
Soldados americanos no Iraque
17/8/2020, South Front in The Vineyard of the Saker
Como se esperava, o ‘histórico’ acordo de paz entre EUA e Emirados Árabes Unidos (EAU) em nada contribuiu para a estabilidade no Oriente Médio. Na verdade, a situação evolui, lenta mas ininterruptamente, na direção de confronto ainda maior na região.
Imediatamente depois de os EUA terem anunciado o acordo ‘de paz’ patrocinado por eles, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu declarou que seu país não cumpriria uma das determinações chaves do acordo – suspender a anexação de território da Cisjordânia. O primeiro-ministro enfatizou que o plano de anexação estava apenas suspenso, não cancelado.
“Não há qualquer mudança em meu plano para estender a soberania, nossa soberania, na Judeia e Samaria, em perfeita coordenação com os EUA” – disse Netanyahu, que acrescentou que “Israel firmará outros acordos amplos de paz com outros países árabes, sem voltar às fronteiras de 1967.”
Essa declaração estranha, mas esperada, encaixa-se perfeitamente no quadro da política israelense para a região e contradiz as determinações do acordo patrocinado pelos EUA com os EAU. De modo especial, o príncipe coroado Abu Dhabi Mohammed bin Zayed enfatizou que “ficou acertado o fim da anexação de terras palestinas por Israel.”
As ações de Israel reforçaram a controvérsia já existente quanto ao acordo e, nos dias 15-16 de agosto, a situação escalou na Faixa de Gaza.
Segundo o Exército de Israel, manifestantes palestinos com explosivos tentaram aproximar-se do muro de segurança, e forças palestinas lançaram pelo menos dois foguetes contra o sul de Israel. Por sua vez, aviões israelenses realizaram vários ataques a pontos definidos por Telavive como instalações do Hamás.
Se a liderança israelense mantiver o ritmo da anexação de territórios na Cisjordânia, o conflito Palestina-Israel deve escalar. Por exemplo, nesse cenário deve-se esperar escalada no conflito na área das colinas do Golan sírio ocupadas por Israel; e na linha de contato entre forças libanesas e israelenses.
Em discurso dia 14 de agosto, o líder do Hezbollah, Said Hassan Nasrallah já havia dito que o movimento “não silenciará contra o crime do bombardeio contra o Porto de Beirute, se ficar provada a participação de Israel”. Segundo Nasrallah, a Resistência deve esperar pelos resultados de investigação sobre a explosão no porto de Beirute; e se se comprovar que foi ato de sabotagem, com participação de Israel, “nossa resposta será equivalente ao crime”.
A explosão do dia 4 de agosto no porto de Beirute permanece cercada de mistério e incertezas, e muitas fontes, inclusive altas autoridades nos EUA, ainda consideram a possibilidade de que a tragédia tenha sido causada por algum tipo de ‘ataque’. Nesse caso, o principal suspeito é Israel, que sempre se interessou por desestabilizar os estados árabes vizinhos, visando a garantir algum controle pelos sionistas sobre estados árabes.
Também crescem as tensões entre EUA e Irã. Dia 14 de agosto, o Departamento de Justiça anunciou que forças dos EUA teriam confiscado 1,116 milhão de barris de petróleo iraniano de quatro navios que viajavam para a Venezuela. O confisco surgiu no processo de crescentes ataques contra forças e prédios dos EUA, por forças pró-Irã e grupos armados anti-EUA, no Iraque.
Na noite de 16 de agosto, um foguete atingiu a Zona Verde de Bagdá, onde se localizam prédios governamentais e várias representações diplomáticas. O ataque não fez vítimas. Poucas horas antes, o grupo armado Ashab al-Kahf pró Irã distribuiu vídeo em que se via ataque por Dispositivo Explosivo Improvisado a comboio que transportava equipamento dos EUA, na área de Anbar. O grupo noticiou que o comboio foi completamente destruído.
Dia 15 de agosto, dois foguetes atingiram a maior base militar dos EUA no Iraque – Camp Taji, ao norte de Bagdá.
No mesmo dia, comboio que transportava suprimento logístico para a coalisão liderada pelos EUA foi atacado na estrada entre Dhi Qar e Basrah no sul do Iraque. O ataque foi conduzido por outro grupo pró-Irã, Usbat al-Tha’ireen. Fontes pró-EUA negaram que esses ataques tivessem feito vítimas.
Esses são apenas os casos mais recentes, em poucas semanas, de cerca de mais de duas dúzias de ataques a alvos e a interesses norte-americanos no Iraque.
Se EUA e Irã mantiverem o curso atual das ações, deve-se esperar que aumentem o número e a intensidade dos ataques aos EUA no Iraque, aumentando a probabilidade de contato direto entre forças comandadas por EUA e forças comandadas pelo Irã.
Traduzido por Vila Mandinga