Da irritação à ameaça: o alto preço da verdade

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  • Resultado de imagem para A imprensa americana e a guerra do Iraque e as armas de Destruição em massa na imprensa

16/3/2017, Paul Craig Roberts, trad. btpsilveira, “Pensar sem enlouquecer”

 

É preciso saber que o esforço de quem oferece seu tempo escasso e a energia de uma vida para um público grande e desconhecido é suficientemente apreciado para que se sinta compensado pelo gasto de tempo e energia. Isso é ainda mais verdade quando o compromisso vem associado a grandes despesas.

A resposta dos leitores ao pedido trimestral de doações mostrou que valho o suficiente para vocês e justifica continuar com os meus esforços.

Estou convencido de que os Estados Unidos e provavelmente todo o mundo ocidental, quer dizer, o Império (norte)Americano, entrou em uma era na qual não existe mais o respeito pela verdade, nas instituições privadas como nas públicas. Estamos vendo isso acontecer já há algum tempo. Volte no tempo até 3 de agosto de 2002, por exemplo, data recente nos termos desse problema, mas fora da consciência política de quem tem menos de 33 anos de idade.

No verão de 2002, o mundo estava sendo preparado pela propaganda enganosa para uma invasão do Iraque pelos EUA. Em 3 de agosto daquele ano, a prestigiosa publicação inglesa The Economist resumiu o consenso que estava sendo fabricado em apenas duas sentenças: “as escolhas honestas atualmente são desistir e ceder, ou remover Hussein antes que ele consiga sua bomba (nuclear). Mesmo sendo doloroso, nosso voto é pela guerra”.

Como Lewis Lapham, eu mesmo e outros perguntamos naquela época: que bomba?! A única ‘prova’ de alguma bomba era inventada, sabia-se que era mentira. Os inspetores das Nações Unidas concluíram que as infames informações sobre Armas de Destruição em Massa foram criação da propaganda enganosa dos Estados Unidos. Até o presidente George W. Bush sabia que o Iraque não tinha essas armas. O Secretário de Estado dos EUA Colin Powell disse que as mentiras que proferiu, enganado pelo regime Bush, na ONU, sobre as Armas de Destruição em Massa de Saddam Hussein são mancha que permanece em sua carreira.

Apesar do conhecimento de que a invasão do Iraque pelos EUA em 2003 foi baseada em uma mentira, as tropas dos Estados Unidos ali permaneceram até 2011, e tendo sido expulsos ou não, agora já estão de volta ao Iraque. Nenhum desses fatos teve qualquer influência sobre a boa impressão que Washington e a imprensa têm ainda de si mesmos.

Indiferentes, Washington e sua mídia prostituta (presstitutes, no original, um neologismo criado por Paul Craig Roberts para a imprensa (norte)americana e intraduzível em português por ora  – NT) mentiram também sobre a Líbia e destruíram aquele país até então próspero. Mentiram ainda sobre o “uso por Assad de armas químicas contra seu próprio povo” e teriam destruído da mesma forma a Síria, não fosse a intervenção russa.

Bloqueados pela Rússia, Obama, Hillary e Victoria Nuland se voltaram contra a Rússia, agindo primeiro contra o governo eleito democraticamente na Ucrânia, que foi derrubado, fazendo com que os crimeus votassem quase unanimemente pela reintegração à Rússia. A seguir, o regime Obama e sua meretrizes na imprensa criaram uma falsa “invasão russa na Ucrânia”.

Essa acusação falsa, repetida indefinidamente ainda hoje pela imprensa prostituta ocidental, tornou-se a justificativa para sanções econômicas contra a Rússia, cuja implementação foi imposta pelos EUA aos seus vassalos europeus, inteiramente à custa deles mesmos, o que mostra o grau abjeto de covardia dos dirigentes europeus. Se Washington mandar: pule! O primeiro ministro britânico, a Chanceler Alemã e o presidente francês só perguntarão: “até que altura?”

Uma das razões que levaram Trump à Casa Branca foi seu compromisso com a normalização das relações com a Rússia e a reconsideração d continuação da OTAN, um quarto de século depois que a razão de sua existência cessou, com o colapso da União Soviética. O compromisso assumido por Trump constitui uma ameaça direta ao poder e aos lucros do complexo militar/industrial dos EUA, cujo orçamento de 1 trilhão de dólares requer ameaça de tal magnitude que só a Rússia pode fornecer.

Por consequência, a Rússia e seu presidente têm que ser demonizados. A propaganda enganosa (norte)americana e suas mentiras deslavadas espalham o medo da Rússia e de Putin por todo o Império (norte)americano. A resposta do Império para aqueles que confrontam com fatos as suas mentiras é acusar quem o faz em nome da verdade, de serem “agentes russos” ou “joguetes de Putin”. O ódio à Rússia que tem sido inculcado profundamente na alma (norte)americana pelos Neocons e pela imprensa prostituta, acabou resultando em coisas como o senador Republicano John McCain, que representa o Arizona (para desgraça dos habitantes daquele estado), acusando o senador Republicano Rand Paul, que representa o Kentucky, em pleno salão do Senado, de estar “trabalhando para Vladimir Putin”, apenas porque Paul se opôs a fazer de Montenegro membro da OTAN.

Quando este site foi incluído em uma lista de 200 sites da internet que seriam agentes/joguetes russos, por um grupo secreto e não revelado posteriormente chamado PropOrNot, fiquei imaginando de quem seria o dinheiro por trás dessa entidade mais escondida que uma operação e lavagem de dinheiro em ilhas fiscais. Fiz uma brincadeira com isso que divertiu muito os russos.

Como ninguém sabe o que ou quem é o PropOrNot, o site não tem qualquer credibilidade. Assim as forças em guerra buscaram a Biblioteca da Universidade de Harvard. O site da instituição postou algo que era essencialmente a lista do PropOrNot. Mas a Universidade de Harvard não disse se a lista foi verificada ou por que alguém deveria acreditar nela. A lista foi atribuída posteriormente a Melissa Zindars, professora assistente de Comunicação e Mídia de alguma instituição também não revelada. É uma lista, disse ela, usada nas aulas que ministra para ensinar os estudantes a evitar “notícias falsas e mentirosas”. Em outras palavras, a lista reflete apenas a própria ignorância e preconceitos de Melissa Zindars.

Como bem notou um leitor, Melissa obteve toda a sua doutrinação através da imprensa prostituta (norte)americana, vassala da CIA: “Leio/Ouço/Vejo largamente as fontes da mídia corporativa (The New York Times, The Washington Post, The Boston Globe, The Wall Street Journal, Forbes) bem como The Atlantic, National Public Radio e várias fontes locais e alternativas com perspectivas políticas diferentes (Verdade)”.

Conclusão: temos então que o mundo ocidental está sendo informado pela Harvard University Library de que seus parâmetros para uma leitura segura foram baseados na ignorância e nos preconceitos de uma jovem. As leituras seguras são as mentiras da imprensa prostituta que serve à causa da guerra e do estado policialesco.

Quando você testemunha o nível de corrupção total daquela que se supõe ser uma das melhores universidades dos Estados Unidos, e que está montada na aprovação dos 24 anos de nada mais que mentiras dos últimos três presidentes deste país, os quais são todos responsáveis por ter matado e/ou deslocado milhões de pessoas em vários países, não tendo sido responsabilizados por nenhuma destas mortes, você não pode evitar a percepção de que para os Estados Unidos e seus estados vassalos, a VERDADE é coisa que tem que ser evitada qualquer custo.

Quando Trump desabou sob a pressão e exonerou seu Assessor para a Segurança Nacional, General Flyyn, ele imprudentemente ratificou a acusação de que todos pensem que seria bom normalizar as relações com a outra grande potência nuclear no mundo são “agentes russos”, e que ser “agente russo” significa que você é culpado de traição e merece ser barrado nas suas pretensões de ser o presidente dos Estados Unidos.

A consequência da remoção de Flyyn do governo Trump foi capacitar as forças russófobas para definir como traição a vontade de normalizar as relações com a Rússia. Caso tivesse sido imposto aos presidentes dos EUA durante a 1ª Guerra Fria, provavelmente a vida já teria sido extinta na Terra.

O que mais assusta nos Estados Unidos e na Europa não é apenas a ingenuidade e a displicência de uma grande porcentagem da população. O mais aterrorizante é a disposição da mídia, dos governos, do exército e de membros de organizações profissionais, de mentir ilimitadamente, para proteger suas carreiras. Tente encontrar algum constrangimento, um pouquinho de vergonha entre os mentirosos cujas mentiras expõem a humanidade à aniquilação termonuclear. Não se encontrará um, que fosse. Não querem nem saber! Querem mais manter a Mercedes e a mansão, por mais um ano.

Um dos melhores observadores da cena mundial, The Saker, disse que a Revolução Colorida que está sendo conduzida pelos neoconservadores, o Partido Democrata, a imprensa prostituta, os da esquerda/progressistas/liberais, somados a alguns republicanos, contra o Presidente Trump está “deslegitimando todo o processo (democrático) que levou Trump ao poder e sobre o qual os Estados Unidos foram construídos como sociedade” (artigo já traduzido). A consequência, diz o Saker, é que a “ilusão de democracia e do poder do povo” está sendo destruída não só dentro dos Estados Unidos, mas também no estrangeiro. O cartaz de propaganda “A Democracia (norte)Americana” está perdendo credibilidade. À medida que a falsa pintura desaparece, o mesmo acontece com o poder apoiado na autoridade construída pela propaganda. O Saker pergunta: vamos passar por horror sem fim ou chegar logo a um fim terrível?

Como bem disse George Orwell décadas atrás “em tempo de mentira universal, dizer a verdade é ato revolucionário”.

Mas a maneira como mentem os criminosos que nos governam e a mídia prostituta que lhes pertence é diferente. Se você diz a verdade nos Estados Unidos ou você é espalhador de notícias falsas ou traidor.

Enquanto vocês continuarem a apoiar este site, nós vamos arrostar este estado de coisas e suas consequências. Quem sabe aparece algum Neo (provável referência ao personagem Thomas A. Anderson, apelidado de “Neo” do filme Matrix – NT)?

Fonte:http://www.paulcraigroberts.org/2017/03/16/nuisance-threat-high-cost-truth-paul-craig-roberts/

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