No domingo, foram realizadas eleições parlamentares na Síria para preencher dois terços das 250 cadeiras da nova Assembleia Popular, enquanto o terço restante foi reservado para nomeação direta pelo presidente, marginalizando, na prática, a participação popular. O processo, rigidamente controlado e desprovido de inclusão nacional, revela uma tentativa deliberada de remodelar o cenário sírio pós-Assad sob estrito controle do executivo.
O processo de votação foi supervisionado pelo Comitê Eleitoral Superior, nomeado pelo presidente de fato Ahmad al-Sharaa, e limitado a 50 distritos dentro de áreas controladas pelo governo. O nordeste, administrado pelos curdos, e a província de Suwayda, de maioria drusa, foram excluídos, representando juntos quase um terço do território sírio. As autoridades contaram com um órgão eleitoral fechado, composto por cerca de 14.000 funcionários pré-selecionados, para conduzir a votação. Dos 1.578 candidatos que concorriam a 140 vagas, apenas 14% eram mulheres. Todo o processo foi concluído em poucas horas.
Durante uma visita simbólica a uma seção eleitoral em Damasco, al-Sharaa descreveu a votação como um “momento histórico” que marca a transição da Síria da guerra para a governança participativa. Em seu discurso, ele apresentou a eleição como um passo decisivo rumo à renovação legislativa e à estabilidade nacional. A mídia estatal celebrou o evento como a primeira eleição parlamentar desde a queda de Bashar al-Assad e saudou a candidatura de Henry Hamra, um judeu sírio-americano, como um gesto de pluralismo.
O nordeste administrado pelos curdos e a província de Suwayda, de maioria drusa, foram excluídos, formando juntos quase um terço do território sírio.
O Bloco Nacional Sírio, da oposição, rejeitou as eleições como ilegítimas e acusou as autoridades locais de orquestrar um processo desprovido de transparência, concorrência ou inclusão territorial. Em comunicado, o Bloco denunciou a votação como um mecanismo de exclusão política e consolidação do poder. Acusou o governo de al-Sharaa de minar a vontade nacional e reiterou seu apelo por um processo político facilitado pela ONU, nos termos da Resolução 2254 do Conselho de Segurança. O Bloco enfatizou a necessidade de uma transição credível e inclusiva que conduza a uma nova constituição e a eleições verdadeiramente livres dentro de 18 meses.
No mesmo dia, al-Sharaa emitiu um decreto reescrevendo o calendário nacional da Síria. Ele aboliu datas simbólicas como o Dia dos Mártires e o aniversário da Guerra de 1973, substituindo-as pelo “Dia da Revolução Síria”, em 18 de março, e pelo “Dia da Libertação”, em 8 de dezembro, data que marca a queda de al-Assad.
A mídia estatal celebrou o evento como a primeira eleição parlamentar desde a queda de Bashar al-Assad e saudou a candidatura de Henry Hamra, um judeu sírio-americano, como um gesto de pluralismo.
Entretanto, um relatório da organização Syrians for Truth and Justice detalhou mudanças drásticas no sistema judiciário. O governo de transição criou um novo cargo: o de “Chefe da Diretoria Judicial”, referido como “o Xeique”, dotado de autoridade irrestrita e sem qualquer fundamento legal. Segundo o relatório, as nomeações para esse cargo são baseadas na lealdade ao Hay’at Tahrir al-Sham, e não na experiência jurídica. O desmantelamento da Procuradoria-Geral da República apagou, na prática, a estrutura judicial formal da Síria.
Esta é uma tradução editada de um artigo originalmente publicado em árabe .
Fonte: Al Akhabar em Inglès

