Irã apresenta-se como aliado natural do Ocidente

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26/9/2014, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Iran offers to be West’s natural ally

Tradução Vila Vudu

Morador caminha sobre escombros dos bombardeios dos EUA no Iraque ( 23/09/2014)
Morador caminha sobre escombros dos bombardeios dos EUA no Iraque (23/9/2014)

A grande maioria com que a Casa dos Comuns em Londres aprovou há apenas algumas horas a resolução de apoiar a proposta do governo para unir-se aos EUA nos ataques contra o Estado Islâmico no Iraque catapultou o Primeiro-Ministro, David Cameron, para a mais crucialmente importante posição na estratégia do presidente Barack Obama. Com a Grã-Bretanha ao seu lado, os EUA não dependem tanto da desconjuntada “coalizão dos desejantes/dispostos”, enquanto que, sem a Grã-Bretanha, mesmo que ali houvesse seis Arábias Sauditas, a coalizão continuaria sem valer grande coisa.

Cameron já começou a preparar-se. Seu encontro na 4ª-feira (24/9/2014)em New York com o Presidente do Irã, Hassan Rouhani (pouco antes da votação na Câmara dos Comuns) foi simbólico: foi o primeiro encontro de britânicos e iranianos desde a Revolução Islâmica de 1979; mas Londres jamais teria feito movimento historicamente tão importante, se já não soubesse, de antemão, que a integração do Irã na comunidade internacional é iminente.

Acordo nuclear Irã – EUA

De fato, a fachada do processo P5+Alemanha já foi posta de lado, e Washington e aliados europeus selecionados estão negociando diretamente com Teerã, marginalizando completamente a Rússia. As consultas EUA-Irã intensificaram-se e as declarações iranianas também apontam na direção de uma real possibilidade de emergir um acordo nuclear até o final de novembro.

Como já escrevi, as duas vias – o papel do Irã na “coalizão” comandada pelos EUA contra o Estado Islâmico; e as conversações nucleares – estão correndo pescoço a pescoço. Ninguém mais nem tenta argumentar na direção oposta – de que as duas vias não estejam interligadas.

Cameron e Rouhani em New York (24/9/2014)

Num discurso extraordinário à Assembleia Geral da ONU na 5ª-feira, 25/9/2014 (um dia depois da reunião Cameron-Rouhani), o presidente iraniano disse com total clareza que um acordo nuclear abrirá infinitas possibilidades de cooperação entre o ocidente e o Irã. O argumento de Rouhani é constituído de dois passos:

(a) o ocidente que trate de ver que o Irã é seu único “aliado natural” no Oriente Médio; e

(b) se o problema nuclear for resolvido, o Irã poderá trabalhar com o ocidente, para criar um Novo Oriente Médio.

Com toda a certeza, Washington e Londres verão isso como o mais perto que o Irã jamais chegou de mostrar que está disposto a ajudar numa transição política na Síria, como ajudou na transição no Iraque, transição que satisfez plenamente Obama.

[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Oriente Médio, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de geopolítica, de energia e de segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Ásia Times Online, Al Jazeera, Counterpunch, Information Clearing House, e muita outras. Anima o blog Indian Punchline no sítio Rediff BLOGS. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala, Índia.

 

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