Entrevista do Presidente Bashar Al Assad à TV Al Manar

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TRECHOS DA ENTREVISTA CONCEDIDA EM 25/08/2015.

  1. Sobre a confiança da Síria na vitória, nesta guerra que vem enfrentando contra o terrorismo e quais seriam as bases desta confiança.

Presidente Bashar Al Assad: Se não houvesse esperança dos cidadãos na vitória, não teríamos resistido por mais de quatro anos e meio. Esta esperança forma o estímulo para enfrentarmos o terrorismo e o plano traçado e aplicado à Síria, assim como foi aplicado a alguns países árabes.

Nós dependemos, em primeiro lugar, do povo, depois de Deus é claro, porque se você não tiver o apoio do povo, não lhe será possível resistir e se você não tiver o apoio popular, a orientação política ou nacional, que você adota como presidente, responsável ou Estado, não terá nenhuma valia. Dependemos, em primeiro lugar, do povo e, em segundo lugar, dos amigos que se posicionam firmemente ao lado da Síria e a apoiam, tanto na região do Oriente Médio quanto no mundo.

  1. As ‘diligências’ dão a impressão de que chegamos aos últimos 15 minutos de vida da crise na Síria.

Presidente Bashar Al Assad: Não posso dizer que chegamos aos últimos 15 minutos até que possamos dar um basta à origem do problema na Síria, que parece complexo, tem muitos detalhes e muitos fatores envolvidos, mas a essência deste problema é a interferência externa, o pagamento em dinheiro e o envio de armas e terroristas à Síria.

Quando chegarmos à fase de impedir os países que estão imersos na conspiração contra a Síria e os países imersos no derramamento de sangue sírio, quando estes países pararem de apoiar o terrorismo, aí sim poderemos dizer que estamos nos últimos 15 minutos, porque os outros detalhes da chamada solução política ou caminho político ou algo parecido ou outros procedimentos, serão detalhes simples sem importância, ou seja, não serão essenciais para resolver o problema. Serão detalhes sobre os quais poderá haver acordo, até mesmo sobre o combate aos terroristas que existem, atualmente, no interior da Síria.

Quando cessar o apoio externo, será muito mais fácil combatermos esses terroristas, mas até agora não chegamos a este momento. Esta transformação existe, mas a transformação é uma coisa e chegar ao fim da crise é outra, completamente diferente. Pode ser que esteja próximo. Eu não quero pintar um quadro negro ou demonstrar algum tipo de pessimismo. É que, às vezes, antes de chegarmos aos últimos 15 minutos, há um grande aumento na escalada (dos acontecimentos), daí pode ser que esta escalada seja um indicativo para chegarmos ao fim. Só que nós ainda não chegamos nesta fase.

  1. O conceito de ‘solução política’.

Presidente Bashar Al Assad: Eu não uso a expressão ‘solução política’, mas sim ‘caminho político’. A solução é para um problema. Existe um problema. E existe uma solução composta de eixos. Temos o eixo do combate ao terrorismo e temos o eixo político, conforme o que foi abordado no início. Foi abordado que o motivo da crise é político e isso não é verdade. Como eu mencionei há pouco, o motivo é a interferência externa, mas nós caminhamos com tudo o que nos foi proposto. Disseram que o problema está relacionado à Constituição. Reformamos a Constituição. Disseram que o problema está relacionado às leis. Mudamos as leis. Disseram que o problema está relacionado à trajetória econômica ou à política econômica. Mudamos muitas das nossas políticas econômicas daquele tempo. Talvez estivéssemos errados e eles certos mas, ao mesmo tempo, queríamos provar a eles que esta conversa não está certa.

Está sendo proposto, agora, que é imprescindível o diálogo com as forças políticas para chegarmos a uma solução para a crise. Dissemos que não temos nada contra, que venha esta força, que se apresenta como representante do povo sírio e que prove ser representante do povo sírio ou que tenha alguma influência sobre ele. Nós estamos dispostos a dialogar com ela, sem hesitação. É isso que nós chamamos de caminho político. Mas, na realidade, para que este caminho político tenha efeito, ele precisa ocorrer entre as forças políticas sírias. Forças políticas sírias independentes pertencentes ao povo sírio. Com raízes sírias. Somente dentro da Síria e não como vemos agora nas muitas forças com as quais dialogamos, ligadas ao exterior financeira e politicamente.

Se quisermos falar sobre o diálogo político e o caminho político, eles serão necessários, não somente para a solução da crise, mas também para o desenvolvimento da Síria. Até o momento, não conseguimos formar os elementos necessários ou o ambiente adequado para chegarmos, através deste diálogo, aos resultados finais, especialmente devido à continuidade no apoio ao terrorismo, que representa um grande impedimento frente ao verdadeiro e produtivo trabalho político no terreno.

  1. A entrada do Sultanato de Omã no caminho da crise, a visita do Sr. Ministro das Relações Exteriores e até onde isso pode representar uma das saídas para a crise.

Presidente Bashar Al Assad: É evidente que Omã tem um importante papel no tratamento dos diferentes pontos de tensão em nossa região, a fim de impulsiona-la em direção ao apaziguamento que se seguirá à solução. É trivial que a visita do Ministro de Relações Exteriores ocorre neste âmbito, ou seja, no âmbito da análise da crise síria, assim como é trivial que o papel de Omã seja o de ajudar na solução.

Estes encontros tinham como objetivo examinar o ponto de vista sírio sobre a forma de solucionar a crise e, ao mesmo tempo, foram examinados o clima regional e internacional, baseado em suas relações, para chegar a algo definido. Então, esta é a primeira visita e é o primeiro encontro em muitos anos. Ainda é cedo para falarmos sobre o papel que será desempenhado por Omã. Temos que ver a continuidade deste diálogo e acompanha-lo para definirmos, posteriormente, como as coisas serão conduzidas.

  1. A reincidência dos recentes bombardeios do inimigo sionista contra os territórios sírios, como lidar com eles e será que o inimigo pode criar um clima e um fato consumado diferente na Síria ou no Golã ocupado?

Presidente Bashar Al Assad: Se voltarmos à experiência do Líbano nas décadas passadas, o que encorajou Israel contra os libaneses? Uma parte dos libaneses estava ligada ao exterior. Alguns deles eram ligados a Israel. Alguns chamavam e induziam à interferência externa das mais variadas formas. Isso refletiu a imagem da fraqueza e lhes deu coragem. Agora vale o mesmo para a Síria. Quando existem grupos sírios que aceitam tratar com os inimigos, desde Israel até os outros inimigos e opositores, e os chamam a interferir na Síria, isso encoraja os outros sobre a pátria.

Hoje, o verdadeiro e mais importante instrumento israelense nesta ofensiva são os terroristas que estão na Síria. O que eles estão fazendo é muito mais grave do que o que Israel faz entre um período e outro a fim de apoiá-los. Eles são a base do problema. Se quisermos enfrentar Israel, temos, primeiramente, que enfrentar os seus instrumentos dentro da Síria. Não é possível enfrentar um inimigo externo quando você tem um inimigo interno. Temos que resolver a questão dentro da Síria e aí as coisas voltarão a ser como eram e ninguém terá coragem de ir contra a Síria, nem Israel nem ninguém.

  1. Será que a consciência do inimigo sionista de que a prioridade da Síria é o combate aos takfiristas em seus territórios o levou às ofensivas?

Presidente Bashar Al Assad: Talvez este seja um fator, mas o fator mais importante é a existência de pessoas que se disponham a colaborar com ele. A existência daqueles que aceitam ser tratados nos hospitais do inimigo sionista e a coragem, ao ponto da insolência, daqueles que vão às redes sociais e outros meios para elogiar Israel, enquanto ela ataca o seu país. A força de um país depende, em primeiro lugar, antes mesmo do exército ou do regime político ou qualquer outra coisa, da unidade do seu povo. É claro que o povo, em sua maioria, está unido, mas quando há focos de agentes e traidores e focos de extremismo e terrorismo, isso constitui pontos de fraqueza que não podemos negar. Devemos lidar com estes fatores e aí, do meu ponto de vista, os outros fatores que mencionei serão secundários.

  1. Quanto à mudança das regras de combate com o inimigo sionista, sobre as quais falou o Secretário Geral do Hezbollah.

Presidente Bashar Al Assad: Certamente, levando-se em consideração a diferença entre o campo sírio e o campo libanês. Há a diferença geográfica e a diferença demográfica quanto às fronteiras. A fronteira entre a resistência e Israel é a resistência libanesa, mas a fronteira entre nós e Israel são os agentes de Israel, que é o mesmo que ocorreu com os exércitos de Lahd e Saad Haddad no passado. Temos, primeiramente, que tratar do problema antes de tratar do que vem depois dele, em termos geográficos e políticos. Quando o problema que mencionei for, fundamentalmente, um problema nacional, é imprescindível resolvê-lo primeiro e aí abordaremos o restante dos problemas.

  1. As reações ao último discurso do Sr. Presidente e sobre os temas abordados quanto ao exército e sua influência e sobre as alegações dos inimigos da Síria de que ela estaria entregando o país ao Irã e ao Hezbollah, quando o discurso mencionou que ‘a pátria não é de quem nela vive e carrega o seu passaporte, mas de quem a defende e a protege’.

Presidente Bashar Al Assad: Quanto ao primeiro ponto, eu fui claro e sincero. Não há dúvida de que qualquer situação de guerra leva (as pessoas) a fugir do exército. Eu disse isso, claramente, em meu discurso. Não nego e eu me dirijo com transparência ao cidadão sírio. Nós não nos importamos com o que é divulgado pela imprensa inimiga. Isso tem um efeito negativo em qualquer batalha e sobre qualquer exército. Isso ocorreu nos Estados Unidos, durante a guerra do Vietnã e em todos os exércitos, mas quando a guerra tem um tipo específico e o inimigo não para de avançar, especialmente no aspecto humano, o seu efeito é ainda maior.

Por isso, quando eu expliquei os recuos do exército em algumas áreas, vimos que estes recuos ocorreram, porém houve avanços das forças também. Ou seja, houve recuos e avanços nestas áreas e neste período que já ultrapassa um mês. Isto é algo natural e trivial em todas as sociedades e em todas as guerras, mas eu quis direcionar os holofotes para este ponto, porque ele tem o efeito de incentivar os jovens a aderirem às forças armadas. Portanto, não existe nenhum erro de expressão sobre este assunto, que foi abordado com clareza.

Quanto ao segundo ponto sobre a pátria ser de quem a defende, isso é certo. Mas a defesa da pátria não ocorre somente ao empunharmos uma arma para defendê-la. A defesa da pátria ocorre conforme o objetivo necessário. Por exemplo, os inimigos e opositores da Síria quiseram derrubá-la e, num certo período, caso fosse possível derrubá-la, tentariam obstruir todos os seus meios de vida, abrindo-se assim o caminho para derruba-la. Como resultado, todos os que resistiram a esta obstrução estavam defendendo a pátria, porque todos eles continuaram realizando os seus trabalhos diários, o funcionário, o comerciante, o médico que tratou de um doente, a pessoa que ajudou um pobre, o ser humano que tenta propagar os elevados valores nacionais e éticos, todos estes defenderam a sua pátria.

Existem pessoas que não vivem na Síria e sim no exterior, mas defendem a Síria, cada um conforme sua posição e suas possibilidades. Todos eles são patriotas. Temos também pessoas que vivem no país mas, todos os dias, desejam ver os bombardeios da Otan ou talvez a entrada de forças terrestres estrangeiras. Eu não me referi à presença de forma literal e nem me referi à defesa de forma literal, para que se empunhassem as armas. O que eu quis dizer é que quem defende a pátria aumenta as defesas do país e aumenta todos os fatores que o levam a manter-se em pé frente aos ataques. Eu estou me referindo somente aos sírios.

  1. A avaliação da atuação do Enviado Especial das Nações Unidas, Staffan De Mistura, e as acusações que ele tem feito ao Estado sírio em suas declarações.

Presidente Bashar Al Assad: Nós já nos acostumamos com este assunto. É muito difícil que nos venha uma pessoa, com a aprovação dos Estados Unidos e do Ocidente, que tenha uma posição neutra. Se fosse neutro, eles não o enviariam. Agora vemos estas declarações parciais. Ele fala sobre as baixas entre os terroristas. É claro que, para eles, todos os mortos são civis inocentes. É como se não houvesse terroristas ou como se eles não carregassem armas. Ao mesmo tempo, quando temos baixas entre os civis inocentes por conta dos bombardeios terroristas à cidade de Damasco ou Aleppo ou qualquer outra localidade da Síria, não ouvimos qualquer declaração. Este é o papel exigido deles. Se eles não desempenharem este papel, não terão lugar e outro tomará o seu lugar. Esta é a verdade.

  1. Sobre a existência da possibilidade de De Mistura colocar a crise na Síria nos trilhos da solução ou este é apenas um papel que ele encena.

Presidente Bashar Al Assad: Quando ele propôs a conciliação em Aleppo, nós o apoiamos diretamente, sem hesitação, independente da pessoa dele. Em termos pragmáticos, as relações internacionais não se baseiam na confiança. O que hoje está correto, amanhã pode não estar e as coisas tomam outro rumo. Estas relações se baseiam nos instrumentos. Não é uma questão de relação pessoal. Quando a relação é entre um país e outro, entre um país e uma organização internacional, entre um país e um representante das Nações Unidas ou de um organismo internacional ou de países, esta relação passa a ser uma relação de instrumentos. Para que possamos dizer que caminharemos com a iniciativa de De Mistura, temos que ver qual é a iniciativa coerente e quais são os instrumentos adequados para aplicar esta iniciativa. A iniciativa de Aleppo era uma boa iniciativa, mas não foram estabelecidos os instrumentos e, na verdade, não foi permitido o estabelecimento de instrumentos, por isso não pudemos apoia-la e por isso ela acabou e morreu no berço. Esta imagem se repete através de todos estes intermediários, por isso, se eles não fizerem uma proposta que nos seja adequada e que seja adequada aos nossos interesses nacionais, nós não caminharemos com eles.

  1. Sobre a manipulação das declarações na mídia, especialmente no que se refere à posição da Rússia em relação à Síria.

Presidente Bashar Al Assad: Para que se possa definir qual é a correta, você tem que voltar ao desdobramento da trajetória política ou à atuação política do país. Não podemos avaliar a Rússia baseando-nos no dia de hoje. Temos que avaliar a Rússia, baseando-nos nas décadas passadas. Como ela tratou os povos, como ela tratou os países, os amigos, os opositores e a compararmos com os Estados Unidos, para sabermos onde está a verdade.

Os Estados Unidos, ao longo da história, sempre fez declarações evasivas. É claro que, com o tempo, esta característica passa a ser, para os Estados Unidos, a base de sua política. Isso significa que o que uma autoridade diz pode ser contradito por outra autoridade em questão de dias. E o que é dito por uma autoridade americana pela manhã, durante um discurso ou declaração, pode ser totalmente contradito por outra autoridade no mesmo dia. Esta é uma das características dos americanos: abandonar os aliados, abandonar os amigos e traí-los.

A política russa nunca ocorreu desta forma, nem na época da União Soviética e nem na época da Rússia. É uma política de princípios, que vem se aprimorando, então quando o Ministro de Relações Exteriores da Rússia faz uma declaração e outras autoridades russas fazem declarações e usam a mesma linguagem e a mesma orientação, então temos que entender que a política russa é uma política sólida, reafirmando que a política da Rússia não apoia uma pessoa ou um presidente, até porque é inaceitável que um país apoie um presidente. Isso seria uma interferência nos assuntos internos. A Rússia defende princípios definidos: A soberania do país, a soberania do povo, a determinação do povo, que este povo estabeleça o regime político adequado e eleja o presidente que considerar adequado. Este é um princípio político russo e isso não mudou, até porque a Rússia nunca declarou seu apoio a um presidente e depois o abandonou.

  1. Os esforços russos e será que já estamos chegando a uma Genebra 3.

Presidente Bashar Al Assad: Nós temos uma grande confiança nos russos e eles já provaram, nestes últimos quatro anos, serem honestos e transparentes conosco em nossas relações. Eles têm princípios. Estes são pontos importantes. Então, quando eles se encontram com outras partes, nós não temos a preocupação de que estas partes vão denegrir a verdadeira imagem diante dos russos. Os russos têm relações sólidas com a Síria e tem a capacidade de saber o que acontece com precisão. Acreditamos que o objetivo dos russos é trazer as forças para o diálogo, para barrar o caminho diante dos apelos à guerra. Este é o objetivo, mas num apanhado geral, não teremos um acordo sobre qualquer coisa, a não ser que sentemos juntos, como sírios, e dialoguemos entre nós. Não será o russo que nos imporá qualquer solução, então, pelo contrário, nós incentivamos este encontro entre todas as forças e ficamos aliviados quando uma autoridade russa se encontra com qualquer pessoa, sem exceções.

Quanto a Genebra 3, estes encontros são para chegarmos a uma Genebra 3 ou Moscou 3. É claro que isso depende do clima internacional e não apenas do que pensa a Rússia ou do que pensa a Rússia com a Síria. Existem forças variadas, lideradas pelos Estados Unidos. Será que estas forças irão em direção a Genebra ou Moscou? A diferença entre as duas é que Moscou tem por objetivo chegar a um denominador comum. Quando chegarmos a Genebra 3, será mais fácil e as possibilidades de fracasso serão muito maiores, e estaremos repetindo Genebra 1 e Genebra 2, que não alcançaram nada e o resultado foi zero, em absoluto.

  1. Pontos determinantes da posição síria em qualquer iniciativa que venha a ser proposta, independente da parte proponente.

Presidente Bashar Al Assad: A soberania da Síria, a unidade territorial da Síria e a determinação do povo sírio. Isso significa que não haverá mobilização de nenhuma parte, porque, no final, a decisão será puramente nacional. Em termos práticos, deve haver uma base para qualquer iniciativa, que comece, se fundamente e se apoie no combate ao terrorismo. Qualquer iniciativa que não inclua o item do combate ao terrorismo como primeiro item, não terá valor. Quanto à como a cronologia, este é outro assunto. São detalhes. Mas estas são as bases e os pontos determinantes em qualquer iniciativa.

  1. Sobre a existência de iniciativas que propõem coisas como a questão da reformulação da Constituição ou a realização de eleições com observadores internaciona, isso seria uma interferência nos assuntos internos da Síria?

Presidente Bashar Al Assad: Se for uma decisão síria e uma consequência do diálogo e do consenso nacional, então não há problema. Mas eleições com observadores internacionais, aí não. Isso é uma interferência na soberania da Síria. Quem é a parte internacional encarregada de nos dar um certificado de boa conduta com ‘este significado’? Não aceitamos isso. Nas últimas eleições presidenciais, combinamos com alguns países para que enviem observadores, no intuito de atuarem como colaboradores nas eleições e não como fiscais. Resumindo, se forem definir se realizamos eleições transparentes ou democráticas ou outra coisa, então nós colaboraremos com os amigos para afirmar e fortalecer sua posição de que o que ocorre na Síria é um processo político distintamente correto e democrático, que expressa a vontade do povo sírio. Nada a mais, nada a menos. Mas as organizações internacionais querem vir? Estas organizações precisariam de certificados de bons antecedentes para provar, em primeiro lugar, que são imparciais. Elas não estão em posição de nos darem certificados.

  1. A relação entre a crise na Síria e a assinatura do acordo nuclear com o Irã e se a Síria é vítima ou obteve ganhos para o Irã, durante as negociações.

Presidente Bashar Al Assad: Quanto à Síria ser vítima, isto não, com certeza. Por um simples motivo: A Síria não foi parte nas negociações nucleares. As potências ocidentais tentaram de uma forma, ou de todas as formas, meios e instrumentos, convencer o Irã a incluir a questão síria como parte da questão nuclear, com o claro objetivo de que o Irã fizesse algumas concessões em sua relação de apoio à Síria em contrapartida a algumas coisas que o Irã pudesse obter na questão nuclear. A posição do Irã foi crucial neste ponto, rejeitando, em absoluto, a fusão de qualquer outra questão nas negociações da questão nuclear. É claro que esta é uma decisão correta, objetiva e inteligente.

Agora, se tomarmos o segundo ponto sobre se a Síria foi uma oblação, certamente não. Mas dizer que a Síria obteve ganhos, é claro que quando você tem aliados fortes, a sua força aumenta e quando enfraquecem você também enfraquece. É uma equação primária. Mas, também, sugerir que a resistência síria, como fator único, foi quem levou ao acordo nuclear, eu acredito que isso seria muito simplista. Isto é parte de uma longa trajetória do povo iraniano, iniciada antes da revolução, quando começou a pensar no tema nuclear e atuar neste sentido. Mas o seu período mais importante foi depois da revolução, quando o Irã disparou cientificamente nesta área e a fase mais importante foi quando o Irã resistiu frente às pressões, por mais de 12 anos, quando a questão nuclear circulou no cenário internacional, e manteve-se firme, durante as negociações, nos últimos dois anos.

Neste sentido, a resistência do povo iraniano e sua unidade em torno da questão nuclear, foi o fator mais importante que levou a esta conquista. Resta o fator sírio. Talvez eu não possa dar palpites, porque o iraniano tem mais capacidade de definir este ponto, mas talvez este seja um dos fatores que ajudaram.

  1. O mundo está indo em direção a um novo formato de blocos. A Síria estaria mais próxima de um bloco com o Irã ou de outro bloco que vir a se formar?

Presidente Bashar Al Assad: Nossa aliança com o Irã já dura três décadas e meia, então qual é a novidade em ficarmos com o Irã? Nós, fundamentalmente, temos uma posição forte e somos aliados. Nós estamos com o Irã e o Irã está com a Síria em várias articulações. Quando ocorreu a guerra injusta contra o Irã, nós estivemos com ele e agora, com a guerra injusta contra a Síria, o Irã está conosco. Isso não mudaria com qualquer aliança nova. Quanto a este ponto, não há nada de novo, mas quanto às alianças regionais e internacionais, este é outro assunto.

  1. A diferença entre quem sairá vitorioso e quem administrará os problemas políticos corriqueiros, quando a Síria sair vitoriosa, com o apoio no qual o Irã terá um papel distinto.

Presidente Bashar Al Assad: Talvez a diferença esteja na influência desta aliança no cenário internacional. Isso significa que o Irã está, hoje, num novo cenário internacional. As perspectivas estão ampliadas para que o Irã exerça um novo papel no cenário internacional. Como consequência, a força do Irã se traduzirá em força para a Síria e a vitória da Síria se traduzirá em vitória para o Irã. Mas os princípios de aliança são os mesmos, então digo que a questão não é nos aproximarmos mais, porque já estamos próximos, temos pontos de vista parecidos e os mesmos princípios, apoiamos as mesmas potências e estamos no mesmo eixo, que é o eixo da resistência. Estes princípios básicos não mudam. Talvez mudem algumas estratégias, talvez mudem alguns resultados no terreno, é isso o que eu quero dizer.

  1. O sentimento do cidadão sírio de que há uma deslealdade e um incômodo em relação à situação do arabismo e do nacionalismo.

Presidente Bashar Al Assad: Este sentimento no cidadão sírio é compreensível mas não significa que todos nós seguiremos por este caminho. Nós o compreendemos porque a situação levou o cidadão a desacreditar do arabismo e isso é fato. A maioria está assim, mas é que esta situação os levou a não fazer distinção entre o arabismo verdadeiro e autêntico e os árabes que se escondem por trás do arabismo, mas que estão com seus corações, mentes, sentimentos e interesses totalmente fora de toda a região. Isso ocorreu no passado e em muitas regiões, mas em proporções menores. Houve uma confusão entre aqueles que usam o Islã, tais como a Irmandade Muçulmana e outras organizações extremistas terroristas, e o Islã verdadeiro. Houve uma confusão. Eles acreditavam que todos aqueles que usavam as palavras Islã ou muçulmano eram muçulmanos verdadeiros. Esta confusão ocorre frequentemente.

Eu gostaria de dizer a cada um que duvida ou faz confusão entre os dois temas, que o arabismo é uma identidade da qual não abrimos mão. Você pertence a uma família e talvez uma ou mais pessoas desta família errem contigo, mas mesmo que você mude de sobrenome, você ainda pertencerá àquela família em sua educação, em sua identidade, em seu comportamento e tudo o mais. Você não pode se desvincular desta identidade. A identidade árabe não é uma opção. O seu pertencimento a uma religião e a uma nacionalidade é a sua identidade. Mas quando chegamos a este ponto, estamos chegando onde o inimigo quer. O ponto de negarmos a nossa identidade. A essência da questão, atualmente, além destas guerras que estão acontecendo, não é para derrubar regimes. É uma etapa. Um instrumento. E não é para atacar os países e destruir suas economias. Todos estes são instrumentos. O objetivo final é atingir a identidade. Então, quando chegamos a esta fase, de forma antecipada, estamos dando ao inimigo um presente gratuito, sem que haja necessidade de uma interferência militar ou de terroristas. Esta é a mensagem.

  1. Quanto à influência da movimentação política no Iraque sobre o volume de coordenação entre a Síria e o Iraque, que estão enfrentando o mesmo perigo.

Presidente Bashar Al Assad: A coordenação com o Iraque não foi afetada de forma negativa. Existe uma grande conscientização no Iraque sobre a unificação da batalha, porque o inimigo é um só e o resultado é um só. Isso significa que o que acontece no Iraque se reflete na Síria e o que acontece na Síria se reflete no Iraque. Então, quando unificamos a nossa luta, como está ocorrendo entre nós e o Hizbollah no Líbano, quando unirmos nossas armas, alcançaremos resultados melhores, num tempo menor e com custos menores.

  1. A diferença entre a presença de combatentes do Hizbollah nos territórios sírios e os combatentes de outras nacionalidades, não sírias, que lutam do outro lado.

Presidente Bashar Al Assad: A diferença é a legitimidade. O Hiszbollah veio para a Síria em comum acordo com o Governo sírio. O Estado sírio é um Estado legítimo, portanto representa o povo sírio. É um Governo eleito, que tem o apoio da maioria do povo sírio, portanto tem o direito de convidar forças para ajuda-lo na defesa do povo sírio. Quanto às outras forças, elas são terroristas, que vieram para matar o povo sírio, que entraram contra a vontade do povo sírio e contra a vontade do Estado sírio, representante do povo.

  1. Sobre a relação pessoal entre o Presidente Assad e o Líder Hassan Nasrallah.

Presidente Bashar Al Assad: Quanto à esta relação, não posso falar sobre o meu lado, mas posso falar sobre o outro lado, o do Sr. Nasrallah, porque temos uma relação estreita, que já dura mais de 20 anos. Eu creio que qualquer pessoa que tenha acompanhado esta relação e, de forma específica, o Sr. Nasrallah, terá observado que esta relação se caracteriza pela sinceridade e pela transparência, porque ele é uma pessoa absolutamente sincera, totalmente transparente, uma pessoa de princípios no mais amplo sentido, leal, no amplo sentido da lealdade, aos seus princípios, às pessoas com quem trabalha e aos seus amigos. Todos aqueles que se comprometem com ele, independente de sua posição ou lado ao qual pertence, ele mantêm uma relação de Estado de resistência, como um verdadeiro resistente que ofereceu seu filho como mártir em defesa do Líbano e da Pátria. Este é o outro lado da relação.

  1. Quem detêm a decisão de cessar-fogo do outro lado?

Presidente Bashar Al Assad: Era disso que estávamos tratando com os enviados que falaram sobre a questão do cessar-fogo. Em primeiro lugar, nós rejeitamos esta expressão, porque o cessar-fogo ocorre entre Estados e exércitos e não entre um Estado e grupos terroristas. Nós falamos sobre cessar algumas operações ou usamos alguma expressão para nos referirmos ao arrefecimento da situação, mas quando perguntávamos aos enviados, falávamos a mesma coisa: Se vocês querem um cessar-fogo, então a qual grupo vocês se referem? Quem é o seu líder? Quem assumirá o compromisso perante vocês? Eles diziam que avaliavam existir não centenas, mas mais de mil (grupos), alguns disseram mil e duzentos grupos. Talvez, depois da fusão, tenham se tornado centenas. Mas o fato é que não existe uma pessoa que garanta todos estes grupos, mesmo que nós saibamos que todos eles pertencem a outras forças. Não podemos dizer que tal força possa comprometer tal grupo com tal decisão. Até porque tal grupo é parte das operações de roubos, saques, dinheiro, corrupção e devassidão. Ele só vai se comprometer com as decisões que atendam aos seus interesses. Portanto nenhum grupo ou país ou parte poderão obter um compromisso destas partes sobre qualquer apaziguamento ou um cessar de ações de combate, nem que seja por curto período.

  1. Como a Síria pode ser parte de um bloco para combater o terrorismo ao lado daqueles que ela acusa de apoia-lo.

Presidente Bashar Al Assad: Na ação política, se você quer alcançar um objetivo e este objetivo tem, imprescindivelmente, que atender aos interesses do povo sírio, qualquer aliança ou ação ou procedimento ou diálogo que leve ao fim do derramamento de sangue será, para nós, uma prioridade, a qual buscaremos sem hesitação. O que nos interessa, neste assunto, é o resultado no terreno. Pela lógica, como eu já disse, não é possível aos países que se posicionaram ao lado do terrorismo, lutar contra o terrorismo. Mas fica uma probabilidade mínima de que estes países se arrependeram e entenderam que estavam indo na direção errada. Ou talvez queiram combater o terrorismo por puro interesse e preocupação com a disseminação deste terrorismo em seus países. Não há qualquer impedimento, o importante é formarmos uma aliança para combater o terrorismo. É por isso que, na Síria, o Ministro de Relações Exteriores é chamado de ‘O Milagre’, porque ele parece um milagre. E se o milagre acontecesse? Certamente nós não o rejeitaríamos e sim caminharíamos com ele.

  1. Sobre o aumento da tensões por parte da saudita contra a Síria e as declarações do Ministro de Relações Exteriores saudita após a repercussão das notícias sobre encontros sírio-sauditas.

Presidente Bashar Al Assad: A tensões midiáticas não tem peso. O que importa, de fato, são as práticas daquele país. Se este país estiver, basicamente, apoiando o terrorismo, então que valor tem as tensões ou a ausência dela ou o apaziguamento? E se ele abrandar as palavras enquanto apoia o terrorismo? Ou seja, com ou sem tensões, a Arábia Saudita continua apoiando o terrorismo na Síria e esta é uma verdade conhecida por todos. Então, estas tensões não significam nada.

Se quisermos falar do aumento do tom, mencionado pelo Ministro de Relações Exteriores, podemos responder com palavras parecidas. Nós nos perguntamos o que podemos esperar de um grupo ou uma categoria que não entrou na era da civilização humana. Será que esperamos ouvir deles palavras éticas ou objetivas ou de alcance político ou até mesmo discrição? Nada disso. Se estamos esperando por isso, então o problema está em nós e não neles.

  1. Sobre o que foi mencionado no último discurso do Presidente Assad sobre a oposição e sobre como alguns observadores viram que o tratamento com a oposição é como uma situação de emergência e não como uma situação fundamental, pelo fato dela não ter influência sobre a opinião pública.

Presidente Bashar Al Assad: Como eu disse há pouco, se o diálogo der algum resultado, que seja entre os sírios nacionalistas, que tem suas raízes fincadas na Síria. Isto é coerente e correto. Mas, ao lidarmos com a realidade, nos perguntamos: Quem tem influência? Quero dizer: E se entrarmos num diálogo aprofundado com personalidades nacionais que não têm nenhuma influência? E aí alcançamos resultados e dizemos a eles para aplica-los, mas aí eles nos dizem que não tem influência no terreno. Então, o que ganhamos com este diálogo? Estaremos perdendo tempo.

Por isso, o diálogo deve se apoiar em personalidades nacionais, mas que tenham influência. Não posso dizer que estas personalidades não têm influência, pois eu estaria sendo impreciso, mas existem influências em níveis variados. O problema é que a maioria daqueles com os quais estamos dialogando não são personalidades nacionais. Eles nos foram impostos pelos países que apoiam o terrorismo na Síria e interferem na questão do diálogo. Estes países impõem personalidades que as representam e não ao povo sírio. Então nós precisamos de um parâmetro e o nacionalismo é um parâmetro, assim como a influência no terreno, especialmente depois que os terroristas rejeitaram tratar com a chamada oposição externa, de forma clara e declarada.

  1. O treinamento dado por Washington à oposição síria é incômodo ou confunde as contas sírias, apesar de Washington ter declarado que a experiência não obteve êxito?

Presidente Bashar Al Assad: Este é apenas um capítulo de uma longa novela, então se for para nos preocuparmos, que nos preocupemos com a novela, do início ao fim. Esta é uma novela de conspiração contra a Síria, com várias fases e não parou na crise. Este capítulo, em específico, não mudará a trajetória do terrorismo na Síria, porque se Washington não treinar estes, outros países vão treina-los e há outros países que apoiam o terrorismo e o suprem com armas e dinheiro. Portanto, a trajetória dos acontecimentos, na Síria, não se abstêm a este grupo. Existe uma coisa maior e mais alarmante que nos preocupa e a qual o ocidente, liderado pelos Estados Unidos, não enxerga, que é o perigo do terrorismo. O que significaria a vitória do terrorismo numa região como a nossa? Isso não se restringe à Síria. Temos a Líbia, a Síria, o Egito, o Iêmen e até o Líbano, além de outros países. Como eles não compreendem estes perigos e riscos, temos que nos preocupar ainda mais, especialmente depois deste pequeno incidente.

  1. Sobre a posição americana e sobre se há uma inclinação para um maior endurecimento ou a imposição do reconhecimento de um fato consumado que não serve aos interesses da administração americana.

Presidente Bashar Al Assad: O endurecimento e a permissividade são faces da posição americana, mas que não captam a realidade da política americana. Às vezes, o objetivo do endurecimento e da permissividade é a guerra psicológica. Outras vezes, servem para mandar mensagens aos lobistas americanos. Em outras, servem para mandar mensagens aos aliados dos americanos e aos seus agentes na região. Portanto, a leitura destas posições não te dá o verdadeiro quadro da posição americana.

Os americanos talvez tenham passado por várias fases, mas nós consideramos duas delas fundamentais. A primeira foi ao serem enganados pelas posições árabes que foram transmitidas a eles – ou talvez tenham sido retratadas pelas instituições americanas de dentro dos Estados Unidos – de que derrubar Estados seria possível, a substituição seria fácil e os resultados seriam garantidos. Os resultados, em vários países, foram o contrário do que esperavam.

Agora eles passaram para a fase da perplexidade. Eles não sabem como conduzir a situação. É claro que esta situação de perplexidade e a percepção de que estavam errados não significa que eles vão mudar para um rumo positivo e que serão um dos países que, de fato, combatem o terrorismo. O que eles fazem hoje, talvez não sirva para que o terrorismo saia vitorioso, mas também não o enfraquece ao ponto de chegarmos a uma estabilidade. Eles deixam as coisas andarem em direção ao caos e ao enfraquecimento dos países. Todos os países e não somente a Síria. Até mesmo os seus aliados, incluindo a Turquia. Eles querem enfraquecer estes países ao ponto de chegar a uma nova realidade, que seja imposta aos americanos ou que facilite para os americanos a tomada de decisões numa certa direção, de forma a atender aos seus interesses. É por isso que o endurecimento e a permissividade não nos servem como base para que possamos construir algo.

  1. A verdade em relação à equação divulgada sobre “A Síria em troca do Iêmen”.

Presidente Bashar Al Assad: Esta equação foi proposta somente pela mídia. Na realidade, nós não a ouvimos da parte de nenhum dos países amigos, como a Rússia ou o Irã. Talvez o Irã esteja mais envolvido nesta questão, pelo fato de estar localizado no Golfo. Mas este assunto não nos foi abordado e tenho minhas dúvidas sobre se alguém abordou este assunto com o Irã.

  1. O que disse a Turquia sobre a zona de isolamento e a possibilidade de ser implementada.

Presidente Bashar Al Assad: Erdoghan tem sonhos. Grandes sonhos de se tornar um líder. De ser um ‘Sultão da Irmandade’. Ele quer misturar a experiência do sultanato com a experiência da nova Irmandade Muçulmana, sobre a qual construiu suas grandes esperanças, logo no início, especialmente no Egito e na Tunísia. Agora, estes sonhos desabaram com a realidade e restou a ele a esperança de ser atendido pelos seus senhores, porque Erdoghan e seu enteado Davutoğlu provaram, nesta crise, serem somente dois marionetes. Agora eles têm um grande sonho para a Síria, que é a zona de isolamento. Este é o último sonho deles, depois de terem todos os outros sonhos frustrados em relação à Síria. Eles estão esperando um sinal da OTAN ou dos americanos que diga ‘sim, nós vamos criar uma zona de isolamento’ e você será fundamental nela. Então, eles têm sonhos, mas não podem se mover em direção a estes sonhos sem o aval de seus senhores.

  1. O presidente americano está sendo sincero quando diz que não está sendo consultado pelos turcos sobre a zona de isolamento?

Presidente Bashar Al Assad: Se os aliados mais próximos do presidente americano não acreditam nele, você quer que a Síria acredite? É impossível! Nós nunca acreditamos nele porque ele nunca cumpriu com nenhum de seus compromissos, palavras ou promessas.

  1. A conversa da Jordânia sobre a zona de isolamento e a existência de um centro de operações de segurança militar conjunto na Jordânia. O que quer o rei jordaniano Abdalla II com o seu envolvimento na crise da Síria?

Presidente Bashar Al Assad: A Jordânia está falando de uma decisão jordaniana ou de uma decisão americana? Esta é a questão. Então, quando um país ou uma autoridade fala, temos que questionar os alcances da autonomia dessa autoridade ou daquele país para expressar as suas opiniões. Sem isso, ele estará apenas expressando o que lhe foi solicitado. Será que a Jordânia tem independência em suas políticas para que possamos questiona-la sobre sua visão ou a visão de suas autoridades? Quando provar ser independente, aí poderemos discutir. Até agora, a maioria dos países árabes agem conforme os comandos americanos. Eles não têm qualquer papel. E quando expressam alguma opinião que seja, talvez, contrária em certos casos, agem como uma criança mimada que está teimando com a mãe. Nada mais.

  1. As relações sírio – egípcias e a responsabilidade do Egito pelo atraso em dar um retorno.

Presidente Bashar Al Assad: Não há dúvidas de que as relações entre a Síria, o Egito e o Iraque têm suas particularidades, porque estes países são a base da civilização árabe ao longo da história. Eles foram, no decorrer da história árabe, o motor político. Nós certamente zelamos pelas nossas relações com o Egito, até mesmo durante a presença da ‘irmandade’ de Morsi na presidência do Egito e apesar de todas as suas ações negativas contra a Síria. Nós não tentamos adotar nenhuma atitude negativa em relação ao Egito, em primeiro lugar, por causa da importância destas relações e, em segundo lugar, porque os contatos entre a Síria e o Egito não foram interrompidos nem durante o mandato de Morsi.

Existe um número de instituições egípcias que se recusaram a cortar as relações, continuaram a manter contato com a Síria e nos transmitiram discursos nacionalistas e fraternais, expressando o que nós já víamos nas ruas egípcias. Com o passar do tempo e com o clareamento do cenário sobre o que vinha ocorrendo na região e na Síria, vimos o tom se inflamar, porque esta relação existe e nunca foi cortada, mas não de modo nítido, como nós queríamos. O motivo é que o Egito é um país importante, do extremo Oriente ao extremo Ocidente. Os opositores exercem sobre o Egito pressões para que ele desempenhe o papel que se espera dele. O papel que nós, é claro, esperamos e gostaríamos que desempenhasse.

Não quero colocar a responsabilidade sobre os nossos irmãos egípcios, porque a situação pode ser de muita pressão. O que nós queremos, em primeira mão, é que o Egito não se torne uma base de lançamento contra a Síria ou contra qualquer um dos países árabes. Mas num segundo passo, queremos que o Egito desempenhe o seu papel de país importante. Não digo um país grande, porque o tamanho não é parâmetro para a eficácia, mas é um país importante, ativo, irmão, que ajuda o restante dos países árabes, com base em sua história antiga e não com base num punhado de petrodólares e na história de alguns países que não passa de alguns anos.

  1. Sobre a possibilidade do Egito se beneficiar com a experiência síria no combate ao terrorismo, que vem tentando garantir a sua existência em seus territórios.

Presidente Bashar Al Assad: O que eu disse sobre o contato entre nós referia-se ao contato entre nós em nível de importantes autoridades e, em particular, as autoridades de segurança da Síria e do Egito, especialmente nas últimas semanas, sem definir datas de forma precisa. Eles têm uma ideia sobre como se beneficiar da Síria e nós temos uma ideia de como nos beneficiarmos do Egito. E, através deste contato, não há como não chegarmos a este ponto. O importante é que a nossa experiência, neste assunto, se tornou profunda durante os últimos quatro anos e alguns meses e até antes disso, durante os nossos enfrentamentos com o grupo terrorista Irmandade Muçulmana, no final dos anos 70 e início dos anos 80.

Mas foi no Egito que este terrorismo se lançou, desde os anos 50, quando ocorreram os enfrentamentos com Gamal Abdel Nasser, por motivos conhecidos por todos os egípcios. O que eu quero dizer para cada autoridade egípcia, em todos os níveis, e para cada cidadão egípcio é, em primeiro lugar, que as relações entre a Síria e o Egito são o ponto de equilíbrio no cenário árabe e isso é sabido nos tempos modernos. Mas também era sabido nos tempos dos faraós, que acreditavam que a sua segurança nacional, naquele tempo, estava na Síria e o primeiro tratado assinado entre nós, devido ao conflito entre os faraós e os hititas, ocorreu no ano de 1200 A.C. Não seria possível que, naquela época, os faraós já estivessem cientes da dimensão e da profundidade da segurança nacional do Egito e que o atual líder egípcio não esteja ciente disso. Creio que esta consciência cresceu hoje e a Síria acredita que está na mesma trincheira do exército egípcio e do povo egípcio para combater os terroristas, que trocam de nomes como se troca o nome de um produto estragado. Algumas vezes usam o nome de Irmandade Muçulmana, outras de Daesh (Estado Islâmico) e talvez, no futuro, ouçamos novos nomes.

  1. Sobre a existência de procedimentos adicionais que contribuam para aliviar a crise de subsistência do cidadão sírio.

Presidente Bashar Al Assad: Nós já iniciamos projetos de reconstrução, que são os mais importantes projetos para um país destruído pela guerra ou que teve sua infraestrutura, parcial ou total, destruída. Este projeto está progredindo a passos firmes. Obviamente, temos projetos de produção e projetos para os setores produtivos que sofreram danos com a guerra, mas que se reergueram com a vontade dos seus investidores sírios, que ainda vivem na Síria, além de algumas medidas e facilidades oferecidas pelo Estado.

Nós, apesar de tudo, ainda temos a capacidade de nos lançarmos economicamente, até mesmo se for apenas um lançamento, para dizermos que já temos um teto, nem que não seja tão alto ou rápido, mas nós temos a capacidade. Creio que o mais importante a ser feito, além das medidas que seriam adotadas por qualquer país, tais como as facilidades financeiras, fiscais e outras que temos oferecido continuamente, seria nos valermos das atuais condições para realizarmos reformas profundas em nível de administração do Estado. Este foi o motivo pelo qual criamos ou de acrescentarmos o Ministério das Reformas Administrativas, porque o nosso problema com a corrupção, com o desperdício de dinheiro e a inexistência de igualdade de oportunidades é a corrupção na administração de nosso país. Se pudermos acrescentar este passo às outras facilidades, creio que poderemos dar o pontapé inicial, de forma aceitável, nesta atual conjuntura.

Fonte: Embaixada da República Árabe da Síria

Tradução: Jihan Arar

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