Braia: A resposta está nos novos ares 2

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Por Nathaniel Braia*.

A luta política no Oriente Médio está atingindo picos de intensidade. Próximo à Europa, reserva energética estratégica, com o apartheid israelense incrustado, na intersecção de três continentes, tracionado entre um passado religioso e de formação de latifúndios e clãs, diante da visão de um renascimento nacional, com base no papel indubitavelmente progressista dos califados e grandes civilizações da aurora da humanidade, com lideranças herdeiras das guerras de liberação anticolonial da África e da Ásia, a região se debate, a luta entre o avanço e o retrocesso dá ideia de um vulcão em erupção.

As ruas do Cairo, nos meses mais recentes, refletem a condensação de um processo em que uma nova história pode estar sendo escrita. Não podemos ter mais dúvidas de que de todos os riscos de aborto da revolução da Praça Tahrir, o mais grave era a transformação do Egito em uma teocracia ditatorial submissa à Europa e aos EUA. As evidências dessa tendência, materializada no breve governo de Mursi, aparecem diante de nós, cada vez mais, de forma clara que só os cegos ou puristas inúteis se negam a enxergar.

O governo que acaba de assumir é interino. Para garantir a sua sobrevivência diante de um fascismo com base em fanatismo religioso – com ampla base de massas (sem dúvida) – o comando militar e a Frente de Salvação Nacional teve que recorrer a concessões a indesejáveis setores do mubarakismo.

Foram errados os que, no Brasil, recorreram a Sarney e Albano Franco para isolar a moribunda e infecta ditadura, que apesar de agônica empesteava o ar da nossa jovem e lotada de escaramuças e batalhas vida republicana? A derrocada da ditadura brasileira não resolveu todos ou mesmo boa parte dos problemas nacionais, mas abriu passo a uma nova e riquíssima etapa de debates e refregas sem a qual não poderíamos almejar a nada de progressista e significativo em termos de vida e construção de uma real nacionalidade. Duvido que alguém seja hoje capaz de defender o contrário. Na época, houve aqueles que preferiam manter a fatiota limpa a imergir no Colégio Eleitoral e arrancar a vitória conduzindo o continuísmo entregue a Maluf a uma derrota importante para seguirmos adiante.

Então, meus amigos, por que agora nos escudarmos nos aspectos atrasados que a aliança necessária para derrotar o mursismo apresentam para defender a inação perante o risco que o governo deposto representava para qualquer avanço popular e democrático no Oriente Médio. Só para ressaltar um aspecto bastante significativo e que não deve passar desapercebido dos progressistas brasileiros: dias antes de sua queda, o governo Mursi fechou sua embaixada na Síria e expulso do Egito o embaixador sírio. Vejam que o novo governo, se  não foi capaz de reconhecer que a República Síria luta por sua soberania e, neste sentido, condenar a intervenção império-colonial, tem mantido uma posição muito mais equidistante e cuidadosa dos fatos e da luta que se desenrola no país vizinho.

Segundo fato: o presidente egípcio interino acaba de mandar o principal agente do Império na região (depois da Israel, é claro), o governo turco, se meter com seus negócios depois que este declarou que por trás do “golpe” antimursista estava o governo de Israel. O recado de Adly a Erdogan deve nos demonstrar algo. Vejam a declaração:

“A identidade árabe e islâmica do nosso governo é clara”, diz o presidente interino ao repudiar a hostilidade turca. Ora as viúvas do Império Otomano se arvoram agora em vestais da pureza islâmica e da democracia na região? Agora ficam apontando quem se alinha ou não com Israel? Afinal, não foi a Turquia o único governo da região a nunca romper com Israel mesmo diante das maiores barbaridades cometidas contra o povo palestino?

Por fim não sou eu quem diz, mas o líder nasserista Hamdeen Sabahi: “Está em curso uma luta contra o terrorismo no Egito e estamos vencendo esta batalha”. Outras virão. Não nos neguemos a estudar e a tomar posição do lado do avanço.

Nathaniel Braia é editor internacional do Jornal Hora do Povo.

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2 thoughts on “Braia: A resposta está nos novos ares

  1. Responder Assad ago 21,2013 15:45

    Análise de extrema precisão e visão política singular. Parabéns Braia.

  2. Responder Amaro Sérgio Azevedo ago 24,2013 17:47

    Saudações para Nataniel Braia que conheci ha 1/4 de século.
    Publiquei um artigo dele sobre o Egito.

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