Jihadistas do “Estado Islâmico” com armas europeias

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Mais de um terço dos armamentos usados pelo “Estado Islâmico” no Iraque e Síria vem de países europeus, inclusive Alemanha, mostra estudo de ONG. Autores alertam para perigo de fornecimentos num conflito tão complexo.

Syrien Kämpfer des Islamischen Staats

Uma parcela significativa das armas e munição do arsenal do grupo terrorista “Estado Islâmico” foi fabricada na União Europeia, demonstra um estudo publicado nesta quinta-feira (14/12) pela organização de localização de armas Conflict Armament Research (CAR).

No documento de 200 páginas, a ONG afirma que mais de 30% das armas empregadas pelos extremistas nos campos de batalha na Síria e Iraque vieram originalmente de fábricas na Bulgária, Romênia, Hungria e Alemanha. Rússia e China, por sua vez, produziram mais da metade dos armamentos em posse dos jihadistas.

O estudo Armas do “Estado Islâmico” é o resultado de três anos de pesquisa de campo pela CAR no Iraque e na Síria. De 2014 a 2017, as equipes analisaram mais de 40 mil itens coletados em postos na frente avançada do EI, incluindo armas, munição e componentes empregados na fabricação de artefatos explosivos.

Segundo o relatório, a maior parte dos armamentos dos jihadistas foi pilhada dos exércitos iraquiano e sírio. Em diversos casos, porém, foram parar nas mãos do grupo terrorista armas adquiridas de países do Leste Europeu pela Arábia Saudita e os Estados Unidos, e em seguida fornecidas às forças oposicionistas sírias.

“Essas constatações são uma forte advertência sobre as contradições inerentes a suprir armas a conflitos armados nos quais operam múltiplos grupos armados não estatais, que concorrem entre si e se superpõem”, aponta a CAR.

O documento detalha, ainda, como bilhões de dólares em armamentos foram comprados de nações europeias orientais e depois passados a milícias sírias, muitas vezes infringindo cláusulas contratuais:

“Muitas dessas transferências violaram termos de venda e exportação acordados entre os exportadores de armas – em primeira linha, Estados-membros da UE – e receptores na Arábia Saudita e nos EUA.”

Via EUA

Num dos casos, a CAR rastreou uma arma avançada antitanques produzida na UE, vendida aos EUA e então fornecida a um dos partidos do conflito sírio, antes de acabar em poder das forças do EI no Iraque – tudo isso apenas dois meses após o equipamento deixar a fábrica.

“Suprimentos internacionais de armas para facções do conflito sírio têm aumentado significativamente a quantidade e qualidade das armas disponíveis às forças do EI – em números muito superiores aos que estariam disponíveis ao grupo apenas através da captura em campo de batalha.”

Os pesquisadores ressaltam que as partes envolvidas nessas transferências com frequência tentam intencionalmente ocultar a procedência dos armamentos, mudando a embalagem e removendo as marcas de fábrica ou aplicando tinta por cima. Alguns dos dados coletados resultaram em processos criminais, como a investigação pela polícia belga sobre o fornecimento de partes para dispositivos explosivos improvisados.

O EI ocupou uma grande área no Iraque e Síria durante uma ofensiva-relâmpago em 2014. Embora desde então, o grupo tenha perdido a maior parte desses territórios, a CAR alerta que ele ainda representa uma ameaça, pois os milicianos adquiriram a capacidade de construir suas próprias armas, altamente sofisticadas.

“Combinado ao alcance global, capacidade logística e organizatória comprovada e recrutas dispostos por todo o mundo, esses fatores se traduzem numa capacidade exportável de praticar insurgência e terrorismo bem além da região”, conclui o relatório da Conflict Armament Research.


A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

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