Todos os candidatos ‘viáveis’, em todas as eleições presidenciais nos EUA desde a invasão do Iraque, foram/são favoráveis à guerra 1

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Detalhes da Guerra do Iraque - História - Colégio Web

11/10/2020, Caitlin Johnstone (em Strategic Culture Foundation)


O mais poderoso governo de toda a Terra ainda não conseguiu ter sequer uma, que fosse, uma, uma eleição cujo principal candidato não apoiasse um dos feitos mais malignos do governo de seu país.

Os EUA cometeram muitas, muitas, muitas coisas profundamente malignas ao longo de sua história, mas a invasão do Iraque, em 2003, sem dúvida aparecerá sempre entre as ‘dez mais’. Os EUA mataram mais de um milhão de seres humanos, desestabilizaram toda uma vasta região, criaram condições para que prosperassem perversidades como o ISIS e Al Nusra e facilitaram que crescesse nova onda de intervencionismo no Oriente Médio. Tudo isso, sem qualquer benefício para o povo norte-americano. O que é absolutamente imperdoável.

Mas foi como se todos esses crimes não tivessem tido consequência alguma. Nada mudou de verdade nas instituições militares, governamentais, políticas ou de comunicações de massa nos EUA, para impedir que atrocidade similar jamais volte a acontecer – pela suficiente razão de que os que comandam a política externa dos EUA estão absolutamente decididos a repetir o que fizeram no Iraque. Os crimes ficaram impunes, não houve qualquer consequência política, como se vê pelo fato de que políticos que apoiaram e promoveram a guerra contra o Iraque ascenderam na estrutura dos respectivos partidos, e são hoje candidatos – um Democrata, outro Republicano, à presidência dos EUA.

A insanidade é total. O fato de todas as disputas eleitorais para o posto de comandante-em-chefe do mais poderoso exército de toda a história da civilização trazerem pelo menos um candidato que apoiou e promoveu a ação mais supremamente maléfica de toda a história nacional dos EUA, toda ela encharcada em sangue, é por demais insano, insanidade que não cabe em palavras. E diz muito sobre o estado do sistema político norte-americano, hoje.

O indicado dos Democratas para disputar a presidência na eleição de 2020 é exemplo particularmente notável dessa insanidade: não apenas apoiou a invasão do Iraque como, além disso, teve papel destacado no trabalho de promover e fazer avançar a guerra. Current Affairs explica.

Em 2003, Biden foi “senador obcecado com conseguir uma guerra [no Iraque]. Foi quem ajudou a vender a fúria do governo Bush ao público norte-americano”; votou a favor – e ajudou a fazer avançar a agenda Bush.” No Senado, foi o incentivador “mais crucial”, sempre promovendo a guerra. Biden repetia o mito segundo o qual Saddam Hussein teria armas de destruição em massa; dizia que “aquelas armas têm de ser arrancadas de Saddam Hussein, ou Saddam Hussein têm de ser arrancado do poder.” A guerra resultante dessa campanha de insanidades foi uma das catástrofes mais mortais de toda a história da política exterior dos EUA – com mortos que chegam à casa das centenas de milhares ou possivelmente, de milhões, e 4.500 soldados norte-americanos mortos.  E isso quanto aos mortos, sem contar os mutilados para sempre, ou afetados pela Síndrome da Desordem Pós-traumática, sem cura possível.  Para cada morto ou mutilado permanente, há uma família que lutará até o fim de seus dias para enfrentar as próprias perdas. Essa não é questão ociosa ou trivial: quando se vota para eleger um comandante-em-chefe, ninguém jamais desejará alguém capaz de lançar catastróficas guerras de agressão.

Antes de Biden, foi Hillary Clinton, a qual como senadora dos EUA, não só votou a favor  da guerra contra o Iraque, como também promoveu enfaticamente a guerra  na tribuna do Senado; e depois, mais de um ano depois da invasão disse que não lamentava ter feito o que fez.

“Não, não me arrependo de ter concedido autorização ao presidente [para invadir o Iraque], porque naquele momento estávamos no contexto das armas de destruição em massa, os EUA estávamos sob grave ameaça e, claramente, Saddam Hussein já era problema bem real para a comunidade internacional por mais de uma década” – Clinton disse a Larry King, em abril de 2004.

Diferente de Hillary e Biden, o opositor Donald Trump não estava em posição da qual pudesse facilitar ativamente a invasão do Iraque, porque naquele momento não estava na política. Mas em 2002, Howard Stern perguntou-lhe diretamente, de surpresa: “Você é a favor de os EUA invadirem o Iraque?” e Trump respondeu que sim. Se Trump naquele momento não conseguia ver claramente o Iraque, de onde estava, longe do centro político, nada sugere que tivesse optado por posição menos vergonhosa que Biden e Clinton, caso fosse senador dos EUA em 2002, sob pressões terríveis para se curvar ao que fazia o governo Bush.

Antes desses todos, foi o candidato dos Republicanos Mitt Romney em 2012, que disse num debate antes das primárias Republicanas, em 2008, que “A decisão de atacar o Iraque foi a decisão certa. Apoiei naquele momento, apoio agora.”

Tudo isso foi muito depois de todos os fatos já serem conhecidos e de já ser óbvio, há anos, que até a mais amoral análise de ‘custo/benefício’ demonstrava que a invasão do Iraque fora desastre absoluto, baseado em mentiras, que gerou montanhas de problemas a mais, do que resolveu qualquer coisa.

Antes ainda, foi John McCain em 2008, o qual, em suas desculpas psicopáticas para uma vida de apoio à guerra, não só contra o Iraque, mas contra praticamente tudo e todos e sempre.

E em 2004 foi John Kerry, concorrendo contra o próprio açougueiro estripador em pessoa, George W Bush, que votou a favor da guerra de Bush, em 2002.

Quanto mais se pensa, maior o escândalo. O mais poderoso principal servidor eleito do governo mais poderoso da Terra, com a mais poderosa força militar que o mundo jamais conheceu, de modo algum poderia envaidecer-se por tomar tantas decisões tão horrendamente malignas. E é insanidade que alguém ainda precise escrever isso.

Causa náuseas o modo como ativistas de esquerda e anti-imperialismo são apresentados como privilegiados e arrogantes, cada vez que fazem lembrar o currículo de algum candidato, no que tenha a ver com essas questões de importância decisiva, crucial. Não se trata de algum tipo de arrogância ou pedantismo. Exigir que o candidato se comprometa com resistir contra a guerra é o mínimo que todos deveriam exigir de quem se candidate a ocupar posição de tanto poder. O argumento de que a invasão do Iraque foi apoiada pela maioria dos principais políticos naquele momento não é defesa do que são e fazem aqueles políticos: é a mais impressionante prova da indignidade em que está mergulhada a ‘grande’ política dos EUA.

Ninguém que algum dia tenha apoiado a invasão do Iraque poderia estar ainda ativo, hoje, na vida política dos EUA. Deveriam todos já ter sido impedidos de assumir qualquer posto que lhe dê poder de influência superior ao de uma caixa registradora. É perfeitamente legítimo que o eleitor rejeite todos e todas e quaisquer que algum dia tenham apoiado a imperdoável invasão do Iraque. De fato, é perfeitamente legítimo que rejeitem todo o sistema político que permitiu que aquela gente crescesse, prosperasse e aí esteja, em 2020, como representantes do povo dos EUA.*******

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Um comentário sobre “Todos os candidatos ‘viáveis’, em todas as eleições presidenciais nos EUA desde a invasão do Iraque, foram/são favoráveis à guerra

  1. Responder Sérgio de Carvalho Oliveira out 15,2020 23:43

    Infelizmente parece que não veremos nunca a condenação de todos estes criminosos de guerra (Bush, Cheney, etc) à forca, como fizeram com os nazistas em Nuremberg, nem à prisão perpétua, nem mesmo à uma simples prisão.
    Enquanto grassa esta impunidade revoltante, pois foram destruídos vários países além do Iraque, vemos o grande herói dos tempos modernos Julian Assange padecer de forma atroz sob o tacão da (In)Justiça Britânica.
    Não importa se democratas ou republicanos, praticamente todos os “políticos” do “establishment” estadunidense têm a mentalidade racista e imperialista, que se traduz facilmente em atos genocidas.

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