Irã está na Síria para ficar. Resposta de Damasco a Israel só foi adiada

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07/05/2020, Elijah J Magnier

“Tome cuidado com o céu. Ontem à noite vi um helicóptero.”
Plínio (Wilson Rabelo), personagem de Bacurau, o filme (2019, dir. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles)*

Recentemente, Israel anunciou que o Irã estaria retirando suas forças da Síria, depois de repetidos ataques de jatos de Telavive que voavam no espaço aéreo do Líbano, além de também violarem o espaço aéreo do Iraque. Funcionários israelenses parecem crer que o Irã não aceita ser desafiado na Síria, embora esteja ainda longe de buscar vingança. Não passa de pensamento desejante dos israelenses, que gostariam de arrastar o Irã pra um confronto conforme termos e timing a serem fixados por Telavive. Essa tática de arrastar o Irã para a guerra parece ser apoiada por Israel e pelos EUA, dando ao presidente Donald Trump a vitória potencial de que ele tanto carece para a próxima eleição. Viria depois de seu fracasso pessoal e de todo seu governo, na luta contra a pandemia COVID-19. Mas o Irã não cairá nessa armadilha.

Fontes de dentro do Eixo da Resistência creem que “se Israel tentar arrastar o Eixo da Resistência para um confronto, o momento e as circunstâncias podem não ser sempre favoráveis. Israel, sim, gostaria de oferecer apoio a Trump depois da onda crescente de críticas contra ele e seu governo pelo péssimo desempenho e o fracasso ao não conseguir sequer amenizar o número de mortos na pandemia de coronavírus. E ao empurrar o Irã para o confronto, Israel supõe que abra uma oportunidade para Trump intervir e registrar algum sucesso, desde que Teerã retalie. Mas os ataques israelenses a alvos sírios ficaram limitados a armazéns e depósitos de armas, reduzindo deliberadamente o número de baixas, precisamente para evitar reação equivalente ou superior. Contudo, Israel também sabe que o Irã não responderá diretamente aos ataques do estado judeu, mas servindo-se de aliados, com a impressão digital iraniana na resposta, quando o Irã julgar conveniente”.

“Israel tenta apoiar o presidente dos EUA mudando o ‘tom’ da mídia ocidental, muito hostil a Trump; e oferece, para a próxima eleição, um possível confronto com o Irã. Teerã absolutamente não cairá nessa armadilha e está simplesmente substituindo armamento danificado ou obsoleto – há grandes quantidades de armas iranianas de gerações anteriores, que são menos precisas. Os novos armamentos iranianos são muito mais modernos do que os que atingiram a base norte-americana em Ayn al-Assad. Mesmo assim, a geração anterior de mísseis permanece útil para bombardear grandes cidades. Também servem para criar dano substancial e desviar os sistemas de definição de alvos dos mísseis de interceptação, para assim abrir caminho para que mísseis mais precisos alcancem os respectivos alvos. Seja como for, Israel só está atirando contra um pequeno número de mísseis e outras armas com que o exército sírio, Iraque e Líbano contam para se defender no caso de guerra com Israel”.

O ministro da Defesa Naftali Bennet disse que para cada carga de armas atacada, Israel deixa passar cinco. Essa informação confirma o que o Eixo da Resistência tem dito sobre a disponibilidade de grandes quantidades de armas já estocadas em seus depósitos, e a incapacidade de Israel, que não consegue destruí-las todas.

Fontes indicam que “a Síria não precisa abrir novo front contra Israel, enquanto os EUA ocuparem o nordeste procurando iniciar nova guerra enquanto Trump ainda está no poder (Trump lidera governo absolutamente fiel a Israel). A Síria não está à procura de política para conter Israel – e seria bem fácil encontrar, se fosse o caso. A Síria pode disparar dezenas de mísseis simultaneamente contra alvos israelenses seletivos, para deter os abusos e continuada violação da soberania da Síria. Mas o governo em Damasco tem outras prioridades, como a libertação dos territórios ocupados pela Turquia e pelos EUA; depois, a eliminação dos terroristas e a reconstrução da infraestrutura síria. Assim, o confronto com Israel está apenas adiado. Mas acontecerá inevitavelmente”.

Quanto ao que circula, que forças iranianas estariam saindo da Síria, as fontes confirmaram que:

“o Irã tem relacionamento bem estabelecido com a Síria. O presidente sírio Bashar al-Assad está aprofundando a colaboração militar-industrial-médico-petróleo entre os dois países. O Irã também deixou vários pontos, ao longo do último ano, para se estabelecer em outros pontos menos expostos na Síria. O que há é Israel que tenta jogar poeira nos nossos olhos, com ‘declarações’ inventadas sobre ‘conquistas’ também inventadas, sobre ‘expulsar’ o Irã, da Síria. Os ataques israelenses, ainda que causem algum dano a armazéns-depósitos de armas, são mais pirotecnia, e nem de longe impedem que os iranianos mantenham seus programas militares, de treinamento e de armamento para a Síria. O relacionamento sírio-iraniano é robusto, tem raízes em solo firme e reforçado hoje, ainda mais que antes, depois de uma década de guerra contra a Síria, sempre com os iranianos apoiando o governo de Damasco”.

Trump está tentando fugir de suas responsabilidades e do próprio fracasso, ao não ter protegido o próprio país contra o COVID-19. E Trump foi informado que a pandemia chegaria lá, bem antes de ela ter chegado aos EUA. Agora se dedica a provocar a China e a comprar mercenários para atacarem a Venezuela. Como Trump, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vai pela mesma trilha, depois de também ter fracassado no combate ao coronavírus e, também, por não ter oferecido qualquer combate ao Hezbollah libanês.

Da última vez que houve confronto, Israel destruiu um carro que pertencia ao Hezbollah na fronteira com a Síria, sem provocar nenhuma baixa. O Hezbollah respondeu cortando a cerca em três diferentes pontos ao longo da fronteira com o Líbano. O ato foi traduzido como aviso severo a Israel, onde colonos já vivem pesadelo diário, com milhares de forças especiais bem treinados e com muita experiência de guerra, que rapidamente entrarão na Palestina, no caso de qualquer guerra futura disparada por Israel. O que se vê é que o Hezbollah parece não encontrar qualquer dificuldade para cruzar fronteiras e, estrategicamente, levar a guerra para fora do território libanês.

Israel bombardeia a Síria porque é incapaz de confrontar o Hezbollah, apesar do tremendo poder de fogo dos israelenses. Assim, só restou a Síria, como local onde Israel pode mostrar alguma ação, tentando manter alta a moral do próprio exército. Fato é que o Hezbollah quebrou a capacidade para conter adversários e a superioridade dos israelenses quanto a armamento e poder militar de fogo, e realmente impôs a Israel efetiva contenção, que os israelenses não estão conseguindo neutralizar.

Israel permanece em prontidão para uma guerra potencial com o Eixo da Resistência. Mas o Eixo da Resistência também se prepara, ampliando o próprio poder de fogo, aumentando o arsenal de mísseis de precisão, fazendo avançar o treinamento de suas forças especiais e desenvolvendo capacidades e treinamento especiais para uma guerra de drones similar à que foi disparada em Idlib, na batalha de Saraqeb contra a Turquia.

O Exército Árabe Sírio acumulou experiência e capacidades únicas em dez anos de guerra e está hoje mais pronto do que jamais antes para enfrentar qualquer desafio, até para enfrentar Israel, se chegar a hora. Assim sendo, fonte oficial ou mídia israelenses que apresentem como obra de Israel alguma ‘destruição da capacidade militar da Síria’ ou que anunciem como fato alguma intenção dos iranianos de deixar a Síria não passam de vozes de uma guerra de papel, que vale zero em campo. O noticiário israelense é miragem.____________

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(*) Epígrafe acrescentada pelos tradutores

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

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