Em 23 de Agosto de 2025, no i24 news, B. N. proclamava a sua «missão histórica e espiritual» de concretizar o “Grande Israel” do Nilo ao Eufrates.

Na semana passada alertei os nossos leitores, em particular os israelitas, contra a rápida deriva fascista — e talvez nazi, segundo a expressão de Ben Gurion a respeito de Vladimir Jabotinsky — de Benyamin Netanhayu [1]. Com efeito, sublinhei a conversão pública do Primeiro-Ministro à doutrina do «Grande Israel». Lembremos que esta expressão não visa apenas justificar a a anexação dos territórios palestinianos na sua totalidade pelo Estado de Israel, mas também o Leste do Egipto, uma parte da Jordânia e da Arábia Saudita, todo o Líbano, a maior parte da Síria e uma parte do Iraque, até voltar a redesenhar o antigo império assírio «do Nilo ao Eufrates».

 

Este anúncio, feito exclusivamente em hebraico, quer dizer, para consumo exclusivo dos seus concidadãos israelitas, levantou vivas críticas de todos os dirigentes árabes, até chegar, em 23 de Setembro, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ahmed Attaf, Ministro de Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), declarou aí que «a ocupação israelita compromete qualquer perspectiva de criação de um Estado palestiniano independente e soberano, não apenas no terreno, mas também nos espíritos. Alimentado pelo mito do «Grande Israel», o governo israelita busca redefinir as fronteiras da região e estender a sua hegemonia desprezando o Direito Internacional e as normas que regem a coexistência pacífica entre Estados» ; uma declaração que foi retomada pelo Representante permanente da Rússia.

 

Com efeito, como não nos interrogarmos sobre esta referência que o Primeiro-Ministro sempre havia evitado citar durante a sua carreira política e que ele arvora hoje em pleno «genocídio» em Gaza? O termo genocídio não é um capricho de jurista, mas o termo sabiamente pesado pelo «Comité Especial encarregue de investigar as práticas israelitas atingindo os Direitos Humanos do povo Palestiniano e de outros Árabes nos territórios ocupados», que entregou o seu relatório (referência A /79 /363), em 20 de Setembro à Assembleia Geral das Nações Unidas [2].

 

É também a opinião de Yifat Tomer-Yurushalmi, o advogado-geral das Forças de Defesa Israelitas. Este havia alertado o Estado-Maior das FDI, dizendo que não se podia deslocar 1,2 milhões de Gazenses sem garantir o que lhes aconteceria. Mas, em 8 de Setembro, o General Eyal Amir, Chefe de Estado-Maior, ultrapassou estas objecções. É a primeira vez desde a criação do Estado de Israel que um Chefe de Estado-Maior não toma nota dos avisos de um advogado-geral.

 

Em 15 de Setembro de 2025, Benyamin Netanyahu apelava à transformação da democracia israelita numa «Super-Esparta»

Pouco importa. Benyamin Netanyahu reivindica agora a sua herança complexa de fascismo e de nazismo : em 15 de Setembro, numa conferência organizada pelo “Tribunal de Contas” de Israel, o Primeiro-Ministro declarou que, agora, o mundo inteiro estava contra o Estado de Israel ( o que é falso : está é contra a sua política). Particularmente os Europeus que cedem às pressões dos seus imigrantes árabes e muçulmanos. O inimigo já não é o Hamas e o Irão, são a Bélgica e a Espanha. Além disso, prosseguiu ele, Israel deve-se transformar num país autárcico … uma «Super-Esparta». Deve abandonar as suas atividades económicas convencionais e desenvolver as suas indústrias de defesa [3] .

Benyamin Netanyahu evocou esse mito com prudência, uma vez que disse : «Somos Atenas e Esparta. Mas vamos tornar-nos Atenas e Super-Esparta». É preciso recordar que nenhum político fez referência a Esparta desde a queda do III° Reich. Era um leitmotiv dos nazis e dos seus aliados, até aos imperialistas japoneses. Todos defendiam ser Esparta contra Atenas, assim como hoje, todos alegam ser Atenas contra Esparta … salvo Benyamin Netanyahu e os “straussianos”. É por isso que, de imediato, vos dirijo para a leitura do que escrevia há dois anos atrás [4] : o homem por trás do Golpe de Estado jurídico de Netanyahu, o Israelo-Americano Elliott Abrams, não se afirma seguidor somente de Vladimir Jabotinsky, o fundador do sionismo revisionista, mas também de Léo Strauss.

Ora, Leo Strauss não era apenas um discípulo de Jabotinsky, a quem ele veio acolher em Nova Iorque com Benzion Netanyahu (o pai de Benyamin). Era um Professor de filosofia na Universidade de Chicago. Em segredo, ele formava os alunos da sua predileção. Chamava-os os seus «hoplitas» (quer dizer, os seus soldados, em referência à Grécia Antiga). Ele testava-os enviando-os a dar cabo das aulas dos seus rivais. Depois ensinava-os que para se protegerem de um possível holocausto, eles não deviam confiar nas democracias, regimes fracos, mas sim construir, por si mesmos, as suas próprias ditaduras. Foram alunos seus, como Richard Perle e Paul Wolfowitz, que aldrabaram a Secreta norte-americana e lançaram tanto os atentados do 11-de-setembro como a destruição do Afeganistão e do Iraque.

A referência a Esparta é um meio de reconhecimento que todos os fascistas compreendem. Yaïr Lapid, o chefe da Oposição, comentou declarando, no dia seguinte, na Rádio 103FM : «Esparta acabou destruída. E ele é filho de um historiador. Deixou-me espantou-me. Esparta significa uma “espada”, por que é que ele a citou ? Porque nos transformou num país em guerra. Nós não queremos ser um Estado em guerra, nós queremos ser um país próspero, próspero e bem visto no mundo inteiro. Antes de mais, ele deveria ter dito e repetido que Benzion Netanyahu era um fascista e que Esparta é uma referência indigna numa democracia, que os sobreviventes do Holocausto, os quais, fugindo a bordo do Exodus , participaram na criação do Estado de Israel, dariam voltas nas suas tumbas ao ouvir o Primeiro-Ministro evocar um mito nazi e perpetrar um genocídio.

Em 26 de Setembro, Benyamin Netanyahu declarava nas Nações Unidas «que Israel deve acabar o trabalho » em Gaza, ou seja, o genocídio em curso. UN Photo/Loey Felipe

Como se tal não bastasse, Benyamin Netanyahu não cessou de mentir perante a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas [5]. Numa sala abandonada por três quartos das delegações diplomáticas, ele alegou que o Hamas havia massacrado «1. 200 inocentes», em 7 de Outubro, quando, de acordo com a imprensa israelita, ele ordenou às FDI que matassem elas próprias militares e civis para que estes não fossem «feitos prisioneiros pelo inimigo» [6]. Ele é, portanto, responsável por metade dos mortos que anuncia. Depois, ele alegou que o Hamas apelava no seu manifesto ao «assassinato de todos os judeus do planeta», o que nunca lá constou. Ele vangloriou-se de tomar todas as medidas necessárias para proteger os civis Gazenses, enquanto todos os peritos não-israelitas – e frequentemente Israelitas— constatam o contrário. Ele acusou todos aqueles que tentam salvar os Gazenses de serem anti-semitas e de propagar o anti-semitismo, sem se dar conta que é a sua política, feita em nome de um auto -proclamado «Estado judeu», que alimenta este anti-semitismo. Ele acusou 90% do povo Palestiniano de ter apoiado os horrores do 7 de Outubro, quando eles apoiaram uma operação militar do conjunto da Resistência (à excepção da Fatah) e se dissociaram amplamente dos crimes cometidos naquele dia. Ele acusou os Palestinianos de não quererem um Estado independente ao lado de Israel, mas no lugar de Israel, quando Yasser Arafat assinou os Acordos de Oslo ao lado de Yitzhak Rabin, aceitando a «solução de dois Estados». E assim por diante.

Quando admitiremos nós que Benyamin Netanyahu não é um democrata e que é nosso dever combatê-lo antes que ele tenha morto todos os Gazenses e começado a depurar os Israelitas? Mais do que os outros, os Israelitas, cujos pais foram traídos pelas suas pátrias e entregues à barbárie nazi, deveriam insurgir-se contra aquilo em que o Estado de Israel está em vias de se tornar, não somente contra os árabes, mas também contra eles próprios.

Tradução
Alva