Cenário nebuloso para o Egito e a Irmandade

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Por Assad Frangieh.

Analistas experientes demonstram preocupação na possibilidade do Egito repetir o cenário da Argélia no início dos anos 90 quando a Irmandade Muçulmana venceu as eleições sem poder assumir o poder em razão da anulação dos resultados. O cenário seguiu-se sanguinolento por anos atingindo a infraestrutura e o desenvolvimento da Argélia e, prejudicando as conquistas sociais alcançadas desde sua independência do colonialismo francês em 1962.

A preocupação procede apesar de não se justificar por diferentes razões. Quando o Exército Argelino anulou os resultados das eleições, não excluiu todas as possibilidades da Irmandade Muçulmana em revindicar seu acesso ao poder pelo fato da própria Irmandade não ter demonstrado de forma negativa sua participação política de governar. Em duas situações, a Irmandade Muçulmana ficou impedida e sujeita aos confrontos violentos. Nos anos 50 quando Gamal Abdel Nasser assumiu no Egito e nos anos 80 quando Hafez Al Assad antecipou suas ações militares na Síria.

No Egito de hoje, a Irmandade Muçulmana governou por um ano e ficou claro seu monopólio do poder e a direção catastrófica nos aspectos políticos, econômicos e sociais para os quais o Egito estava sendo levado. Ficou evidente também, através de suas legislações e nomeações, a intenção de transformação do Estado numa grande Irmandade aliada aos Estados Unidos e seus satélites, principalmente Israel e às organizações capitalistas globais. Na Argélia, a Irmandade Muçulmana recebeu inicialmente a simpatia popular em razão dela não ter assumido suas responsabilidades cívicas de governantes até o momento que sua face violenta e sanguinolenta fora revelada. Diferente do momento atual no qual o acordo entre Washington e o “Escritório Central do Orientador da Irmandade Muçulmana” articulou sua chegada ao poder como no caso da Tunísia, Líbia e no próprio Egito. Na Síria, tal acordo continua em vigência e não seria diferente com as Irmandades Muçulmanas na Jordânia e na Palestina.

Com o desequilíbrio das forças internacionais e a predominância da polaridade dos Estados Unidos e do Ocidente há duas décadas, os movimentos populares socialistas perderam seus espaços políticos para agrupamentos que destituíram o senso público em prol do privado em muitos países entre os quais a Argélia. Com o ressurgimento de potências como a Rússia e a China e, outras economias de mercado como o Brasil, África do Sul, Índia, Irã, Coréia do Sul, Japão e o sudeste Asiático, a aposta única nos Estados Unidos tornou-se arriscada ao mesmo tempo demonstrou que o apoio dado às “Primaveras” apenas desmascarou os grupos beneficiados e acelerou suas idiotices no poder e seus tombos inevitáveis.

Seria uma grande mancada da Irmandade Muçulmana no Egito ignorar a experiência argelina de recorrer às armas e a destruição para chegar ao poder. Há duas razões para isso. A primeira que não houve sucesso na Argélia apesar de circunstâncias melhores e favoráveis na época e a segunda razão, a ausência da simpatia popular necessária para formar a opinião pública majoritária. Ao contrário, a Irmandade Muçulmana no Egito precisa dimensionar com maior precisão às manifestações opostas que levaram milhões de egípcios a dizer não ao islamismo político. Se a Irmandade Muçulmana no Egito recorrer às armas para retornar ao poder, estará cometendo seu suicídio levando junto todos os movimentos islâmicos similares que estejam fora ou parcialmente no poder.

O terrorismo promovido durante anos na Argélia levou ao fracasso da Irmandade Muçulmana naquele país e sua repetição no Egito seria seu tiro de misericórdia. A experiência de sua filial na Síria demonstrou que a Irmandade Muçulmana é um instrumento de manipulação internacional longe de qualquer projeto nacional de desenvolvimento e progresso do Estado de direito. Por esta mesma razão, o risco de adormecer a causa palestina pela Irmandade Muçulmana representada pelo Hamas na Palestina, é eminente e irreversível.

Os ataques crescentes ao norte do Sinai contra o Exército Egípcio são preâmbulos que a Irmandade Muçulmana no Egito acredita nas alternativas militares. Que sejam apenas ações isoladas e não o início de um cenário sanguinolento de destruição e dor.

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