Arcebispo Damaskinos descreve situação na Síria

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Em visita de Sua Beatitude o Patriarca Maronita Bechara Boutros El-Rai ao Arcebispado Ortodoxo em São Paulo (07/05), Dom Damaskinos Mansour proferiu o seguinte discurso que aborda profundamente o sentimento da Igreja Cristã Ortodoxa, principalmente neste momento de crise na Síria:

“Este é o dia que fez o Senhor, regozijemo-nos, e alegremo-nos nele..”

Este é o canto que a Igreja repete no tempo pascal, para expressar exaltação e alegria, e ela é a melhor forma de dirigir a palavra para Vossa Beatitude, pois vossa presença entre nós neste dia pascal consola nossos corações, aumenta a nossa alegria e felicidade e multiplica a bênção sobre os fiéis.

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Inicialmente tenho a satisfação e a honra, em meu nome e em nome de todos os filhos desta Arquidiocese, de clero, membros do Conselho Administrativo Geral e membros do Conselho da Cidade de São Paulo, dar as boas vindas à Vossa Beatitude, Pai e Senhor Antioquino, que vem do berço da nossa Igreja mãe, de nossa pátria ferida, para visitar os filhos desta Igreja Oriental, espalhados por toda parte neste mundo. Desde o tempo que eles foram forçados a emigrar, deixando, por um tempo, seus entes queridos e sua terra natal, que entretanto e apesar da distância geograficamente grande, continuam considerando-se seus habitantes, seu solo e seu ar, sua fonte de respirar e viver, e onde eles estiverem sentem saudades e falta da Pátria “como a corça para as fontes de água”, assim anseiam esses filhos distantes por sua terra, seus entes queridos, seus pais e familiares, pois daquela terra e através de seus filhos a civilização iradiou para o mundo todo. Em suas terras nasceu o primeiro alfabeto da história, nasceram todas as religiões celestes, particularmente o Cristianismo, o qual, infelizmente, muitas pessoas que desconhecem ou ignoram, a história humana, acham que é uma religião importada de Ocidente, esquecendo que Jesus e seus imaculados apóstolos pisaram e abençoaram aquela terra. É mais lamentável ainda que o número de cristãos está diminuindo ano após ano, chegando ao ponto da terra de Cristo e o berço do cristianismo estar carecente destes, permanecendo apenas poucos cristãos nela.

Claro que isto é uma questão que leva preocupação as almas e constitui uma ameaça existencial para muitos de nossos fiéis filhos. O Cristianismo é uma religião de amor e comunhão, e este foi o vosso lema quando fostes eleito para o trono de Antioquia. O Cristianismo Oriental mostrou que está vivendo há dois mil anos, juntamente com o resto das religiões monoteístas em harmonia, fraternidade e paz.

Hoje, infelizmente, ouvimos no Oriente vozes desafinadas questionando esta convivência e sua continuidade, vozes enganosas que falsificam os conceitos religiosos de tolerância, rejeitando, em nome da religião, o outro e/ou taxando-o de incrédulo, mesmo sendo seguidor da mesma religião. Os outros, na sua visão não são criaturas de Deus que os criou. Nós, como cristãos, acreditamos que vivendo o Evangelho nos tornamos o bom fermendo que colocado na massa faz toda ela crescer. Mas o homem é fraco e necessita, além de sua fé, da voz que a fortalece e lhe dá esperança e confiança. Esta voz é refletida hoje através de Vossa Beatitude, a voz do Evangelho, que é a voz do Bom Pastor, a voz da verdade que Vossa Beatitude leva em seu coração e a propaga onde quer que vá e esteja. A história é e sempre será a testemunha desta voz evangelizadora de Vossa Beatitude e vosso honrado papel.
Desde a eleição de Vossa Beatitude como Patriarca de Antioquia e todo o Oriente da Igreja Maronita, tivemos a plena esperança que vós desenvolverieis o papel de liderança que tras esperança para todos os filhos da Igreja Oriental do retorno da convivência pacífica no Oriente, com suas diferentes religiões e seitas, em paz e harmonia. A melhor expressão dessa esperança é a união da palavra e da posição comum dos Patriarcas do Oriente manifestada recentemente por ocasião da posse Sua Beatitude o Patriarca João X em Damasco e Beirute.

Vos expressasteis, de forma clara, que o Evangelho é a única fonte para a tomada de vossas decisões e de vossas posições a serviço de vosso povo, cuidando do ser humano e zelando por sua dignidade, independentemente da sua religião ou seita, este homem criado por Deus à sua imagem e semelhança, pelo qual sacrifcou seu amado filho para sua salvação. Vossos serviços e cuidados com o ser humano não está limitado apenas pelas fronteiras do Líbano, mas se estende também para todo o oriente e ocidente.

Hoje Vossa Beatitude leva a palavra do Evangelho para onde for e onde estiver. O Evangelho vivo para vós é o ser humano, pelo qual Deus aceitou dar a vida, morrer e ressuscitar vitorioso, resgatando o homem do pecado e da morte eterna para a vida eterna.
É vergonhoso e constrangedor ver hoje em dia, a maioria dos líderes do mundo civilizado, cristão e muçulmano, permitindo e trabalhando para a desunião, separação e guerras e não pela união, pela paz, buscando expatriar os cristãos do oriente, sem saber que se isso acontecer, Deus nos livre, o nosso Oriente perderá seus valores, sua especificidade e singularidade neste mundo, pois ele é uma malha social, humana cultural e religiosa única. Mas enquanto o vosso lema Patriarcal declarado, com a graça do Espírito Santo, é comunhão e amor, não haverá temor, pois, como disse o Apóstolo Paulo: “O amor não se importa com o mal que lhe atinge. O Amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. O Amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca perece” (I Epístola de São Paulo aos Coríntios 13: 6-7-8).

Se tivesse tempo para falar sobre vossas honrosas e sinceras posições, que trazem esperança para as almas e fortalece os fiéis a apegaren-se à sua pátria, suas famílias e as suas terras, eu nunca terminaria!

Portanto, peço à Vossa Beatitude que abençeis os filhos desta Arquidiocese e todos os presentes, e passeis tranquilidade a eles falando sobre a situação no Oriente e seus habitantes, e em particular sobre a situação dos cristãos no berço do cristianismo e o que os aguarda, especialmente depois de presenciar as mãos cruéis se estendendo para seqüestrar e assassinar os sacerdotes, que propagam a palavra de Deus, defendendo a unidade e a paz, entre muçulmanos e cristãos.

Aqui devo apresentar os agradecimentos à Vossa Beatitude, em nome de Sua Beatitude, nosso Pai o Patriarca João X, por vossas posições corajosas e efetuosas, através dos repetidos apelos feitos daqui da América Latina, em toda ocasião e todo lugar, rogando pelo restabelecimento da Paz na Síria e por todos as vítimas de seqüestro, especialmente os Arcebispos Boulos Yazigi e Yohanna Ibrahim, e o engajamento perseverante por sua soltura e retorno, sãos e salvos, às suas arquidioceses e seus filhos espirituais.

Gostaria de encerrar rogando por Vossa Beatitude e desejando-vos longa vida com saúde e determinação: “Para muitos anos de vida, Senhor!”. Peço-vos lembrar, em vossas orações, de nós e de todos os nossos irmãos que passam por dificuldades e dos que foram sequestrados, dos hierarcas e de todo o clero, mensageiros da Paz e ainda de todos os demais.

Permita-me presentear Vossa Beatitude com este modesto ícone para expressar o amor desta Arquidiocese à vossa preciosa pessoa, pedindo ao Senhor e Sua Mãe, Virgem Maria para proteger Vossa Beatitude de todo o mal, e para vos proporcionar todo auxílio, toda força e todo apoio.

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