Danos em instalações sauditas de petróleo e gás sugerem ataque em enxame muito bem orientado aos alvos

Share Button

16/8/2019, Moon of Alabama

No sábado, ataques contra a estação saudita de processamento de petróleo e gás em Abqaiq atingiram as unidades de estabilização:

O processo de estabilização é uma forma de destilação parcial que ‘adoça o petróleo cru azedo’ (remove o sulfato de hidrogênio) e reduz a pressão do vapor, o que torna seguro o petróleo cru para ser embarcado em navios-tanques. Os estabilizadores maximizam a produção de hidrocarbonetos líquidos valiosos, ao mesmo tempo em que tornam seguros os líquidos para armazenamento e transporte, além de reduzirem as emissões de hidrocarbonetos voláteis. Usinas de estabilização são usadas para reduzir a volatilidade de petróleo cru e condensado armazenado.

Pouco depois do ataque, o secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo entrou em surto total de ‘a culpa é do Irã’:

Secretário Pompeo @SecPompeo – 21:59 UTC · Sep 14, 2019
Teerã está por trás de quase 100 ataques contra a Arábia Saudita, enquanto Rouhani e Zarif fingem fazer diplomacia. Apesar das conclamações a favor de desescalar, o Irã disparou agora ataque sem precedentes contra o fornecimento de energia mundial. Não há qualquer indício de que os ataques tenham partido do Iêmen.

Convocamos todas as nações para que publicamente e inequivocamente condenem os ataques do Irã. Os EUA trabalharão com nossos parceiros e aliados, para garantir que se mantenha o fornecimento pleno dos mercados de energia e que o Irã seja levado a responder por essa agressão.

Abqaiq está localizada no coração da infraestrutura saudita de petróleo. Essa unidade processa mais de metade do petróleo que sai da Arábia Saudita.

Mapa: Principal infraestrutura de petróleo e gás natural da Arábia Saudita

O governo dos EUA publicou duas imagens detalhadas do resultado do ataque.

Imagem 1: [retângulos vermelhos] Área danificada em Abqaiq
(aproximadamente 17 pontos de impacto em infraestrutura chave)

Imagem 2: [quadrados vermelhos] Área danificada em Abqaiq

As imagens mostram cerca de 17 pontos de impacto. Na imagem 2, mais detalhada, veem-se carros, o que permite avaliar as enormes dimensões do local. Os alvos foram cuidadosamente selecionados. Pelo menos 11 alvos foram tanques em formato de ovo, com diâmetro de cerca de 30 metros (100 pés).Trata-se provavelmente de tanques para gás liquefeito pressurizado que recebem o vapor condensado resultante do processo de estabilização. Todos mostram agora bem claramente as marcas de furos nas conchas superiores.

Os canos de entrada e de saída dos tanques-ovo mostra que foram configurados em grupos, com dupla redundância. Cada dois tanques partilham um mesmo sistema de canos. Cada dois desses tanques gêmeos ficam próximos um do outro, com tubos para a respectiva cadeia de processamento. Há, no total, três desses grupos. No caso de um dos tanques ou grupo ser danificado, o processo de produção não para. Os produtos nesse caso são desviados para outro tanque ou grupo semelhante. Mas com todos os tanques desse tipo danificados, a cadeia de produção está agora interrompida.

Duas áreas de processamento foram atingidas e mostram sinais de incêndio. No mínimo, o equipamento de controle das duas áreas parece completamente destruído:

A consultoria Rapidan Energy Group diz que as imagens da usina de Abqaiq depois do ataque mostraram que cinco das torres de estabilização parecem ter sido destruídas, e exigirão meses para serem reconstruídas – evento que pode impedir a produção por período prolongado.

“Mas sabe-se que a [empresa] Saudi Aramco mantém alguma redundância no sistema, para manter a produção nos períodos de manutenção”, acrescentou Rapidan, sugerindo que as operações possam voltar mais depressa aos níveis de pré-ataque.

A seleção e definição de alvos para esse ataque foi feita com conhecimento detalhado do processo e de seus condicionantes.

A seta norte, nessas imagens, aponta para a esquerda. As sombras visíveis confirmam a direção. Os furos nos tanques estão no lado oeste. Os tanques foram atacados do oeste.

Os tiros foram extremamente precisos. As Forças Armadas do Iêmen informaram que atacaram as instalações sauditas com 10 drones (ou mísseis cruzadores). Mas as marcas naqueles alvos mostram outra coisa. Um total de 17 tiros com tal precisão permite-me assumir que se tratou de algum tipo de drones ou mísseis com controle humano remoto. Podem ter sido lançados de dentro da Arábia Saudita.

Ainda não há informação sobre os danos em Khurais, segundo alvo dos ataques.

EUA e Israel podem ter cometido esses ataques. O Irã, provavelmente, também. Parece improvável que o Iêmen tenha as capacidades requeridas sem contar com amplo apoio de outras forças. Toda a operação deve ter exigido meses de planejamento.

Um produtor da BBC Oriente Médio observa:

Riam Dalati @Dalatrm – 22:44 UTC · Sep 15, 2019
17 pontos de impacto. Não se detectaram/interceptaram drones ou mísseis. Sauditas & norte-americanos continuam absolutamente sem saber de onde o ataque foi lançado. #KSA [Reino da Arábia Saudita] precisa seriamente comprar de algum outro fornecedor e substituir os Patriot ou reforçá-los com uma rede de armas AA operadas por radar, como a Oerlikon.

Fonte familiarizada com a situação da #Aramco disse-nos hoje cedo que foi “ataque em enxame”, um mix de mais de 20 drones e mísseis, metade dos quais, pelo menos, eram drones “suicidas”. #USA [EUA]& #KSA [Reino da Arábia Saudita], disse ele, têm ‘certeza’ de que o ataque foi lançado do #Iraq [Iraque], mas ainda não encontraram a ‘arma do crime’.

Também estão ‘consideravelmente convencidos’ de que o CGRI (Corpo de Guardas da Revolução Islâmica) esteve por trás do ataque porque, embora os mísseis usados fossem idênticos aos dos #Houthis, exame dos detritos encontrados no deserto revelou ‘um ou dois’ itens de atualização e ‘manufatura claramente de melhor qualidade’.

O Wall Street Journal noticia  sobre os danos:

Os ataques derrubaram 5,7 milhões de barris da produção diária, e funcionários disseram que ainda creem que essa quebra de produção pode ser totalmente revertida nos próximos dias. Seria preciso mexer nos estoques de petróleo e usar outras unidades para processar o cru. Um dos principais alvos do ataque foi uma grande usina de processamento de cru em Abqaiq.

“É definitivamente pior do que esperamos nas primeiras horas depois do ataque, mas estamos cuidando para que o mercado não sofra racionamentos até que voltemos a operar a plena carga,” disse um funcionário saudita.

Ainda que funcionários sauditas sejam bem-sucedidos no trabalho de restaurar toda ou parte da produção perdida, o ataque expôs uma nova vulnerabilidade nas linhas de suprimento em todo o Golfo rico em petróleo.

Os navios-tanques estão pagando prêmios de seguros acentuadamente mais caros, e as taxas de embarque subiram muito na região, depois de ataques a navios-tanques carregados. Os EUA atribuíram ao Irã a culpa por esses ataques.

Khurais produz cerca de 1,5 milhão de barris diários, e Abqaiq, a maior instalação mundial para estabilização de petróleo cru, processa sete milhões de petróleo saudita por dia, convertendo o cru em vários outros graus específicos, como o Petróleo Árabe Extra Light [ing. Arabian Extra Light].

Os reparos em Abqaiq exigirão provavelmente semanas, não dias. Os futuros de [petróleo] Brent cru subiu de cerca de 19,5% para $71,95 por barril, maior salto desde 14/1/1991:

A Aramco não falou de prazo para reassumir a produção plena. Uma fonte próxima desse assunto disse à Reuters que a retomada da plena capacidade pode exigir “semanas, não dias”.

Riad disse que compensaria os danos às instalações, mobilizando estoques, que, em junho estavam em 188 milhões de barris, segundo dados oficiais.

O presidente Donald Trump dos EUA foi muitíssimo mais cauteloso que seu secretário de Estado, na atribuição de responsabilidades pelo ataque.

Donald J. Trump @realDonaldTrump – 0:50 UTC · Sep 16, 2019
O fornecimento de petróleo da Arábia Saudita foi atacado. Há motivos para crer que conhecemos os culpados, estamos engatilhados e a mira está pronta, dependendo de verificação, mas estamos à espera de que o Reino [Saudita] manifeste-se sobre a autoria do ataque, e sobre os termos sob os quais agiremos!

Qualquer ataque direto ao Irã resultará em enxames de mísseis contra instalações militares dos EUA nos Emirados Árabes Unidos e no Qatar. Refinarias e portos também serão alvos.

É muito duvidoso que Trump ou os sauditas estejam prontos para se expor a essa resposta.

O ataque a Abqaiq não foi o último e todas as instalações sauditas são extremamente vulneráveis:

Os rebeldes Houthis do Iêmen disseram que as instalações de petróleo na Arábia Saudita continuam a ser alvos, depois dos ataques contra dois grandes sítios que reduziram à metade a produção do Reino e fez disparar para cima os preços do cru.

O grupo rebelde apoiado pelo Irã, citado na televisão dos Houthis, disse que suas armas podem alcançar qualquer ponto do território na Arábia Saudita. Os ataques do sábado foram feitos por “aviões” usando novos motores, disse o grupo, aparentemente falando de drones.


Middle East Eye
, veículo financiado pelo Qatar, noticiou ontem que o ataque foi lançado do Iraque, por forças alinhadas com o Irã, em vingança pelos ataques israelenses na Síria. O jornalista, David Hearst, é conhecido por reportagens encomendadas, com objetivo de caluniar. A matéria é baseada numa única fonte anônima, supostamente da inteligência iraquiana. O Qatar, que está em luta com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos por causa do apoio à Fraternidade Muçulmana, gostaria de ver o conflito ampliar-se e envolver seus rivais de leste e oeste do Golfo Persa. Matéria que absolutamente não merece nenhum crédito.

A Arábia Saudita não tem defesas contra esse tipo de ataques. Os EUA não têm qualquer sistema de armas que possa ser usado para essa finalidade.

A Rússia é o único país que pode fornecer o equipamento necessário. Seria caríssimo e mesmo assim insuficiente para proteger todas as instalações vitais dos sauditas contra ataques similares, em enxame.

Ataques como esses só terão fim quando a Arábia Saudita fizer a paz com o Iêmen e quando os EUA puserem fim às sanções impostas às exportações de petróleo do Irã. Como o presidente Rouhani, do Irã, disse:

“Se algum dia tentarem impedir que o Irã exporte o próprio petróleo, nesse dia nenhum petróleo será exportado do Golfo Persa.”

É mais que hora de falcões da guerra como Pompeo reconheçam que o Irã faz o que diz e tem as ferramentas para cumprir o que promete.*******

Traduzido por Vila Mandinga

Share Button

Deixar um comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.