Anwar Assi: Obama Babá e os 40 carniceiros

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Publicado pelo Vermelho -25 de setembro de 2014 – 12h39

A aliança anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para combater o grupo terrorista da vez – que cinicamente se auto intitula Estado Islâmico (EI), uma facção criminosa que não é nem Estado e muito menos suas práticas são islâmicas -, gerou vários pontos de exclamações sobre a seriedade dos ianques e seus aliados em combater o terrorismo e a violência no Oriente Médio.

Por Anwar Assi*

Ilustração cedida pelo autor

As suspeitas sobre “Obama Baba e seus 40 carniceiros” – entre eles, ditadores, genocidas e saqueadores de povos -, são pertinentes, uma vez que foi essa máfia internacional liderada pelos Estados Unidos que favoreceu o surgimento e a expansão do EI, o“monstro fundamentalista” que botou a Al-Qaida “para escanteio” e que, agora assombra o mundo. Além do mais, Obama Baba fez questão de deixar de fora dessa luta países importantes como a China, a Rússia, o Irã e a Síria.

Embora tenha também raízes em ex-membros do partido Baath, de Saddam Hussein, e em militantes da Al-Qaida que atuaram no Iraque durante a ocupação norte-americana daquele país, o surgimento do EI ocorreu oficialmente, na Síria, em 2013, com o nome de Daesh (Dawlat Eslamiyeh fi Iraq ua Sham), que em português, significa Estado Islâmico para o Iraque e o Levante (EIIL), lembrando que o termo Sham é usado para descrever a região onde está situada a atual Síria. É também conhecido pela sigla, em inglês, de ISIL (Islamic State of Iraq and the Levant) ou ISIS (Islamic State of Iraq and Sham).

As fileiras do EI são compostas, em sua maioria, por mercenários estrangeiros, inclusive milhares de ocidentais (há 1,6 mil britânicos e 4 mil alemães, por exemplo, lutando com o EI, além de norte-americanos, australianos, asiáticos e outros europeus). Seu número inicial era de 10 mil combatentes. Hoje, o grupo teria entre 30 mil militantes vindos de 80 países.

Tem até um mercenário, filho de mãe brasileira, que se juntou ao grupo após uma depressão, segundo a genitora dele, e que ao invés de buscar ajuda para se tratar em um consultório médico, usou a doença como desculpa para descontar sua raiva na população da Síria e do Iraque em troca de alguns dólares a exemplo de outros membros do EI que matam por dinheiro e ódio e não por ideologia.

Conquistas

A maior proeza do EI no campo militar foi conquistar o controle por completo do Estado de Raqqa, no nordeste da Síria, e dominar a cidade de Mossul, a segunda maior depois de Bagdá, a capital do Iraque, além de ter influências em outras cidades menores. A conquista dessas cidades garantiu ao EI o domínio sobre, aproximadamente, 15 unidades de extração de petróleo (entre refinarias, poços e campos de petróleo), das quais são extraídas 40 mil barris por dia, garantindo uma receita diária de US$ 1 milhão para o califa.

Esse petróleo roubado do povo sírio e iraquiano é escoado pela Turquia e pela Jordânia, dois países aliados dos Estados Unidos e da Otan (a aliança militar do Ocidente) a um preço que varia entre US$ 25 e US$ 60, valores bem abaixo do mercado, cujo barril custa, hoje,em torno de US$ 100. De acordo com especialistas do Oriente Médio, um dos destinos finais do petróleo usurpado pelo EI é o mercado norte-americano, que obtém o produto com a ajuda dos turcos e dos jordanianos.

Hoje, o petróleo é uma fonte importante de financiamento das atividades do EI. Porém, há países aliados dos EUA que também bancam esses extremistas como a Arábia Saudita, o Catar e a Turquia.

Armas e logística

Outro fator que gera desconfiança sobre os Estados Unidos e seus aliados é quanto as armas que estão hoje em posse dos membros do EI. É notório que os norte-americanos treinaram militantes extremistas – cinicamente chamados pelos ianques de “oposição moderada” síria -, em território jordaniano e os armaram com poder bélico pesado.

Na ocasião, o governo norte-americano alegou que essas armas eram para os “moderados” combaterem o governo do presidente da Síria, Bashar Al-Assad, que é apoiado pela maioria da população síria na luta contra os extremistas. Porém, membros desses pseudos grupos “moderados” que atuavam na Síria, inclusive, do chamado Exército Livre da Síria (ELS) – controlado, em sua maioria, pelo braço armado da ramificação da Irmandade Muçulmana na Síria -, desertaram com suas armas “made in USA” para defender o EI, considerado o estágio mais extremista entre os grupos que combatem na Síria.

Além da questão das armas, há o fato de que os extremistas possuem livre circulação por países aliados dos Estados Unidos e dos europeus, em especial, a Turquia. Os turcos, juntamente com a família saudita e o Qatar, também aliados dos Estados Unidos, são grandes financiadores e protetores dos extremistas pseudos religiosos no Oriente Médio. Sem contar que esses regimes permitem que os extremista entrem e saíam do território sírio sem serem presos ou importunados nas fronteiras.

O califa

O “Califado” montado pelo EI é comandado por Abu Bakr Al-Baghdadi, um nome fake adotado pelo agente da CIA, Ibrahim Al-Badri, que atuava com a Al-Qaida, no passado. Pela versão oficial, Al-Badri ou Al-Baghdadi, teria divergido com Aiman Al-Zawahiri, o líder da Al-Qaida, e daí teria resolvido criar seu próprio grupo de forma independente ao da facção fundada por Osama Bin Laden. Qualquer semelhança entre a história de Al-Baghdadi (ex-agente da CIA, dissidente, guerreiro do Islã etc) e a de Ben Laden não é mera coincidência, uma vez que o líder da Al-Qaida também foi chamado de “guerreiro do Islã” e de dissidente após lutar ao lados dos norte-americanos contra os soviéticos no Afeganistão, na década de 1980.

Anti-Islã

Embora utilize o termo islâmico em sua denominação, o EI é amplamente condenado e combatido pelo mundo muçulmano devido as suas práticas que contradizem a fé islâmica, incluindo o roubo, assassinatos, estupros, tortura e violência.

Muçulmanos de países como o Irã, Síria, Líbano e Iraque já vêm combatendo os terroristas do EI antes mesmo de Obama Baba e seus 40 carniceiros anunciarem sua luta contra os “extremistas que ameaçam a nossa sociedade e o mundo civilizado”.

Há algumas semanas, o chefe da Universidade de Al Azhar, no Cairo, uma das mais prestigiosas instituições da corrente sunita do Islã, afirmou que os militantes do El são criminosos que servem a um “complô sionista para destruir o mundo árabe”. “Esses criminosos têm sido capazes de transmitir ao mundo uma imagem manchada e alarmante dos muçulmanos”, disse o xeque Ahmed Attaiyb, líder de Al-Azhar.

A maiores vítimas do EI são os muçulmanos, tanto os das escolas sunitas como os da escola xiita. Porém, eles atacam também cristãos, yazidis, drusos e curdos. Coincidentemente, o único grupo que o EI não ataca são os judeus sionistas, que há mais de 70 anos promovem o genocídio do povo da Palestina. A farsa se repete mais uma vez.

*Jornalista brasileiro

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