Irã- sexteto: conversações nucleares à portas fechadas

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Irã, sexteto, política, negociações, programa nuclear

© Foto: Flickr.com/Österreichisches Außenministerium/cc-by

Por:Vladimir Sazhin

Em Genebra realizou-se a 11ª rodada de conversações sobre o problema nuclear iraniano, que durou cerca de oito horas e incluiu tanto uma sessão plenária, como consultas bilaterais e multilaterais. A atual ronda decorreu à porta fechada, a participação da imprensa não estava prevista em qualquer formato.

Os observadores tentam adivinhar o resultado da rodada de dezembro e, em geral, a etapa atual do processo negocial.

É necessário constatar desde já que as 10 rodadas de conversações do sexteto (cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha) com o Irã foram bem mais resultativas do que todos os 10 anos anteriores. Segundo Serguei Ryabkov, vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia e principal representante russo nas conversações, “quando em 24 de novembro terminou a rodada anterior, as partes estavam literalmente a dois passos do acordo. Sublinhámos isso várias vezes e não se trata de um exagero”.

Na realidade, está acordado quase 95% do texto do acordo abrangente. Conseguimos consenso sobre muitas questões. É verdade que restam 5%, os mais difíceis segundo os participantes do diálogo, e as questões não acordadas exigem um trabalho pormenorizado e profundo.

Precisamente por isso as partes chegaram ao seguinte acordo: são necessários mais 3 ou 4 meses para elaborar os parâmetros do acordo final e, depois, mais alguns meses para criar um pormenorizado complemento técnico ou adenda ao documento fundamental. Ou seja, a 11ª ronda da etapa do processo negocial pode terminar em finais de junho de 2015. No entanto, segundo as partes, essa etapa será a última. Foi isso que disse também o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov: “Junho parece uma data realista e não penso que será adiada”.

O facto de o sexteto e o Irã não terem pressa de assinar um documento “verde” até 24 de dezembro (como tinha sido anteriormente acordado), partindo do princípio que o importante é assinar até à data anunciada, é um facto positivo. E o principal é a qualidade e a compreensão clara de todas as partes do conteúdo do futuro documento. Porque o problema nuclear do Irã é extremamente complexo tanto do ponto de vista político, econômico, técnico, psicológico como de imagem.

Um grande problema continua a ser o algoritmo do levantamento das sanções contra o Irã. Este exige que todas as sanções sejam levantadas ao mesmo tempo da assinatura do acordo final. Claro que isso é irreal devido à complexidade do mecanismo de realização dos respetivos atos legislativos tanto no CS da INU, como nos parlamentos dos países que anunciaram sanções contra o Irã.

Irina Fedorova, politóloga e orientalista, comenta:

“Na via de solução do problema do levantamento das sanções, o principal obstáculo é a falta de confiança. E, antes de tudo, entre os EUA e o Irã. Por isso é bem lógico o facto de, nos últimos meses, ter lugar um ativo diálogo iraniano-americano. As partes tentam demolir os obstáculos do ódio que se acumularam em 35 anos de confronto no limiar da guerra. Claro que não se trata do restabelecimento de relações e nem sequer da cooperação oficial na luta contra a organização do “Estado Islâmico” (infelizmente!), mas da aproximação de posições para conseguir um resultado positivo nas “conversações nucleares”.

Tanto em Teerão como em Washingto querem muito isso. Os presidentes Hassan Rohani e Barack Obama, ao ligar o seu prestígio político com a solução do problema nuclear iraniano, fizeram apostas demasiadamente grandes. A oposição no Irã e nos EUA estuda minuciosamente todos os passos dados pelos seus presidentes na solução do problema nuclear para os acusar de traição dos interesses nacionais. No Irã e na América há muitos políticos que se manifestam contra quaisquer acordos entre os dois países.

Os negociadores iranianos e americanos estão entre a espada e a parede, entre a necessidade de avançar para compromissos reais nas conversações e a necessidade de apresentar esses compromissos como vitória da sua diplomacia perante a oposição interna. Pelos vistos, é por isso que o processo não anda tão depressa como o desejado, é por isso que as conversações decorrem frequentemente à porta fechada, em “rigoroso secretismo”, para não excitar os opositores. E isto talvez seja o mais correto.

No que diz respeito à 11ª rodada de conversações e ao processo negocial em geral, Serguei Ryabkov explicou isso muito bem: “Não considero que nós regularizemos e cheguemos a acordo sobre tudo amanhã ou na manhã de depois de amanhã. Mas o importante é que nos aproximámos do objetivo, não obstante as tentativas de alguns círculos porem em dúvida a necessidade desse acordo, introduzir nesse trabalho a sua própria conjuntura política interna. Consideramos que o resultado destas conversações, tal como a parte russa vê, contribui indiscutivelmente para a segurança global e regional… Isso é particularmente importante para o Oriente Médio, onde, nos últimos tempos, aumentam novamente as tendências para a desestabilização”.

Desse modo, como era esperado, na 11ª rodada não houve sensações. Porque este é o primeiro passo numa via que irá durar meio ano. Mas, no fim de contas, poderemos esperar uma solução positiva que satisfaça a todas as partes.

A nova rodada de conversações do sexteto e do Irã ao nível de vice-ministros decorrerá em meados de janeiro do ano seguinte. O lugar de realização das conversações por enquanto ainda não foi anunciado. Ao mesmo tempo, irão continuar os contatos entre Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irã, e Catherine Ashton, que nos últimos anos presidiu às conversações sobre o programa nuclear iraniano.

O mundo está à espera de 2015, que deve, finalmente, resolver o problema nuclear iraniano, do qual todos já estão cansado

http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_12_18/Ir-sexteto-conversa-es-nucleares-porta-fechada-1340/

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