A Rússia mudou o jogo na Síria, a favor dos sírios.

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01/07/2021

Damasco, SANA

A chegada da Rússia ao tabuleiro do conflito sírio freou os propósitos geoestratégicos do Ocidente na região do Levante e resultou em uma demonstração clara das impossibilidades hegemônicas dos Estados Unidos.

O governo sírio, depois de sofrer uma verdadeira invasão terrorista pelo movimento do Estado Islâmico (EI), financiado e equipado indiretamente pelo Ocidente, solicitou a ajuda da aviação militar russa para fazer frente a esta investida.

Quando em setembro de 2015 o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o envio da aviação de combate ao estado levantino, durante quase um ano os Estados Unidos falavam de um confronto de seus aviões com grupos extremistas na Síria.

Uma das primeiras operações das aeronaves russas foi cortar uma das mais suculentas formas de renda milionários do IS, ou seja, a venda ilegal de petróleo a outras nações vizinhas para se financiar.

Portanto, o objetivo inicial era eliminar um comboio de caminhões-tanque do grupo terrorista com petróleo sírio.

Seria necessário esclarecer que a Rússia trouxe o que há de mais moderno em suas Forças Armadas para a Síria. De acordo com a publicação digital Voenoe Obozrenie, cerca de 300 novos tipos de armas foram testados na Síria.

Além disso, a operação na nação meso-oriental foi realizada em conjunto com a restauração da capacidade de ação e a modernização das forças armadas russas.

A acelerada aplicação de alta tecnologia e a substituição de importações no Complexo Militar Industrial, após o golpe na Ucrânia e as sanções ocidentais contra Moscou, catalisaram o desenvolvimento nacional de armamentos.

A Síria também demonstrou a capacidade da Rússia de mover forças muito além de suas fronteiras, organizar a logística para manter esse contingente em plena capacidade de combate e também garantir o estabelecimento de bases militares.

Assim, no processo de guerra na Síria, a Rússia colocou em prática o moderno bombardeiro SU-34, com movimento supersônico e com grande eficácia em missões na Síria.

A isso se juntaram mísseis alados Calibre disparados de fragatas russas do Mar Negro, Mediterrâneo e do Cáspio contra alvos terroristas a 2.000 quilômetros de distância.

Tudo isso aconteceu quando Putin anunciou o lançamento de uma nova geração de mísseis hipersônicos como o complexo Avangard (30 mil quilômetros por hora) e os foguetes supersônicos Kinzhal, localizados em interceptores MIG-31K.

Além disso, a Rússia está testando mísseis supersônicos Tsikron, feitos para submarinos atômicos russos, ou submersíveis Belgorod, portadores de submarinos drones Poseidon.

Isso faz parte do desenvolvimento das Forças Armadas russas nos próximos sete anos, para as quais são esperados gastos superiores a 197 bilhões de dólares.

A MENTIRA DO OCIDENTE TEM PERNAS CURTAS

A Rússia criou o Centro de Reconciliação para a Síria, que não só ajudou a restaurar a vida pacífica nos territórios libertados, com desminagem ( desmonte das minas) e distribuição de ajuda humanitária, mas também a manter a ordem interna.

As funções do centro russo também passaram por negociações que aconteceram em cidades como Aleppo e Palmyra, bem como em províncias como Deir Ezzor para a saída por corredores humanitários de grupos armados e suas famílias.

Dessa forma, a referida entidade também serviu para expor as manipulações do Ocidente sobre a questão do uso de armas químicas, ao criar falsos cenários de supostos ataques do governo sírio contra civis.

Nisso se destacou o chamado grupo Capacetes Brancos, muitos de seus integrantes pagos pelo Ocidente e com ligações diretas a grupos terroristas, mas apresentados como os supostos defensores da população contra ataques químicos.

A intenção era culpar o governo sírio pelo uso dessas armas, para justificar a suposta necessidade de retirar o presidente Bashar al-Assad do poder e manter as forças de ocupação dos EUA, especialmente no norte da Síria.

O PROCESSO ASTANA

As negociações sobre a Síria em Genebra, iniciadas em 2012, mas com o objetivo claro de posicionar o governo sírio como o vilão do conflito, tiveram pouco sucesso e em dezembro de 2016 surgiu o chamado processo Astana.

O acordo da Rússia, Turquia e Irã para se tornarem a garantia de um frágil cessar-fogo em todo o território sírio foi seguido pelo apelo para negociações diretas em Astana entre 12 grupos armados moderados e o governo de Damasco.

Mas um dos aspectos importantes do processo de Astana (a capital do Cazaquistão agora chamada de Nur-Sultan) era iniciar um processo com participação quase zero do Ocidente.

Além disso, as conversas mencionadas destacaram o crescente papel do gigante da Eurásia em influenciar eventos no Oriente Médio, apesar da ocupação de parte do território sírio por tropas americanas.

Da mesma forma, com suas ações, a Rússia questionou totalmente a necessidade de manter as forças dos Estados Unidos em um país, cujo governo rejeita a presença daqueles soldados que a Casa Branca assegura para lutar contra grupos extremistas.

As negociações de Astana também levaram à criação, em maio de 2017, de quatro zonas de segurança, distribuídas por oito províncias sírias, seguidas da formação de quatro zonas desmilitarizadas nessa base.

Rússia, Turquia e Irã assumiram responsabilidades, em conjunto ou separadamente, por garantir um processo de desarmamento de grupos regulares, o retorno de pessoas deslocadas e o acesso de ajuda humanitária aos referidos territórios.

De fato, o surgimento dessas áreas, uma delas na província de Idlib, onde se concentram milhares de radicais, permitiu a redução das tensões e a retomada do controle do governo sírio sobre seu próprio território.

Como complemento ao processo de Astana foi o Congresso Nacional Sírio, testemunhado pela Prensa Latina, realizado apesar dos obstáculos impostos por alguns convocados, na tentativa de levar o evento ao fracasso na cidade termal de Sochi.

Em 30 de janeiro de 2018, dezenas de líderes de grupos tribais e de oposição viveram um longo dia de discussões e propostas no Centro de Congressos de Sochi, que manteve a imprensa atenta.

Finalmente, ao contrário dos desejos do Ocidente, o fórum inter-Síria concordou com a criação de um comitê constitucional para redigir uma nova Carta Magna.

Embora o congresso no resort à beira-mar no sul da Rússia tenha sido visto como um complemento às negociações de Genebra, ele mostrou o poder de convocação de Moscou para discutir questões cruciais da Síria, incluindo seu processo político.

RÚSSIA E SÍRIA PÓS-CONFLITO

Em tempos ainda distantes para falar de um controle da situação na Síria, em abril de 2018, o Fórum Econômico Internacional de Yalta, na península da Criméia, teve ampla participação do país levantino.

Mais uma vez, a Prensa Latina teve a oportunidade de testemunhar a assinatura de acordos de troca de mercadorias entre os portos sírios e os da Crimeia, o que foi visto como uma importante contribuição para a reconstrução do país levantino.

Na ocasião, o deputado sírio Samir Shina, à frente da Comissão Parlamentar de Amizade com a Venezuela, disse à Prensa Latina que seu objetivo era discutir aspectos da cooperação no processo de restabelecimento de seu país na Crimeia.

Depois da guerra, procuramos desenvolver a colaboração entre o porto sírio de Latakia e a Crimeia como duas regiões marítimas, sublinhou o deputado.

A Rússia, assim, propôs não só a transferência de ajuda humanitária para a Síria, mas também o recebimento de produtos, frutos da tênue mas a crescente recuperação econômica daquele país.

Desta forma, Moscou apoia na Síria uma participação multilateral que inclui apoio ao seu processo político, reforço militar na bacia do Mar Mediterrâneo e apoio à reconstrução do país.

fm/ed

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