Egito embaralha o Oriente Médio

Share Button

Por Assad Frangieh.

Há mais de uma década, a Irmandade Muçulmana venceu as eleições na Argélia, mas não levou. No Egito, se passou um ano para que uma importante parcela da população descobrisse o modo operacional da Irmandade Muçulmana e darem um basta nela. Nesse período, a Irmandade Muçulmana alterou a constituição incluindo leis restritivas sob o pretexto islâmico, destituiu governadores indicando substituídos e um segundo escalão de funcionários leais mesmo sendo incompetentes, afastou seus únicos aliados do Partido Salafista Al Nour e tentou amarrar e apertar seu controle sob o último foco de resistência ideológica e de possibilidade de reação: o Exército.

Com disse o ditado popular adaptado, enquanto “Mursi ia pro moinho, o povo já voltava com o fubá”. Dois importantes aspectos mobilizaram a cúpula militar egípcia antes mesmo de ouvirem o clamor dos liberais e das massas populares. Os acontecimentos no norte do Sinai onde grupos apoiados pela Irmandade Muçulmana receberam armas, munições e logística para formarem “zonas autônomas” do governo central atado pelos acordos internacionais tutelados pelos Estados Unidos da América. O mais grave dos atos, quando Mursi declarou apoio ao “Jihad na Síria” indicando a possibilidade de mobilização de tropas, campos de treinamento e apoio logístico à Irmandade Muçulmana e Jubhet Al Nousra. A resposta do alto comando veio em menos de 24 horas numa declaração que o “Exército Egípcio não se mobilizará contra países irmãos”. Ali começava a contagem regressiva para a manifestação do dia 30 de junho.

Na cultura do Oriente Médio, o Exército é um componente da vida política com perfil distinto daquilo que conhecemos na América latina. As guerras nem sempre acontecem nas fronteiras externas e por esta razão, os exércitos no Oriente Médio entendem que é legítimo intervir quando se trata de segurança interna do Estado, independente de sua ideologia. O destino das nações nem sempre é definido no Parlamento. Portanto a legitimidade da intervenção do Exército é algo rapidamente demonstrado pela reação popular. Foi isso que aconteceu no Egito e antes na Síria e no Líbano onde se prega a tríade Povo – Exército – Resistência.

Os acontecimentos no Egito não podem ser excluídos de um contexto internacional. A tentativa de estabelecer uma ordem internacional unipolar dos interesses norte americanos e de seus aliados parecem distantes de serem aplicado. Ainda mais que as reações ideológicas e os anseios populares de dignidade, liberdade e respeito conseguiram vitórias em campo.

É precoce fazer previsões precisas do futuro do Oriente Médio em razão de todos os países se afetarem com as alterações geopolíticas constantes, atualmente na fase egípcia. São como as ondas do mar. Parecidas, mas nunca iguais.

Share Button

Deixar um comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.