Como Irã bombardeou base dos EUA e Trump conseguiu evitar uma guerra total

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2/2/2020, Elijah J Magnier Blog

Dia 3 de janeiro, depois da meia-noite, notícias sobre o assassinato do major-general iraniano Qassem Soleimani, do general-brigadeiro Hussein pour Jaafari, do coronel Shahroud Muzaffari Nia, do major Hadi Tameri e do capitão Wahid Zamaniam chegaram à embaixada do Irã em Bagdá. Funcionários da embaixada estavam em contato com o comboio, até que a comunicação foi repentinamente interrompida. Sardar [comandante] Soleimani tinha imunidade diplomática e atendia a pedido oficial do governo do Iraque, para que ajudasse na luta contra o ISIS. Além do mais, o comboio foi atacado pouco antes de um posto iraquiano de controle, que sabia que o comandante iraquiano Abu Mahdi al-Muhandes viajava também no comboio, com sua escolta de segurança. A notícia foi levada a Teerã e imediatamente até a casa do líder da revolução iraniana Said Ali Khamenei.

“Pertencemos a Alá e a ele voltaremos.” São as palavras do Corão que os crentes pronunciam quando lhes é anunciada a morte de alguém conhecido, próximo ou distante. Faz lembrar que ser humano é ser mortal. Foi a primeira reação de Said Khamenei quando foi informado da morte de “um filho”.

Esse era o nível de proximidade entre Sardar Soleimani e Said Khamenei. Soleimani recebeu o título de “mártir vivo”, pelas muitas vezes que arriscou a própria vida na luta contra ISIS e al-Qaeda no Iraque e na Síria.

Soleimani deixou Beirute e dormiu na Síria dia 1º de janeiro, em local próximo do aeroporto de Damasco. Em todas as viagens à Síria, o comandante costumava reunir-se com todos os demais comandantes, depois das orações da manhã e até depois de o sol nascer, por no máximo duas horas. Naquele dia a reunião incluiu o almoço e os convidados só foram dispensados pouco antes de o sol se pôr. Não parou de falar, dando instruções à sua equipe de comandantes no Levante. O capitão Wahid Zamaniam era companheiro inseparável do Sardar. O major-general foi saudado por oficiais iranianos e iraquianos no aeroporto de Bagdá, onde um drone norte-americano assassinou-os todos, pouco depois.

Segundo fonte bem informada de dentro do “Eixo da Resistência”, pouco depois de ser informado sobre o assassinato, Said Khamenei convocou uma reunião de seus comandantes e deu instruções claras: “preparem-se todos para resposta forte. Temos de deixar claro que os declaramos autores do crime, diretamente, para que o inimigo saiba que o desafiamos cara a cara, não pela via covarde como os EUA assassinaram o comandante Soleimani e seus companheiros. Temos de atingir duramente o exército dos EUA e quebrar a arrogância deles, no mesmo teatro em que cometeram esse assassinato vil”.

Muitos cenários foram então apresentados a Said Khamenei. O primeiro alvo de que se cogitou foi Ayn al-Assad, a base aérea mais significativa e mais substancial dos EUA no Iraque, onde o presidente Trump pousou, por considerá-la a base mais segura em todo o Iraque. O Irã conhece cada palmo daquela base. Os drones e a inteligência iraniana são suficientemente competentes para que saibam listar o conteúdo de cada hangar e de cada prédio.

Foi preparado também um plano para um segundo ataque contra base dos EUA fora do Iraque, do outro lado do Golfo Persa, mais poderoso e mais doloroso que o primeiro alvo, para o caso de os EUA responderem ao ataque a Ayn al-Assad.

E ainda um terceiro ataque foi organizado, também mais poderoso e mais destrutivo que os dois primeiros, contra a mais importante base dos EUA no Oriente Médio. Esse ataque visaria a causar maior número de baixas, número muito maior do que poderia acontecer em qualquer possível retaliação pelos EUA.

Três planos, três cenários, tudo planejado para os ataques acontecerem em sequência.

Said Ali Khamenei aprovou todas essas respostas, de modo que os comandantes, em campo, não precisassem requerer nova autorização. Isso feito, Said Khamenei instruiu os comandantes a voltarem posteriormente para novas instruções; e ordenou que fosse decretada mobilização geral no país, porque seria declarada guerra total contra os EUA, caso houvesse qualquer resposta militar aos ataques iranianos planejados. Para esse cenário de guerra total, Said Khamenei autorizou um plano pelo qual centenas de mísseis seriam disparados simultaneamente contra todas as bases militares dos EUA em países que cercam o Irã, no Levante e em outras áreas. Todos os aliados do Irã no Oriente Médio seriam convocados, e aliados dos EUA seriam diretamente atacados. Mas essa decisão final exigiria mais uma última avaliação, no momento, por Said Khamenei.

Esse foi o cenário absolutamente possível e viável, que o presidente dos EUA – graças à sua decisão de não reagir, apesar das baixas humanas e da destruição infligida à base militar Ayn al-Assad – conseguiu evitar que se concretizasse.

Segundo a fonte, “O Irã não usou qualquer dos mísseis que tem nos silos para atingir alvos dos EUA em Ayn al-Assad. Ao contrário disso, os mísseis foram dispostos e abertamente preparados para lançamento dois dias antes, bem claramente visíveis aos olhos dos satélites norte-americanos. Mensagens voavam para o Irã, de diplomatas que pediam que o país não retaliasse ou que, pelo menos, se contivesse, na resposta. Nenhuma dessas mensagens foram sequer consideradas.

O Irã cuidou atentamente de não surpreender os EUA. Se quisesse surpreender os EUA, o Irã teria disparado diretamente dos silos, sem avisar ninguém. Ao agir como agiu, o Irã desafiou diretamente a hegemonia dos EUA. Como se não bastasse, o Irã informou aos EUA que o ataque viria a qualquer momento, desafiando todo o aparato militar dos EUA no Oriente Médio, e o presidente Trump, ao mostrar que o Irã não teme qualquer consequência”.

O Irã enviou seus drones para sobrevoarem Kwait, Qatar, Arábia Saudita, Emirados e outros países próximos, em pleno dia, sobre bases militares dos EUA. Foi sinal claro de que Teerã estava preparada para a guerra; e indicativo de alguns dos itens no banco de alvos com que o Irã estava trabalhando. A liderança iraniana disse claramente que, se necessário, estava pronta para avançar sobre um ponto sem retorno.

Ninguém no Irã aceita desistir do programa de mísseis que se tornou o orgulho do povo e das forças armadas do Irã. Quando os EUA bombardearam centenas de milícias contratadas pelos russos na Síria, Deir-Ezzour, que cruzavam o rio Eufrates para caçar remanescentes do ISIS, a Rússia decidiu não revidar. Nenhum país ou exército no Oriente Médio jamais desafiou os EUA, sobretudo quando os EUA instalaram na região dezenas de milhares de soldados e equipamento efetivo. Só o Irã, até hoje, desafiou abertamente a hegemonia e o poder militar dos EUA.

O “Eixo da Resistência” confirmou o equilíbrio pelo medo e impôs aos EUA uma política de contenção no Oriente Médio. O Irã desafiou-os abertamente e declarou a responsabilidade dos norte-americanos, sem medo de consequências. Até aqui, os EUA já confirmaram pelo menos 64 mortos; há algum tempo o Irã anunciou que “os EUA sofreram não menos de 80 baixas.”

O presidente Trump supôs que estivesse vivendo momento histórico, o ponto mais alto de sua vida, quando poderia fazer o que bem entendesse sem temer consequências. Acreditou que nenhum país do mundo jamais se atreveria a desafiá-lo. Assessores o convenceram de que o Iraque estaria dividido, que nenhum governo contestaria a violação da soberania do Iraque, e que o Irã já não seria tolerado na Mesopotâmia. É provável que seus conselheiros lhe tenham dito que bastaria incendiar dois consulados iranianos para que o Irã se escafedesse do Iraque. Talvez tenham imaginado que o assassinato de Sardar Qassem Soleimani ficaria impune, e Trump vangloriou-se de ter assassinado “dois pelo preço de um”.

Trump e sua equipe de bandidos fazedores de guerras também acreditaram estupidamente – e creio que ainda acreditam – que sua “pressão máxima” e duras sanções poriam de joelhos o Irã, implorando por piedade. Trump disse que estaria esperando o telefonema do Irã. Só fez comprovar sua ignorância sobre o Irã, a mentalidade, a cultura, a paciência, a coragem e o orgulho do Irã.

O feitiço virou contra o feiticeiro, e Trump deu ao Irã presente imenso, ao permitir que os iranianos bombardeassem o exército dos EUA e o desfiasse abertamente. Trump teve medo de anunciar, logo na primeira semana, o número de mortos. Agora o Pentágono está distribuindo a realidade em capítulos, uma parte por semana. Os EUA, não o Irã, mostraram medo.

Minha fonte concluiu: “Todas as bases militares dos EUA tornaram-se grave ameaça aos países que as hospedem no Oriente Médio. São bases que já não protegem país algum e já se converteram em alvos perfeitos para o Irã em caso de guerra. Os EUA deram ao Irã uma impressionante lista de alvos a espera de serem destruídos. Já não há lugar seguro para forças dos EUA no Oriente Médio, depois que algumas linhas vermelhas foram desrespeitadas, como aconteceu no assassinato covarde do Comandante Soleimani.”

Traduzido por Coletivo Vila Mandinga

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