Macron está mais perto do Hezbollah?

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Por Yusuf Fernandez para Al Manar

O presidente francês Emmanuel Macron parece estar buscando um entendimento com todas as forças libanesas, incluindo o Hezbollah, como refletiu sua recente visita ao Líbano.

O presidente francês pediu um governo de unidade nacional no Líbano e rejeitou os apelos que poderiam envolver tensões na comunidade ou a perda de tempo valioso, como a convocação de eleições antecipadas. Ele se opôs, neste sentido, àqueles que buscavam incitar o Hezbollah, conforme expressou durante uma reunião no Palácio de Al Sanawar, em Beirute.

Alguns líderes do 14 de março acreditavam que com o incidente no porto de Beirute em 4 de agosto eles poderiam buscar ganhos políticos atacando o governo Diab, que foi apoiado pelas forças de coalizão de 8 de março, e o Hezbollah. Eles acreditaram que poderiam repetir o cenário de 2005, quando o assassinato do Primeiro Ministro Rafiq Hariri serviu de pretexto para realizar protestos contra a presença da Síria e contra seus aliados no Líbano. Eles acreditavam que Macron adotaria um papel semelhante ao de Jacques Chirac naquele ano no apoio às forças pró-Ocidente e anti-Síria.

Macron, entretanto, os desapontou. Ele se reuniu com representantes de oito forças políticas libanesas, convidados pela Embaixada da França, para se encontrar com ele no Palácio de Al Sanawar: Saad Hariri (Corrente do Futuro), Muhammad Raad (Hezbollah), Gebran Bassil (Movimento Patriótico Livre) , Sami Gemayel (Falange), Ibrahim Azar (representando o Movimento Amal liderado por Nabih Berri), Walid Yumblatt (Partido Socialista Progressivo), Suleiman Franyieh (Movimento para Marada) e Samir Geagea (Forças Libanesas).

De acordo com o jornal Al Akhbar, o presidente francês levou quatro mensagens a esses líderes:

– A necessidade de organizar um diálogo interno.
– A necessidade de implementar reformas econômicas antes do início de setembro.
– A formação de um governo de unidade nacional.
– A necessidade de não perder tempo com desavenças importantes.

Macron teve o cuidado de não se alinhar com as forças do 14 de março, que clamavam por um governo neutro, eleições antecipadas e uma investigação internacional sobre a explosão no porto, todas rejeitadas. O presidente francês favoreceu um governo de unidade nacional “sem excluir ninguém”.

É importante destacar que o encontro de Macron com os representantes dos oito grupos ocorreu depois de ter se reunido exclusivamente com o representante do Hezbollah, o presidente do grupo parlamentar Lealdade à Resistência Mohammad Raad, e a conversa entre eles durou mais. além do que é esperado. Fontes do Hezbollah não revelaram o que foi discutido na reunião, mas foi um primeiro encontro entre o presidente francês e o partido libanês, incluído na lista negra dos EUA. Ele rejeitou um encontro individual com os líderes dos outros partidos e preferiu um encontro com todos eles ao mesmo tempo, o que constitui deferência política ao Hezbollah e sua credibilidade nos esforços para combater a corrupção.

A França busca, assim, ter contatos privilegiados com o Hezbollah, como evidenciado por sua recusa em colocar o partido na lista negra da França ou da UE, conforme solicitado pelos americanos e israelenses. A França vê o papel do Hezbollah como crítico para prevenir a eclosão de uma crise econômica aguda e caos de segurança no Líbano.

Mas os esforços de Macron não se limitam apenas ao Líbano. Também quanto ao Irã, parece que a França quer fazer algo a respeito do confronto entre Teerã e Washington, poucos meses antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos. No processo, o Irã acaba de anunciar que alguns de seus ativos foram liberados graças aos esforços da Alemanha e do Reino Unido. Macron também ofereceu ao Irã a adesão ao grupo internacional de apoio ao Líbano.

Isso ocorre no contexto de um acirramento do confronto entre a França e a Turquia, que acaba de criticar a recente visita de Macron ao Líbano, apresentando-o com uma intenção neocolonialista. Macron, por sua vez, referiu-se durante sua visita a Beirute ao que chamou de “a intervenção turca no norte do Líbano”, lembrando as “consequências” de tais intervenções em “outros lugares” (referindo-se à Líbia, que testemunha um intenso conflito franco-turco). A França também teme a presença crescente da China no Líbano, o que seria prejudicial aos interesses franceses naquele país.

Em suma, os franceses parecem ter deduzido que as sanções dos países ocidentais acabam se voltando contra si próprios e abrindo as portas para a presença crescente de outros países como a China ou a Turquia em detrimento de seus interesses. Nesse sentido, Macron parece ter inaugurado uma tendência bem-vinda ao realismo na esfera europeia.

Traduzido por Oriente Mídia

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