Por Claude Fahd Hajjar
Em 7 de outubro de 2023 transbordou a paciência estratégica da população em Gaza e o braço armado do Hamas e outros grupos palestinos se juntaram e desencadearam o “Dilúvio Al Aqsa”.
O ano de 2023 houve uma grande escalada e uma pressão crescente do ocupante sionista que vinha com ameaças, provocações e inclusive com invasões praticados por grupos de colonos na Mesquita Al Aqsa em Jerusalém.
Além disso aumentaram as pressões e tensões sobre a anexação de novos assentamentos no bairro de Sheik Jarrah também dentro de Jerusalém oriental e inclusive dentro da Cisjordãnia.
Ficou insustentável para os palestinos, quando Netanyahu vai para a ONU em 22 de setembro de 2023 e lança o seu plano do IMEC de projetos econômicos com países como Jordânia, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Egito, Índia, este corredor econômico com um mapa na mão onde não está presente a Palestina, seja Gaza ou Cisjordânia,.
A Palestina ressurge no cenário internacional e nas mesas de negociações, graças ao sangue derramado em Gaza a partir de 7 de outubro de 2023.
O Estado Palestino é possível e por que não foi criado ainda?
A causa de não se chegar a um acordo na região é evidente: os lideres sionistas, antes da criação do Estado de Israel na Palestina e ao longo dos anos que se seguiram até hoje, nunca consideraram de fato a criação de um Estado Palestino soberano e independente em qualquer área no território entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo, ou seja na Palestina Histórica.
Desde o Primeiro Congresso Sionista de 1897 até hoje, os sionistas de todas as tendências, concordam em 3 pontos básicos:
1-O Estado judeu deve incluir, pelo menos, toda a Palestina histórica.
2-Não deve reconhecer qualquer entidade nacional palestina.
3-Buscar uma aliança ou submissão dos líderes de uma grande potência externa para garantir o apoio militar, financeiro e político para o seu Estado.
Yosef Weitz, diretor do departamento de colonização da agência judaica, resumiu a política sionista em relação aos palestinos ainda nos anos 1940. Ele escreveu:
” Deve ficar claro que não há um lugar no país Palestina para ambos os povos. Se expulsarmos os árabes, o país será amplo e espaçoso para nós. A única solução é a transferência dos árabes daqui para os países vizinhos, transferi-los todos. Nenhuma única aldeia deve ser deixada e nenhuma única tribo deve permanecer na terra”.
Dividir a Palestina entre árabes e judeus não é uma idéia nova. Em 1937 o governo britânico, que ocupava a palestina, formou uma comissão para investigar as causas da revolta dos palestinos no ano anterior. Entre as recomendações da comissão presidida por Lord Peel se encontrava a divisão da Palestina entre Judeus e árabes. O Estado judeu pretendido será construído em 20% do território palestino.
Bem Gurion , então chefe da Agência Judaica e depois Primeiro Ministro de Israel, aceitou tacitamente a proposta britânica, mas deixou claro que toda a Palestina seria terra de Israel e qualquer Estado Judeu construído em uma parte da Palestina era considerado apenas um arranjo temporário ao rumo da plena realização do projeto sionista: toda a Palestina judaica, sem os árabes e sem outros goyns. Nesta data 1937 a população judaica na palestina era de 13%.
Foi durante e pós segunda guerra que o fluxo de imigrantes judeus chegavam à Palestina.
Em 1947 a ONU recomendou a partilha da Palestina entre árabes e judeus. Dessa vez o Estado judeu ficaria com 56%do território da Palestina para uma população judaica de 1/3 da população total da Palestina.
Bem Gurion aceitou a contra gosto, e começou a trabalhar para a expulsão, morte ou exílio da maioria árabe da Palestina.
Entre 1947 e 1948, a palestina assistiu a morte e deportação de suas populações, no processo chamado al Nakba, quando foram expulsos de suas terras mais de 750 mil palestinos, com a promessa de uma saída voluntária e que em breve retornariam. Ficaram para trás casas, plantações, histórias, lembranças, cheiros e saíram com a chave de casa pensando que retornariam. E até hoje espera-se que se cumpra a resolução 194 da ONU que fala do direito de retorno da população árabe para seus lares. Estes são os refugiados palestinos do Líbano, Síria, Jordânia, Egito e outros países árabes. Eles continuam, já na terceira ou quarta geração sem o direito a cidadania, passaporte, identidade: é responsável por eles a URNWA, a agencia da ONU para os refugiados palestinos.
Deir Yassin, o modelo, em 9 de abril de 1948, antes da declaração unilateral do Estado de Israel.
Um dos modelos usados pelos grupos sionistas foi o terrorismo praticado pelo Irgum e pelo Haganá: Entraram nas aldeias e começaram a queimar tudo desde roupas, utensílios, carroças, e mataram quem os enfrentou e depois de praticada a chacina, com megafones chamavam a população das demais aldeias para ver a chacina: ou vocês saem ou serão chacinados. Foi assim que foram expulsos os árabes de suas terras para que a “DEMOCRACIA” israelense pudesse se estabelecer.
Em 14/5/1948 data de criação ,unilateral ,do Estado de Israel tem lugar uma das maiores tragédias da modernidade a NAKBA pois era diante dos olhos da comunidade internacional e com o beneplácito da ONU responsável pela resolução 181, da partilha da Palestina. Até hoje não pode ser criado o Estado da Palestina, logo Israel é um estado fora da Lei internacional, pois não cumpriu nenhuma das resoluções da ONU.
Em 1967, Israel ocupou o que restava da Palestina: Cisjordânia e Gaza, o Golan Sírio e a Península do Sinaí egípcio.
Para os sionistas, esses territórios fazem parte de Israel, e não são territórios ocupados, mas parte da pátria a ser conquistada em exclusividade para os judeus.
Mas a ocupação destes novos territórios gerou um novo problema para o estado ocupante, o seu maior dilema: milhões de árabes que, cientes da sina dos refugiados de 1948, obstinadamente resistiram e estão resistindo ás novas ondas de limpeza étnica. Como lidar com estes palestinos, influencia o pensamento estratégico israelense até os dias de hoje. Livra-se dos árabes nos territórios palestinos ocupados e inclusive dos árabe israelenses nos territórios de 1948, cidadãos de Israel e manter o controle sobre a maior parte dos territórios palestinos, esta é a base de todos os planos de “paz” israelenses.
Pouco após a guerra de 1967 foi criado o plano ALLON de 4 pontos, para a solução do conflito
1-Israel manterá o controle sobre o Vale do Jordão e as áreas montanhosas da Cisjordânia, isto é toda a Cisjordânia e o Rio Jordão será a fronteira Oriental de Israel.
2- Israel deve anexar grandes áreas ao redor de Jerusalém.
3- Israel deve iniciar um processo maciço de colonização: construir bases militares e assentamentos para colonos judeus nos territórios ocupados.
4- Os palestinos terão controle apenas sobre 3 enclaves: um ao norte da Cisjordânia Nablus, Jenin e Tulkarem até Ramallah; o segundo no sul Hebron e Belém; e o terceiro enclave Jericó.
A política israelense em relação aos territórios e à população palestina segue fielmente os traçados do sinistro plano Allon : Mais terras para Israel e os palestinos confinados em guetos, rodeados por assentamentos judaicos, muros e bases militares.
O acordo de Oslo de 1993, são o Plano Allon colocados em Prática
Yitzhak Rabin, o primeiro ministro que assinou os Acordos de Oslo em 1993, deixou claro o significado do acordo para Israel. Em 1995 mesmo ano em que foi assassinado pelo colono judeu, ele assim declarou:
” Eu procuro a coexistência entre Israel, como Estado Judeu, não em toda terra de Israel, mas na maioria dessa terra, sua capital Jerusalém, una e indivisível e sua fronteira o rio Jordão, ao lado de uma entidade palestina, menos de um estado, que vai controlar a vida dos palestinos. Meu objetivo não é retornar as fronteiras de 1967, mas criar uma entidade palestina para separar Israel dos palestinos que moram na Cisjordânia e Gaza”. ( Essa declaração foi citada por Schlomo Bem Ami, em seu livro Scars of War {Cicatrizes da Guerra])
Um dos políticos que condenou a “moderação” de Rabin foi Benjamin Netanyahu que também tem o seu plano para lidar com os palestinos, publicado no seu livro Place Under Sun( Um lugar ao sol ), publicado em1996. Para ele um “Estado” palestino significa uma autonomia limitada. Ali ele diz:
”Para preservar os interesses de Israel, deve ficar bem claro que a autonomia da Cisjordania e de Gaza, significa apenas um controle limitado e não um novo Estado árabe na região. Israel é a única autoridade em questões de segurança, controle de fronteiras, política externa e todos os outros aspectos da soberania. As questões administrativas poderiam ser transferidas para a Autoridade Palestina, mantendo os árabes nos territórios ocupados, sob controle israelense.”
Para Netanyahu devem ser anexados a Israel mais da metade da Cisjordânia, e o que restar, devem se manter como pequenos enclaves palestinos cercados e murados e totalmente controlados por Israel.
Outros políticos Israelenses não diferem muito de Rabin e Netanyahu, Liberman sugeriu o seu próprio plano de “paz” publicado no jornal israelense Haaretz em 23 de janeiro de 2011. O Plano Liberman prevê que o mini estadinho palestino seria criado nas zonas A e B dos Acordos de Oslo e as zonas C, quase 50% da Cisjordânia, e os assentamentos judaicos deveriam ser anexados ao Estado Judeu.
Ariel Sharon, o carniceiro que invadiu o Líbano, responsável pelo massacre de Sabra e Chatila também sugeriu um estadinho palestino provisório na faixa de Gaza e em 40% da Cisjordânia, sem soberania, sem controle sobre o território, fronteiras e recursos naturais.
Os Militares israelenses também se pronunciaram sobre como entendem a relação deles e do estado com a presença palestina, em 2011 foram emitidas as resoluções resultantes de uma Conferência em Jerusalém sobre o tema; ‘ As necessidades críticas para a segurança e fronteiras defensáveis”-
“As fundações de uma paz viável”(2011)
1-Os palestinos, em particular, e os árabes, em geral, são os inimigos permanentes do Estado judeu. Eles não aceitarão a presença de judeus no Oriente Médio.
2-A segurança é a única garantia de paz para Israel. Apenas um estado judeu militarmente superior a todos os países árabes unidos é capaz de permanecer na região.
3-Israel deve manter a presença militar ativa e permanente nos territórios ocupados.
4-Não há possibilidade de retorno ás fronteiras de 1967.
5-Manter controle sobre áreas estratégicas na Cisjordânia e grande Israel.
6- O “Estado” Palestino se criado ,não poderá ter continuidade territorial, o que significa isolar a Cisjordânia de Gaza e isolar os guetos palestinos na Cisjordânia e manter o controle israelense nesses territórios.
7- Israel deve manter os assentamentos sob controle permanente.
8-Israel deve manter o controle sobre as montanhas que cortam a Cisjordânia e o Rio Jordão.
9- Israel deve controlar todas as fronteiras e criar um verdadeiro envelope e lacre externos ao redor de qualquer entidade palestina.
10-Israel deve controlar o espeço aéreo palestino e o campo eletromagnético da região.
11-Jerusalem deve ser mantida como Capital exclusiva de Israel.
12- Em resumo , segundo os estrategistas israelenses, descarta-se a criação do Estado Palestino e muito menos. Não haverá autonomia e zero soberania.
Estes 12 pontos são a posição oficial do estado israelense. Nada do que os políticos israelenses tenham dito ou feito, inclusive Menahin Begin , em Camp David em 1978 ou Ythzak Rabin em Oslo em 1993, sugeria de fato a criação de um Estado palestino.
A posição dos políticos israelenses é muito clara e vai contra a solução de dois estados, sugerida pela comunidade internacional.
Israel está aperfeiçoando o regine de apartheid nos territórios palestinos ocupados e dentro do próprio Israel, discriminando contra os cidadãos palestinos daquele país.
Fonte: Justiça paz e liberdade para o povo Palestino- Abdel latif e outros