ORIENTE mídia

Culturas da Resistência

  • Geopolítica
  • Biblioteca
  • Artigos
  • Editoriais
  1.  
  2. Geopolítica
  3. Península Arábica
  4. Primeiros tiros  numa guerra civil saudita
« Derrotado por todos os lados, o tirano saudita declara guerra ao Líbano
Análise: Golpe Palaciano em Riad »

Primeiros tiros  numa guerra civil saudita

8 nov 2017 | Península Arábica

Tags: Expurgo; · Família Real; · Líbano · Muhamad Bin Salman; · Reino Saudita;

Share Button

7/11/2017, Alexander Mercouris, The Duran

Traduzido por Vila Vudu

O expurgo em andamento na Arábia Saudita pela primeira vez levanta uma questão jamais levantada desde o golpe de 1964, no qual o príncipe Faisal bin Abdul-Aziz derrubou o irmão, rei Saud, e tornou-se ele mesmo rei da Arábia Saudita no lugar de Saud: o quão estável é o Reino Saudita?

A resposta curta é que ninguém sabe. Mas a situação hoje parece muito mais séria do que era em 1964.

Quando do golpe de 1964, o rei Saud era visto como governante fraco e extravagante, sem comparação com o irmão Faisal, austero e frugal, e que abertamente declarava o rei corrupto e incompetente. Mais importante, ao lançar seu golpe Faisal contou com o apoio da grande maioria dos príncipes sauditas e do establishment religioso saudita, além de forte apoio das forças armadas e da guarda nacional.

Resultado disso, o golpe foi sem sangue e rápido, com Faisal substituindo Saud sem tropeços, primeiro como regente, depois como rei, e a partir de então como governante vigoroso e efetivo por dez anos, em lugar do irmão deposto. O golpe de 1964 contudo agitou o reino, levando a uma tentativa de golpe contra a Família Real Saudita pelo exército, em 1969, o que levou Faisal a criar o complexo e elaborado aparelho de inteligência e segurança interna que protege até hoje a posição da Família Real Saudita.

O expurgo que o príncipe coroado Muhammad bin Salman desencadeou agora guarda algumas semelhanças com os eventos de 1964, na medida em que um membro da Família Real mais uma vez serve-se do pretexto da corrupção para eliminar rivais na luta pelo trono. Como aconteceu com Faisal em 1964, o príncipe coroado Muhammad bin Salman também está tentando projetar uma imagem de reformador e modernizador, embora, se Faisal projetou imagem de homem prudente e moderado, o príncipe coroado Muhammad bin Salman advoga por um programa de industrialização em ritmo alucinado financiado por gasto massivo.

Mas aí se acabam as semelhanças.

Se o golpe de 1964 visou especificamente um membro da Família Real Saudita – o rei Saud –, o expurgo hoje em curso parece dirigido contra um grupo de príncipes sauditas que o príncipe coroado Muhammad bin Salman obviamente vê como ameaça potencial.

Mais importante, se o golpe de 1964 foi basicamente sem sangue, com o rei Saud derrubado sem esforço e expulso para exílio na Grécia com sua família, as múltiplas prisões de príncipes sauditas hoje sugerem coisa bastante mais violenta.

Já há notícias da morte do príncipe Mansour bin Muqrin – supostamente num acidente de helicóptero – e também da morte do príncipe Abdul-Aziz bin Fahd – supostamente quando tentava escapar antes de ser preso.

A informação sobre essas duas mortes ainda é precária – e no caso do príncipe Abdul-Aziz bin Fahd pode não ser verdadeira –, mas é difícil crer que não estejam conectadas ao expurgo em andamento.

Príncipes sauditas assassinados no curso de disputas pelo poder dentro da Família Real é coisa jamais vista na moderna história dos sauditas. Se o príncipe Mansour bin Muqrin e o príncipe Abdul-Aziz bin Fahd realmente morreram por causa do expurgo, a única explicação razoável é que o príncipe coroado Muhammad bin Salman está enfrentando resistência. Sobretudo, numa sociedade na qual famílias honram e cumprem o dever de vingar parentes assassinados e o processo é levado ainda muito a sério – o rei Fahd foi assassinado em 1975 pelo irmão de um príncipe saudita que havia sido morto por forças de segurança sauditas num ataque contra uma estação de TV contra a qual o príncipe tinha objeções por motivos religiosos –, a morte de príncipes sauditas pode fazer do príncipe coroado Muhammad bin Salman, pelo menos potencialmente, alvo de retaliação.

Uma das razões pelas quais a Família Saudita tem conseguido superar todos os desafios ao seu reinado desde que assumiu o controle em 1932 é que, apesar de querelas ocasionais (das quais o golpe de 1964 foi, de longe, a mais séria) a Família Saudita sempre conseguiu, no fim, permanecer unida.

Os movimentos do príncipe coroado Muhammad bin Salman estão ameaçando essa unidade e, mais importante, num momento em que o reino enfrenta severa crise fiscal – que os planos do príncipe coroado que incluem gastos desatinados só agravarão –, quando está combatendo e sendo derrotado no Iêmen e enfrenta múltiplas ameaças externas, as quais, todas, o próprio reino atraiu sobre si.

Resta saber até que ponto o príncipe coroado Muhammad bin Salman terá sucesso na consolidação do próprio poder, depois do expurgo. Em todos os casos, o grande risco a que ele se expõe é que, ainda que obtenha algum sucesso de curto prazo, terá sido obtido ao preço de abrir a trilha para terrível revide que pode estar a caminho.

Nesse caso, o príncipe coroado Muhammad bin Salman pode não ser o único a ser varrido. Na atual muito volátil situação no Oriente Médio, é fácil ver como os movimentos em curso podem acabar por varrer também toda a monarquia saudita.

Share Button

Deixar um comentário Cancelar comentário

  

  

  

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

« Derrotado por todos os lados, o tirano saudita declara guerra ao Líbano
Análise: Golpe Palaciano em Riad »
  • Contato
  • Sobre Nós

Mais lidos do mês

  • ONG britânica por trás da "reformulação" do líder da Al-Qaeda que se tornou presidente da Síria
  • Seguindo os Estados Unidos, as potências ocidentais levantam a voz perante o massacre da população de Gaza.
  • Enviado dos EUA se encontra com presidente sírio em Damasco e promove "diálogo" com Israel
  • UE impõe sanções a brigadas do exército sírio por "tortura e assassinatos arbitrários"

Posts recentes

  • Seguindo os Estados Unidos, as potências ocidentais levantam a voz perante o massacre da população de Gaza.
  • ONG britânica por trás da “reformulação” do líder da Al-Qaeda que se tornou presidente da Síria
  • UE impõe sanções a brigadas do exército sírio por “tortura e assassinatos arbitrários”
  • Enviado dos EUA se encontra com presidente sírio em Damasco e promove “diálogo” com Israel
  • Cegueira Seletiva de Salem Nasser: Uma Menina veio ao Mundo…

Colunas

  • "Mudança de Regime"
  • "Primavera Americana"
  • "Rebeldes"
  • "vontade política"
  • 11 de Setembro
  • 5G
  • Acordo do Século
  • Acordo Nuclear
  • Afeganistão
  • Agências de Inteligência;
  • Agências de notícia
  • Ajuda humanitária a Síria
  • Aliança Militar Islâmica
  • América Latina
  • Antun Saade
  • Armas Nucleares
  • Armas químicas do Pentágono
  • Artigos
    • Babel Hajjar
    • Imprensa Brasileira
    • Imprensa Internacional
    • Imprensa Latina
    • Nota Oficial
  • Ataque Químico Allepo
  • Bancos
  • Bases militares americanas
  • Biblioteca
    • Al-Nakba Palestina
    • Cultura
    • Discursos
    • Entrevista
    • Imigração Árabe
    • Irmandade Muçulmana
    • Mapas
    • Movimentos Salafistas
    • Mulheres Árabes
    • Religiões
    • Resenhas
  • Bielorrússia;
  • Bilderberg;
  • Brasil
  • BRICS
  • Campanha militar antiterrorista na Síria
  • Campanhas
  • Capacetes Brancos
  • Cazaquistão
  • China;
  • Choque de civilizações
  • Clube Valdai
  • Colômbia
  • Conferência de Segurança de Munique
  • Conselho de Cooperação do Golfo
  • Coronavírus
  • Crise Iraniana
  • Curdos;
  • Davos
  • Debates
  • Denuncia
  • Diálogo civilizacional
  • Direito Internacional
  • Editoriais
    • Grupo de Trabalho Árabe
  • Eleições
  • Eleições americanas
  • EUA;
  • Eurásia
  • Êxodo de Cristãos
  • Explosão em Beirute
  • Falsa bandeira;
  • Fearab América
  • Financiamento da Jihad Islâmica
  • Força militar;
  • Fort Detrick
  • Forum Social Mundial
  • França
  • G7
  • Geisel
  • Geoestratégia
  • Geopolítica
    • Armênia
    • Ásia Extrema
    • Curdistão
    • Egito
    • Estado de Israel
    • Europa
    • Golfo e Irã
    • Iraque
    • Jordânia
    • Líbano
    • Mediterrâneo
    • Norte da África
    • Palestina
    • Península Arábica
    • Síria
    • Turquia
  • Globalização
  • Governo americano
  • Grã Bretanha
  • Guerra
  • Hegemonia;
  • Hezbollah;
  • História da Civilização
  • Historia Oficial
  • Iêmen;
  • IMEC
  • Irã;
  • Iraque;
  • Israel
  • Itália;
  • Jamal Khashoggi;
  • Líbia
  • Livro
  • Liwaa Iskanderoun
  • Meio ambiente;
  • Mídia
  • Missões
  • moeda de integração sul-americana
  • Mudança de regime na Turquia
  • Mulheres na politica
  • Mundo Multipolar;
  • Narcotráfico
  • Negociações da paz
  • neoliberalismo
  • Nova Ordem Mundial
  • Novamoeda
  • Ocidente
  • OCX
  • Olimpíada de Matemática
  • ONU
  • Oriente Médio
  • Oriente Médio Alargado
  • Os Árabes
  • OTAN
  • Palestras & Cursos
  • Paquistão
  • Petrobrás
  • Petróleo e Gás
  • Plano Yinon
  • Provocaçoes de Israel;
  • Qassem Suleimani
  • Qatar
  • Queda avião russo Il-20.
  • Reconciliação na Síria
  • Reconstrução
  • Refugiados
  • Relações Internacionais
  • Renascimento Árabe
  • Repúdio
  • Resistência
  • Reuniões
  • Reuniões secretas;
  • ROUBO DO PETRÓLEO SÍRIO
  • Rússia
  • Rússia;
  • Sanções;
  • Secularismo
  • Segunda Guerra Mundial
  • Sem categoria
  • Separatismo
  • Sionismo
  • Síria;
  • Sul Global
  • tecnofeudalismo
  • Terceira Guerra Mundial;
  • Terremoto Turquia e Síria
  • Terrorismo Internacional
  • The Great Resert;
  • Transcaucásia
  • Tribunal Penal Internacional;
  • Trump
  • UCRÂNIA
  • União Européia;
  • Voto Popular;

Comentários

  • Sérgio de Carvalho Oliveira em Seguindo os Estados Unidos, as potências ocidentais levantam a voz perante o massacre da população de Gaza.
  • Maria Antônia Ferreira Monteiro em ONG britânica por trás da “reformulação” do líder da Al-Qaeda que se tornou presidente da Síria
  • Sérgio de Carvalho Oliveira em Catadupa de petições de militares e altos funcionários israelenses contra a guerra em Gaza
  • Sérgio de Carvalho Oliveira em Os Emirados Árabes Unidos estão pressionando o governo Trump a rejeitar o plano egípcio para Gaza.
  • Sérgio de Carvalho Oliveira em O funeral de Nasrallah: Um milhão de vozes pela Resistência.

Arquivos

  • junho 2025
  • maio 2025
  • abril 2025
  • março 2025
  • fevereiro 2025
  • janeiro 2025
  • dezembro 2024
  • novembro 2024
  • outubro 2024
  • agosto 2024
  • julho 2024
  • junho 2024
  • maio 2024
  • abril 2024
  • março 2024
  • fevereiro 2024
  • janeiro 2024
  • dezembro 2023
  • novembro 2023
  • outubro 2023
  • setembro 2023
  • agosto 2023
  • julho 2023
  • junho 2023
  • maio 2023
  • abril 2023
  • março 2023
  • fevereiro 2023
  • janeiro 2023
  • dezembro 2022
  • novembro 2022
  • outubro 2022
  • setembro 2022
  • agosto 2022
  • julho 2022
  • junho 2022
  • maio 2022
  • abril 2022
  • março 2022
  • fevereiro 2022
  • janeiro 2022
  • dezembro 2021
  • outubro 2021
  • setembro 2021
  • agosto 2021
  • julho 2021
  • junho 2021
  • maio 2021
  • abril 2021
  • março 2021
  • fevereiro 2021
  • janeiro 2021
  • dezembro 2020
  • novembro 2020
  • outubro 2020
  • setembro 2020
  • agosto 2020
  • julho 2020
  • junho 2020
  • maio 2020
  • abril 2020
  • março 2020
  • fevereiro 2020
  • janeiro 2020
  • dezembro 2019
  • novembro 2019
  • outubro 2019
  • setembro 2019
  • agosto 2019
  • julho 2019
  • junho 2019
  • maio 2019
  • abril 2019
  • março 2019
  • fevereiro 2019
  • janeiro 2019
  • dezembro 2018
  • novembro 2018
  • outubro 2018
  • setembro 2018
  • agosto 2018
  • julho 2018
  • junho 2018
  • maio 2018
  • abril 2018
  • março 2018
  • fevereiro 2018
  • janeiro 2018
  • dezembro 2017
  • novembro 2017
  • outubro 2017
  • setembro 2017
  • agosto 2017
  • julho 2017
  • junho 2017
  • maio 2017
  • abril 2017
  • março 2017
  • fevereiro 2017
  • janeiro 2017
  • dezembro 2016
  • novembro 2016
  • outubro 2016
  • setembro 2016
  • agosto 2016
  • julho 2016
  • junho 2016
  • maio 2016
  • abril 2016
  • março 2016
  • fevereiro 2016
  • janeiro 2016
  • dezembro 2015
  • novembro 2015
  • outubro 2015
  • setembro 2015
  • agosto 2015
  • julho 2015
  • junho 2015
  • maio 2015
  • abril 2015
  • março 2015
  • fevereiro 2015
  • janeiro 2015
  • dezembro 2014
  • novembro 2014
  • outubro 2014
  • setembro 2014
  • agosto 2014
  • julho 2014
  • junho 2014
  • maio 2014
  • abril 2014
  • março 2014
  • fevereiro 2014
  • janeiro 2014
  • dezembro 2013
  • novembro 2013
  • outubro 2013
  • setembro 2013
  • agosto 2013
  • julho 2013
  • junho 2013
  • maio 2013
  • abril 2013
  • março 2013
  • fevereiro 2013
  • janeiro 2013
  • dezembro 2012
  • novembro 2012
  • outubro 2012
  • setembro 2012
  • agosto 2012
  • maio 2012
  • novembro 2009

Tags

Al-qaeda Alemanha Allepo; Arabia Saudita Biden; Brasil BRICS China CIA COVID-19; Curdos Daesh; eleições Estado Islâmico EUA Europa França Gaza Genocídio Guerra Hamas Hezbollah Iraque Irã ISIS Israel Líbano Líbia Obama ONU Otan Palestina Pentágono Petróleo Putin Reino Unido; Rússia Sanções Siria Terrorismo Terrorismo internacional; Trump; Turquia; Ucrânia União Européia

© 2025 ORIENTE mídia — Todos os direitos reservados.