Manifestações no Brasil têm seu contexto global

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As manifestações em massa atingem todos os continentes apesar de seus contextos geopolíticos distintos. O Brasil não escapa disso ainda que vivemos num mundo globalizado no qual a mídia não determina fronteira. A entrevista da Dra. Claude Hajjar da FEARAB entra nesse contexto.

1-Como a senhora vê as manifestações que ocorrem no país?

As manifestações em São Paulo,  convocadas pelo MPL, tiveram no inicío, enquanto movimentos pacíficos e reinvindicatório, a busca de um compromisso do governo com a redução das tarifas do   transporte público.  A população brasileira aplaudiu e se solidarizou com a iniciativa, todos nós consideramos necessária e oportuna esta reinvindicação. Prevaleceu o princípio democrático e vivenciamos o exercício da cidadania. Nós, dos movimentos da sociedade civil, consideramos a iniciativa importante: uma “ação política”. Para Hannan Arendet, a ação política  é efetuada ou desencadeada por um grupo ou por um indivíduo, ator desta ação, e a caracteristica deste ato, é a imprevisibilidade; não conseguimos nem mensurar e nem conter a sua dimensão e extenção enquanto “ação”, ela ultrapassa as suas necessidades iniciais e extrapola o seu objetivo inicial .

2-Como avalia a atuação da polícia nos protestos?

A dos policiais nos primeiros dias de protestos foram desproporcionais, e a Policia Militar, mostrou-se-se despreparada para conter, as provocações, os arruaceiros e infiltrados nas manifestações. Sem dúvida, houve sim uma desmedida da PM, mas em muitos momentos, por não saber até que ponto coibir arruaças e depredações e até que ponto preservar o direito democrático da população se manifestar. Nós vivemos esta contradição e esta desmedida com atuações excessivas como em 13 de junho de 2013 e a ausência total de policiais e de segurança quando os infiltrados e arruaceiros tentaram invadir a prefeitura e aí teve inicio a depredação de lojas.
Na verdade o MPL reconheceu que ouve sim uma desmedida tanto da policia quanto destes personagens estranhos que instigavam policiais e a população e conduziam e desviavam  as caminhadas para lugares onde premeditavam gerar o caos e a desordem. Em 19 de junho o governo aceitou as reivindicações populares, porém as manifestações se ampliaram em todo o país, e não cessaram,e novas reivindicações difusas e sem objetivos  claros e exequíveis, continuaram acontecendo em todos os recantos do país. Eu acredito que os governantes devem ouvir todas as reivindicações e tentar dialogar com a população.

3-O Cebrapaz se envolveu ou participou de alguma forma das manifestações?

Eu não tenho conhecimento deste fato. E creio eu, que, caso o Cebrapaz venha a se manifestar frente a estes atos seria na forma da aproximação das idéias entre o MPL e o governo. O Cebrapaz  apoia  mobilizações populares e com reinvindicação legítimas, como o MPL, mas estas já foram atendidas pelo governo.

4-As manifestações foram totalmente, expontâneas? Houve grupos que se infiltraram? Porque durante a abertura da Copa das Confederações e  logo após o anúncio de que a Presidenta Dilma estava com um indice de 70% de aprovação?

Na verdade estes foram os pontos que mais me intrigaram…. Eu acredito que as manifestações foram expontaneas, mas permitiram que alguns surfistas pegassem onda nesta maré. Os olhos do mundo estavam concentrados na Copa das Confederações este foi o melhor período para que os “oportunistas de plantão” pudessem tentar tirar proveito da situação e mostrar para o mundo que os 70%  de aprovação da Presidente Dilma são nada frente aos 1 milhão de brasileiros que saíram às ruas em 20 de junho de 2013.
As programações da  TV Globo, subsidiária da TIMES LIFE  americana, interromperam a sua programação normal para mostrar ao Brasil e ao mundo as manifestações; não as da cidade de São Paulo, estas mais pacíficas; mas as do Rio e Brasília, onde os filhos de poderes e mandantes inconfessáveis depredaram prédios públicos, propriedade particulares, semáforos….

5-Os movimentos sociais precisam se posicionar sobre as manifestações? Caso sim, como eles devem entrar nesse debate?

Sim, os movimentos sociais precisam, devem e irão prestar um enorme favor à nação ao se posicionarem, e ajudar a encontrar saídas para as intensas reinvindicação dos jovens no Brasil. Eu mesma fiz uma pequena reflexão sobre o nosso papel enquanto participantes ativos dos movimentos sociais, como cidadãos que trabalhamos e lutamos para eleger Lula, Dilma e Haddad, acreditando que poderíamos mudar e continuar mudando o país…. Muitas de nossas expectativas foram atendidas mas muitas vezes sentíamos que o nosso candidato, antes tão próximo, agora fica distante, quase impossível fazer chegar a nossa voz, o nosso parecer. O que queremos é fazer chegar a nossa experiência das ruas, dos fórums, gostaríamos que os ataques da mídia( contra nossos governantes tivessem direito de resposta), mas infelizmente, após eleito o nosso candidato,  existe uma continuidade das forças de sempre que se antecipam e cercam o Planalto, o Palácio do Governo e a Prefeitura, e cria-se uma barreira entre nós cidadãos, e nosso candidato….

Minha contribuição como cidadã para o nosso governo:

Minha opinião que dirijo aos governantes: eu considero o transporte público como uma das necessidades básicas do país; e por esta razão deve merecer uma analise e investimentos que permitam que o usuário possa pagar um valor único.  Uma passagem única, dia, que vai permitir que o usuário circule de onibus ou de metrô com o mesmo valor de ida e volta para casa. Vamos pensar em um valor de 3,00 dia o valor da passagem, então este valor vai permitir andar por São Paulo por até 12 horas, sem nenhum outro gasto. (Não estou delirando, e não sou economista, mas tenho certeza,  caso possamos comprometer a sociedade brasileira com as necessidades de sua população, pode ser factível sim)

A- A transparência na administração pública é necessária para que o cidadão se considere partícipe e responsável pela construção deste gigante. Temos um país de grande extensão territorial, e precisamos de estradas, ferrovias e hidrovias…

B- Precisamos de Saúde, educação, precisamos de treinamento e capacitação para a população que tem uma opção pelo trabalho técnico e não quer ir à faculdade, precisamos de engajamento e atividades politico-econômicas que introduzam o homus politicus; sendo proativo, produtivo, participativo, e conseqüentemente feliz. Eu não consigo ver felicidade sem efetuação do ser, sem que este ser humano, veja o seu esforço triunfar, seu trabalho reconhecido, seu palpite e atitude reconhecidas e valorizadas. O ser humano precisa do êxito, do protagonismo, do reconhecimento, mas ele só vai conseguir tudo isso quando aprender pela experiência de que precisa suar a camisa, trabalhar, se comprometer e depois sim, conseguir realizar o objetivo…um esforço muitas vezes de meses para um ou dois dias de glória….E tudo começa de novo….

C- O movimento popular está tomando as ruas do Brasil é legítimo.   A  passagem de onibus/metrô / trem está muito alta, está na hora de fazer funcionar os Comitês Populares de bairro e de dar suporte à Prefeitura e ao Palácio do planalto. Nossa politica econômica é globalizada e neoliberal, não pudemos atender à classe menos favorecida com o dinheiro dos mais ricos;  nós estamos dando para a classe menos favorecida mas   retirando dos REMEDIADOS, e  foram estes que saíram ás ruas…A conta de luz aumentou mais de 10 vezes em 13 anos, a de água idem, os telefones,….os aluguéis, os impostos…

D-Os nossos bancos continuam ganhando a rodo mesmo reconhecendo que temos um dos mais respeitados sistemas bancários do mundo,temos também as maiores e mais atrativas  taxas de juros ….Como não conseguimos nos desatrelar ao Banco Mundial e  ao FMI, estamos submetidos ao ajuste fiscal que degola as populações e submete o Estado – Nação ás normas globalizantes…. privatizações, legislações  da OMC válidas para alguns países e para outras não…. submetendo assim, a nossa soberania ao beneplácito do Capital Internacional. Quero ressaltar que o Brasil, dos últimos dez anos pôde se reconstruir diferentemente de alguns países da U E  e da Turquia entre outros, que mesmo fazendo todas as concessões exigidas pelo Capital Internacional,  não souberaram preservar a sua soberania e o bem estar de seu povo.

E- O papel das redes sociais pode ser um aliado nas consultas populares, e atende às demandas  com rapidez e eficiência. Precisamos com urgência de grupos de trabalho, de bairros, grupos de planejamento estratégico,voltados á população e ouvindo suas necessidades e suas experiência. Já que foi dada a partida, vamos prosseguir e fazer ouvir aos nossos governantes nossas reais necessidades, e em contrapartida ouvir deles, o que pode ser exequivel ou não. Ouvir destes governantes seus planos já em execussão…. Necessitamos incitar o debate , prosseguir com ele e assumir  nossas responsabilidades enquanto cidadãos         brasileiros comprometidos com a construção de nosso Brasil. Governo e povo devem estar juntos nas tomadas de decisões. Vamos interagir com o povo,nos colocar nos seus braços, ouvir seus sons e ruidos, trabalhar e dialogar com eles, sentir suas necessidades e aflições. Acredito sim que a cada momento podemos fazer diferente, ouvir o que o outro tem a dizer.

CLAUDE FAHD HAJJAR
Vice Presidente de Fearab América
Conselheira do CEBRAPAZ

Publicado originalmente no Portal da PUC-Rio

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