Gasolina no cessar fogo 1

Share Button
JPEG - 31.3 kb
23/12/2015, Manlio Dinucci, Il Manifesto, Itália
A Resolução n. 2.254 sobre a Síria, aprovada por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU, sublinha “a estreita ligação entre um cessar-fogo e um paralelo processo político”.

A desativação do conflito favoreceria uma redução das tensões no Oriente Médio.

Há, porém, um problema: três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança – Estados Unidos, França e Grã Bretanha – são os mesmos que violaram duramente “a soberania e a integridade territorial da República Árabe Síria”, a qual na resolução dizem “apoiar fortemente”. São os mesmos que organizaram “o crescente afluxo de terroristas na Síria”, pelo qual na resolução “exprimem a mais grave preocupação”.

Mas o “cessar-fogo” depende sobretudo dessas três potências, e da Turquia, todas membros da Otan, posto avançado da guerra encoberta contra a Síria e dos demais membros da Aliança, a começar pela Alemanha. Depende também de outra potência, Israel, que tem as mãos na massa nesta e em outras guerras. Quais as intenções ativas nessa Resolução? Mais do que palavras, valem os fatos.

Dia 18 de dezembro, no mesmo dia em que o Conselho de Segurança traçava o “mapa do caminho para a paz” na Síria, a Otan anunciava o envio de navios de guerra alemães e dinamarqueses e aviões radar Awacs à Turquia para reforçar a “defesa na fronteira com a Síria”, jogada que, na realidade, fazia mira contra a Rússia, cuja intervenção contra o chamado Estado Islâmico está mudando a favor de Damasco a sorte da guerra.

E no dia seguinte, a Otan anunciava que está pronto o primeiro dos drones Global Hawk que serão instalados no setor norte-americano da Estação Aeronaval de Sigonella, de Itália e Otan, na Sicília, para “vigilância terrestre”, ou seja, para espionar os países enquadrados na mira estratégica dos Estados Unidos e da Otan.

Ainda no mesmo dia em que o Conselho de Segurança desenhava o “mapa do caminho para a paz” no Oriente Médio, a Alemanha anunciava a entrega a Israel do quinto submarino de ataque nuclear. Como documenta o jornal Der Spiegel, são submarinos Dolphin modificados para o lançamento de mísseis cruzadores nucleares, os Popeye Turbo, com raio de 1.500 quilômetros, derivados do mísseis norte-americanos. Com o novo submarino rebatizado Rahav (Poseidon) – cujo custo supera os 2 bilhões de dólares, um terço dos quais financiado pelo governo alemão – Israel reforça a sua posição de única potência nuclear da região, enquanto o Irã (que diferentemente de Israel assinou o Tratado de Não Proliferação) renuncia às armas nucleares, e a Síria entrega as armas químicas construídas como dissuasivo contra as armas nucleares de Israel.

Em 19 de dezembro, um dia depois de o Conselho de Segurança reafirmar “a soberania e a integridade territorial” da Síria, Israel destruía totalmente um edifício em Damasco, com mísseis lançados por dois caças, operação para assassinar o militante libanês Samir Kuntar, da qual resultaram mortos além de Kuntar, vários civis.

Samir Kuntar, depois de 30 anos de cárcere em Israel por ter lutado pela independência do Líbano e da Palestina, foi libertado em uma troca de prisioneiros em 2008, aderiu ao Hesbolá e foi combater o chamado Estado Islâmico; por esta razão era listado por como “terrorista global”.

Ao mesmo tempo, a França, apoiadora no Conselho de Segurança do cessar-fogo na Síria, anunciava ter recebido a soma de mais de 7 bilhões de dólares pelo fornecimento de 24 caças bombardeiros Rafale ao Catar, o regime que alimentou, inclusive com comandos infiltrados, a guerra na Síria, que deu sequência à guerra em que a Líbia foi demolida.

Além desses, lá está também, a pregar cessar-fogos, a Arábia Saudita. Essa, além de financiar com bilhões de dólares o chamado Estado Islâmico e outros grupos terroristas, participa na coalizão dirigida pelos Estados Unidos “contra o Estado Islâmico” e até promoveu uma “coalizão islâmica antiterrorismo”

Manlio Dinucci Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações :Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ;Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005

(Trad. José Reinaldo, Blog Resistência)

Share Button

Um comentário sobre “Gasolina no cessar fogo

  1. Responder Renato dez 27,2015 23:45

    Torna-se assim difícil, um cessar fogo e trabalhar pela paz no Oriente Médio. Há que escrever também que essas organizações globais são grandemente falhas pelo fato de ali estar os que querem uma paz segundo seus interesses geopolíticos.

Deixar um comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.