
Safia Antoun Saadeh
A Base para a Unificação da Síria Geográfica
Saadeh apresentou um projeto notavelmente moderno para sua época — um projeto que permanece contemporâneo ainda hoje, em uma era que testemunha o ressurgimento de movimentos racistas em nações ocidentais, como revelam claramente as recentes eleições nesses países.
Ele construiu seu conceito de Estado-nação sobre nossa própria herança civilizacional de integração e abertura. Para ele, todos que vivem na terra do Crescente Fértil são cidadãos — homens ou mulheres — iguais em direitos e deveres, independentemente de suas origens étnicas ou religiosas. O modelo idealizado por Saadeh se opunha completamente ao modelo sionista, que se fundamenta na exclusividade racista e religiosa, rejeita a coexistência com o outro sob quaisquer circunstâncias e mantém um estado perpétuo de guerra contra todos os que são diferentes.
A principal prioridade de Saadeh era restaurar Bilad al-Sham à sua condição natural antes da intervenção ocidental, que legitimou o assassinato e o deslocamento dos povos de “Suraqia”, e o assentamento de elementos estrangeiros que se apoderaram da terra sob o pretexto da “superioridade racial do homem branco”. Essa noção foi expressa explicitamente pelo primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, após a publicação do Relatório da Comissão Peel.
Saadeh criticou a fragmentação que prevalecia entre as entidades “suraquianas”, reconhecendo como ela prejudicava o curso da libertação nacional. Em 1948, ele conclamou a todos a unirem suas frentes, declarando:
“Apesar de todas as grandes calamidades, a Nação Síria permaneceu paralisada diante das forças e ambições estrangeiras invasoras, porque as facções que empreenderam ações políticas eram todas de natureza reacionária, feudal ou tribal. Todas elas operavam como empresas de capital limitado… Assim, foram determinadas as questões separadas da Mesopotâmia, Síria, Líbano, Palestina e Transjordânia. Nunca houve uma única questão que abrangesse todas as partes, reunisse todas as forças e fosse planejada sob um esforço unificado.”
(Antun Saadeh, “Sobre a Questão Palestina”, p. 140 e seguintes)
Um dos objetivos tácitos do Acordo Sykes-Picot de 1916 era pavimentar o caminho para a Declaração Balfour de 1917, que prometia estabelecer “um lar nacional para o povo judeu” na Palestina. Lord Sykes — um sionista convicto — trabalhou diligentemente para fragmentar a região de forma a permitir a criação do Estado de “Israel” em solo palestino.
O Acordo Sykes-Picot e a Declaração Balfour eram projetos inseparáveis — nenhum dos dois poderia ter sido implementado sem o outro. Essa dinâmica persiste até hoje. Os Estados Unidos, herdeiros do Império Britânico, não permitem qualquer reaproximação genuína entre os estados da Suraqia. Pelo contrário, trabalham incansavelmente para fomentar conflitos entre eles e reforçar as divisões. Chegaram mesmo a estabelecer bases militares americanas ao longo das fronteiras entre a Síria, o Iraque e a Jordânia, e estão a tentar fazer o mesmo entre a Síria e o Líbano.
Os Estados Unidos compreendem perfeitamente — tal como a Grã-Bretanha outrora compreendeu — que qualquer forma de unidade entre os estados do Crescente Fértil representa uma ameaça existencial para “Israel”.
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