Natan Sharansky

A propaganda israelense (הַסְבָּרָה – hasbara) raramente foi une função dos governos israelenses, mas antes uma operação de associações parcialmente financiada por eles. Estas associações, que têm as suas próprias ideologias, não prestam quaisquer contas dos seus atos perante o povo israelense, mas exclusivamente aos seus patrocinadores, entre os quais o governo de Telavive. A autoproclamada « maior democracia do Médio-Oriente» financia assim operações profundamente anti-democráticas à revelia dos seus cidadãos.

A instabilidade crónica de Israel desde a sua fundação, e o hábito de nomear diretores centrais dos ministérios segundo critérios políticos e não de competência enevoaram a mensagem de Israel. Várias poderes concorrentes transmitem mensagens diferentes [1]. Por fim, acabou criada uma autoridade para a «diplomacia pública» (a propaganda) que se tornou particularmente secreta.

Antes da fundação de Israel, o termo hasbara designava, para a diáspora, o ato de explicar uma posição. Mas, com o tempo, tornou-se sinónimo de “propaganda”.

Em 1974, no seguimento da Guerra do Yom Kippur, o Primeiro-Ministro Yitzhak Rabin criou um Ministério da Informação que confiou ao General Aharon Yariv [2]. Mas este demitiu-se sete meses mais tarde e consagrou-se à criação de um prestigioso “think-tank”, o Centro Jaffee para Estudos Estratégicos. Foi preciso esperar por 2006 para que fosse criado, de novo, um «ministério de Assuntos Estratégicos e de Hasbara» (hoje Ministério de Assuntos Estratégicos e da Diplomacia Pública ; um ministério que não tem um sítio Internet e não comunica, mas que se tornou célebre, em 2015, com a sua campanha contra «os fenómenos de deslegitimação e de boicotes contra Israel», quer dizer, o movimento de «Boicote, Desinvestimento e Sanções» (BDS). Este Ministério discreto criou a sua própria ארגון לא ממשלתי המאורגן על ידי הממשלה (organização não-governamental montada pelo governo) (sic), o Kela Shlomo (a Revolta de Salomão) — (tornada Concerto, depois Vozes de Israel) — dirigida pelo Coronel Yossi Kuperwasser, Embaixadores Dore Gold e Ron Prosor, e a brigadeiro Sima Vaknin Gill, antiga directora da censura militar. Várias empresas (Black Cube, Psy-Group e Cyber Shield [3]) espiaram os militantes do BDS por conta da Kela Shlomo [4].

Nos últimos anos, cerca de US$ 200 milhões de dólares anuais, ou seja quatro quintos do orçamento do Ministério de Assuntos Estratégicos e da Diplomacia Pública, foram dados ao Institute for the Study of Global Antisemitism and Policy (ISGAP). Ron Dermer, o actual Ministro desde 2022, foi conselheiro de Natan Sharansky e redactor do seu livro, The Case for Democracy : The Power of Freedom to Overcome Tyranny and Terror. (Defesa da Democracia . O poder da liberdade para vencer a tirania e o terror). Foi a ele que foi confiado , no fim de 2023, por Benjamin Netanyahu, um plano visando reduzir ao mínimo a população palestiniana de Gaza [5].

De forma específica, Sharansky é o presidente do ISGAP. É um sionista revisionista ucraniano ; discípulo de outro Ucraniano, Vladimir Jabotinsky. Ele jogou um papel central na luta contra a Rússia na época da URSS. Ele foi a principal referência dos “straussianos” do Senador Henry M. Jackson, emigrou para os Estados Unidos, foi condecorado com a medalha do Congresso por Ronald Reagan, tornou-se Ministro do General Ariel Sharon. Em 2001, criou a One Jerusalém, a associação que milita para fazer reconhecer Jerusalém como a capital única do «Estado Judaico» (e não a do Estado palestino). Hoje, dirige o ISGAP e, a este título, supervisiona quase toda a “hasbara”.

A “Hasbara” ganhou muitas lutas. A mais recente para o ISGAP foi a campanha de audiências dos reitores de universidades pelo Congresso norte-americano, que resultou em várias demissões e em sanções contra associações pró-palestinas.

No entanto, não podemos deixar de ficar surpreendidos pela ineficácia das suas campanhas internacionais contra o antissemitismo. Oitenta anos após a fundação do Estado de Israel, não apenas o problema não foi resolvido, como piorou [6]. Durante este tempo, o machismo, a homofobia e o racismo recuaram consideravelmente. Mas, é forçoso considerar que o antissemitismo é um meio de pressão das autoridades israelitas sobre a sua própria população. Lembremos que os sionistas revisionistas utilizaram o antissemitismo para fazer avançar a sua causa na diáspora.

Durante a sua conferência no Consulado Geral de Israel em Nova Iorque, o Primeiro-Ministro israelita Benjamin Netanyahu revelou que o seu país ambicionava controlar os menores de trinta e cinco anos através das redes sociais [7].

Segundo a YNetGlobal, ele lançou uma campanha para tomar o controle das redes sociais e influenciar os menores de 25 anos, o «Projet 545» [8]. Esta foi confiada à Havas Media Network, a empresa de Yannick Bolloré (filho de Vincent Bolloré e marido de Chloé Bouygues). A última concedeu à Clock Tower X LLC um contrato de US$ 6 milhões de dólares para «fornecer serviços de comunicação estratégica, planeamento e de média (mídia-br) em apoio ao compromisso da Havas com o Estado de Israel em desenvolver e executar uma campanha nacional nos Estados Unidos a fim de lutar contra o antissemitismo». A Clock Tower é a sociedade criada por Brad Parscale após ele ter deixado a equipa de campanha de Donald Trump.

De acordo com uma sondagem (pesquisa-br) realizada para Israel nos Estados Unidos, 47% da população pensa que as FDI estão em vias de cometer um genocídio.

A ideia principal do governo israelita é a de influenciar as respostas da inteligência artificial criando uma infinidade de contas nas redes sociais que fornecerão as narrativas que o ChatGPT e os seus rivais utilizarão.

O «Project 545» é o nome de código dessa operação, financiada, para 2025, pelo valor de 545 milhões shekels, ou seja US$ 145 milhões de dólares. Ela pôs fim ao contrato de Israel com a SKDKnickerbocker, a firma de comunicação ligada ao Partido Democrata dos Estados Unidos.

Segundo Responsible Statecraft, a rede de influenciadores à qual Benjamin Netanyahu fez alusão, durante a sua intervenção no Consulado geral de Israel em Nova Iorque, teria sido formada pela Bridges Partners, a firma de Yair Levi e Uri Steinberg. A campanha, intitulada Esther Project , custou já US$ 900. 000 dólares. Crê-se que 14 a 18 influenciadores tenham publicado de 75 a 90 posts durante este período. Os custos são pagos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) israelita.

Três influenciadores foram identificados. Trata-se de
• Lizzy Savetsky, uma eminente defensora “emlinha” de Israel desde o início da guerra ;
• do empresário Ari Ackerman, neto do magnata israelo-americano Meshulam Riklis ;
• e do criador digital Zach Sage Fox.

Uri Steinberg, por sua vez, é um antigo alto funcionário do Ministério israelita do Turismo. Ele trabalha no Institute for the Study of Global Antissemitism and Policy (ISGAP) de Natan Sharansky.

Entretanto, um documento fiscal permite avaliar os custos gerais da Bridge Partners [9].

A jornalista Candace Owens — que difundiu as revelações de Xavier Poussard sobre a real identidade de Brigitte Macron — publicou capturas de ecrã (tela-br) de Charlie Kirk atestando que os seus financiamentos haviam sido cortados e que ele havia sido ameaçado dois dias antes de ser assassinado [10]. Ora Charlie Kirk acabava de tomar posição contra os massacres em Gaza.

Durante a sua intervenção em Nova Iorque, Benjamin Netanyahu declarou : «A compra mais importante em curso é (…) o TikTok. Número um. E eu espero que seja aprovada, porque pode ser substancial. E a outra ? O “X”. Precisamos de falar com Elon [Musk]. Não é um inimigo, é um amigo. Deveríamos falar com ele. Agora, se pudermos obter estas duas coisas, conseguiremos muito. Temos que lutar no combate, dar directivas ao povo judaico e dar directivas aos nossos amigos não judeus.»

A bilionária Safra Catz tornou-se Vice-presidente executiva da Oracle, a empresa de Larry Ellison, quando comprou 45% da rede social TikTok, em 25 de Setembro. Ela declarou : «Devemos integrar o amor e o respeito por Israel na cultura americana». A Oracle armazenará os dados dos utilizadores norte-americanos do TikTok nos seus computadores da nuvem (cloud-ndT).

Em simultâneo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita acaba de criar a empresa Show Faith by Work, que registou como agente de influência estrangeiro nos Estados Unidos [11]

. Desta vez, trata-se de difundir a versão oficial do ataque de 7 de Outubro e de mensagens contra a existência de um Estado palestiniano para o conjunto dos cristãos sionistas norte-americanos. Foi previsto um orçamento de 3,2 milhões de dólares, incluindo o aluguer de uma caravana que permitirá a exibição de filmes de propaganda durante as reuniões cristãs.

Fonte: Rede Voltaire