EUA contra jihadistas na Síria: O custo de uma aventura

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Publicado Prensa Latina ( Havana), 09 /10/ 2014

 Os Estados Unidos puseram em prática as operações militares contra grupos do Estado Islâmico (EI) em território sírio, sob o risco de um alto custo político e sem autorização das autoridades de Damasco, em uma campanha complexa que poderia durar anos.

Como parte de suas tentativas para obter maior apoio internacional, o presidente Barack Obama defendeu estes planos no dia 24 de setembro na Assembleia Geral da ONU, onde afirmou que cerca de 40 países aprovam suas ações contra os jihadistas.

Sobre um comunicado da Chancelaria síria disse que Damasco apoia qualquer esforço encaminhado à luta contra o terrorismo, mas reafirmou que essa luta deve conservar a vida dos civis inocentes, respeitar a soberania nacional e estar em conformidade com os convênios internacionais.

Na opinião do jornal The New York Times, o presidente tomou uma decisão equivocada ao expandir os bombardeios para território sírio sem permitir um debate público antes de que o país entre em outro conflito potencialmente longo e caro no Oriente Médio .

No plano militar, desde o início dos ataques em 23 de setembro, o Pentágono realizou mais de 70 ataques contra objetivos desses extremistas em território sírio, com foguetes lançados desde navios e de aviões militares localizados em bases aéreas estadunidenses no Oriente Médio.

Nas operações participam aviões caça F-22 – empregados pela primeira vez em combate-, F-15, F-16, F-18, bem como bombardeiros B-1 e aeronaves teledirigidas (drones), o que em seu primeiro dia teve um custo aproximado de quase 79 milhões de dólares.

Tais ações contaram com o apoio de países como a Arábia Saudita, Jordânia, Bahrein, Catar, os Emirados Árabes Unidos e outros países aliados, ainda que se desconheçam os detalhes da participação destes nos bombardeios.

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Os ataques na Síria, que deixaram ao menos duas dezenas de civis mortos, estão dirigidos contra as áreas de concentração que os fundamentalistas do EI utilizam para o tráfego de pessoal e logística.

Também, têm como alvos pequenas refinarias que eles explodem para vender o petróleo no mercado ilegal como meio para financiar suas operações.

De forma paralela, o Pentágono tem realizou desde 8 de agosto passado mais de 250 bombardeios para destruir posições do EI no Iraque.

Em ambos os países as forças armadas norte-americanas enfrentam sérias dificuldades para detectar os objetivos militares do EI que devem ser destruídos porque os fundamentalistas têm adotado medidas para sobreviver aos ataques.

Os jihadistas no Iraque e na Síria viajavam em grandes colunas de veículos com bandeiras que os identificavam, mas agora se transladam de forma mais dispersa, o que torna mais difícil localizá-los, disse em 29 de setembro o general Jeffrey Arrigían, vice-chefe de Operações da Força Aérea.

A ausência de tropas terrestres nas zonas bombardeadas torna mais difícil que o comando militar estadunidense verifique os resultados de seus ataques e ocupe as posições das quais foram deslocados os irregulares.

Precisamente, o possível envio de forças de terra adquiriu novas matizes nas últimas semanas, com a insistência de líderes políticos e militares sobre a necessidade de empregá-las para derrotar esses extremistas.

Entre os especialistas no tema parece existir coincidência em que os ataques aéreos por si só não poderão cumprir o objetivo de Obama de destruir os grupos do EI no Iraque e na Síria, mas existem divergências sobre qual país será o que contribuirá com as unidades.

Em uma tentativa de justificar uma intensificação na luta contra o EI, Obama disse recentemente que os serviços de espionagem de seu país subestimaram inicialmente as capacidades militares dos jihadistas.

O chefe da Casa Branca acrescentou que informações mais recentes da inteligência permitiram conhecer com maior precisão o tipo de força que é necessário utilizar para combater os fundamentalistas.

Nesse sentido, o presidente da Câmara de Representantes, John Boehner, estima que não a estratégia esboçada pelo presidente contra o EI não terá sucesso porque para derrotá-lo finalmente “alguém terá que pôr suas botas no terreno”.

Obama disse que não enviará tropas terrestres ao Iraque para combater os jihadistas e que as forças despregadas ali – uns dois mil 260 efetivos- não participarão em missões de combates, senão em tarefas de treinamento das unidades locais e na busca de informação de inteligência.

Por sua vez, o vice-assessor de segurança nacional da Casa Branca Tony Blinken disse à emissora de televisão Fox News que na sua opinião os grupos armados que se opõem ao governo sírio constituem uma força importante para combater os radicais, com o apoio aéreo de Washington e seus aliados.

Sobre o tema, o presidente da Junta de Chefes de Estado Maior, general Martin Dempsey, o oficial norte-americano de mais alta rango, respalda a ideia de usar em uma ofensiva terrestre aproximadamente 15 mil integrantes dos grupos armados que tentam derrubar o governo de Damasco pela força.

Quanto aos aspectos político-legais, a Casa Branca considera que tem a “autoridade” necessária para atacar os extremistas em ambos os países árabes.

No entanto, um grupo crescente de congressistas de ambos os partidos afirmam que para desenvolver uma campanha bélica que seja sustentada, Obama deve pedir autorização ao Capitólio, que agora está em recesso até o dia 12 de novembro, uma semana após as eleições do dia 4 do mesmo mês.

A maioria dos membros do Capitólio não parece estar ansiosa para suspender o descanso legislativo e regressar a Washington para autorizar uma nova guerra, apesar de que alguns de seus colegas insistem em realizar uma votação sobre o tema assim que for possível.

Também, segundo pesquisas recentes, mais de 60% dos cidadãos estadunidenses se opõem à utilização das tropas terrestres norte-americanas nas ações de combates nesses países árabes, ainda que 73% deles aprovem os bombardeios do Pentágono.

A intensificação no translado de forças ao território iraquiano parece indicar, segundo especialistas, que Washington pretende em curto prazo introduzir forças terrestres e nesse sentido se destaca o anúncio do translado iminente de 200 efetivos e da chefatura da Primeira Divisão de Infantaria, com sede em Fort Riley, estado de Kansas.

Como medida adicional de reforço de suas capacidades na região, os Estados Unidos colocará no Oriente Médio uma nova força de resposta de cerca de dois mil marines com capacidade para intervir em tempos relativamente breves, informou o jornal Marine Corps Times em 30 de setembro passado.

A unidade, cuja chefatura estará no Kuwait, encontra-se em processo de preparação e será enviada nos primeiros meses do ano fiscal 2015 – que começou dia 1 de outubro – na área de responsabilidade do Comando Central do Pentágono, a cargo das operações militares na região.

O grupo contará com aviões de ataque AV-8B Harrier, aeronaves de transporte MV-22 Osprey e cisternas KC-130, bem como com helicópteros, e terá uma estrutura similar à força de Tarefa Aeroterrestre de Infantaria da Marinha que os Estados Unidos estabeleceram em 2013 em Morón, Espanha.

O Marine Corps Times justificou a criação desta força pela grande preocupação no Governo dos Estados Unidos sobre os possíveis ataques contra seu pessoal e instalações norte-americanas no Oriente Médio depois de que o Pentágono iniciou os bombardeios aéreos no Iraque e na Síria.

De qualquer maneira, especialistas no tema questionam o fato de que as críticas se centram em que o Congresso não aprovou as ações punitivas contra a Síria e não na falta de legitimidade que estas têm em relação ao direito internacional.

 

Por: Jornalista da Redação Norte da Prensa Latina

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