Palestina: O horror com sinal de wi-fi

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12/09/2025

Por: Dana Badra

Falamos do extermínio dos povos originários como uma brutalidade que marca, tristemente, a história do nosso continente. A escravização dos povos africanos é tema-tabu: carregamos a vergonha, tentando, desesperadamente, a redenção do impossível. Séculos depois, ou apenas décadas, considerando que a Lei Áurea é do final do século 19, o extermínio vira burocracia industrial: o nazismo leva à morte de até 70 milhões, entre eles, seis milhões de europeus de fé religiosa ou cultura judaica, em poucos anos.

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Esse passado é contado como uma barbárie inconsciente, fruto de um mundo menos evoluído que o de hoje — de um mundo que não sabia, de soldados que foram pegos desprevenidos e de uma população civil que não tinha conhecimento do que se passava. Se soubessem, o passado teria sido diferente — esse é o discurso.

Para a pretendida nova era de paz e respeito do pós-guerra, a ONU aprovou, em dezembro de 1948, a Convenção do Genocídio, definindo como crime internacional contra toda a humanidade a tentativa deliberada de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Seu texto final é aprovado em Paris, em 11 de dezembro, coincidindo com a aprovação, pela ONU, da Resolução 194, que admitiu ter havido limpeza étnica na Palestina, promovida pelos sionistas que se autoproclamaram Estado em terras historicamente palestinas e se autodenominaram Israel, determinando o retorno de todos os palestinos expulsos e feitos refugiados – eles e seus descendentes já são 6,5 milhões e até hoje aguardam o cumprimento desta resolução.

Estávamos a salvo. Agora a tipificação do Genocídio, juntamente com a elevação da consciência global, nos resguardaria de mais um horror. O problema é que o horror não respeita convenções.

E então vem Gaza, como expressão máxima da desumanidade, em um novo nível de exposição e desfaçatez.

Desde outubro de 2023, a escalada bélica com devastação civil em massa, fome induzida e destruição da infraestrutura — e, mais recentemente, a expulsão de um milhão de civis — é transmitida em tempo real em bilhões de telas ao redor do planeta. Um mapa de ruínas ao vivo, para quem quiser ver. As declarações claras, sem nenhum constrangimento, do colonialismo de povoamento como política de Estado israelense, são acompanhadas com a mesma frequência com que se acompanha o calendário de vacinação.

Eis a prova viva de que aquela crença da evolução era, pelo menos, questionável. O que mudou foi a tecnologia do testemunho, que, longe de impedir a barbárie, apenas expôs a passividade que acreditamos não sermos mais capazes de manifestar. O arrependimento é confortável porque é estéril.

A promessa do Nunca Mais falhou. Agora é De novo, Ao Vivo, em um mundo que ainda tem muito a aprender com o próprio passado.

Dana Badra advogada, especialista em língua inglesa (PUC-RS), tradutora (diplomada pela Universidade de Westminster – Londres), estudante de jornalismo (URCAMP) e colunista cultural do jornal O Sul

 

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