
Por Safia Saadeh
Saadeh descobriu que o povo “Suraqiano” constitui um povo árabe distinto dos demais devido ao seu ambiente e à interação entre a região do Crescente Fértil e a população que a habitava.
Historicamente, está bem estabelecido que os povos do Crescente Fértil compartilhavam a mesma civilização, particularmente uma construída sobre a agricultura e o desenvolvimento urbano.
A herança cultural pagã de “Suraqia” reflete a centralidade da produção agrícola nessa civilização, evidente nos rituais religiosos dedicados aos deuses da chuva, do trovão e da fertilidade.
Demonstra também a trajetória civilizatória moldada pelas condições geográficas da região e pelos povos que ali viviam — muito diferente da civilização de um povo que cresceu em um ambiente desértico árido e singular, onde não havia base natural para o surgimento de cidades, produção sustentável, prosperidade ou estabilidade.
Por exemplo, o sol era percebido como uma calamidade no deserto devido ao seu calor mortal, razão pela qual foi feminizado em árabe. Em contraste, a civilização do Crescente Fértil via o sol como masculino, “Shamash”.
O ambiente do Crescente Fértil produziu notáveis desenvolvimentos culturais e científicos na antiguidade: a construção de grandes palácios que refletem períodos de progresso e prosperidade; o progresso tecnológico e a invenção da roda, que revolucionou a produtividade agrícola e o transporte comercial; a formulação de processos matemáticos e geométricos complexos; a construção de canais de irrigação em áreas que agora são deserto; o estabelecimento de sistemas de valor para a troca de mercadorias (economia de escambo); a cunhagem de moeda; a invenção da escrita cuneiforme em tabuletas de argila seca, seguida pelo alfabeto; o estudo do movimento planetário e sua relação com a Terra e as quatro estações; e realizações artísticas em escultura, pintura, música, poesia e mitologia.
A região também deu ao mundo sistemas jurídicos fundamentais, como o Código de Hamurabi.
Saadeh considerava a “Suraqia” uma das nações do mundo árabe, com sua unidade social e econômica bem conhecida desde os tempos antigos (ver Charles Issawi, The Fertile Crescent, 1988).
Sua geografia permaneceu unificada ao longo dos séculos: os conflitos pelo califado dentro do estado “suraqiano” não eram lutas por território, mas por autoridade.
O domínio omíada a partir de sua capital em Damasco não anulou seu controle sobre a região como um todo, e o mesmo se aplicava aos abássidas, que construíram Bagdá e a tornaram sua capital.
Fonte: enviado por Safia Saadeh
