A expansão dos boicotes e cortes de financiamento devido ao genocídio de palestinos em Gaza ameaça o setor de pesquisa de Israel, aumentando os temores de uma fuga de cérebros e a perda de bolsas apoiadas pela UE
The Cradle
13 de setembro de 2025

(Crédito da foto: Romain Beker)
Universidades e associações acadêmicas em toda a Europa e América do Sul anunciaram a suspensão da cooperação com instituições israelenses, citando seu papel no auxílio ao genocídio de palestinos em Gaza, informou o The Guardian em 13 de setembro.
O Trinity College Dublin anunciou neste verão (no hemisfério norte) que estava encerrando a colaboração com parceiros israelenses. Enquanto isso, a Universidade Federal do Ceará, no Brasil, já havia cancelado uma cúpula de inovação planejada com uma universidade israelense no ano passado.
Ações semelhantes foram anunciadas por instituições na Noruega, Bélgica e Espanha.
A Universidade de Amsterdã confirmou o encerramento de seu intercâmbio estudantil com a Universidade Hebraica de Jerusalém. A Associação Europeia de Antropólogos Sociais também afirmou que recusaria a cooperação com entidades israelenses e apelou aos seus membros para que seguissem o mesmo caminho.
Stephanie Adam, da Campanha Palestina pelo Boicote Acadêmico e Cultural a Israel, afirmou que as instituições acadêmicas israelenses são cúmplices do “regime de ocupação militar, apartheid colonial e agora genocídio” de Israel, que já dura décadas, e acrescentou que há “uma obrigação moral e legal para as universidades romperem laços com universidades israelenses cúmplices”.
O historiador israelense Ilan Pappé contestou as alegações de que muitos acadêmicos simpatizam com os palestinos.
“Se fosse assim, eu os teria visto entre as poucas centenas de corajosos israelenses que se manifestam contra a guerra porque ela é um genocídio, não porque ela não traz de volta os reféns… Eles oferecem cursos e diplomas para o serviço secreto, a polícia e são agências do governo que oprimem diariamente os palestinos”, acrescentou.
O Prêmio Nobel e ex-presidente da Royal Society, Venki Ramakrishnan, disse ter “sentimentos mistos em relação aos boicotes”.
“Por um lado, a abordagem do governo israelense em relação a Gaza tem sido extremamente desproporcional, prejudicando milhares de civis, incluindo crianças pequenas”, disse ele ao The Guardian.
No Reino Unido, França e Alemanha, poucas instituições tomaram medidas.
Um porta-voz da Universities UK afirmou: “Como órgão representativo, a Universities UK tem uma posição pública de longa data de compromisso com a livre troca de ideias, independentemente de nacionalidade ou localização. Como tal, não apoiamos boicotes acadêmicos generalizados, pois isso representaria uma violação da liberdade acadêmica.”
Há preocupações em Tel Aviv de que pesquisadores deixem Israel, potencialmente para nunca mais retornar, alimentando uma “fuga de cérebros” que já é uma preocupação na medicina.
Ghassan Soleiman Abu Sittah, cirurgião britânico-palestino e reitor da Universidade de Glasgow, disse que estudantes e acadêmicos em todo o Reino Unido têm pressionado por boicotes acadêmicos a Israel, mas estão sendo bloqueados por órgãos governamentais.
“A indignação moral com o que os israelenses estão fazendo está levando cada vez mais acadêmicos a tomarem decisões pessoais, a não terem projetos conjuntos com israelenses”, disse ele.
Fonte: The Cradle