Butcha, a Timişoara do século 21

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Rússia nega massacre de mais de 400 mortos em Bucha, na Ucrânia - YouTube

9/4/2022, Fausto Giudice, de Tlaxcala (e vídeo, ing. aqui)
[Trad. automática por Google, aqui corrigida e revista].

Dia 1º de abril de 2022, o prefeito de Butcha, subúrbio residencial de 36 mil moradores a noroeste de Kiev, anuncia que a cidade teria sido “liberada” no dia anterior, 31 de março, dos ocupantes russos. Ao mesmo tempo, a polícia ucraniana anunciava que havia lançado uma caçada aos “sabotadores” e “agentes russos disfarçados de civis”. Dia 2 de abril, o advogado ucraniano Ilya Novikov publicou, em sua página de Facebook, um vídeo  extraído de uma página ucraniana em Telegram, com um minuto e nove segundos de duração, mostrando um comboio de tanques ucranianos descendo uma rua em Butcha. Doze corpos podem ser contados, um dos quais tem as mãos atadas às costas com uma bandagem branca.

Nas horas que se seguiram, toda a “midiasocialesfera”, e depois a grande mídia, enlouqueceram. “Os russos cometeram crimes de guerra em Butcha, massacraram 300 civis”. Ninguém viu os tais 300 cadáveres. Algumas fotos mostram sacos pretos dos quais se diz que conteriam cadáveres. Por mais que se deseje acreditar, digamos assim, que contivessem cadáveres, nem assim se tem qualquer informação sobre quando e como aquelas pessoas teriam morrido. As fotos e vídeos sucederam-se num caos total: o mesmo suposto cadáver aparece em fotos diferentes em lugares diferentes. Os corpos aparecem, desaparecem, reaparecem com detalhes diferentes. Algumas fotos mostram corpos com as mãos atadas às costas, outras com braçadeiras brancas nos braços. Durante o mês em que as tropas russas ocuparam Butcha e arredores, os civis foram instruídos a usar braçadeiras brancas para mostrar que eram civis não hostis. Os civis, militares e paramilitares ucranianos usavam braçadeiras azuis.

Os militares russos, de acordo com a narrativa dominante, estariam matando civis que não lhes eram hostis. ‘Logo’ – rezaria a ‘conclusão’ – seriam tão loucos quanto seu líder, Putin, o Grande Satã de 2022.

Depois e ao mesmo tempo que a mídia e as redes sociais, entraram no baile também os políticos: Joe Biden, Ursula von der Leyen, Josep Borrell, todos denunciam o “crime de guerra de Butcha”. Foi negado à Rússia o direito de falar e votar no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Zelensky, o “servo do povo”, eterno inabalável herói de novela sem fim, pede um “Tribunal de Nuremberg para Putin”.

E finalmente, lá está o próprio Papa, em cena digna de Nanni Moretti, brandindo e beijando uma bandeira ucraniana “da cidade martirizada de Butcha”, durante uma cerimônia na qual ele dá ovos de Páscoa às crianças ucranianas.

Nenhum meio de comunicação que publicou fotos ou o vídeo da cena explicou o que estava escrito na bandeira: “Quarta Centúria Cossaca de Maidan”.

“Centúria” (“sotnya”) era a unidade básica das tropas cossacas dos vários exércitos em que serviam. Durante o que a Rádio Europa Livre chamou de “Euromaidan” de 2013-2014, o serviço de segurança organizado pelo político, inicialmente neonazista conhecido, depois meteorologista, Andriy Parubiy, foi estruturado em grupos que levavam nomes poéticos, desse tipo, evocando o “passado glorioso” ucraniano; em outras palavras, evocando a luta contra o “Judeo-Bolshevismo”.

Mas e quanto à palavra “Butcha”? Por que Butcha? Porque, em inglês, Butcha inevitavelmente evocaria butcher, “açougueiro”? E quem seria o açougueiro-em-chefe de Butcha? Há duas teorias: para uns, seria Azatbek Asanbekovitch Omurbekov; para outros, Serhii Korotkykh.

O primeiro é tenente-coronel da unidade 51460 da 64ª Brigada Russa Autônoma Motorizada de Rifles. Quirguiz, segundo algumas fontes; do Karakalpaquistão, segundo outras; o avô e o pai serviram no Exército Vermelho e um irmão pertence ao Serviço de Segurança da Rússia.

O segundo, nascido em 1974, apelidado de “Malyuta” em ucraniano e “Botsman” em russo, é neonazista bielorrusso, membro da organização fascista russa RNE (Unidade Nacional Russa), da qual se separou para fundar a Sociedade Nacional Socialista; é fundador também da ONG Zirka [Down, Alvorada], para Proteção e Reconstrução do País), e sobre a qual pesa a suspeita de ter cometido vários assassinatos e assaltos em Belarus e depois na Ucrânia, onde a ONG é ativa desde 2014.

Incorporado ao Batalhão Azov, Serhii Korotkykh foi naturalizado ucraniano em dezembro de 2014, durante cerimônia na qual o Presidente Poroshenko lhe agradeceu por serviços prestados ao país.

Em maio de 2015, Serhii Korotkykh tornou-se o chefe do recém-criado Serviço de Polícia para a Segurança de Objetos Estratégicos, do qual foi diretor até 2017. Também tinha negócios com a Foxtrot-13, empresa de segurança dirigida pela polícia. Em 2020, um dos autores de dossiê sobre nosso homem, publicado pelo Institute for National Policy, e no qual Serhii Korotkykh foi acusado, dentre outras coisas, de ser agente da FSB, foi sequestrado e severamente espancado nas proximidades de Kiev, pelos “suspeitos de sempre”.

Korotkykh chegou a Butcha com seus homens no início de abril. Imaginem a que tipo de trabalho humanitário esse grupo dedicou-se: a enterrar cadáveres ou a produzi-los?

A encenação de Butcha ficará na história como o “detalhe” que garantiu à Ucrânia lugar na União Europeia.

Outra montanha de sofisticados cadáveres, em armários de Bruxelas – o suficiente para destronar definitivamente os “4.630 cadáveres fantasmas de Timişoara”[1], vítimas do Drácula de Bucareste”, comunista. Aqueles cadáveres, que cobriram as primeiras páginas da imprensa livre e democrática ocidental, de Le Figaro ao Libération, é caso exemplar de ficção ‘midiática’, que hoje já é ensinada nas escolas de jornalismo.

O ‘caso’ de Timişoara data de época pré-histórica (dezembro de 1989), quando a Internet não existia, mas, mesmo sem ela, um pobre romeno de língua incompreensível já conseguia vender qualquer embuste a uma mídia sedenta de “furos”.

Alguns exemplos, dos quais ainda lembro: “Ceausescu teria uma rodovia subterrânea escavada de seu palácio até o Mar Negro (225 km…)”; a “Securitate usa franco-atiradores árabes para matar manifestantes pró-democracia”; “Elena Ceausescu tem no palácio, uma geladeira cheia de carne assada (carne humana, é claro)”. E um dos ‘fatos’ mais belos: “Ceaușescu, sofrendo de leucemia, precisa trocar mensalmente todo o sangue do corpo. Foram encontrados cadáveres sem gota de sangue no corpo, na floresta dos Cárpatos. Ceaușescu, vampiro?

Como pudemos acreditar nisso? O rumor anunciava valas comuns. “Também havia valas comuns em Timişoara. E não ficará nisso” (TF1).

No Paraguai circulava uma variante: o ditador Stroessner, sofrendo de uma doença de pele, tinha de se banhar regularmente em sangue de jovens virgens (as quais foram sequestradas e sangradas por capangas do ditador). Nesse caso, o delírio explicava-se por contos e lendas de tribos originárias sobre um ‘chupa-sangue’, vampiros, expressões que designavam os conquistadores espanhóis. Claro, era assim em terras selvagens, histórias de selvagens. Gente civilizada armada com iPhones não fizeram melhor.

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“O que acontece sempre acontece
como tinha de acontecer e sempre para o melhor”.
Monumento local ao escritor russo Mikhail Bulgakov (1891-1940), nascido em Kiev, que passou férias na dacha da família em Butcha.

“Se alguém telegrafa que lhe cortaram a cabeça, sabe-se no mesmo momento que a degola não foi completa…”.
(Mikhail Bulgakov, O Mestre e Margarita 1928-1940)

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

 

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