular de Saladino, que oito séculos e meio depois da primeira libertação de Jerusalém (Al Quds) do jugo dos cruzados, voltou para libertar a Cidade Santa de novo, do jugo dos sionistas?

 

Gilberto Feres Abraão, é escritor do Rio Grande do Sul.

 

 

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Um comentário sobre “Palestina: Um pavio chamado Sheikh Jarráh

  1. Responder Humberto Luiz Lima de Oliveira maio 17,2021 11:19

    Toda a solidariedade ao povo palestino, todo o repúdio ao imperialismo.

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