Invasão dos EUA à Síria: respirem fundo , antes de mergulhar 1

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7/8/2015, Tony Cartalucci, New Eastern Outlook

Traduzido por Vila Vudu


Quando a revista Foreign Policy anunciou recentemente, em artigo com o mesmo título, que “Turquia Vai à Guerra, o que queriam dizer realmente era “EUA vão à guerra”. Isso, porque o longo plano que a revista expõe naquele artigo não é criação turca, mas antigo plano dos EUA, guardado na gaveta há, no mínimo, desde o início de 2012.

O artigo diz que:
Ambos, EUA e Turquia concordam que o Estado Islâmico tem de ser varrido de seu território e da fronteira turca, embora funcionários dos EUA só falem de uma “zona de facto segura”, onde sírios refugiados possam encontrar abrigo contra os tiros dos Jihadis e de al-Assad.
Mas essas tais “zonas seguras” são precisamente o que a Brookings Institution, think tank norte-americano conspira para criar desde o primeiro dia do conflito sírio, sob os mais diversos pretextos – primeiro, por fingida preocupação “humanitária”, semelhante à farsa que inventaram para justificar a guerra da OTAN contra a Líbia em 2011, agora usando o chamado “Estado Islâmico” (ISIS/ISIL/Daesh) como pretexto.

O “Middle East Memo #21”, “Assessing Options for Regime Change” [Avaliando opções para mudança de regime], Brookings’ 2012, dizia:
Alternativa é os esforços diplomáticos focarem-se primeiro em como pôr fim a violência e ganhar acesso humanitário, como está sendo feito sob a liderança de Annan. Assim se podem criar paraísos seguros e corredores humanitários, que terão de ser apoiados por limitado poder militar. No caso da Síria, é menos do que os objetivos dos EUA exigem para a Síria e poderia manter Assad no poder. Mas a partir desse ponto, é possível que uma ampla coalizão com o mandato internacional apropriado possa acrescentar mais ações coercitivas a seus esforços.”
Claramente, apesar de a justificação para a intromissão ocidental mudar conforme mudem os ventos políticos, o plano subjacente é sempre dividir, destruir, na sequência invadir, ocupar até chegar o ponto de atropelar cadáveres sírios pelas ruas.

Na verdade, o mais recente pretexto, ISIS, foi criado e perpetuado até o dia de hoje, pelos EUA, com apoio de Arábia Saudita, Israel, Jordânia e Turquia. O ISIS não tem como fabricar armas, dinheiro e combatentes dentro da Síria e do Iraque. Já se sabe que recebe de fora todos esses materiais e suprimentos e dinheiro e mão de obra. Só na Turquia, centenas de caminhões atravessam diariamente pelos pontos de controle da fronteira turca, destinados aos territórios do ISIS na Síria e no Iraque. Tão escandalosamente visíveis são esses comboios de suprimentos, que uma equipe de filmagens da Deutsche Welle passou um dia inteiro filmando os comboios e entrevistando habitantes da região, que descreveram a torrente diária de suprimentos para o terrorismo patrocinado pelo governo turco, que cruza a fronteira norte, para a Síria.

Até matérias publicadas no jornal israelense Haaretz já admitem que o exército de Israel estava enviando ajuda para a Frente Al-Nustra, da Al- Qaeda, já há anos listada pelo departamento de Defesa dos EUA como organização estrangeira terrorista; e, no passado, ajudara o ISIS. A matéria, intitulada “Israel suspende tratamento médico para membros da Frente al-Nusra na Síria“, admitia que:
Alto oficial do exército israelense revelou na 2ª-feira que Israel suspendera o atendimento médico que vinha dando a um grupo de extremistas sírios rebeldes feridos na guerra que se desenrola naquele país. A mudança no atendimento a extremistas da Frente al-Nusra, da al-Qaeda, aconteceu há seis semanas.

Segundo o oficial israelense, vários combatentes feridos da Frente al- Nusra receberam tratamento médico em Israel.
Crescentes reclamações da comunidade drusa de Israel obrigaram à declaração pública, que prova que Israel, como a Turquia, para o norte da Síria, está fornecendo apoio material a terroristas da Al Qaeda – os mesmos terroristas que o ocidente e seus aliados regionais tentam usar como pretexto para escalar ainda mais o conflito sírio.

Se a Turquia realmente quisesse parar o ISIS

Se a Turquia realmente quisesse pôr fim à ameaça do ISIS, a primeira coisa a fazer seria parar de receber terroristas em território turco. Medidas estritas ao longo da fronteira turca seriam implementadas para impedir que novas levas de terroristas entrassem na Síria e se unissem às fileiras do ISIS, e teria fim imediato a infindável torrente de suprimentos que entra em território do ISIS na Síria e Iraque, ao que se sabe pela Turquia, membro da OTAN.

Pode-se ver que a Turquia é o virtual porto de arribação para todos os combatentes, em todo o mundo, que se queiram unir ao ISIS – sejam terroristas uigures que EUA e Turquia traficam da China, ou  delinquentes de todos os tipos que os serviços de inteligência ocidentais recrutam pela América do Norte e Europa para mandar para dentro e para fora da Turquia, antes que se ponham a montar ataques terroristas espetaculares em casa mesmo. Na verdade, um dos vários suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebo tentou fugir, precisamente, para a Turquia, na trilha para unir-se ao ISIS na Síria.

Já há anos, essas opções estavam claramente sobre a mesa e a Turquia poderia tê-las posto a funcionar a qualquer momento. Mas não o fez. Isso, porque eliminar o ISIS não é o objetivo dessa mais recente tentativa para intervir militarmente na Síria; o objetivo é cravar lá as tais “zonas seguras”, descritas pelos norte-americanos já em 2012, a partir das quais atacar para derrubar o governo sírio.

A Turquia não tem intenção alguma de “deter o ISIS.” Não há qualquer combatente “moderado” que a Turquia deva apoiar na próxima operação militar. Trata-se de invadir território sírio como invasão de facto, e empurrar o front para mais perto de Damasco, num esforço desesperado para abalar a coragem do povo sírio e do Exército Árabe Sírio. Também se trata de tentar abalar a decisão dos aliados da Síria que se mantêm ao lado de Damasco.

Ao ameaçar uma invasão de facto ao território sírio, sob o falso pretexto de “combater o ISIS,” quando na verdade o ISIS receberá cobertura aérea da OTAN, para ampliar sua capacidade de combate a qual, sem a OTAN e outros amigos de terroristas é perfeitamente inexplicável, a OTAN conta com arrancar concessões dos aliados da Síria, para assim saquear até o fim o que reste, depois de a invasão ter sido consumada.

A invasão pelo norte da Síria, planejada por EUA e Turquia é movimento de poder, nascido de uma tentativa derrotada para derrubar o governo sírio. Vem na sequência, depois da derrubada do governo Gaddafi e destruição da Líbia, em 2011. Está em andamento um bem calculado contramovimento de poder, acionado pelos aliados da Síria, para deter EUA e Turquia.

Tony Cartalucci é um pesquisador geopolítica e escritor com sede em Banguecoque, Tailândia. Sua obra abrange eventos mundiais do ponto de vista do sudeste asiático e promove a auto-suficiência como uma das chaves para a verdadeira liberdade.

Ele é um contribuinte regular para  Relatório Destroyer e New Oriental Outlook

 

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Um comentário sobre “Invasão dos EUA à Síria: respirem fundo , antes de mergulhar

  1. Responder teixeira fev 12,2016 13:36

    Desde o princípio se percebeu pelo “andamento da carruagem” que a Coalizão Ocidental na Síria pretendia desenvolver a mesma operação que realizara na Líbia com sucesso absoluto. Só que houve um entrave, desta vez a Rússia e a China não deram o “aval” para a exclusão aérea, levando a Coalizão Ocidental depender da “terceirização” através das facções existentes e de outras que fossem surgindo com auxílio de grupos mercenários que fossem entrando e se juntando as facções. surgiu a Al Nusra (Al Caeda) e depois o Estado Islâmico (também parece dissidente da Al Caeda) e parece que “se desligaram” para poder receber os mesmos apoios maciços que as demais facções estariam recebendo da Coalizão Ocidental(EUA/OTAN/
    Turquia/Arábia Saudita). Não é mais segredo que a Coalizão Ocidental quer a Síria e para ter a Síria ela precisa substituir o seu governo e dar um fim as suas eleites governamentais, quem sabe no mesmo gênero que o fez na Líbia (cerca de 12 mil prisioneiros simplesmente foram desaparecendo nos cárceres das facções que tomaram o poder sem que as potências envolvidas nada fizessem para interromper o genocídio).

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