O boicote internacional como arma de luta

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Por Rafael Siemerink e Marcel Machiniski*.

Marwan Abdel-Al, líder da Frente Popular de Libertação da Palestina, em debate com militantes no Brasil**, expôs a visão de seu partido sobre o que ocorre na região árabe e seus impactos na questão palestina, além de responder às intervenções do público sobre a estratégia palestina para confrontar o imperialismo e o sionismo, para ele, os inimigos principais do povo palestino e que colocam em risco a luta deste povo.

Abdel-Al convocou os brasileiros a agirem para frear a penetração sionista na América Latina através de tratados econômicos e militares – como os feitos por governos estaduais do Brasil, como por exemplo o Rio Grande do Sul – observando que os latino-americanos sempre estiveram ao lado da justa causa do povo palestino.

Para Abdel-Al, o mecanismo internacional de boicote a Israel é uma das principais ferramentas  na luta contra o imperialismo e o sionismo do Estado israelense, uma vez que tal estratégia pode isolar o Estado sionista, além de ser um claro sinal de que os povos ao redor do mundo que apoiam a causa palestina, não ficarão em silêncio frente as injustiças cometidas há anos diariamente por Israel.

O líder político palestino, ainda condenou as negociações fúteis  – vide acordo de Oslo – e perigosas ações que distorcem a realidade dos fatos e os fundamentos da causa palestina. Abdel-Al ainda deixou claro que seu partido defende como inalienável o direito de retorno dos palestinos que foram expulsos de suas terras. Qualquer negociação que não tenha em pauta esse direito dos palestinos, é uma ” falsificação do conflito, e um assassinato da história e da realidade ”.

Vale lembrar que as alternativas palestinas não são exclusividades do Al-Fatah e Hamas, a FPLP, representa a saída legítima para o fim do conflito que já se estende por décadas. Críticos do fracasso de Oslo, do imperialismo, sionismo e das forças que representam o retrocesso na palestina e região.

Com base na explanação do representante da esquerda palestina e em tudo o que podemos conhecer, notamos que a questão da Palestina contínua longe de uma resolução plausível, desde então as tentativas de paz mais cooperaram para a deterioração da população palestina. Isso decorre de acordos, como os realizados em Oslo (1993), desde então o mais ambicioso e que mais expectativa  trazia para a região. Já passam vinte anos desde então e o que se nota é o descumprimento das resoluções por parte de Israel, o avanço dos assentamentos na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém.

Isso se reflete no pessimismo nas tentativas atuais de acordo realizadas pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos John Kerry , Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abba,s e o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Vale lembrar que justamente na gestão de Netanyahu de 1996 à 1998 como primeiro ministro pelo Likud , Partido da direita conservadora, que os descumprimentos dos Acordos de Oslo e o afastamento de diálogo contínuo foram propositalmente realizados.  A simulação de paz de Kerry não tem avançado, ao contrário dos assentamentos, esses sim avançam diariamente, justamente por ele transitar na questão evitando ao máximo entrar em conflito com os interesses de seus maior aliado na região, Israel.

Não suficiente a disposição de diálogo mas não de acordo por parte de Israel, a questão da palestina tem sido colocada, erroneamente, como um impasse em decorrência da falta de interesse das autoridades palestinas e da ameaça constante de grupos terroristas atuantes dentro dos territórios palestinos, cooperando para a prejudicial imagem de normalidade do conflito e legitimando investidas dos militares israelenses nos territórios ocupados e a expansão das colônias.

A conjectura externa também tem sido um fator importante para o atraso de uma solução. Os episódios ocorridos nos países da região, na chamada primavera árabe, têm desviado os olhares das potências mundiais. Mesmo que historicamente, os palestinos terem arduamente aprendido em decorrência das divergências de interesses dos países árabes para a causa palestina, como visto no contexto da Primeira Guerra Árabe – Israelense (1948-1949), por exemplo, não podem aguardar a ajuda dos vizinhos e sim manter uma luta contínua de resistência. Porém os ocorridos nesses países da região, interfere diretamente na questão palestina.

Assim questões decorrentes dos episódios internos e externos afetam os palestinos. Por exemplo; como os novos governos se posicionarão em relação à causa palestina? Os governos que suportarem a investida externa dos grupos fundamentalistas islâmicos e imperialistas como na Síria, e em um futuro não distante, o Líbano, o Irã, estarão em condições de exercer uma pressão para a solução do conflito? Como os partidos palestinos estão absorvendo os ocorridos no âmbito externo?

Certamente os Estados Unidos e seus aliados ocidentais, as monarquias árabes e Israel, querem saber como os novos governos pensam a questão da palestina, de fato, o apoio ou não para estes novos governos e grupos “revolucionários”, depende diretamente desta e outras respostas.

Rafael Siemerink e Marcel Machiniski, formados em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA) e membros do Nelam (Núcleo de Estudos Latino Americanos) e PSI – OC (Projeto Solidariedade Internacional – Observatório de Conflitos)

** Aconteceu nesta última quinta-feira (20/02) o Debate com Dirigentes Revolucionários Palestinos na Livraria Marxista, em São Paulo, e contou com a presença do prof. Dr. Marcelo Buzetto, do setor de Relações Internacionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), e professor no curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André; Jadallah Safa, do Comitê Democrático Palestino no Brasil; Caio, da tendência Esquerda Marxista do Partido dos Trabalhadores; Ernesto, do Partido Comunista Brasileiro; e Marwan Abdel-Al, Birô político da FPLP (Frente Popular pela Libertação da Palestina). Além da presença de dezenas de militantes de esquerda e simpatizantes da causa palestina.

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