
Por Safia Saadeh
Saadeh construiu seu partido com base na unidade do Crescente Fértil, ou “Suraqia”. Palestinos, jordanianos, sírios e libaneses se uniram ao partido, representando todas as seitas, comunidades e grupos étnicos — curdos, armênios, circassianos, cristãos e muçulmanos — sem distinção.
Eles sentiam uma forte conexão por meio da crença compartilhada em uma única causa: a libertação da terra e o renascimento desta nação. Saadeh afirmava que possuía todos os componentes necessários para o desenvolvimento, mas precisava se tornar dona de suas próprias decisões e romper as correntes da servidão.
Ele desejava visitar o Iraque após 1947 e seu segundo retorno à região, mas seu tempo havia se esgotado. Aqueles que temiam sua ruína por causa de seu ambicioso projeto conspiraram contra ele, e ele foi assassinado em 8 de julho de 1949.
Quando Saadeh retornou ao Líbano vindo do Brasil em 1930, encontrou seu país fragmentado e ocupado pelos britânicos e franceses. Sua primeira missão foi a libertação, mas logo percebeu que era impossível libertar uma entidade da “Suraqia” sem libertar as outras. Assim, fundou seu Partido como uma organização unificadora para todos os estados artificiais fundados por Sykes e Picot, no final da Primeira Guerra Mundial, em 1918.
O partido tinha a tarefa de restaurar a coesão — o que significava que filiais precisavam ser estabelecidas em todos os lugares para realizar a missão de libertação.
A magnitude dessa empreitada não deteve Saadeh, nem ele deu ouvidos aos avisos que recebeu de certos intelectuais que insistiam ser impossível criar um partido que unisse todas as seitas e etnias do Crescente Fértil — especialmente porque ele próprio era cristão e pertencia à comunidade ortodoxa grega.
Ele aceitou o desafio e triunfou. Milhares de jovens entusiasmados, homens e mulheres, juntaram-se ao seu partido vindos de todos os cantos da “Suraqia”, sem distinção entre muçulmanos e cristãos, árabes ou curdos.
Pois esses jovens estavam convencidos da solidez de seu projeto nacional, que colocava todos em pé de igualdade — o fanatismo religioso se dissolvia, dando lugar à lealdade nacional e social.
Essa convicção permaneceu entre os nacionalistas, apesar das divisões internas ou das desistências do partido. Nenhum deles se desviou de sua crença na restauração da unidade da região do Crescente Fértil, nem colocou a lealdade sectária ou étnica acima de sua identidade nacional.
Este é um dos resultados do trabalho incansável de Saadeh, que viajou por toda a “Suraqia” para conversar, em particular, com os jovens, pois queria que eles formassem a espinha dorsal de seu movimento, já que precisava de sua força e determinação para as lutas que se avizinhavam.
Infelizmente, ele não recebeu nenhum apoio material para seus esforços.
O Partido foi fundado em segredo porque as autoridades francesas proibiam a liberdade de expressão e de reunião, e porque Saadeh tinha certeza de que ele e seu movimento seriam perseguidos assim que seu programa se tornasse conhecido. Apesar de todas as precauções, o Partido foi descoberto e as autoridades francesas iniciaram uma perseguição a Saadeh, que estava trabalhando para expulsá-los de sua terra natal.
Quando lhe ofereceram a oportunidade de lecionar alemão na Universidade Americana de Beirute, ele viu isso como uma chance de disseminar suas ideias entre os alunos.
A história do seu contrato com a AUB é interessante: o reitor da universidade na época, Bayard Dodge, conhecia seu pai, o Dr. Khalil Saadeh, que se formou em medicina naquela mesma instituição, originalmente chamada de Colégio Protestante Sírio, já que Beirute fazia parte da Síria na época.
Quando Saadeh terminou de escrever seus dois contos, “Um Caso de Amor Trágico” e “A Festa de Nossa Senhora de Saydnaya”, ele presenteou o reitor da AUB com cópias e o lembrou de seu pai.
Dodge ofereceu-lhe um cargo de professor, mas também estava determinado a ficar de olho no jovem professor — especialmente porque o Dr. Khalil Saadeh havia se juntado à revolta estudantil quando o fundador da universidade, o Reverendo Daniel Bliss, decidiu mudar o idioma de instrução do árabe para o inglês. Seu professor, Van Dyck, ficou do lado dos estudantes e continuou a ensiná-los em árabe enquanto pôde.
Saadeh começou a promover secretamente seu Partido entre os estudantes, discutindo e explicando seus princípios. Mas Dodge descobriu rapidamente a verdade e informou as autoridades francesas, que prenderam Saadeh sob a acusação de fundar uma organização secreta.
Saadeh não encontrou descanso entre sua chegada e sua partida forçada de na região em 1938 devido à perseguição francesa. Mal saía da prisão e já era reconduzido a ela. Sentindo que as autoridades francesas pretendiam se livrar dele e abolir o Partido, decidiu partir e concentrar-se nos sírios da Grande Síria na diáspora.
Fonte: Enviada por Safia Saadeh
