Essa não é a primeira vez que corpos de palestinos são encontrados com sinais de roubo de órgãos pelas forças israelenses durante este genocídio
17/10/2025
Transporte dos corpos de prisioneiros palestinos para o Hospital Nasser, em 16 de outubro, em Khan Yunis. [Foto: Abdallah F.s. Alattar – Agência Anadolu]
As autoridades palestinas em Gaza acusaram, nesta sexta-feira, o exército israelense de roubar órgãos de cadáveres palestinos e pediram a formação de uma comissão internacional para investigar o que chamaram de “crime horrendo”.
“O ocupante entregou 120 corpos por meio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha nos últimos três dias”, disse Ismail Thawabta, diretor do Escritório de Imprensa do Governo, à agência Anadolu, acrescentando que “a maioria chegou em estado deplorável, apresentando evidências de execuções sumárias e tortura sistemática”.
Thawabta afirmou que alguns dos falecidos foram devolvidos “com os olhos vendados e as mãos e os pés amarrados, enquanto outros mostravam sinais de estrangulamento e marcas de cordas no pescoço, indicando assassinato deliberado”.
“Partes de muitos corpos estavam faltando, incluindo olhos, córneas e outros órgãos”, observou Thawabta, o que, segundo ele, confirma que o exército israelense “roubou órgãos humanos enquanto mantinha os corpos sob custódia”, qualificando o ato como um “crime bárbaro”.
O funcionário palestino instou a comunidade internacional e as organizações de direitos humanos a “formar imediatamente uma comissão internacional de investigação para responsabilizar ‘israel’ por graves violações contra os corpos dos mártires e pelo roubo de seus órgãos”.
O exército israelense não respondeu imediatamente às acusações.
Atualmente, “israel” mantém os corpos de 735 prisioneiros palestinos, incluindo 67 crianças, segundo a Campanha Nacional Palestina pela Recuperação dos Corpos dos Mártires.
De acordo com o jornal israelense Haaretz, “israel” possui quase 1.500 corpos de palestinos da Faixa de Gaza no campo de concentração e tortura militar de Sde Teiman, no Deserto de Negev, no sul do território.
Essa não é a primeira vez que corpos de palestinos são encontrados com sinais de roubo de órgãos pelas forças israelenses durante este genocídio. No final de 2023, pouco após o começo do massacre em Gaza, e no primeiro semestre de 2024, médicos e paramédicos já haviam encontrado corpos em valas comuns que estavam desfigurados propositalmente.
Tortura e execução sumária
Um médico legista confirmou que foram recebidos 120 corpos, dos quais apenas seis foram identificados. Ele descreveu o estado da maioria dos restos mortais como catastrófico, citando inúmeros exemplos de tortura e execução entre os detidos. Por exemplo, o corpo identificado como H32 NMC 14/10/2025 mostrava sinais claros de execução por enforcamento após ter sido amarrado e vendado, com evidentes marcas de tortura. Outros corpos apresentavam queimaduras graves e amarras plásticas nos pulsos e tornozelos. O médico afirmou: “nunca vi cenas assim antes, mesmo depois de anos de experiência nesta área.”
Várias entidades palestinas e internacionais corroboraram as denúncias, confirmando os sinais claros de tortura e execução sumária nos corpos de mais de uma centena de palestinos devolvidos por “israel”.
O Dr. Munir Al-Bursh, diretor-geral do Ministério da Saúde em Gaza, declarou: “os corpos que recebemos estavam amarrados como animais, vendados e traziam sinais horríveis de tortura e queimaduras que revelam a extensão dos crimes cometidos em segredo. Eles não morreram naturalmente; foram executados depois de imobilizados. Essas pessoas não foram enterradas, ficaram armazenadas nos refrigeradores da ocupação por muitos meses.”
A equipe de campo da organização humanitária Euro-Med Monitor acompanhou a entrega dos corpos, que foram distribuídos em três lotes consecutivos: 45 na terça-feira, 45 na quarta e 30 na quinta, incluindo dezenas de restos mortais não identificados.
Exames médicos, relatórios forenses e observações da equipe de campo da organização revelaram evidências conclusivas de que muitas vítimas foram mortas após a detenção. “Seus corpos apresentavam marcas claras de enforcamento, impressões de cordas ao redor do pescoço, ferimentos causados por tiros à queima-roupa, mãos e pés amarrados com braçadeiras plásticas e vendas nos olhos”, afirmou o Euro-Med em comunicado. “Alguns corpos estavam esmagados por esteiras de tanques, enquanto outros exibiam sinais graves de tortura física, fraturas, queimaduras e ferimentos profundos.”
Por sua vez, a Sociedade dos Prisioneiros Palestinos (PPS) afirmou nessa quinta-feira (16) que os exames médicos preliminares indicam que muitas das vítimas foram executadas após serem detidas, e que algumas possivelmente estavam entre os presos mantidos em campos de concentração militares israelenses.
Segundo a PPS, médicos em Gaza que examinaram os corpos confirmaram que muitos ainda tinham as mãos amarradas, enquanto outros apresentavam marcas de vendas nos olhos — comumente inseridas por soldados israelenses nos presos palestinos durante detenções —, além de sinais de tortura severa, queimaduras, mutilações e atropelamento por veículos blindados.
A Instituição Internacional de Solidariedade com os Prisioneiros Palestinos (Tadamun) destacou que as imagens dos corpos constituem prova clara de atos de tortura e execuções extrajudiciais.
A organização explicou que os corpos mostrados nas imagens apresentavam marcas de algemas, tortura, queimaduras, mutilações e ferimentos de bala diretos na cabeça e no peito — evidências que indicam execuções extrajudiciais e configuram uma violação flagrante da Quarta Convenção de Genebra e do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.
A Tadamun acrescentou que essas provas documentadas estão em conformidade com relatórios da Anistia Internacional, da Human Rights Watch e do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), que confirmaram um padrão consistente de tortura, desaparecimento forçado e assassinato deliberado de prisioneiros palestinos em campos de detenção israelenses, incluindo Sde Teiman, Etzion e Ramla.
O Euro-Med ainda denunciou que a condição dos corpos devolvidos demonstra claramente que “israel” tratou os prisioneiros palestinos fora de qualquer estrutura legal ou humanitária, “agindo como um poder sem restrições do direito internacional, realizando assassinatos e torturas sem prestação de contas — o que reflete uma mentalidade de vingança e extermínio, e não de respeito à lei e à ordem”.
“A retórica oficial, militar e midiática que desumanizou os palestinos e normalizou sua representação como uma população digna de extermínio criou um ambiente propício à incitação e à aceitação de sua morte e tortura”, continuou a entidade. “Essa incitação se refletiu em práticas de campo que escalaram para uma brutalidade sem precedentes, privando prisioneiros e detidos de proteções básicas e resultando em prisões, desaparecimentos forçados, torturas e execuções. Esses padrões fornecem fortes indícios de intenção genocida de causar a destruição parcial ou total do grupo, configurando elementos do crime de genocídio conforme definido pela Convenção de 1948 sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio e pelas normas internacionais pertinentes”, completou.
O Hamas libertou 20 israelenses apreendidos que estavam vivos apesar do genocídio promovido por “israel” contra Gaza, e entregou os restos mortais de outros 10 em troca de cerca de 2.000 palestinos que haviam sido sequestrados e feitos prisioneiros nas masmorras sionistas.
Desde outubro de 2023, os ataques israelenses já mataram oficialmente quase 68.000 palestinos em Gaza, a maioria mulheres e crianças, tornando o território em grande parte inabitável. No total, considerando os que foram enterrados embaixo dos escombros da destruição dos bombardeios, mais de 80.000 palestinos foram martirizados em Gaza.
Fonte; Fepal