Contagem regressiva para Genebra 2 ou não?

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Por Assad Frangieh.

Depois de encostar de lado seus aliados o Qatar e a Turquia, assumindo o comando da guerra para a derrubada do Governo da Síria e suas instituições laicas, a Arábia Saudita se isola cada vez mais em suas ações, demonstra um ódio imensurável e um envolvimento profundo num projeto que transcende os interesses econômicos e a ânsia do poder, se apegando com tudo no fundamentalismo religioso sectário.

A sugestão de formar um Exército de 120 mil homens unificando todos os grupos armados na Síria, financiado e comandado pela própria Arábia Saudita com base na Jordânia e no Líbano, não recebeu o entusiasmo dos Estados Unidos em razão do Pentágono conhecer as condições reais dos campos de batalha nos quais o Exército Sírio vem recuperando sua soberania apoiado numa aliança estratégica de um Estado laico, um Exército coeso e um respaldo popular crescente. Isso vem se traduzindo nas recentes conquistas obtidas nas regiões de Aleppo, Al-Qalamoun e, nas Ghoutas Orientais e Ocidentais. O ato de indulto feito aos fugitivos e aos desertores do Exército Sírio pelo Presidente Assad repercutiu positivamente tanto nos soldados como em seus familiares. Os Estados Unidos sabem que um “Exército Islâmico”, uma vez formado, jamais seria um instrumento de sua diplomacia pragmática. Os sauditas não são confiáveis e menos ainda os grupos takfiristas ou fundamentalistas. A recente visita de Bandar Ben Saúd ao Presidente Putin e suas propostas feitas às pressas, estavam mais para uma barganha de barraqueiro em fim de feira. Não foi pedir a cabeça do Assad. Foi oferecer tirar o Obama do caminho.

Há três frentes internacionais conduzindo os acontecimentos na Síria. A primeira pela Arábia Saudita e seu aliado agora público, o Estado de Israel. A meta é alimentar a guerra com armas, munições e todo tipo de fundamentalistas, mercenários, takfiristas ou qualquer um que se dispuser a lutar seja da Chêchenia, da Europa ou presidiário em Guatanamo ou em Riad. O prazo é curto, portanto é luta sem regras, sem civilização, totalmente selvagem.

Outra frente é conduzida pela França, Turquia e Qatar. Os aliados perceberam que não vencerão pela força. A França atua como franco atirador, posando de ator global, mas não passa de coajudante. O que puder recuperar do velho colonialismo é lucro. O Qatar investiu alto, mas percebeu tarde que tamanho é documento. A Turquia é a maior perdedora. De zero problema para zero amigo. O trio age como Pôncio Pilatos fez, lavando a mão e se retirando de cena aos poucos, quem sabe a Humanidade os esquece.

Por último os Estados Unidos e seu fiel escudeiro, a Grã Bretanha. Ambos já sabem que a força não substituirá o Estado Sírio por um Governo fantoche. Pior, a Síria trouxe a Rússia de volta ao cenário de um mundo multipolar e selou de vez o fim da onipotência norte americana seja ela pela força ou pela diplomacia. Os escorpiões e as serpentes criados para destruíram a Síria já estão fugindo de controle e de fronteiras. O terrorismo retornará às suas origens ou migrará para novos campos. É isso que tanto a Europa como a América reconhece agora.

Há duas possibilidades para Genebra 2.  A primeira será adia-la para dar mais chances para a Arábia Saudita e a Israel de continuarem com seus planos militares apesar dos elevados riscos de perder o controle sobre o terrorismo e pouco conseguirem em campo. A outra é transformar a conferência num marco de entendimentos internacionais e consequentemente redefinir o próximo inimigo: o Terrorismo guiado sob a bandeira dos takfiristas da Al-qaeda & Cia.

Pelo que a mídia do Oriente Médio publica, parece que todos estão se preparando para mudarem de arquibanda e voltarem para suas embaixadas em Damasco. A Síria do Presidente Assad.

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