O massacre de Gaza e a mulher palestina

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Por Claude Fahd Hajjar

A estreita Faixa de Gaza de apenas 360km², onde vivem 2 milhões de palestinos, sobrevive aos massacres israelenses perpetrados indiscriminadamente contra crianças, mulheres e velhos.

Foi assim em 2008/2009, 2012 e agora, mais do mesmo, em 2014. O esporte preferido do Estado de Israel é massacrar palestinos. Estas agressões estão cada vez mais violentas e mais danosas à população e principalmente à mulher que é responsável pelo lar e pela manutenção da continuidade dentro do seio familiar.

 

A política do governo de Israel é indiferente com a população palestina. As mesmas políticas letais são aplicadas a homens, mulheres, meninos e meninas de forma indiscriminadas. No entanto, as mulheres sofrem problemas particulares. A pobreza causada pelo bloqueio faz com que 80% moradores de Gaza dependam da ajuda alimentar e que uma grande proporção deles sofra desnutrição e anemia.

 

Em Gaza, seja mulher ou homem, se sofre as mesmas consequências devido ao bloqueio e à ocupação. Nesta estrita faixa de terra é proibido sonhar com um futuro melhor, não é permitido ter a realização pessoal que o estudo e o trabalho proporcionam ao ser humano: o bloqueio imposto aos habitantes pelo “democrático” e “ moderno” Estado de Israel, transforma a vida das pessoas em uma prisão. Não flui a economia, não se realizam os projetos, não há acesso a cursos de mestrado e doutorado para os jovens universitários, as opções que existem são limitadas. Israel, há dez anos, proibiu os moradores de Gaza de estudarem na Cisjordânia. Assim como, o Egito durante o regime de Husni Mubarak( 1981-2011) impediu centenas de estudantes palestinos de solicitar bolsas de estudo em universidades estrangeiras, pois colaborava com o regime de prisão imposto por Israel e não permitia a saída dos jovens da Faixa de Gaza.

Os ataques selvagens e deliberados das forças israelenses às escolas em Gaza afetam mulheres e homens. E são a continuação do processo de asfixia proposto e executado por Israel para concluir a sua limpeza étnica. As limitações que as forças israelenses impõe às aspirações e desejos de uma grande massa populacional produz um sofrimento capaz de buscar soluções e vazão através da resistência, a esta cruel dominação e opressão.

A mulher palestina é a personificação da resistência, é forte, determinada, é o reflexo da constante luta do povo palestino, que sobrevive há 66 anos de ocupação e usurpação de seu território, de seus direitos universais, de seus sonhos e aspirações, de seu direito à soberania e à autodeterminação. É a mulher na Palestina que sofre com a morte ou prisão de seu marido ou filhos, é esta mesma mulher que tem que transformar a dor com a perda de seus filhos em força para continuar a resistir, a continuar a viver e continuar a ser a mola propulsora de toda a engrenagem familiar.

Em Gaza o ritmo da vida não é normal , as mulheres se adaptam a uma vida improvisada e anormal sob o bloqueio e a ocupação, muitas delas lutam no mundo pela igualdade no trabalho e para erradicar a violência de gênero. Mas para a mulher e a maioria das habitantes de Gaza, elas lutam pelos seus direitos mais básicos: uma vida sem privações. Viver em um pequeno pedaço de terra, onde as necessidades básicas como água potável, eletricidade regular, saneamento adequado e formas de laser não são atendidas, gera um sentimento de revolta , particularmente por ser provocado pelos contínuos ataques de um agressor ocupante e impiedoso, como é o caso de Israel.

O sofrimento das palestinas sob o sítio imposto aos moradores de Gaza há sete anos, durante e após o ataque de 23 dias de Israel no final de 2008, que deixou 1.400 pessoas mortas, entre elas 112 mulheres, ainda não se aplacou e as moradoras de Gaza continuam lutando para tentar acabar com sua dor e suas feridas causadas pela perda de filhos, maridos, familiares suas casas e seu sustento; e um novo ataque vem ceifar novas vidas e acabar com a ilusão desta população tão perseguida e amargurada por ter como vizinho um cruel usurpador de terras e de vidas como é Israel.

Mesmo as mulheres que tem acesso a educação universitária em Gaza convivem com problemas, para elas insolúveis, que são a pobreza e o desemprego causados pelo bloqueio. Relembrando que esta mulher é arrimo de família econômica, social e moralmente pois seu marido, pai ou irmão morreu , ou está preso, e ela necessita continuar cuidando de filhos, irmãos e mãe. As letais operações israelenses geram e intensificam a crescente pobreza com a qual convivem cotidianamente estas mulheres. A ausencia de oportunidade de trabalho para mulheres formadas e especializadas geram um desespero e uma impotência que atinge mais de 40% da população feminina desempregada.

Este patético sítio que afeta o cotidiano de todos, afeta especialmente as mulheres. Nos últimos anos, cada vez mais mulheres foram obrigadas a assumir a chefia da família porque seus maridos foram assassinados, estão em prisões israelenses ou desempregados por causa do bloqueio. Mas a maioria delas não tem meios para ganhar dinheiro, optando por trabalhos como a venda de produtos, artesanatos, isto é, uma forma alternativa de trabalho.

 

Assistimos pela TV ao massacre em Gaza, nos horrorizamos com a destruição de prédios, casas, hospitais, além das escolas, creches e bercários, e nos perguntamos como farão para sobreviver estas mulheres às destruições causada por bombardeios israelenses, insensíveis a qualquer dor que tenham inflingido à população. Como pode Israel esperar ter uma convivência pacifica com os palestinos quando se permite um massacre destas proporções?

Um informe do Centro Palestino de Direitos Humanos, sobre o sofrimento das mulheres de Gaza, destaca que as perspectivas não vão melhorar enquanto não terminar o sítio israelense e for permitida a atividade econômica normal. A consequência da terrível situação econômica conduz muitas mulheres e suas famílias a continuar caindo cada vez mais em uma profunda e atroz pobreza. Sofrem os horrores de uma guerra ilegal e agora vão buscar forças para sobreviver.

O recado que a mulher palestina envia ao mundo é: “Perdemos famílias e filhos e sofremos sob os bloqueios e ataques do exército de Israel. Carregamos todo o sofrimento de nosso povo, mas continuamos vivendo e resistindo”

 

*psicoterapeuta e pesquisadora de temas árabes, autora do livro” Imigração Árabe – 100 anos de Reflexão, Ícone Editora, 1985, S.P.

 

 

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