A luta do Rochedo com o Mar 1

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Por Assad Frangieh.

O Presidente Putin disse que a Síria é para a Rússia o mesmo que Israel é para os Estados Unidos. Esta frase resume bem o desfecho da crise síria e desenha para o futuro os novos cenários geopolíticos do Oriente Médio, cuja característica principal é o fim da onipotência dos Estados Unidos. Em 1962, a crise dos mísseis soviéticos em Cuba acabou com a retirada dos mesmos da ilha assegurando a Cuba que não seria agredida por uma invasão norte americana e desde então uma linha de comunicação entre Washington e Moscou manteve-se aberta. De certa forma, o novo Muro de Berlim foi restaurado nas fronteiras da Síria.

Fontes de notícias árabes de credibilidade relataram recentemente que os dois mísseis norte americanos lançados da Espanha em direção à Síria eram o início da agressão e que suas interceptações, derrubando um deles e desviando o outra para o mar, foi uma resposta rápida de forças russas presentes no Mediterrâneo, assim como o voo dos dois “Sukhoi-22” sírios sobre os limites marítimos das bases britânicas em Chipre, indicando que a decisão política já tinha sido tomada e que os militares já poderiam agir por conta própria. No Líbano, a movimentação no Sul do Líbano não deixava dúvidas que o conflito se estenderia da Galiléia a Tel Aviv e que as surpresas militares surgiriam do eixo da Resistência desde Teerã, Damasco e Beirute.

As negociações entre Kerry e Lavrov em torno de um acordo para supervisionar as armas químicas na Síria constituem apenas a vitrine de um entendimento estratégico global que engloba o dossiê nuclear iraniano, a crise na Síria, as mudanças geopolíticas no norte da África incluindo o Egito e os destinos da Turquia, das Monarquias do Golfo e as indefinições da Causa Palestina. Sem dúvida que a Síria recuperará sua estabilidade e assumirá a contrabalança regional de Israel. O avanço do Exército Sírio em restabelecer a ordem interna receberá o aval e o reconhecimento global (mesmo contra as vontades dos Estados Unidos e Comunidade Europeia) por sua luta contra o terrorismo aplicado pelos grupos islâmicos takfiristas  e idealizado pela Al-Qaeda. Israel manterá seu foco na questão palestina retardando qualquer solução real assim como o faz nas colinas do Golan e nas fronteiras do Líbano, empurrando seus problemas com a barriga e fugindo “para frente” até ao Deus-dará.

A crise na Síria repercutirá de volta aos países que nela se envolveram. E nas mesmas proporções. Como uma onda que bate no rochedo e volta para o mar. O Líbano é um candidato permanente ao caos em razão de uma parcela dos libaneses apostarem nas diretrizes da Arábia Saudita e dos aliados ocidentais. A Turquia terá que recuar para enfrentar problemas sociais internos, contrários ao Islã político e, favoráveis ao Laicismo de Estado, o entendimento com os curdos que começa retornar a estaca zero de antes de sua intervenção na Síria e principalmente o discurso do Governo Erdogan que deixou de ser religioso por excelência para tornar-se sectário. Algo desagregante na comunidade turca.

A Jordânia será poupada, mais pela sabedoria e jogo de cintura do seu Rei do que pelos interesses ocidentais de criar a Pátria Alternativa para os Palestinos ou pela indiferença dos Monarcas do Golfo Pérsico ao povo jordaniano. O grande desequilíbrio deverá acontecer na Arábia Saudita com uma decisão dos Estados Unidos em redimensionar o poder dos futuros Monarcas e mantê-los preocupados com problemas internos e apenas agirem externamente como financiadores a mando da Casa Branca. O Qatar já pagou a conta e a Arábia Saudita o fará também.

A prioridade dos Estados Unidos é sua economia e sempre será. Esta é uma das razões principais do recuo norte americano em retornar à diplomacia e resguardar a força militar. A definição do preço do Gás será feito com os parceiros produtores e transportadores, inclusive a Síria e não mais a revelia da Rússia e do Irã, principais reservatórios naturais dessa energia.

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A política internacional do Oriente Médio voltou a ser um quadro de tabuleiro de xadrez com um jogador norte americano de um lado e um russo do outro. Cada um dos jogadores pode contar com seus aliados, mas nenhum deve enfiar a mão no tabuleiro e querer mexer nas pedras sem permissão. Nesse tabuleiro, a Síria deixou de ser a isca para se tornar o peão que pôs o rei preto à mira de um Xeque-Mate, com a ajuda dos bispos persas, os cavalos asiáticos e o Czar branco.

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Um comentário sobre “A luta do Rochedo com o Mar

  1. Responder Coletivo de Tradutores da Vila Vudu set 15,2013 15:40

    Booooooooooa! Vide Link

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