Juventude palestina e a “força da desobediência”

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16/10/2015,
Ben White, Middle East Monitor

Traduzido por Vila Vudu
Durante os primeiros nove meses de 2015, Israel matou 26 palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e feriu, em média, 45 palestinos por semana, todas as semanas. Na última quinzena, a média anual de palestinos assassinados mais do que duplicou, e o número de feridos fez explodir todos os gráficos.

No momento em que escrevo, 33 palestinos foram assassinados desde 1º de outubro – a ampla maioria por forças israelenses de ocupação em repressão a protestos, além dos assassinados em ataques ou supostos ataques contra israelenses.

Mais de 2 mil palestinos foram feridos, incluídos centenas com ferimentos por munição viva e balas de metal recobertas com borracha.

Dia 11 de janeiro, o ativista tunisiano Sadri Khiari escreveu uma breve reflexão sobre “a força da desobediência”. Começou por observar como, ao longo dos anos, encontrara para ler incontáveis estudos acadêmicos sobre a política da Tunísia, sobre a economia da Tunísia, sobre a ‘sociedade civil’ e a cultura da Tunísia –, nos quais sempre faltava uma e a mesma coisa: “o povo”.

O povo que desobedece. O povo que resiste, na invisibilidade da vida diária. O povo que, apesar de esquecido por tanto tempo, obriga o mundo a lembrar que ele existe e irrompe na história, sem prévio aviso.

Nas palavras de Khiari, “não há servidão voluntária”, apenas a espera impaciente que corrói a maquinaria da opressão. E nada há senão pressão sempre, dia a dia, minuto a minuto, até derrubar a Israel opressora.” As chamadas “concessões” são “quase sempre misturadas com indisciplina e rebelião; resistências moleculares que condensam e explodem à vista de todos quando chega a hora.”

Agora, a hora chegou, mais uma vez, mas ainda não se vê com clareza como andarão as coisas. Semana passada, sugeri que perguntar se estamos vendo nascer uma nova Intifada é deixar-nos distrair por nomes e definições: mais importante é montar quadro claro dos fatos em campo. E esses nos falam de “uma nova maré de revolta palestina que está subindo sem parar, ao longo dos anos recentes.”

A revolta hoje em curso caracteriza-se pela espontaneidade, a participação da juventude e a marginalização – ou aberta rejeição – do envolvimento de facções. Nas palavras de um pesquisador palestino especializado em movimentos de massa, trata-se de “nova geração de rebelião palestina”.

Mahmoud Abbas e as forças de segurança da Autoridade Palestina (AP), não surpreendentemente, não moveram um pé na promoção de levante mais amplo. Ao que se sabe, Abbas estaria planejando uma “ofensiva de Relações Públicas”, semana que vem, na televisão de Israel. Mas a AP não é alguma espécie de obstáculo a uma ampliação da revolta: é uma das razões de a revolta eclodir.

Jovens palestinos falam da necessidade de criar estruturas organizacionais “à parte do establishment político”, e dizem que, para que o levante não perca impulso, “redes de solidariedade comunitária e apoio horizontal” devem expandir-se “para converter-se em movimento social”.

Claro, a história pode ser mestra, mas também pode enganar terrivelmente. A Primeira e a Segunda Intifadas foram completamente diferentes em natureza, e pode-se revisá-las, sem jamais encontrar nelas quaisquer dicas de como identificar uma terceira – ou de como esse levante se desenvolverá.

Em vez de olhar para uma história das Intifadas, a rebelião hoje em curso pode ser mais bem entendida por uma outra cronologia: a que inclui os protestos de 15/3/2011, as manifestações do Dia da Nakba naquele mesmo ano, o ativismo das greves de fome e a campanha “Stop [o plano] Prawer” de 2013. Agora, em 2015, mais uma vez os jovens palestinos retomam a iniciativa, em todo o território de sua pátria histórica.

Essa semana, lembrei de artigo de Ameer Makhoul, prisioneiro político palestino, o qual, pensando sobre as revoltas árabes de 2011, de dentro de sua cela em Israel, surpreendia-se com descobrir como “numa ditadura, tudo vai sempre muito bem até os últimos 15 minutos.”

Nada disso deve soar como triunfalismo fatalista, mas fazer refletir sobre a realidade da qual falava Khiari. “Não há opressão sem resistência” – escreveu ele. – “É sempre o tempo distendendo-se mais depressa ou mais devagar, até que ecloda o inesperado – ou apenas ocultado até ali – heroísmo coletivo de um povo.”

Netanyahu, com seus apelos por ‘calma’ e ‘estabilidade’ busca um retorno à antiga ocupação calada, com a resistência palestina mantida ‘longe dos olhos’ dos israelenses e do mundo. Pelo menos, afinal, por enquanto, jovens palestinos decidiram desafiar Netanyahu.

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