‘Eventos como este acontecem uma vez por século’, diz membro da Academia Russa de Ciências
Publicada no 247
“Depois de fracassar na tentativa de enfraquecer a China frontalmente através de uma guerra comercial, os estadunidenses transferiram a pancada principal para a Rússia, a quem eles veem como um elo fraco na geopolítica e na economia global. Os anglo-saxões estão tentando implementar as suas eternas ideias russofóbicas para destruir o nosso país [a Rússia] e, ao mesmo tempo, para enfraquecer a China – porque a aliança estratégica da Federação Russa e a República Popular da China é forte demais para os Estados Unidos. Eles [os EUA] não têm o poder econômico e militar para nos destruir juntos, nem separados”, diz Sergey Glazyev, um acadêmico da Academia Russa de Ciências e ex-assessor do presidente russo.
Glazyev falou numa entrevista ao ‘Business Online’ sobre quais oportunidades se estão abrindo agora para a economia russa, se o Banco Central russo está bajulando o inimigo e se uma nova moeda mundial substituirá o dólar.
Sergey Yuryevich, ao comentar sobre os trágicos eventos atuais, você escreveu no seu canal do Telegram que era necessário ler o seu livro sobre “a última guerra mundial” – escrito há uns 6 anos. Como você conseguiu prever tudo com tanta precisão?
É fato que há padrões de desenvolvimento econômico de longo-prazo, cuja análise e compreensão nos permite prever eventos que estão ocorrendo na atualidade. Estamos vivenciando agora uma mudança simultânea nas estruturas tecnológicas e econômicas mundiais; enquanto a base tecnológica da economia está mudando, a transição para novas tecnologias básicas está ocorrendo e o sistema de gerenciamento também está sendo transformado. Este tipo de evento ocorre uma vez a cada século. No entanto, os padrões tecnológicos mudam uma vez a cada 50 anos, e a mudança destes geralmente é acompanhada por uma revolução tecnológica, por uma depressão e por uma corrida armamentista. E os padrões econômicos mundiais mudam uma vez a cada 100 anos e as suas mudanças são acompanhadas por guerras mundiais e revoluções sociais. Isto deve-se ao fato que a elite dominante nos países centrais da antiga estrutura econômica mundial impede as mudanças, não leva em conta a emergência de sistemas mais eficazes de gestão, tenta bloquear o desenvolvimento de novos líderes que as usam e tenta manter a sua hegemonia e posição de monopólio por todos os meios, incluindo os meios militares e revolucionários.
Há 100 anos, digamos, o Império Britânico estava tentando manter a sua hegemonia sobre o mundo. Quando este já estava perdendo economicamente para os recursos combinados do Império Russo e da Alemanha, a Primeira Guerra Mundial foi lançada, provocada pelos serviços de inteligência britânicos, durante a qual os três impérios europeus se autodestruíram. Estou falando sobre o colapso da Rússia czarista e dos impérios alemão e austro-húngaro, mas isso inclui também o quarto império otomano. Quanto ao Reino Unido, este manteve a dominância global durante algum tempo e até tornou-se o maior império do planeta. Porém, devido às inexoráveis leis de desenvolvimento socioeconômico, o sistema econômico colonial do mundo – na verdade, baseado no trabalho escravo – não conseguia mais prover o crescimento econômico.
A introdução de dois modelos políticos completamente novos – o soviético e o estadunidense – provaram ter uma eficácia produtiva muito maior, porque foram organizados sobre princípios diferentes: não para o capitalismo de famílias privadas, mas sim para o poder de grandes corporações multinacionais, contando com estruturas centralizadas de regulação econômica e a ilimitada emissão monetária usando a moeda fiduciária (em meios de papel ou eletrônicos) – as quais ativaram a produção em massa de produtos muito mais eficazmente do que os sistemas de controle dos impérios coloniais do século XIX.
A emergência dos estados sociais na URSS e nos EUA, com sistemas centralizados de gestão, possibilitou um salto significativo no desenvolvimento econômico destes; na Europa, foi formado o sistema de governança corporativa; infelizmente, segundo o modelo nazista na Alemanha e também sem deixar de ter o apoio dos serviços de inteligência britânicos. Apoiado pelas agências britânicas e pelo capital estadunidense, Hitler desenvolveu rapidamente um sistema centralizado de governança corporativa na Alemanha – o qual permitiu que o Terceiro Reich conquistasse rapidamente toda a Europa. Com a ajuda de Deus, nós [os russos] derrotamos esta ordem econômica mundial fascista alemã (ou europeia, levando em conta as realidades atuais). Depois disso, dois modelos permaneceram no mundo, os quais eu denomino como a ordem econômica imperial mundial: o modelo soviético e o modelo ocidental (tendo como centro os EUA). Após o colapso da União Soviética – que fracassou em aguentar a concorrência global devido ao fato de que o seu sistema de gerenciamento planificado não era suficientemente flexível para responder às necessidades do desenvolvimento tecnológico – os Estados Unidos tomaram a dominação global durante algum tempo.
Este tipo de evento ocorre uma vez a cada século.
Mas agora este período de “solidão unipolar estadunidense” já está terminando, provavelmente não somente graças à Rússia, porém, em primeiro lugar, graças à China e às regiões asiáticas. Isso é verdade?
Certamente. As estruturas hierárquicas verticais características do sistema econômico imperial mundial acabaram revelando-se rígidas demais para assegurar processos de inovação contínuos e perderam eficácia em assegurar o crescimento da economia mundial. Uma nova ordem econômica mundial foi formada na periferia, baseada em modelos flexíveis de gestão, na organização de redes de produção, nos quais o Estado funciona como um integrador, combinando os interesses de vários grupos sociais ao redor de uma meta – aumentar o bem-estar social público. O exemplo mais importante de tal economia mundial integrada hoje é a China, que cresceu três vezes mais rápido do que o crescimento da economia dos EUA por mais de 30 anos. Atualmente, a China já ultrapassa os EUA em termos de produção, exportação de bens de alta tecnologia e taxas de crescimento.
Um outro exemplo do modelo da nova ordem econômica mundial – a qual chamamos de integral devido ao fato que, nesta, o Estado une todos os grupos sociais que diferem nos seus interesses específicos – é a Índia, que tem um sistema político diferente, mas também tem a primazia dos interesses públicos sobre os interesses privados, e onde o Estado busca maximizar a taxa de crescimento a fim de combater a pobreza. Ao mesmo tempo, a Índia usa mecanismos de competição do mercado, o que possibilita assegurar a mais alta concentração de recursos para a revolução tecnológica a fim de promover saltos econômicos baseados numa nova ordem tecnológica avançada. Se verificarmos as taxas de crescimento desde 1995, a economia chinesa cresceu 10 vezes, enquanto a economia dos EUA cresceu apenas 15%. Assim, fica óbvio para todos que o ritmo atual de crescimento econômico global está mudando para a Ásia: China, Índia e Indochina são países que já produzem mais produtos que os EUA e a União Europeia. Se adicionarmos o Japão ou a Coréia – onde o sistema de gerenciamento é similar nos seus princípios de integrar a sociedade em torno da meta de melhorar o bem-estar social – podemos dizer que atualmente esta nova ordem econômica mundial já domina o mundo, e que o centro de reprodução da economia mundial se mudou para o Sudeste da Ásia. Obviamente, a elite dominante dos EUA não consegue concordar com isso.
Aguentar isso, eu diria…
Sim. Assim como fez o Império Britânico outrora, eles [os EUA] tentam manter a sua hegemonia no mundo. Os eventos que ocorrem atualmente são manifestações de como a elite oligárquica financeira e de poder nos Estados Unidos está tentando manter a dominação mundial. Pode se dizer que, nos últimos 15 anos, esta elite está travando uma guerra híbrida, buscando criar caos nos países que estão fora do seu controle e refrear o desenvolvimento da República Popular da China. Porém, devido ao sistema de gerenciamento que já é arcaico, eles não conseguem fazer isso. A crise financeira de 2008 foi um desses momentos de transição, quando o ciclo de vida da ordem tecnológica cessante na verdade já terminou e o processo de redistribuição em massa do capital para uma nova ordem tecnológica começou – o cerne da qual é um complexo de tecnologias de nanobioengenharia e de comunicações e informações. Todos os países começaram a injetar dinheiro nas suas economias. A coisa mais simples que um Estado moderno pode fazer é dar acesso a dinheiro barato de longo-prazo a todas as empresas, de modo que estas possam adotar as novas tecnologias. Porém, enquanto nos EUA e na Europa estes fundos foram gastos principalmente em bolhas financeiras e criaram déficits orçamentários, na China a enorme emissão monetária foi completamente dirigida para o crescimento da produção e o desenvolvimento de novas tecnologias. Não houve bolhas financeiras. E a alta monetização da economia chinesa não produziu inflação, pois o crescimento do suprimento de dinheiro foi acompanhado por um aumento na produção de bens, na introdução de novas tecnologias avançadas e no aumento do bem-estar social público.
Atualmente, a concorrência econômica já levou os EUA a a perderem a sua liderança. Se você se lembrar, Donald Trump tentou conter o desenvolvimento da China através de uma guerra comercial, porém nada resultou disso.
Guerra híbrida
Por que não? Será que Trump – que está acostumado a tomar riscos e entrar com tudo, não teve determinação suficiente?
Nem mesmo Trump conseguiu fazê-lo, porque a China tem um sistema de gerenciamento mais eficaz, o qual permite que nos concentremos de maneira mais completa possível na produção de recursos disponíveis. Ao mesmo tempo, o gerenciamento do dinheiro mantém a questão monetária no quadro da reprodução expandida do setor real da economia, centrando-se no financiamento de investimentos para o desenvolvimento. A China alcançou os níveis mais altos de poupança de todos os países: cerca de 45% do PIB é investido, comparado com 20% nos EUA ou na Rússia. Na verdade, isto assegura a taxa super-alta de crescimento da economia chinesa.
Em geral, os EUA estavam condenados à derrota nesta guerra comercial, porque o Império do Meio consegue produzir produtos de maneira mais eficiente e financiar o desenvolvimento de formas mais baratas. O sistema bancário inteiro na China é estatal, opera como uma única instituição de desenvolvimento – dirigindo fluxos de dinheiro para expandir a produção e desenvolver novas tecnologias. Nos EUA, o suprimento de dinheiro é usado para financiar o déficit orçamentário e é realocado para as bolhas financeiras. Como resultado disso, a eficácia dos sistemas financeiro e econômico dos EUA é de apenas 20%; lá, somente um em cada cinco dólares chega à economia real, enquanto na China quase 90% (isto é, quase todos os yuans criados pelo Banco Central da RPC) alimentam o quadro da produção em expansão e asseguram um crescimento econômico ultra-alto.
As tentativas de Trump de limitar o desenvolvimento da China através de métodos de guerra comercial falharam. Ao mesmo tempo, elas atuaram como um bumerangue nos próprios EUA. Então, os estadunidenses abriram a frente de guerra biológica, lançando o coronavírus na China, na esperança de que a liderança chinesa não conseguiria lidar com esta epidemia e que o caos surgiria na China. No entanto, a epidemia revelou a baixa eficácia do sistema de saúde nos EUA e criou o caos nos próprios Estados Unidos. Também nisso, o sistema chinês de gerenciamento mostrou uma eficácia muito maior. A taxa de mortalidade na China é significativamente mais baixa do que nos EUA e eles lidaram muito mais rapidamente com a pandemia. Já em 2020, eles chegaram a alcançar um crescimento econômico de 2%, enquanto nos EUA houve um declínio de 10% do PIB (os analistas notam que foi a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial). Agora os chineses retomaram taxas de crescimento de cerca de 7% ao ano e não há dúvidas que a China continuará a desenvolver-se com confiança, expandindo a produção de um novo modo tecnológico.
Paralelamente à guerra comercial com a China, os serviços especiais dos EUA estavam preparando uma guerra contra a Rússia, já que a tradição geopolítica anglo-saxã considera o nosso país [a Rússia] como o principal obstáculo ao estabelecimento da dominação mundial pelo poder e a elite financeira dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
Devo dizer que a guerra contra a Federação Russa se desdobrou imediatamente após a anexação da Criméia e depois que os serviços especiais estadunidenses organizaram um golpe de estado na Ucrânia. Pode-se dizer que eles [os EUA] enganaram a Rússia, fazendo-a concordar com a ocupação da Ucrânia pelos EUA, considerando-a como se fosse um fenômeno temporário. No entanto, os EUA criaram raízes na Praça Maidan; eles não só criaram pontos fortes – nutrindo nazistas sob as suas asas – mas também treinaram as forças armadas nazistas, deram aos nazistas a oportunidade de adquirirem uma educação militar, os treinaram nas suas academias e “polvilharam” as forças armadas da Ucrânia com eles. Durante oito anos, eles [os EUA] prepararam as forças armadas ucranianas para lutar contra o único inimigo: a Rússia. Ao mesmo tempo, as mídias de massa – as quais também são completamente controladas pelos estadunidenses na Ucrânia – formaram uma imagem do inimigo na consciência do público.
Os EUA abriram uma frente de guerra biológica ao lançarem o coronavírus na China.
Além disso, os Estados Unidos usaram a moeda e o front financeiro como uma guerra híbrida contra a Federação Russa. Já em 2014, eles [os EUA] impuseram as primeiras sanções financeiras e nocautearam uma parte significativa dos empréstimos ocidentais para a economia russa. Agora estamos vendo a fase posterior, quando eles desconectaram eficazmente a Rússia do sistema monetário e financeiro global – no qual eles [os EUA] dominam. No entanto, tudo isto foi previsto por mim há 10 anos, baseado na teoria dos padrões econômicos em transformação e a lógica específica da elite dominante dos EUA, centrada na dominação mundial. Tradicionalmente, a geopolítica anglo-saxã é orientada contra o Império Russo e os seus sucessores – a URSS e a Federação Russa – porque, desde o tempo do Império Britânico, a Rússia tem sido vista como o oponente principal dos anglo-saxões. Efetivamente, toda a chamada ciência geopolítica que foi escrita em Londres, foi reduzida a um conjunto de recomendações sobre como destruir a Rússia enquanto força dominante na Eurásia. Refiro-me a todo tipo de construções especulativas como “países do mar contra países da terra”, etc.
Por que a Rússia interferiu tanto com os “países do mar”? Afinal, geograficamente, nós [Rússia] jamais fizemos fronteira com a Grã-Bretanha.
Quanto a isso, foi inventada uma fórmula: seja quem for que controle a Eurásia, controla o mundo inteiro. Na verdade, o desenvolvimento aplicado já foi adiante. O famoso teorema de Zbigniew Brzezinski diz que, para derrotar a Rússia enquanto superpotência, você precisa lhe arrancar a Ucrânia. Tudo isto é um dogma político – o qual, pareceria, existe há muito tempo na história e, no entanto, é reproduzido atualmente no pensamento da elite política estadunidense. Devo dizer que ainda há cursos de geopolítica do século XIX em Harvard e Yale que afiam os cérebros dos futuros políticos estadunidenses contra a Rússia. Na verdade, eles pularam neste velho e testado fluxo russofóbico que sempre foi característico da geopolítica anglo-saxã. E, considerando a Rússia como o principal oponente da sua dominação [dos EUA] no mundo, eles usaram a Ucrânia como um posto avançado; ou melhor, como um instrumento para debilitar a Rússia, enfraquecendo-a, e para destruí-la no futuro enquanto um Estado soberano, segundo a proposta de Brzezinski.
Assim sendo, o que está ocorrendo atualmente era facilmente previsível, baseado numa combinação de padrões de longo-prazo de desenvolvimento econômico – o que, na verdade, condenou o mundo a uma guerra híbrida e à russofobia tradicional da elite política anglo-saxã.
Depois que o enfraquecimento da China através de uma guerra comercial não funcionou, os estadunidenses transferiram a principal pancada do seu poder militar e político à Rússia – a quem eles veem com um elo fraco na geopolítica e na economia global. Além disso, os anglo-saxões buscam estabelecer a dominação sobre a Rússia a fim de implementar as suas eternas ideias russofóbicas para destruir o nosso país [a Rússia] e, ao mesmo tempo, de enfraquecer a China – porque a aliança estratégica entre a Federação Russa e a RPC é forte demais para os EUA. Eles [os EUA] não têm nem o poder econômico nem militar para destruir-nos juntos, nem separadamente; por isso, os EUA inicialmente tentaram nos colocar em desacordo com a China. Eles não o conseguiram. Mas, tirando vantagem da nossa complacência, eu diria que eles tomaram controle da Ucrânia e atualmente estão usando a nossa república fraterna como uma arma de guerra para destruir a Rússia e tomar nossos recursos – e eu repito – para fortalecer a posição deles e enfraquecer a posição da China. Em geral, tudo isso é óbvio – como dois mais dois são quatro.
Isso provavelmente é óbvio, mas não para todos. Na elite russa, há muitos oponentes a uma aliança com a China. Pelo menos antes da operação especial na Ucrânia, parecia a estas pessoas que a cultura estadunidense e ocidental fosse mais clara e mais próxima a nós do que a sabedoria hieroglífica chinesa, e que sempre encontraríamos uma linguagem comum com os nossos “parceiros ocidentais”.
Você sabe, em 2015, quando eu escrevi o livro “The Last War. The United States starts and loses” – o qual você mencionou no início da nossa conversa – tudo parecia estar pensado e justificado lá. Os EUA lançaram uma guerra híbrida global com as revoluções laranjas – para perturbar as regiões do mundo que não controlavam – a fim de fortalecer a sua posição e enfraquecer a posição dos seus concorrentes geopolíticos. Após o famoso discurso de Munique do Presidente Putin (em fevereiro de 2007), os americanos perceberam que haviam perdido o controle da Rússia de Yeltsin e ficaram seriamente preocupados.
Em 2008, a crise financeira eclodiu e eles se deram conta que a transição para uma nova ordem tecnológica estava começando e que a velha ordem econômica mundial e o velho sistema de gestão não atendiam ao desenvolvimento econômico progressivo. A China lidera. Bem, aí a lógica da guerra mundial se desdobra, só que não nas formas que existia há 100 anos, mas em três fronts condicionais – monetário e financeiro (nos quais os EUA ainda dominam o mundo), comercial e econômico (nos quais eles já perderam a primazia para a China) e de informações e cognitivo (nos quais os estadunidenses também têm tecnologias superiores). Eles estão usando os três fronts para tentar reter a iniciativa e manter a hegemonia das suas corporações.
E, finalmente, o quarto front – o biológico, o qual foi aberto com o aparecimento do coronavírus do laboratório dos EUA-China em Wuhan. Hoje vemos que toda uma rede de laboratórios biológicos existia na Ucrânia. Assim, os EUA estavam preparando-se há muito tempo para abrir um front biológico para a Terceira Guerra Mundial.
O quinto e mais óbvio front é, na verdade, o front das operações militares – como um último instrumento para forçar os Estados controlados por eles a obedecê-los implicitamente. Hoje, a situação neste front também está ficando pior. Em outras palavras, estão em curso operações ativas em todos os cinco fronts da guerra híbrida total e é possível prever o resultado. Os estadunidenses não conseguirão vencer, assim como os britânicos não o conseguiram, ao seu tempo. Apesar da Grã-Bretanha ter vencido formalmente a Segunda Guerra Mundial, eles a perderam política e economicamente. Os britânicos perderam todo o seu império, mais de 90% do seu território e 95% da sua população. Dois anos após a Segunda Guerra Mundial, na qual foram vencedores, o seu império ruiu como um castelo de cartas, porque os outros dois vencedores – a URSS e os EUA – não precisavam deste império e o consideravam como um anacronismo. Da mesma forma, o mundo não precisará das corporações multinacionais estadunidenses, do dólar dos EUA, da moeda dos EUA e suas tecnologias e pirâmides financeiras. Logo estas serão coisas do passado. O Sudeste da Ásia se tornará um líder óbvio no desenvolvimento econômico global e uma nova ordem econômica mundial será formada na frente dos nossos olhos.
Dólar, Libra e Euro em decadência
Parafraseando Remarque, podemos dizer que as mudanças finalmente chegaram ao front ocidental. Mas quais são os sinais que você vê da iminente morte deste poderoso sistema global?
Depois que os estadunidenses apreenderam pela primeira vez as reservas em moedas estrangeiras da Venezuela e as passaram à oposição – depois as reservas em moedas estrangeiras do Afeganistão, as do Irã e agora as russas – ficou absolutamente claro que o dólar deixou de ser a moeda do mundo. Seguindo os estadunidenses, esta estupidez também foi cometida pelos europeus – o euro e a libra deixaram de ser moedas mundiais. Assim sendo, o antigo sistema monetário e financeiro está vivendo os seus últimos dias. Depois que os últimos dólares que ninguém precisa forem retornados dos países asiáticos aos EUA, o colapso do sistema monetário e financeiro global baseado em dólares e euros será inevitável. Os principais países estão mudando para moedas nacionais e o euro e o dólar não são mais reservas de moedas estrangeiras.
Como você vê o mundo após o desaparecimento do monopólio do dólar?
Nestes dias, estamos trabalhando num rascunho de um acordo internacional sobre a introdução de uma nova moeda mundial para liquidações financeiras, atrelada às moedas nacionais dos países participantes e os bens comerciáveis que determinam os seus valores reais. Não precisaremos de bancos estadunidenses e europeus. Está sendo desenvolvido no mundo um novo sistema de pagamentos baseado em tecnologias digitais modernas com tecnologia blockchain, no qual os bancos perdem a sua importância. O capitalismo clássico baseado em bancos privados é uma coisa do passado. A lei internacional está sendo restaurada. Todas as relações internacionais, incluindo a circulação de moedas mundiais, estão começando a ser formadas baseadas em contratos. Ao mesmo tempo, a importância da soberania nacional está sendo restaurada, porque países soberanos estão chegando a um acordo. A cooperação econômica global baseia-se em investimentos coligados tendo como meta melhorar o bem-estar dos povos. A liberalização do comércio deixa de ser uma prioridade, as prioridades nacionais são respeitadas, e cada Estado constrói um sistema para proteger o seu mercado interno e o seu espaço econômico que considera necessário. Em outras palavras, a era da globalização liberal acabou. Em frente aos nossos olhos, uma nova ordem econômica mundial está sendo formada – uma ordem integral, na qual alguns Estados e bancos privados perdem o seu monopólio privado na questão do dinheiro, no uso de força militar, e por aí adiante.
E por que você intitulou o seu livro “A Última Guerra Mundial”? O que o faz ter a esperança de que esta guerra global seja realmente a última?
Chamei esta guerra de última porque vemos que há diversos cenários de movimento para sair da crise atual. O primeiro cenário, o qual eu já descrevi, é calmo e próspero. Consiste em superar o monopólio dos EUA. Para fazer isso no setor financeiro, você precisa abandonar o dólar. A fim de superar o monopólio nas esferas informacionais e cognitivas, precisamos isolar o nosso espaço de informação do espaço dos EUA e mudar para as nossas próprias tecnologias de informação. Criando o próprio quadro de reprodução econômica, porém sem o dólar dos EUA e o euro, e apoiando-se nas tecnologias de informação para lidar com o dinheiro, os países da nova ordem econômica mundial garantem altas taxas de desenvolvimento econômico, enquanto o mundo ocidental colapsa. Há uma situação de pirâmides financeiras em colapso, desorganização e uma crise econômica crescente, agravada pela inflação crescente causada pela emissão descontrolada de moeda nos últimos 12 anos.
O segundo cenário para o desenvolvimento possível de eventos é similar àquele que Hitler queria implementar durante a mudança das estruturas econômicas mundiais anteriores. Uma tentativa de criar um governo mundial, com uma ideologia super-humana. Se Hitler pensava a nação germânica como super-humana, então os atuais ideólogos da dominação mundial impõem a transição para um Estado pós-humanoide sobre a humanidade. Em contraste ao pós-humanismo do ocidente, os países centrais da nova ordem econômica mundial são caracterizados por uma ideologia socialista, embora com respeito por interesses privados, proteção da propriedade privada e uso de mecanismos de mercado. Na China, na Índia, no Japão e na Coréia, domina a ideologia socialista – ou melhor, uma mistura de ideologia socialista, interesses nacionais e concorrência de mercado. É esta mistura que forma fundamentalmente uma nova elite política e de poder, centrada no desenvolvimento econômico e no crescimento do bem-estar das nações. Os políticos, os intelectuais e os homens de negócios ocidentais têm uma abordagem diferente. O que estamos vendo atualmente é uma tentativa de criar uma certa imagem de uma nova ordem mundial com um governo na cabeça, na qual as pessoas são levadas a um campo de concentração eletrônico. Você pode ver como isso ocorreu no exemplo das restrições durante a pandemia: cada pessoa recebe uma etiqueta, o acesso aos bens públicos é regulado por códigos QR e todos são forçados a caminhar em fila. Diga-se que no cenário da Fundação Rockefeller de 2009, a pandemia – e tudo que ocorreu em conexão com esta – foi previsto de maneira chocante; na verdade, eles previram o futuro. Este cenário foi chamado de Lock Step (Passo de Bloqueio) – isto é, “Caminhar em fila” – e o mundo ocidental o seguiu. Ao sacrificar os seus próprios valores democráticos, as pessoas são forçadas a obedecer a comandos. As organizações internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde, são usadas como uma espécie de base para congregar um governo mundial que estaria subordinado ao capital privado.
Porém, devo dizer que Donald Trump prejudicou muito estes planos, porque ele impediu a assinatura dos acordos de parcerias transatlânticas e trans-pacíficas – nas quais todos os países participantes dos tratados sacrificam a sua soberania nacional em todas as disputas com as grandes empresas. E você precisa compreender que, atualmente, qualquer corporação multinacional pode agir como um investidor estrangeiro, incluindo nos EUA. Segundo estes acordos, se o capital estrangeiro está presente num negócio em disputa com um governo nacional, uma corte internacional de arbitragem é formada – não está claro como e por quem isto foi elaborado. E estes juízes não-eleitos, na verdade nomeados por grandes corporações internacionais, resolvem estas disputas. Na verdade, o ponto era que o Estado estaria perdendo toda a soberania para regular as relações com as grandes empresas. No entanto, Trump impediu o acordo – os Estados Unidos não o assinaram. Assim, o processo de formação de um governo mundial foi impedido. Esta é a segunda alternativa, a qual está vivenciado atualmente uma crise devido ao colapso da ideia de globalização e o gradual abandono das restrições “pandêmicas”.
A nova ordem econômica mundial é ideologicamente socialista
Devemos entender que a opção do governo mundial é incompatível com uma Rússia soberana, com a nossa independência e o nosso papel no mundo. No cenário globalista, a Federação Russa é considerada como um território destinado à exploração pelas corporações multinacionais ocidentais. Ao mesmo tempo, a “população indígena” deveria servir aos interesses destes. Neste cenário, a Rússia desaparece enquanto uma entidade independente, assim como a China. O governo mundial ocidental pode incorporar alguns dos nossos oligarcas na sua própria versão do futuro, porém somente em papéis secundários e terciários.
O terceiro cenário é catastrófico. A destruição da humanidade…
É o apocalipse do qual todos falam?
Bem, nem todos… Porém, todos têm medo disso. Diga-se, sobre os laboratórios biológicos dos EUA que sintetizam vírus perigosos, foi dito em um outro livro meu, publicado um pouco mais tarde: “A Praga do século XXI: como evitar o desastre e superar a crise?”. Eu lembro que em 1996, quando eu tive que trabalhar no Conselho de Segurança da ONU, eu propus que se desenvolvesse um conceito de biossegurança nacional. Porque mesmo então, há quase 30 anos, a genética era uma ciência suficientemente avançada para sintetizar vírus dirigidos contra as pessoas de uma certa raça, ou de um certo gênero, ou de uma certa idade. Há muito tempo que isso é possível. Você cria um vírus que funciona apenas contra brancos ou, inversamente, apenas contra negros, apenas contra homens ou apenas contra mulheres. Agora os estadunidenses estão indo mais longe – você pode ver que, segundo os dados do nosso Ministério da Defesa que foram anunciados um dia antes, os laboratórios biológicos dos EUA estavam desenvolvendo vírus contra os eslavos. Aparentemente, agora é possível fazer um vírus contra algum grupo étnico que tem o seu próprio código genético.
O que está ocorrendo na Ucrânia agora é um eco da agonia da elite dominante dos EUA, a qual não consegue aceitar que não será mais um líder mundial. Isto está ficando claro para todos – pelo menos para aqueles que não estão conectados com os estadunidenses pelos seus interesses e não estão sujeitos à influência cognitiva destes.
O terceiro cenário é catastrófico. A destruição da humanidade.
Eis um exemplo: quando os EUA impuseram as sanções anti-Rússia em 2014, eu perguntei aos meus colegas chineses: “Vocês pensam que os estadunidenses podem impor sanções contra a China?” Eles estavam seguros que não. Foi dito que isto seria impossível, porque os Estados Unidos dependem da China tanto quanto a China depende dos EUA. Isso quer dizer que seria mais caro para os EUA. Dois anos depois, Trump lançou a guerra comercial contra a China. E Pequim agora entende que os EUA são um inimigo que afundará o milagre econômico chinês de todas as maneiras possíveis. Antes disso, os meus colegas chineses não estavam muito convencidos pelos meus argumentos, assim como o meu livro mencionado por você não influenciou muito a nossa elite política e econômica. Meus argumentos foram descartados. Apesar de havermos dito por muitos e muitos anos que o dólar deveria ser abandonado. As reservas em moedas estrangeiras deveriam ter sido removidas dos instrumentos monetizados em dólar e em euros e transformadas em ouro. Deveriam ter sido convertidas nas suas próprias moedas e seus sistemas financeiros para desenvolver as suas próprias liquidações em moeda nacional com parceiros. Propomos tudo isso desde os anos de 1990, quando já estava claro para onde levava o desenvolvimento econômico global. E só agora, finalmente, todos veem a luz.
A julgar pelo urro desolador que vem do campo dos liberais, assim como os eventos na Ucrânia, nem todos viram a luz ainda.
Sim, estamos enfrentando o fato de que os estadunidenses conseguiram enganar tanto o povo ucraniano em oito anos, que as pessoas que resistem ao exército russo – as chamadas Forças Armadas da Ucrânia – parecem simplesmente com zumbis. Eles são controlados como fantoches. Não é o Zelenski que comanda o exército ucraniano, nem mesmo o Ministério da Defesa da Ucrânia, nem o Estado Maior – é o Pentágono quem comanda. Este comanda com muita eficácia desde o ponto de vista de lutar “até o último soldado ucraniano”, porque estes zumbis não desistem. Porém eles estão numa situação absolutamente desesperançada. Todos os especialistas já reconheceram que a Rússia venceu a operação militar especial, que a Ucrânia não tem chance alguma de resistir, que a infraestrutura militar inteira da Ucrânia foi destruída… que só resta ao comando render-se para minimizar as perdas humanas. No entanto, os oficiais ucranianos (e especialmente, obviamente, os nacionalistas [nazistas]) agem como zumbis controlados externamente – eles seguem instruções do Pentágono, recebidas nos seus computadores pessoais e tablets especiais.
Além disso, os estadunidenses comandam os seus fantoches a partir das administrações locais, dividindo-os em unidades apropriadas. A cada unidade é designado um número e a cada número são designadas tarefas todos os dias através da inteligência militar artificial. Eles realmente transformaram 150-200 pessoas em uma máquina de lutar que trabalha sem pensar, que apenas seguem estupidamente todas as suas ordens. Durante oito anos, eles conseguiram forçar uma parte significativa da juventude ucraniana não só a entrar nas fileiras contra a Rússia, mas fazendo deles as suas próprias ferramentas com pouca vontade própria através da lavagem cerebral. Não são apenas buchas de canhão, mas buchas de canhão controladas.
Estando em uma situação absolutamente desesperançada, cercados, privados de quaisquer suprimentos que sejam, eles ainda continuam uma guerra sem sentido, condenando-se à morte e arrastando os civis à sua volta junto com eles para o túmulo. Este é um bom exemplo de como as modernas tecnologias dos EUA funcionam. Devemos compreender que estamos enfrentando uma força muito poderosa. Você sabe, nós havíamos escutado dos especialistas e políticos russos que os ucranianos irão sufocar economicamente e depois rastejarão em nossa direção. Até onde a Ucrânia irá sem nós? Ao final de contas, eles não conseguirão assegurar a reprodução da sua economia sem os nossos recursos e sem cooperar conosco. Efetivamente, a Ucrânia entrou num estado de catástrofe econômica, como prevíamos e como explicamos aos nossos colegas ucranianos. A República Ucraniana tornou-se o Estado mais pobre da Europa, junto com a Moldávia. Devido ao fato de que a Ucrânia rompeu relações com a Rússia, as suas perdas totalizam mais de US$ 100 bilhões. Mesmo assim, isto não impediu os estrategistas políticos e instrutores estadunidenses e britânicos de formar um exército de 200 mil bandidos e assassinos que representam completamente inadequadamente a realidade e são ferramentas obedientes aos interesses dos EUA.
Os estadunidenses fizeram lavagens cerebrais nos ucranianos e transformaram 150-200 mil pessoas numa máquina de guerra que funciona sem pensar.
Não existem fantoches igualmente obedientes aos EUA na Rússia? Foram só os ucranianos que se tornaram zumbis?
Sim, e aqui deve-se registrar que quase a mesma coisa está acontecendo no Banco Central russo – porém com relação a outras questões.
Antes de entrarmos na questão do Banco Central da Rússia, deixe-me esclarecer. Você disse que está trabalhando para introduzir uma nova moeda. Em qual formato e com que equipe?
Estamos fazendo isto já há muito tempo, com um grupo de cientistas. Há dez anos, no Fórum Econômico de Astana (Astana Economic Forum), nós apresentamos o relatório “Towards Sustainable Growth through a Fair world economic order” (Indo em direção a um crescimento sustentável através de uma ordem econômica mundial justa) com um rascunho de transição para um novo sistema financeiro e monetário global, no qual nós propusemos a reforma do sistema do FMI baseado nos chamados direitos especiais de saque (special drawing rights) e com base no sistema modificado do FMI para criar uma moeda mundial de liquidações financeiras. Diga-se que esta ideia suscitou um grande interesse naquela época: o nosso projeto foi reconhecido como o melhor projeto econômico internacional. Porém, do ponto de vista prático, nenhum dos Estados representados pelas autoridades monetárias oficiais se interessou por este projeto – apesar das publicações de Nursultan Nazarbayev, que propôs a seguir uma nova moeda. Penso que ele ofereceu o Altyn.
Altyn? Isso é interessante.
Sim, o artigo dele sobre este tema foi publicado até no Izvestia [importante jornal russo]. Mas as negociações e as decisões políticas não foram concretizadas e, até hoje, trata-se mais de uma proposta de especialistas. Tenho certeza que a situação atual nos força a criar muito rapidamente novos instrumentos de pagamentos e liquidações financeiras, porque será praticamente impossível usar o dólar, e o rublo não pode se estabilizar devido à política incompetente do Banco Central da Rússia – o qual, na verdade, age segundo os interesses dos especuladores internacionais.
Objetivamente, o rublo poderia se tornar uma moeda de reserva, junto com o yuan e a rúpia indiana. Assim, seria possível mudar para um sistema multi-moedas baseado em moedas nacionais. Mas ainda seria necessário haver alguma equivalência para a precificação…
Atualmente, estamos trabalhando sobre o conceito do espaço de trocas da União Econômica Eurasiana (Eurasian Economic Union), no qual uma das tarefas é formar novos critérios de precificação. Isso quer dizer que, se quisermos que os preços dos metais sejam formados na Rússia e não em Londres – como os preços do petróleo – isso implica a emergência de alguma outra moeda, principalmente se quisermos agir não só dentro da União Econômica Eurasiana, mas sim na Eurásia em sentido amplo estando no centro de uma nova ordem econômica mundial; refiro-me a China, Índia, Indochina, Japão, Coréia e Irã. Estes são países grandes, todos os quais têm os seus próprios interesses nacionais. Após a atual história do confisco das reservas em dólar, penso que nenhum país quererá usar uma outra moeda de um único país como moeda de reserva internacional. Portanto, precisamos de um novo instrumento – do meu ponto de vista, tal instrumento pode inicialmente tornar-se uma certa moeda sintética de liquidações financeiras, a qual seria construída como um índice agregado.
Você pode dar alguns exemplos? O que é isso?
Bem, tomemos como exemplo o Ecu – houve uma experiência deste tipo na União Europeia – que foi construído como um cesto de moedas. Todos os países que participaram da criação de uma nova moeda de liquidações financeiras devem ter o direito de ter a sua própria moeda nacional incluída neste cesto. E a moeda comum é formada como um índice, como um componente da média ponderada destas moedas nacionais. A isto devemos agregar, do meu ponto de vista, as commodities negociadas em bolsas: não só o ouro, mas também o petróleo, os metais, os grãos e a água – uma espécie de pacote de commodities, o qual, segundo as nossas estimativas, deveria incluir cerca de 20 produtos. Na verdade, estes produtos formam as proporções globais de preço e, por isso, devem participar da cesta para formar uma nova moeda de liquidações financeiras. E precisamos ter um tratado internacional que definirá as regras para a circulação desta moeda e criará uma organização como o fundo do FMI. Diga-se, de passagem, que nós propusemos a reforma do FMI há 15 anos, mas agora já é óbvio que o novo sistema financeiro terá que ser construído sem o Ocidente. Talvez um dia a Europa se juntará e os EUA também sejam forçados a reconhecê-lo. Porém, está claro que teremos que construí-lo sem eles – por exemplo, tendo como base a Organização de Cooperação de Shanghai (Shanghai Cooperation Organization). No entanto, estes são apenas desenvolvimentos especializados que submeteremos à consideração das instituições oficiais no próximo mês.
E a nível do governo [russo] ou do presidente?
Primeiro o enviaremos aos departamentos responsáveis por estas questões. Teremos discussões, desenvolveremos um entendimento comum e, depois, chegaremos ao nível político.
Banco Central russo a serviço do Ocidente
No seu canal no Telegram, você escreve que tudo o que resta a fazer é nacionalizar o Banco da Rússia. Porém isto ainda não foi completado? Aqui, por exemplo, há um ponto de vista que Elvira Nabiullina [presidente do Banco da Rússia] permaneça no seu cargo como uma cortina, mas que ela não mais possa lidar com qualquer coisa séria. Você pode refutar ou confirmar isto?
Você sabe que eu não quero fazer uma teoria da conspiração.
Isto é uma teoria da conspiração?
Sim, podemos falar sobre o Estado profundo (deep state) dos EUA em termos de conspiração. Neste caso, a teoria da conspiração é uma linha muito apropriada de pensamento, porque nos EUA, por trás da cortina (de fumaça) dos presidentes e parlamentares, há algumas forças profundas – os serviços especiais. Porém no nosso país [a Rússia] tudo é simples. Temos um presidente, um chefe de Estado, que construiu uma estrutura vertical de poder. Compreendemos absolutamente como o parlamento e o sistema judiciário são formados. Em geral, aqui nenhuma teoria da conspiração pode ser aplicada. Ela se aplica ao Banco Central [da Rússia]. Permita-me lembrar-lhe que, de acordo com a lei sobre o Banco Central, todas as propriedades deste são propriedades federais. Assim sendo, o Banco Central é uma estrutura de Estado, não há dúvidas sobre isso.
E eles sempre disseram que [o Banco Central] era separado, como se estivesse à margem [do Estado].
O Conselho de Diretores do Banco Central [da Rússia] é nomeado pela Duma Estatal [parlamento russo] sob a recomendação do Presidente. Eu trabalhei durante muitos anos como o seu representante [do banco] no Conselho Bancário Nacional (National Banking Council), o qual supervisiona as atividades do Banco Central. Posso dizer que não há dúvidas que o Banco Central é uma instituição estatal e que este também é o principal regulador financeiro do país. Porém há nuances. A Constituição estipula que o Banco Central conduz a sua política independentemente – isso quer dizer que [o Banco] é independente do governo. Portanto, sendo uma instituição independente, mesmo assim, o Banco Central é o Banco Central formado enquanto uma instituição regulatória do Estado a deve cumprir as tarefas necessárias para o desenvolvimento da nossa economia. Para fazer isso, é necessário envolver-se no planejamento estratégico [do governo]. A teoria clássica de circulação monetária estipula que a principal meta das autoridades monetárias – isto é, o Banco Central – deveria ser a de criar as condições para maximizar o investimento. Isso é exatamente o que o sistema bancário deveria fazer – maximizar os investimentos. Porque quanto mais investimentos, mais aumenta a produção, mais alto é o nível técnico, mais baixos são os custos e mais baixa é a inflação, e mais estável é a economia. Na economia moderna, a estabilização macroeconômica pode ser alcançada somente tendo como base o progresso científico e tecnológico acelerado. As tentativas de mirar metas da inflação (tamanha palavra de ordem), o que o Banco Central tem imitado na prática pelos últimos dez anos ao manipular as principais taxas de juros contra o pano de fundo de uma taxa de câmbio livre e flutuante para o rublo, são medidas míopes, primitivas e contraproducentes. Estas medidas são recomendadas geralmente pelo FMI para países subdesenvolvidos que não sabem como pensar por si próprios.
O que é mirar na inflação na prática? Este é um conjunto extremamente primitivo e internamente contraditório de medidas, cuja aplicação leva a economia a entrar numa armadilha estagflacionária. O Banco Central jogou o rublo na flutuação livre, o que é absurdo do ponto de vista de mirar na inflação numa economia aberta, na qual a taxa de câmbio afeta diretamente os preços. E nós vemos como a desvalorização do rublo acelera os preços periodicamente. Além disso, eles reduziram a política monetária a uma ferramenta absolutamente primitiva – a manipulação da taxa de juros. Mas a taxa-chave é a porcentagem na qual o Banco Central injeta dinheiro na economia e retira dinheiro da economia. As suas tentativas de reprimir a inflação ao aumentar a taxa de juros não pode ter sucesso na economia moderna, porque quanto mais alta for a taxa de juros, menos crédito haverá, com menos investimento, mais baixo será o nível técnico e a competitividade. Um declínio nesta última leva à desvalorização do rublo em 3-4 anos depois que eles elevam ostensivamente as taxas de juro a fim de combater a inflação. Ao deixar a taxa de câmbio do rublo flutuar livremente, essencialmente eles deixam tudo à mercê dos especuladores de moedas…
Os estadunidenses realmente gostam dessa política, então eles louvam fortemente a liderança do nosso Banco Central e do Ministro das Finanças. Ao final das contas, o que é importante para eles? Então, tudo é atrelado ao dólar, de modo que o rublo é uma moeda “lixo”, que é instável. E isso é um paradoxo, porque recentemente o total das reservas em moedas estrangeiras da Federação Russa tem sido três vezes maior do que o suprimento de dinheiro em rublos! Isso significa que o Banco Central poderia estabilizar a taxa de câmbio em qualquer nível. Porém eles não o fazem.
E quem são os especuladores a cuja mercê o Banco Central jogou o rublo? Os principais especuladores são fundos derivativos dos EUA, os quais na verdade determinam a taxa de câmbio do rublo através da manipulação do mercado. E o Banco Central não nota isso, eles não parecem dar-se conta. Para mantê-los no mercado da taxa de câmbio ao aumentar a taxa de juros, o Banco Central mata o crédito e torna a nossa economia dependente das fontes estrangeiras de crédito e faz com que o sistema de câmbio dependa dos interesses dos especuladores – é pelos interesses destes especuladores que o Banco Central trabalha, escondendo-se por detrás de chavões, como “mirar na inflação”, que vergonhosamente falhou nos anos recentes em termos da dinâmica de preços reais. Então, temos assim o ponto mais fraco de todo o sistema nacional de segurança em geral: o Banco Central, cuja direção é sobrecarregada pelas armas cognitivas do inimigo; em outras palavras, que é zumbificada por eles. Na verdade, as nossas autoridades monetárias estão fazendo aquilo que o inimigo precisa.
O Banco Central [Russo] continua com a sua política de bajular o inimigo.
Diga-se de passagem, eu provei matemática e cronologicamente que a primeira onda de sanções foi imposta contra a Rússia apenas depois que o Banco Central preparou o terreno para isso; literalmente, eles deixaram a taxa de câmbio do rublo flutuar livremente e anunciaram que elevariam a taxa de juros se a inflação começasse no país. Assim que o Banco Central adotou esta estranha política, os estadunidenses começaram a impor sanções. Os seus especuladores garantiram o colapso da taxa de câmbio do rublo, o que causou uma onda inflacionária, e o Banco Central, sob instruções do FMI, elevou a taxa de juros, o que paralisou completamente a nossa economia. O dano total causado por esta política chegou aos 50 trilhões de rublos de produtos não-produzidos e aproximadamente 20 trilhões de rublos de investimentos não-desenvolvidos. Agora nós precisamos adicionar isto aos US$ 300 bilhões investidos em ativos financeiros estrangeiros que estão congelados atualmente – este é o prejuízo.
Por isso, quando falamos sobre a nacionalização do Banco Central, não estamos falando sobre nacionalizá-lo formalmente (já está nacionalizado), mas sobre trazê-lo para uma política que seja consistente com os interesses nacionais. Agora, a política deles é contrária aos interesses nacionais. E não há teoria da conspiração aqui. Podemos ver nos interesses de quem tal política está sendo implementada. O Banco Central elevou a taxa de juros a 20%, dando aos banqueiros a posição dominante na economia. Tendo o recurso mais caro e mais escasso em mãos – o dinheiro – eles determinam qual empresa sobreviverá e qual empresa morrerá, entrará em falência, etc. A elevação da taxa de juros faz a economia russa inteira tornar-se uma refém nas mãos de um punhado de banqueiros. Este é o primeiro [interesse]. O segundo é que a direção do Banco Central permitiu um outro colapso da taxa de câmbio do rublo e fechou o mercado de câmbio de moedas. Como resultado disso, atualmente os bancos se tornaram os principais especuladores de moedas: eles compram moedas estrangeiras por cerca de 90 rublos por dólar e as vendem por 125 rublos. A diferença fica para eles como um superlucro.
Na sua opinião, por que o Banco Central da Federação Russa segue uma política a favor dos interesses do inimigo?
Como eu disse, eles [o Banco Central] fazem isso sob a recomendação do FMI. Porém os interesses deles também são compartilhados pelos nossos grandes bancos – os quais objetivamente gostam desta política -, bem como as nossas estruturas monetárias e financeiras, as quais também estão envolvidas na manipulação da taxa de câmbio do rublo. Assim sendo, um lobby influente é formado em torno desta política, o qual [lobby] apoia esta política baseando-se nos seus próprios interesses privados. Estes interesses vão contra os interesses do país, são o exato oposto a estes. E se você olhar para o que o Banco Central está fazendo atualmente, não tenho dúvida que está continuando a sua política de bajular o inimigo. Eles [o Banco Central] minam a estabilidade macroeconômica ao permitir que especuladores internacionais manipulem a taxa de câmbio do rublo e não controlam a posição monetária dos bancos que se tornaram especuladores de moedas, apesar que o Banco Central poderia facilmente retirar os bancos do mercado de câmbio, fixando a sua posição monetária, proibindo os bancos de comprar moedas.
Em segundo lugar, ao elevar as taxas de juros, o Banco Central na verdade matou os investimentos para o desenvolvimento da economia russa – os quais são muito necessários neste exato momento, basicamente para a substituição de importações e para restaurar a soberania econômica, enquanto a nossa liderança diz que não devemos temer as sanções, porque estas criam condições para o crescimento econômico, para a substituição de importações…
Veja, cerca de um terço das importações da UE deixaram o nosso mercado. Estas são enormes oportunidades para a substituição de importações. Se presumirmos que as nossas empresas começarão a desenvolver estes mercados, então nos desenvolveremos a uma taxa de 15% por ano. Mas isto requer empréstimos. A substituição das importações não pode ocorrer sem créditos. Precisamos de empréstimos para montar instalações de produção, desenvolver novas tecnologias e ativar instalações de produção ociosas. Durante muito tempo, nós desenvolvemos tal estratégia de desenvolvimento avançado na Academia [Russa] de Ciências e a estamos promovendo. Mas, infelizmente, a política louca do Banco Central – do nosso ponto de vista – tem estruturas influentes bastante específicas que gostam dela e a apoiam. É por isso que esta política é tão estável.
Sergey Yuryevich, se isto não é uma teoria da conspiração, então por que o Banco Central continua a seguir tal política? Apenas baseada nos interesses dos lobistas?
“Para quem é a guerra, e para quem a mãe é nativa”. Os bancos comerciais fazem um lucro de 40% sobre a especulação cambial. Compra por 90 rublos por dólar e vende a 125 cada. 35 rublos de lucro – nada fácil! Como resultado disso, estamos vivenciando a inflação, as importações estão se tornando mais caras e todos veem esta louca taxa de câmbio. Os preços de todos os bens estão subindo, mas os bancos estão realizando superlucros.
De novo, um lobby muito influente formou-se em torno desta política e, para muitas pessoas, admitir o fracasso de tal estratégia significa, na realidade, admitir a sua incompetência e até a sabotagem. E os especuladores que têm grandes bancos são estruturas bastante influentes no nosso país, os quais influenciam a tomada de decisões.
Bem, e se a primeira pessoa não recebe esta informação, ela é bloqueada?
Quando eu era um conselheiro, eu trouxe esta informação.
Eles o escutaram?
Sim, houve discussões no conselho econômico; depois, o assunto foi encerrado, de modo a não irritar as autoridades. Não quero comentar sobre isso agora. Hoje nós vemos que, se não mudarmos a política monetária, será impossível que sobrevivamos nesta guerra híbrida. Agora, precisamos contrapor estas sanções econômicas com um sério aumento na produção doméstica. Há instalações produtivas para fazer isso, gente, matérias-primas, cérebros também – porém não há dinheiro. Neste exato momento, a coisa mais simples que o Estado pode fazer é dar dinheiro ao povo.
Qual é o seu “feeling”? Existe alguma compreensão no topo?
Penso que devamos colocar esta questão diretamente a eles.
Mas muitas pessoas dizem que você é quase a pessoa Nº 1 na atual situação – uma figura pública que pode salvar a Rússia.
Muito obrigado por esta visão. Eu tento fazer o melhor que posso.
Eu só quero entender: se não existiu um profeta na nossa Pátria antes, há um agora? Será esta uma situação temporária no Banco Central?
Eu diria que isto é algo que se prolonga há 30 anos. Se nós tivéssemos executado uma política monetária competente, de acordo com as exigências da nova ordem econômica mundial, o sistema integrado, nos desenvolveríamos como a China – a 10% ao ano. Existiam tais oportunidades. E nós estamos praticamente perdendo tempo há 30 anos. Assim que sequer é uma questão de saber se eles estão escutando, ou não; precisamos só olhar objetivamente e ver como a China e a Índia estão se desenvolvendo e como nós estamos nos desenvolvendo. O que nos impediu de nos desenvolvermos da mesma maneira?
Além disso, o sistema de gestão da nova ordem econômica mundial, que eu descrevo nos meus livros, é universal. Funcionou com sucesso no Japão até que os estadunidenses interromperam o crescimento econômico japonês. E até na Etiópia, onde eles também começaram a formar este modelo de gestão (e conseguiram crescer diversas vezes). Em outras palavras, este modelo universal de gestão moderna da economia, centrado no crescimento do bem-estar público através do investimento numa nova ordem tecnológica, precisa ser implementado. Ao mesmo tempo, obviamente, o uso direcionado do dinheiro implica em uma grande responsabilidade. Jogar dinheiro de um helicóptero não é a nossa coisa.
“Não é a nossa coisa.”
Estamos falando sobre uma emissão de crédito direcionado baseado em ferramentas digitais modernas, com um sistema estrito de controles focado nas novas tecnologias. Sabemos como fazer isso, como maximizar o fator humano ao introduzir tecnologias digitais, incluindo o rublo digital. Mas isso não é lucrativo para aqueles que ainda aderem às estratégias anteriores. Eles transformaram a Rússia numa vaca de produzir dinheiro e sugaram US$ 100 bilhões dela para empresas offshore. Mas agora os estadunidenses fecharam a offshorização para nós. Esta é uma oportunidade real, devemos usá-la.
O quê você aconselharia que as pessoas façam? Agora a principal consulta nos motores de busca na internet é onde investir dinheiro na era da turbulência. O que as pessoas devem fazer?
Primeiro de tudo, não faça quaisquer movimentos bruscos, é o que eu diria. Seja como for, o que precisamente não é necessário é correr para comprar dólares ou euros. Porque nós não sabemos o que ocorrerá com estas moedas logo a seguir. Se o nosso sistema está desconectado do sistema ocidental, então os nossos bancos não podem, efetivamente, investir dólares nem euros em lugar algum, com exceção da especulação de moedas. Mas eu espero que as nossas autoridades ainda possam refrear o mercado de câmbio.
Neste contexto, o que os bancos fizeram ao elevar bruscamente a taxa de juros sobre depósitos de moedas estrangeiras, acabou revelando-se como um exagero que provocou pânico. Penso que o rublo se estabilizará se, obviamente, os especuladores forem removidos do mercado de câmbio e a moeda for vendida apenas aos importadores e pessoas que transferem dinheiro para parentes no exterior dentro de limites razoáveis, ou que farão uma viagem de negócios segundo as regras. Caso contrário, bloqueie os canais de vazamento de moedas. Aí, então, o ingresso de moedas voltará ao normal.
Você pode estabilizar o rublo em três dias.
Você sabe, nós temos uma balança comercial muito positiva. Foi introduzida a venda mandatória de 80% dos ganhos em moedas estrangeiras. Se você vender esta renda no mercado de ações, o volume de moedas será maior do que os importadores precisam. Teremos um excedente de moedas. Isto significa que a taxa de câmbio do rublo se fortalecerá; isto quer dizer, voltará aos antigos indicadores – de 80 ou até 70 rublos por dólar. Mas até que o Banco Central remova os especuladores do mercado e permita que os bancos comerciais se tornem realmente comerciais, a taxa de câmbio do rublo não se estabilizará. Então, infelizmente, enquanto as autoridades monetárias ainda não fizerem sentido e não começarem a implementar a política correta de estabilização macroeconômica, eu não poderei dar conselho algum a não ser de investir em ouro, se possível – especialmente porque o governo isentou o ouro do VAT (imposto sobre valor agregado). Não existem mais outros ativos reais e paraísos fiscais.
Então você sugere comprar ouro?
Compre necessidades básicas, ou invista em imóveis, em algo confiável. Quanto a investir em dólares e euros… Estes já deixaram de ser moedas para nós. Estas não são mais moedas, apenas algumas obrigações [promissórias] de outros países que podem ou não ser cumpridas. Então, precisamos procurar outras oportunidades. Mas eu gostaria de enfatizar novamente que, com a política correta, poderemos estabilizar o rublo rapidamente, ou até restaurar o poder de compra dele.
E em qual perspectiva, afinal das contas?
Isso pode ser feito amanhã, você sabe? Os governos de Primakov e Gerashchenko o fizeram em uma semana.
Será que o [atual] governo pode fazer isso?
Obviamente que pode. Em geral, para fazer isso você precisa tomar duas decisões: fixar a posição de moeda dos bancos comerciais e introduzir padrões de venda de moedas para operações fora do trading, e manter o mercado de câmbio conversível livre para operações comerciais. Só isso. Você pode escrever isso em 15 minutos e anunciá-lo dentro de um dia, ou introduzi-lo em três dias, e o rublo se estabilizará.
Sobre Sergey Glazyev
Sergey Yurievich Glazyev (Russo: Серге́й Юрьевич Глазьев), nascido em 1º de janeiro de 1961, em Zaporozhye, República Socialista Soviética da Ucrânia, URSS, é um político e economista russo, membro do Conselho Financeiro Nacional do Banco da Rússia, e, desde 2008, um membro efetivo da Academia Russa de Ciências. Glazyev foi ministro da Relações Econômicas Exteriores da Rússia no gabinete de Boris Yeltsin de 1992 a 1993, membro da Duma Federal Russa de 1993 a 2007, foi um dos líderes do bloco eleitoral de 2003 a 2004 e candidato à Presidência da Federação Russa em 2004, e conselheiro do presidente da Federação Russa nas negociações de integração regional de 2012 a 2019. Desde então, Glazyev é tido como conselheiro informal pessoal de Vladimir Putin. (Wikipedia)
*Entrevista publicada em inglês no The Saker, em 28/3/22, a partir de entrevista, em russo, no ‘Business Online’. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247.
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