Atentados terroristas deixaram mais de 3,6 mil mortos e feridos, incluindo crianças e mulheres

Ali Abbas, 12 anos, foi uma das crianças vítimas dos ataques terroristas de Israel com pagers (Foto: Divulgação)
Os libaneses relembram, nesta semana, o primeiro ano dos ataques terroristas cometidos pelo regime sionista de Israel por meio de explosões de pagers e walkie-talkies, que mataram e feriram, em apenas dois dias, mais de 3,6 mil pessoas no Líbano, incluindo mulheres e crianças. O uso de aparelhos eletrônicos para causar mortes em massa de civis viola o direito internacional humanitário, segundo um relatório da Anistia Internacional.
Conforme lembrou a entidade, as leis internacionais humanitárias também proíbem o uso de armadilhas ou outros dispositivos que empreguem um dispositivo “na forma de objetos portáteis aparentemente inofensivos, especificamente projetados e construídos para conter material explosivo”, de acordo com o Protocolo II Emendado à Convenção das Nações Unidas sobre Certas Armas Convencionais.
O primeiro atentado ocorreu no dia 17 de setembro de 2024, quando os terroristas israelenses detonaram mais de 3 mil pagers – aparelhos portáteis de recepção de mensagem sem fios conhecidos por bipes -, de forma simultânea. De acordo com autoridades libanesas, 12 pessoas – incluindo duas crianças -, morreram neste ataque e mais de 3 mil pessoas ficaram feridas.
Embora considerados antigos, os pagers ainda eram bastante usados por vários setores da sociedade civil libaneses, como médicos, engenheiros, forças de segurança e até diplomatas. Um deles, o embaixador do Irã no Líbano, Mojtaba Amani, ficou ferido no ataque e foi levado ao seu país para receber tratamento. Após se tratar, ele retornou ao Líbano, onde atualmente exercer suas funções diplomáticas normalmente.
Em um discurso televisionado, nesta quarta-feira (17/09), o atual secretário-geral do Hezbollah, Sheikh Naim Qassem, afirmou que os feridos pelos pagers “estão se curando de suas feridas e superando-as”. “Vocês passaram no teste e estão em estado de recuperação, com a estrada segura”, disse.
Naim Qassem também encorajou os feridos pelos pagers “a continuarem seu caminho, explicando que o valor do que estão fazendo, apesar dos ferimentos, é imenso”. “Vocês são a maior resistência”. O líder do Hezbollah concluiu afirmando que “Israel” cairá porque é um ato de agressão, crime e ocupação”, e que “a vitória é de vocês”.
Vítimas tentam retomar vida normal
Um ano após os ataques terroristas de Israel, várias vítimas das explosões dos pagers tentam se recuperar e retomar a vida normal.
Uma delas é o menino Hussein Dheini, de 12 anos, que perdeu o olho direito e teve a visão esquerda afetada nos atentados cometidos pelos israelenses. Além dos olhos, ele também perdeu dedos em ambas as mãos. Seus dentes foram arrancados na explosão do pager que pertencia ao seu pai.
Segundo relato da mãe dele, Faten Haidar, à agência de notícia The Associated Press (AP), a família tem passado por um “pesadelo” desde a explosão dos pagers. “Agora, ele (Hussein) luta para controlar a respiração. Ele consegue ler com um olho, mas se esgota rapidamente”, diz Faten.
Hussein Dheini agora usa óculos e cicatrizes rosadas cruzam seu rosto e seu nariz reconstruído. “Ele passa mais tempo com outras crianças feridas como ele e só vai à escola para as provas. Dheini não pode nadar com o pai, pois a água do mar ou do rio pode danificar seus ferimentos”, conta a mãe dele. “Antes, eu passava muito tempo no celular. Eu costumava correr e ir para a escola”, disse o menino à AP.

Criança Hussein Dheini teve o rosto desfigurado pela explosão de pager detonado por Israel (Foto: Divulgação)
Ela aguarda também uma prótese no olho direito. Outras cirurgias no olho esquerdo foram adiadas. Ela consegue reconhecer pessoas e lugares que conhece, embora dependa mais da memória do que da visão.
Apesar dos ferimentos físicos e a dor na alma, Sarah Jaffal mantém sua fé em Deus para buscar força. “Deus só nos sobrecarrega com o que podemos suportar”, diz ela ao dar lição de resiliência.
Hezbollah
Os pagers também eram usados por membros do Hezbollah, o partido libanês que tem um braço armado que luta contra a ocupação israelense no Líbano. As explosões resultaram na morte de vários militantes do grupo, além de deixar dezenas de feridos. Até o hoje não se sabe o número exato de baixas do Hezbollah nos ataques com pagers.
Na época, o Hezbollah divulgou um comunicado afirmando que “vários dispositivos de recepção de mensagens conhecidos como ‘pagers’ que estavam com trabalhadores em várias unidades e instituições” do partido, explodiram e causaram ferimentos em diversas pessoas. A nota informou ainda que “as agências competentes do Hezbollah” já haviam iniciado “uma ampla investigação científica e de segurança” para descobrir as razões que levaram a estas explosões simultâneas.
Relembre o caso

Fatima Jaafar Abdallah, 10 anos, foi morta pelos terroristas israelenses no ataque dos pagers (Foto: Divulgação)
Os pagers explodiram por volta das 15h30 do horário local (9h30, hora de Brasília), de forma simultânea, em várias partes do território libanês, incluindo a capital Beirute, além das regiões sul e leste do país, que testemunhavam confrontos diários com as tropas da ocupação israelense.
As forças de segurança libanesas confirmaram que tipos específicos de dispositivos pagers sem fio foram alvos, com várias fontes alegando que uma violação israelense fez com que os dispositivos disparassem e posteriormente explodissem. Segundo fontes médicas libanesas, a maioria dos ferimentos ocorreu na barriga, na mão e no rosto das pessoas.
Ambulâncias foram acionadas em todo o Líbano para auxiliar os feridos. De acordo com a Cruz Vermelha Libanesa, no primeiro momento, mais de 30 ambulâncias foram despachadas para responder aos ataques, e outras 50 ambulâncias adicionais foram colocadas em alerta máximo no Monte Líbano e em Beirute para apoiar as operações de resgate.
“Pedimos misericórdia a Deus Todo-Poderoso para nossos justos mártires no caminho para Jerusalém, e oramos por uma rápida recuperação para os feridos, e apelamos ao nosso querido povo para que tenha cuidado com os rumores e informações falsas e enganosas espalhadas por algumas partes de uma forma que serve a guerra psicológica no interesse do inimigo sionista (Israel), especialmente porque esta é acompanhada pelos discursos intimidadores e ameaçadores do inimigo sionista e pelo que ele chama de mudança da situação no norte (da Palestina Ocupada)”, disse, na época, o Hezbollah em nota.
Pagers

Pagers ainda são bastantes usados no Líbano (Foto: Divulgação)
O pager é um pequeno dispositivo de telecomunicações, que recebe (e pode até transmitir, em alguns casos), sinais de alerta ou mensagens curtas. É conhecido como bipe ou radiomensagem.
Esses dispositivos são usados para contactar pessoas por meio de uma rede de telecomunicações, sendo bastante populares durante os anos 1980 e 1990. No Líbano, esses aparelhos são ainda utilizados por médicos, forças de segurança e militares.
Walkie-talkies
Um dia depois das explosões com pagers, ou seja, em 18 de setembro de 2024, os terroristas israelenses explodiram a distância centenas de walkie-talkies, deixando ao menos 25 mortos e 600 feridos.
Em uma das explosões captadas pela AFPTV, as imagens mostraram pessoas correndo em busca de segurança após uma explosão durante o funeral de quatro membros do Hezbollah mortos um dia antes nas explosões dos pagers em um bairro do subúrbio de Beirute.
Na época, o então ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, disse à Al Jazeera que a segunda onda de explosões foi mais letal porque os walkie-talkies são dispositivos mais volumosos.
A exemplo dos pagers, walkie-talkies também são usados por muitos civis no Líbano. A organizadora de eventos Maria Boustany, na época das explosões, pediu para sua equipe abandonar os walkie-talkies que usam para se comunicar em casamentos e eventos devido a dúvidas sobre sua segurança.“Pode não ser da mesma marca, mas realmente não sabemos o que está acontecendo”, declarou, na época, à rede Al Jazeera. “É melhor estarmos seguros”, disse ela.
Israel usou eletrônicos para cometer assassinatos em massa
Uma razão para a letalidade do ataque é que é incomum que dispositivos de comunicação sejam usados como armas. Especialistas consideram provável que os explosivos tenham sido colocados dentro dos dispositivos antes da entrega dos aparelhos ao Hezbollah.
Uma investigação preliminar mostrou que os pagers “foram pré-programados para explodir e continham materiais explosivos colocados junto à bateria”, disse uma fonte dos serviços de segurança libaneses, que falou sob condição de anonimato.
Uma fonte próxima do Hezbollah disse à AFP que “os pagers que explodiram fazem parte de um carregamento importado” pelo movimento. Segundo um funcionário do Hezbollah, o grupo havia encomendado 15 mil pagers, porém, apenas 8 mil chegaram, e quase metade foi distribuída aos membros. Outros, destinados ao Líbano, foram interceptados na Turquia dias após o ataque, quando o Hezbollah avisou autoridades locais.

Por sua vez, o jornal americano The New York Times informou que os aparelhos foram encomendados à empresa taiwanesa Gold Apollo. A empresa, por sua vez, informou que foram fabricados pela empresa associada BAC Consulting KFT, na Hungria.
Um porta-voz do governo húngaro afirmou que a empresa era “um intermediário comercial, sem fábricas” no país. A empresa japonesa Icom afirmou que parou de produzir há 10 anos o modelo de walkie-talkies que supostamente explodiu simultaneamente no Líbano na quarta-feira.
O gerente geral da divisão de segurança e comércio da Icom, Yoshiki Enomoto, disse à agência de notícias japonesa Kyodo que o dispositivo poderia ser seu modelo IC-V82, embora a empresa ainda não pudesse descartar “a possibilidade de uma falsificação”. “A bateria pode ter sido substituída por uma bateria que foi modificada para explodir depois que o produto foi adquirido”, disse Enomoto, segundo a agência.
Envolvimento de Israel
Alguns veículos de comunicação e especialistas israelenses afirmam que a explosão dos pagers dá sinais de ser obra do Mossad, o serviço de inteligência israelense, famoso por operações que tiram proveito das vulnerabilidades de seus alvos.
John Hannah, do Instituto Judaico de Assuntos de Segurança Nacional dos Estados Unidos, classificou o ataque usando os pagers como uma “demonstração surpreendente da habilidade da inteligência israelense”. Hannah disse que o Mossad demonstrou repetidamente “a capacidade de penetrar profundamente nas redes mais sensíveis dos seus piores inimigos”.
Os ataques ocorreram quase um ano depois do ataque do Hamas em 7 de outubro, que foi um duro golpe para os serviços de inteligência de Israel.
Com informações das agências internacionais de notícias
Fonte: Panorama real