A deriva de Benjamin Netanyahu de um conservadorismo assumido para o nazismo é cada vez mais evidente. Depois de ter reivindicado a missão «histórica e espiritual» de concretizar o «Grande Israel», quer dizer, conquistar os territórios dos seus sete vizinhos, ele acaba de apelar para a transformação de Israel numa «Super-Esparta», ou seja, em militarizar o Estado e em cessar todo o comércio com os seus aliados. Se as palavras têm significado, ele não para de nos levar a compreender que suas referências são os fascistas Vladimir Jabotinsky e Leo Strauss. De deriva em deriva, ele dedicou-se a um exercício de mentira descarado perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, atribuindo ideias sombrias aos seus adversários e reclamando o direito de os continuar a massacrar.

Em 23 de Agosto de 2025, no i24 news, B. N. proclamava a sua «missão histórica e espiritual» de concretizar o “Grande Israel” do Nilo ao Eufrates.
Na semana passada alertei os nossos leitores, em particular os israelitas, contra a rápida deriva fascista — e talvez nazi, segundo a expressão de Ben Gurion a respeito de Vladimir Jabotinsky — de Benyamin Netanhayu [1]. Com efeito, sublinhei a conversão pública do Primeiro-Ministro à doutrina do «Grande Israel». Lembremos que esta expressão não visa apenas justificar a a anexação dos territórios palestinianos na sua totalidade pelo Estado de Israel, mas também o Leste do Egipto, uma parte da Jordânia e da Arábia Saudita, todo o Líbano, a maior parte da Síria e uma parte do Iraque, até voltar a redesenhar o antigo império assírio «do Nilo ao Eufrates».
Com efeito, como não nos interrogarmos sobre esta referência que o Primeiro-Ministro sempre havia evitado citar durante a sua carreira política e que ele arvora hoje em pleno «genocídio» em Gaza? O termo genocídio não é um capricho de jurista, mas o termo sabiamente pesado pelo «Comité Especial encarregue de investigar as práticas israelitas atingindo os Direitos Humanos do povo Palestiniano e de outros Árabes nos territórios ocupados», que entregou o seu relatório (referência A /79 /363), em 20 de Setembro à Assembleia Geral das Nações Unidas [2].

Em 15 de Setembro de 2025, Benyamin Netanyahu apelava à transformação da democracia israelita numa «Super-Esparta»
Pouco importa. Benyamin Netanyahu reivindica agora a sua herança complexa de fascismo e de nazismo : em 15 de Setembro, numa conferência organizada pelo “Tribunal de Contas” de Israel, o Primeiro-Ministro declarou que, agora, o mundo inteiro estava contra o Estado de Israel ( o que é falso : está é contra a sua política). Particularmente os Europeus que cedem às pressões dos seus imigrantes árabes e muçulmanos. O inimigo já não é o Hamas e o Irão, são a Bélgica e a Espanha. Além disso, prosseguiu ele, Israel deve-se transformar num país autárcico … uma «Super-Esparta». Deve abandonar as suas atividades económicas convencionais e desenvolver as suas indústrias de defesa [3] .
Benyamin Netanyahu evocou esse mito com prudência, uma vez que disse : «Somos Atenas e Esparta. Mas vamos tornar-nos Atenas e Super-Esparta». É preciso recordar que nenhum político fez referência a Esparta desde a queda do III° Reich. Era um leitmotiv dos nazis e dos seus aliados, até aos imperialistas japoneses. Todos defendiam ser Esparta contra Atenas, assim como hoje, todos alegam ser Atenas contra Esparta … salvo Benyamin Netanyahu e os “straussianos”. É por isso que, de imediato, vos dirijo para a leitura do que escrevia há dois anos atrás [4] : o homem por trás do Golpe de Estado jurídico de Netanyahu, o Israelo-Americano Elliott Abrams, não se afirma seguidor somente de Vladimir Jabotinsky, o fundador do sionismo revisionista, mas também de Léo Strauss.
Ora, Leo Strauss não era apenas um discípulo de Jabotinsky, a quem ele veio acolher em Nova Iorque com Benzion Netanyahu (o pai de Benyamin). Era um Professor de filosofia na Universidade de Chicago. Em segredo, ele formava os alunos da sua predileção. Chamava-os os seus «hoplitas» (quer dizer, os seus soldados, em referência à Grécia Antiga). Ele testava-os enviando-os a dar cabo das aulas dos seus rivais. Depois ensinava-os que para se protegerem de um possível holocausto, eles não deviam confiar nas democracias, regimes fracos, mas sim construir, por si mesmos, as suas próprias ditaduras. Foram alunos seus, como Richard Perle e Paul Wolfowitz, que aldrabaram a Secreta norte-americana e lançaram tanto os atentados do 11-de-setembro como a destruição do Afeganistão e do Iraque.
A referência a Esparta é um meio de reconhecimento que todos os fascistas compreendem. Yaïr Lapid, o chefe da Oposição, comentou declarando, no dia seguinte, na Rádio 103FM : «Esparta acabou destruída. E ele é filho de um historiador. Deixou-me espantou-me. Esparta significa uma “espada”, por que é que ele a citou ? Porque nos transformou num país em guerra. Nós não queremos ser um Estado em guerra, nós queremos ser um país próspero, próspero e bem visto no mundo inteiro. Antes de mais, ele deveria ter dito e repetido que Benzion Netanyahu era um fascista e que Esparta é uma referência indigna numa democracia, que os sobreviventes do Holocausto, os quais, fugindo a bordo do Exodus , participaram na criação do Estado de Israel, dariam voltas nas suas tumbas ao ouvir o Primeiro-Ministro evocar um mito nazi e perpetrar um genocídio.

Em 26 de Setembro, Benyamin Netanyahu declarava nas Nações Unidas «que Israel deve acabar o trabalho » em Gaza, ou seja, o genocídio em curso. UN Photo/Loey Felipe
Como se tal não bastasse, Benyamin Netanyahu não cessou de mentir perante a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas [5]. Numa sala abandonada por três quartos das delegações diplomáticas, ele alegou que o Hamas havia massacrado «1. 200 inocentes», em 7 de Outubro, quando, de acordo com a imprensa israelita, ele ordenou às FDI que matassem elas próprias militares e civis para que estes não fossem «feitos prisioneiros pelo inimigo» [6]. Ele é, portanto, responsável por metade dos mortos que anuncia. Depois, ele alegou que o Hamas apelava no seu manifesto ao «assassinato de todos os judeus do planeta», o que nunca lá constou. Ele vangloriou-se de tomar todas as medidas necessárias para proteger os civis Gazenses, enquanto todos os peritos não-israelitas – e frequentemente Israelitas— constatam o contrário. Ele acusou todos aqueles que tentam salvar os Gazenses de serem anti-semitas e de propagar o anti-semitismo, sem se dar conta que é a sua política, feita em nome de um auto -proclamado «Estado judeu», que alimenta este anti-semitismo. Ele acusou 90% do povo Palestiniano de ter apoiado os horrores do 7 de Outubro, quando eles apoiaram uma operação militar do conjunto da Resistência (à excepção da Fatah) e se dissociaram amplamente dos crimes cometidos naquele dia. Ele acusou os Palestinianos de não quererem um Estado independente ao lado de Israel, mas no lugar de Israel, quando Yasser Arafat assinou os Acordos de Oslo ao lado de Yitzhak Rabin, aceitando a «solução de dois Estados». E assim por diante.
Quando admitiremos nós que Benyamin Netanyahu não é um democrata e que é nosso dever combatê-lo antes que ele tenha morto todos os Gazenses e começado a depurar os Israelitas? Mais do que os outros, os Israelitas, cujos pais foram traídos pelas suas pátrias e entregues à barbárie nazi, deveriam insurgir-se contra aquilo em que o Estado de Israel está em vias de se tornar, não somente contra os árabes, mas também contra eles próprios.
Alva
[2] «Pratiques et activités d’implantation israéliennes affectant les droits du peuple palestinien et des autres Arabes des territoires occupés» (referência A/79/363), Comité especial encarregue de investigar as práticas israelitas afectando os direitos humanos do povo Palestiniano e outros Árabes dos territórios ocupados, Nações Unidas, 20 de Setembro de 2025.
[3] A passagem foi cortada no texto difundido pelo “site” internet do Primeiro-Ministro, mas ele é visível no vídeo do assunto. A sua intervenção começa às 4h27’’. « PM Netanyahu’s remarks at the “Fifty States – One Israel” Event at the Ministry of Foreign Affairs, with the largest delegation of American legislators to ever visit Israel », Prime Minister’s Office, September 15, 2025. [« כנס אגף החשב הכללי לדורותיו »>https://www.youtube.com/live/egQ4BDf2gDY?t=15958s], YouTube.
[4] “O Golpe de Estado dos straussianos em Israel”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 7 de Março de 2023.
[5] « Discours de Benyamin Netanyahou devant la 80° session de l’Assemblée générale des Nations unies », par Benyamin Netanyahou, Réseau Voltaire, 26 septembre 2025.
[6] “As FDI mataram mais Israelitas, em 7 de Outubro de 2023, que a resistência palestiniana?”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 20 de Fevereiro de 2025.