Escalada na Palestina Hezbollah pronto para entrar em combate 

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13/5/2021, Moon of Alabama

A guerra que forças de ocupação da Palestina fazem contra a população originária tem alguns traços estranhos.

É verdade que o conflito foi, e disso não resta dúvida, iniciado pelos ocupantes colonialistas; mas a escalada atualmente em curso parece comandada pela Resistência. Pode ser parte de plano maior.

O exército israelense planejou por longo tempo uma manobra de larga escala, com duração de 30 dias, para ‘ensaiar’ ataque ao Hezbollah no Líbano. Semana passada, o Hezbollah reagiu:

A organização terrorista Hezbollah com base no Líbano anunciou que está em alerta máximo depois que o exército de Israel lançou o maior exercício militar de todos os tempos.

O exército de Israel iniciou no domingo o exercício intitulado “Carruagens de Fogo”, com duração de um mês, em que simula guerra em vários fronts, e principalmente contra o Hezbollah no norte, incluindo disparo massivo de mísseis e foguetes de todas as arenas no front doméstico.

É o maior e mais amplo exercício de manobras da história do exército de Israel (…).

As manobras foram anunciadas já há algum tempo. O Hezbollah chegou a supor que fosse movimento falso, para desviar atenção de algum assalto israelense ao Líbano. Veio em momento interessante.

O Dia Internacional de Jerusalém foi criado pelo Imã Khomeini em 1979, ano do triunfo da Revolução Islâmica no Irã, para reacender a causa palestina, e o dia é celebrado na última 6ª-feira do mês de Ramadan.

Esse ano, a última 6ª-feira de Ramadan caiu no dia 7 de maio. Dia 5 de maio, o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah pronunciou seu Discurso anual do Dia de Jerusalém (al-Quds):

Nossa responsabilidade pelo dia de Jerusalém (Al-Quds) é garantir toda a ajuda possível ao povo palestino, à Resistência Palestina. O Eixo da Resistência deve estar ainda mais unido e comprometido com a causa, e já está em prontidão, e tem de ampliar a prontidão (para a guerra final). Tem de se fortalecer sempre mais, porque o Eixo da Resistência modelará o futuro do Oriente Médio.


Se acompanhamos o desenvolvimento da atual fase do conflito na Palestina, essas palavras podem estar ganhando significado mais profundo:

A mesquita al-Aqsa, um dos três locais sagrados no Islã, há muito tempo é um emblema da Resistência Palestina contra a ocupação israelense.

Al-Haram al-Sharif (o Nobre Santuário), o complexo na Cidade Antiga de Jerusalém que abriga a mesquita – e que inclui também o Domo da Rocha e outros locais sagrados do Islamismo – é, pode-se dizer, o símbolo mais significativo da soberania palestina.

Jerusalém vive à beira da explosão já há semanas, por causa das restrições que Israel impôs ao acesso de palestinos a partes da Cidade Velha durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã, e a tentativa, por autoridades israelenses, de despejar várias famílias palestinas no bairro Sheikh Jarrah, para dar lugar a colonos israelenses.


Al-Aqsa viu-se no centro de um longo fim-de-semana de violência desde a 6ª-feira, que deixou centenas de feridos e levou a uma troca mortal de foguetes entre militares de Israel e do Hamas em Jarra Gaza.

Na 3ª-feira à noite, forças israelenses já haviam atacado quatro vezes, em cinco dias, o santuário sagrado dos muçulmanos.

Na 6ª-feira, dia 7 de maio, Dia de Al-Quds, aconteceram os primeiros protestos em Al-Aqsa contra o roubo das moradias em Sheikh Jarrah. Também se levantaram contra a marcha ‘Morte aos Árabes’ de colonos de direita e ultrassionistas em Jerusalém Leste, planejada para domingo, 9 de maio.

A marcha dos colonos foi cancelada, mas continuaram os protestos e os raids em Al-Aqsa. Na 2ª-feira à noite, as forças de segurança de Israel atacaram Al-Aqsa três vezes. Segundo a Cruz Vermelha Palestina, 305 palestinos foram feridos e outros 228 foram hospitalizados, quatro dos quais em estado crítico.

Na 2ª-feira, os militares israelenses cancelaram os exercícios “Carruagens de Fogo” no norte, para se concentrarem numa possível escalada da violência em Jerusalém.

Nesse ponto, a Resistência na faixa de Gaza integrou-se ao conflito, quando disparou mísseis contra colônias israelenses.

O movimento não era indispensável. Gaza entrou no conflito voluntariamente. Presumivelmente, a liderança da Resistência em Gaza crê que tem as capacidades e o apoio para sustentar uma nova rodada de lutas. Desde então, cerca de 2 mil mísseis foram disparados contra alvos israelenses, em Telavive, a cerca de 230 km ao norte de Gaza. É alcance muito maior que o de antes, para mísseis disparados de Gaza. Só cerca de 10-20% dos mísseis disparados chegaram ao alvo. Alguns foram contidos por mísseis de defesa de Israel, mas muitas das armas produzidas localmente não têm precisão suficiente, ou simplesmente falharam. Mesmo assim, o efeito psicológico sobre a população ocupante é severo.

Israel começou imediatamente a guerra aérea contra Gaza. Como em rodadas prévias do conflito, Israel atacou mídia, polícia e infraestrutura. Esses ataques configuram crimes de guerra. Chegaram junto com uma campanha de assassinatos de líderes presumidos da Resistência.

Na 2ª-feira, 10 de maio, surgiu outro front, quando houve protestos antijudeus em Lod. Lojas foram atacadas e incendiaram-se carros. Nas duas noites seguintes, escalaram os pogroms antiárabes e as manifestações antijudeus:

Na 4ª-feira, Israel conheceu a pior noite, em muitos anos, de caos interno, com conflito armado com Gaza, cenas de tumultos, levante da população, marchas e comícios de ódio e crescente caos social em várias cidades, algumas das quais já foram vistas como símbolos de coexistência.

Irrompeu confronto violento em Lod, Acre, Jerusalém, Haifa, Bat Yam, Tiberias e muitas outras locações, com feridos, alguns muito gravemente, levando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a anunciar que considerava a possibilidade de pôr seu pessoal militar dentro das cidades, para restaurar a ordem.

Gangues de colonos foram vistas pelas ruas de Tiberias e Haifa à procura de árabes a atacar.

Em Jerusalém, um árabe foi apunhalado por colonos judeus e gravemente ferido, no mercado de Mahane Yehuda.

Ouviu-se “Morte aos árabes” em muitos locais onde houve comícios de colonos judeus.

E em Acre, um judeu foi atacado por agitadores árabes, armados com pedras e barras de ferro, e foi hospitalizado em estado crítico.

Há notícias de tumulto de árabes em Jerusalém, Lod, Haifa, Tamra e em outros pontos.

Os militares israelenses convocaram reservistas e moveram suas forças para o sul, para a fronteira com Gaza. Hoje a Resistência em Gaza usou pela primeira vez drones suicidas contra mísseis de defesa israelenses. Tropas israelenses concentradas em torno de Gaza têm muito o que temer dessa nova arma.

O governo israelense do ainda primeiro-ministro Netanyahu ameaça agora invadir Gaza por terra. Mas ataques por terra sempre geram baixas na força atacante, coisa que israelenses em geral cuidam de evitar. São necessários mais mísseis vindos de Gaza para que Netanyahu tenha de lançar esse ataque.

Apesar do bloqueio israelense e egípcio da faixa de Gaza, as forças da Resistência parecem estar muito bem em termos de suprimentos. Podem ter maior capacidade do que se assume.

Com tumultos em Jerusalém, pogroms em cidades israelenses, uma terceira Intifada na Cisjordânia ocupada e invasão por terra em Gaza, o exército israelense estará muito ocupado. Se as coisas chegarem a isso nos próximos dias, a situação pode levar o Hezbollah, já em estado de máxima prontidão, a entrar e atacar os colonos ocupantes nos territórios ocupados.

O discurso de Nasrallah semana passada pode ser compreendido como aviso de um passo desse tipo:

Minha mensagem de encerramento será para os próprios israelenses. Digo-lhes o seguinte: vocês sabem bem, no fundo do coração, seja conhecimento baseado em seus textos ou doutrinas religiosas, em seus livros ou em suas profecias, e também baseado no que dizem alguns de seus líderes e especialista, e também baseado no que dizem algumas das autoridades religiosas israelenses, vocês sabem – muito bem – que essa entidade ‘Israel’ não tem futuro, que está à beira de ser extinta e que lhes resta pouco tempo de vida, bem pouco tempo. Assim sendo, estão desperdiçando energia nessa batalha, e seus jovens estão desperdiçando a juventude e o próprio sangue, em vão, em troca de nada.

Cremos nesse futuro próximo, quando Israel terá deixado de existir, cremos nisso com fé muito firme, e essa nossa fé não se baseia só em ideias religiosas ou ideológicas, mas baseia-se sobretudo em dados, nos eventos em campo, especialmente nos eventos das décadas recentes, de anos recentes e no que acontecerá (em breve) nessa região.


É possível que Netanyahu tenha planejado a escalada original em Jerusalém para permanecer no governo:

Depois de quatro eleições, Israel ainda não tem novo governo. O primeiro-ministro Netanyahu está sendo julgado por corrupção. Uma grande guerra que possa ser vendida ao país como vitória, pode ajudá-lo a evitar o julgamento e ganhar votos para a provavelmente bem próxima nova eleição.

Se esse era o plano de Netanyahu, já obteve sucesso num primeiro passo nessa direção:

O líder do partido Yamina, Naftali Bennett, “retirou da mesa de negociações” a opção de formar novo governo sem o partido Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, considerando o conflito militar em curso com (…) Gaza, diz uma fonte política.

Bennett reformatou suas negociações com o Likud, dada a situação de emergência, e equipes dos dois partidos reuniram-se hoje, diz a mesma fonte, que pediu que seu nome não fosse divulgado.

Mas não é Netanyahu quem decide quando os mísseis pararão de ser disparados de Gaza. Nem Netanyahu controla a juventude palestina. Não está nas mãos de Netanyahu dominar a escalada: quem controla a escalada é a Resistência.

Ali @allushiii_new – 18:19 UTC · May 13, 2021 [aqui traduzido]
Bismillahhhh [“Em nome de Deus”]
3 foguetes disparados do Líbano para a Palestina

O Daily Star no Líbano confirmou o ataque de foguetes à noite. Se Israel reage a essa provocação, como faz usualmente, uma guerra no norte do território pode rapidamente se tornar realidade. E não será pequena.

Ansar Allah, movimento liderado pelos Houthis no Iêmen, ofereceu-se para lutar também contra os ocupantes da Palestina. O movimento é bem conhecido por suas capacidades para surpreender no longo alcance, e esse diferencial pode, em algum momento, acender a luta.

Embora eu ainda não esteja convencido de que tudo isso seja parte de um plano – desde o discurso do Hezbollah, sobre tumultos em Jerusalém, mísseis de Gaza, pogroms, até esses recentes mísseis disparados do Líbano –, tudo isso faz pensar em (re)ação bem ensaiada e coordenada, do front da Resistência.

Planos do general Qasem Soleimani começam a ser postos em prática.

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

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