Coronavírus: Depois da explosão, a preparação para voltar à normalidade e conviver com Covid-19

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2/4/2020, Elijah J Magnier, Elijah J Magnier Blog

É provável que nenhum país no mundo se salve, e que cada país esteja agora, com exceção talvez de China, Coreia do Sul e alguns países asiáticos, à espera do nível ‘de explosão’, do pico que representa o número mais alto de mortos num dado período, pelo Covid-19, um coronavírus, depois do qual a curva de novas vítimas começará a descer.

Nesse momento, os líderes mundiais terão de fazer a maioria das sociedades voltarem à normalidade, apesar de o vírus continuar presente ainda por muitos meses. Ainda se recomendarão procedimentos preventivos sanitários de alto nível e distanciamento físico, sobretudo entre idosos e pessoas mais afetadas, mas a economia tem de voltar o quanto antes ao curso regular, apesar do número monstro de mortos.

Dia 10 de março, o presidente chinês Xi Jinping visitou a cidade de Wuhan, província de Hubei, centro do surto de coronavírus, e declarou que a doença estava controlada: “Tivemos êxito em estabilizar a situação e fizemos retroceder a maré em Hubei e Wuhan” – disse. O presidente jamais falou em fim do vírus. Disse que o Covid-19 estava controlado. A China aceitou suas vítimas e será capaz de lidar com o fluxo de novos casos, desde que não seja inundada por casos severos emergentes, que exijam internação e atendimento hospitalar intensivo, sobrecarregando o pessoal médico.

Isso é o que os líderes europeus terão de dizer uns aos outros entre os meses de maio (para alguns negócios cruciais para a economia) e o mês de junho (para os demais negócios). Dependerá de quais países alcancem o nível de explosão do coronavírus e façam baixar a curva até níveis de menos de dez mortos por dia, em vez de milhares e centenas, como se vê acontecer nesse momento nos EUA e na Europa.

Os governos não podem custear o dano irreparável sofrido pelas respectivas economias domésticas, e terão de convocar as populações para que voltem a produzir. A população não tem como manter-se em casa por duas semanas de quarentena. Esse é o tempo de isolamento imposto desde o início às populações, regularmente renovado até que o número de vítimas comece a cair.

A perda de renda de famílias e indivíduos é estimada até aqui em algo entre $860 bilhões e $3,4 trilhões em todo o mundo. A indústria de viagens terá perdas estimadas entre $30 e $60 bilhões. A quebra no comércio de bens e serviços chegará a $320 bilhões por trimestre de interrupção no comércio.

Muita gente dependia do que ganhava em trabalhos de tempo parcial, sem poupança alguma, ou só com pequenas poupanças; todos esses foram colhidos de surpresa nessa crise pandêmica. Mas as sociedades eventualmente ficarão felizes de poder voltar a trabalhar, mesmo com o COVID-19 a rondar-lhes a vida e conviverão com a doença. A razão é simples: não haverá medicamento satisfatório antes do fim do ano de 2020. Assim sendo, não faz sentido algum impor quarentena infindável, que dure até que se encontra uma solução para o Coronavírus – sobretudo quando a maioria dos cientistas estimam que o COVID-19 pode infectar entre 80% e 85% da população, que contudo permanecerão assintomáticos ou só terão sintomas leves. Esses têm sistema imunológicos capazes de resistir ao vírus e podem voltar a ser produtivos nas respectivas sociedades. Depois de superar o tsunami de casos que inundaram os hospitais, o pessoal médico poderá, depois de o número de casos baixar, oferecer assistência médica aos novos infectados.

Idosos e crianças, e pessoas com histórico de doenças graves (obesos, cardíacos, que tenham colesterol alto, histórico de infecções pulmonares, pressão alta e sistemas imunológicos fragilizados) serão orientados para minimizar os movimentos e contatos. As respectivas famílias e amigos também serão instruídos para tomar precauções específicas ao se reunirem, e os mais sujeitos a contrair o vírus serão instruídos para evitar contato com não doentes de risco. Os governos terão tempo para prover o número necessário de testes para toda a população e para aprimorar os respectivos sistemas médicos, para evitar novas corridas aos hospitais e a exaustão do pessoal médico (que já está acontecendo em muitos países que enfrentam o pico da disseminação do vírus).

Educação e trabalho à distância serão desenvolvidos: o mundo muito provavelmente será exposto a outros futuros vírus, ou a novos surtos de COVID-19 antes que se descubra um antídoto. Impor quarentenas a cada novo vírus que surgir significaria populações presas em casa por anos a fio: a economia jamais se recuperará.

Durante a disseminação da pandemia, as pessoas verão morrer entes queridos, ou ameaçados de morrer, e que pouco pode ser feito imediatamente para derrotar esse vírus. Assim também, porque temerão pela própria vida, as pessoas serão forçadas a aceitar a ideia de que o sistema médico de onde vivam lhes faltou, quando mais precisaram, nas sociedades mais avançadas do ocidente (Europa, Canadá, Austrália e Estados Unidos da América) e também em outros continentes. A população viu-se diante da possibilidade de não estar presente no funeral de seus entes mais queridos nem de enterrá-los – por temerem pela própria vida. E o presidente Donald Trump crê que a probabilidade de 200 mil norte-americanos morrerem por causa do coronavírus é índice de que seu governo fez “um bom trabalho” na tarefa de conter a pandemia.

Tão logo a tempestade amaine, as pessoas quererão questionar os próprios governantes sobre seu desempenho e o fracasso em não se terem planejado para impedir que se chegasse ao pior cenário. As sociedades criticarão os discursos que lhes foram impingidos durante a explosão da pandemia, como se fossem explicações de por que não havia testes em quantidade suficiente para testar rapidamente toda a população, a tempo de impedir que se configurassem os piores casos individuais. Nenhum país estava de fato preparado para esse tsunami: milhares de pessoas com sistemas imunológicos deprimidos correndo aos hospitais, ao mesmo tempo. E nenhum hospital no mundo poderia prover leitos em quantidade suficiente para acomodas dezenas de milhares de casos. Faltaram sistemas de respiração em quantidade suficiente para atender todos os doentes e salvar-lhes a vida.

São deficiências que tiveram de ser aceitas durante o surto da doença. Mas muitos líderes serão cobrados – muitos provavelmente desaparecerão, em fuga, tão logo o pânico se dissipe.

É absolutamente inaceitável que países desenvolvidos gastem em guerras centenas de bilhões de dinheiro gerado pelo trabalho de seus cidadãos, em guerras combatidas do outro lado do mundo; ou que invistam bilhões e bilhões em mandar soldados morrer e matar do outro lado do mundo… ao mesmo tempo em que não cuidam de equipar, manter, ampliar e fazer avançar o sistema nacional de assistência médica às próprias populações. Essa “estratégia econômica” torna os governos de todos os países ricos do planeta responsáveis pela morte de milhares dos próprios cidadãos.

Finalmente, a Europa não permanecerá dividida, mas mesmo assim o vírus provocou dano colateral gigantesco. Uma boa lição a ser aprendida por países membros da União Europeia, como a Itália, que não podem continuar a ver China e Rússia como inimigas.

Em momento de desesperadora necessidade, esses países – bem como Cuba – correram a ajudar Roma, apesar de o governo italiano ter imposto sanções a Moscou.

EUA, “nação mais poderosa”, fracassou horrivelmente no papel de “nação indispensável” e não respondeu às necessidades de seus supostos aliados no continente europeu, senão quando já era praticamente tarde demais.

França e Alemanha esperaram semanas antes de apoiar a Itália – país mais duramente atingido, depois da China, e que foi abandonado pelos norte-americanos, no olho do furacão, quando mais precisou. O presidente da Itália Sergio Mattarella pediu que a União Europeia corrigisse o próprio comportamento, antes que a UE como instituição fosse irreparavelmente abalada, porque a Itália foi abandonada quando a pandemia explodiu.

China e Rússia saem dessa provação, como nações vitoriosas. Alguns italianos registraram o feito, eles mesmos, descendo a bandeira europeia e hasteando a bandeira chinesa nas próprias casas e vilas. Mas a China não se apresentou como substituta dos EUA na hegemonia imperial: apresentou-se como parceira estratégica de novos aliados europeus.

A Rússia também, como a China, quer conquistar o coração das populações ocidentais e, aparentemente, não tem qualquer política de dominação imperial comparável à dos EUA. O Kremlin ofereceu ajuda incondicional (100 médicos virologistas e toneladas de suprimentos médicos enviados à Itália); e Roma não foi pressionada a levantar suas sanções.

Diferente disso, os EUA recusaram-se a ajudar a Europa nas primeiras semanas do surto do Coronavírus, impuseram novas sanções contra o Irã, em plena pandemia, ofereceram recompensa de $15 milhões pela cabeça do presidente Maduro da Venezuela e ameaçaram fazer guerra contra Kataeb Hezbollah, forças de segurança do Iraque. Nenhuma compaixão humana, dos EUA, na relação com opositores que, como o Irã, enfrentam surto violentíssimo da pandemia. O atual governo propagador de guerras dos EUA é incapaz de mudar ou de manifestar qualquer empatia por outros seres humanos. Os EUA são incapazes de ver, compreender ou reagir contra o fato de que são inimigos de todo o planeta e de toda a humanidade.

Tão cedo não haverá antídoto contra o COVID-19. Mas quase não há dúvidas de que os governos adotarão abordagem diferente quanto à prontidão para responder a emergências médicas.

É também garantido que o sistema de aliados será profundamente modificado em todo o mundo, e que a os países dominantes antes da pandemia, já não serão dominantes depois da pandemia. O mundo pós-COVID-19 não será igual ao mundo pré-COVID-19. O vírus viverá entre nós, dentro de nós, por meses e anos, esperando em silêncio.

Traduzido por Vila Mandinga


O Oriente Mídia, durante a pandemia do coronavírus, vem publicando diversos textos de autores parceiros deste site. Estes analistas muitas vezes possuem percepções e opiniões não necessariamente convergentes com o nosso ponto de vista, mas consideramos importante publicar os seus textos para  levantar questões, e enriquecer e promover o debate neste período obscuro no qual está mergulhado o mundo em seus cinco continentes.

Estes textos  pretendem lançar uma luz naquele espaço que a mídia oficial tenta  massificar a informação sem permitir uma leitura mais crítica dos acontecimentos, suas causas, seus atores principais e suas consequências  para a geopolítica e geoestratégia  do Oriente Médio e demais países do mundo.

Claude Fahd Hajjar

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