Em França, a Secretária de Estado encarregue da cidadania, Sonia Backès, tenta desacreditar as opiniões não-conformistas. Ela equipara-as às derivas sectárias. O Estado, anunciou, organizará “julgamentos das derivas sectárias e do conspiracionismo” (sic). Na União Soviética, colocavam os opositores em hospitais psiquiátricos.

A liberdade de expressão era uma característica do Ocidente desde o século XVIII. Foi essa a base sobre a qual o sistema político da classe média foi construído: a democracia. O princípio segundo o qual a vontade geral surgiria do confronto de diversas opiniões não era contestado. Qualquer ataque a essa liberdade era visto como um golpe dado à resolução pacífica dos conflitos.

No entanto, no início do século XX, quando a Guerra Mundial dilacerou o Ocidente, os Britânicos, depois os Norte-Americanos, não hesitaram em utilizar meios modernos de propaganda, não apenas face aos seus inimigos, mas também contra a sua própria população [1]. Pela primeira vez, governos democráticos puseram em prática programas para enganar seus concidadãos. No fim desta guerra, os Britânicos orgulhavam-se dos seus sucessos, deixando entrever uma possível utilização da propaganda de guerra em tempos de paz. Além disso, quando o sistema económico capitalista foi ameaçado e mesmo antes de ser desencadeada a Segunda Guerra Mundial, as democracias e a liberdade de expressão foram postas entre parêntesis, e a propaganda foi retomada, primeiro em Itália e na Alemanha, depois em todo o Ocidente.

Desde há três quartos de século, os Ocidentais juram defender os seus valores e não aplicar mais a propaganda para uso interno.

Hoje em dia, tal como nos anos 30, o actual sistema capitalista está ameaçado pelo desenvolvimento das desigualdades entre os eleitores de uma maneira que nunca tínhamos conhecido.

Se o industrial Henry Ford dizia, durante a crise de 1929, que o salário de um patrão não devia exceder 40 vezes o de um dos seus operários, hoje o de Elon Musk é 38,5 milhões de vezes superior ao de alguns de seus empregados nos Estados Unidos. O princípio democrático « Um homem, um voto » já não tem nenhuma relação com a realidade.

É neste contexto que a liberdade de expressão tem sido contestada pelos Ocidentais. As redes sociais, nomeadamente o Facebook e o Twitter, censuraram governos e, finalmente, o Presidente dos Estados Unidos. Eles não violavam a Constituição, uma vez que essa apenas garantia esta liberdade face aos abusos do poder político. O facto de Elon Musk ter acabado de comprar o Twitter e de ter anunciado querer torná-lo uma rede livre não muda aquilo que se passou. Já se instalou a ideia de que não se pode dizer tudo.
Os intelectuais percebem que vamos mudar de regime económico e político. No decurso dos últimos anos, muitos deles transformaram-se em apoiantes do Poder, seja ele financeiro ou político, e abandonaram a sua função crítica. Seja qual for a evolução, eles estarão do lado do mais forte. Desde há seis anos, não param de nos avisar para o perigo das Fake News, quer dizer, de informações tendenciosas e da necessidade de controlar o que as pessoas dizem e escrevem. O seu discurso distingue as pessoas que estão do lado da verdade das que lavram no erro, negando o princípio da igualdade democrática.

Enredados na armadilha de Tucídides, os Anglo-Saxões provocaram a guerra civil na Ucrânia e a intervenção russa para lhe por fim. Pouco a pouco, o Ocidente entra em guerra, no sentido militar, contra a Rússia e, no sentido económico, contra a China. Todas as ideias feitas segundo o qual não é possível guerrear com potências com as quais temos intensas trocas económicas são desmentidas. Tal como durante as duas Guerras Mundiais, o mundo divide-se em dois campos que estão em vias de se separar.

Assim, no Ocidente a propaganda governamental está de volta.

Pela primeira vez, o escrutínio presidencial dos EUA de 2020 foi contestado. O Congresso declarou Joe Biden o vencedor, mas na realidade ninguém pode afirmar quem ganhou. Não é possível, como durante o caso Bush v. Gore (2000), recontar os boletins porque o problema não está aí: em muitos lugares, a contagem dos votos decorreu à porta fechada. Talvez ninguém tenha trapaceado, mas não houve transparência na eleição; um procedimento essencial em democracia. Já em 2000, o Supremo Tribunal Federal havia posto fim à recontagem dos votos, considerando que a Constituição não faz referência à eleição do presidente por sufrágio universal directo, mas que a remete para a vontade de cada Estado. Em virtude disso, a modo pela qual a Florida designara o vencedor não era da alçada das instâncias federais.

Antes de qualquer outro debate, as eleições de meio de mandato são, portanto, dominadas pela questão do não-respeito dos procedimentos democráticos pelo campo « Democrata ».

Extracto das minutas do « Conselho de governança da desinformação ».

Estados Unidos

Os Estados Unidos dispõem de um Centro de Envolvimento Global (GEC), ou seja, de uma estrutura, no seio do Departamento de Estado, para coordenar os discursos oficiais dos seus aliados. Têm também, ainda no Departamento de Estado, um subsecretariado encarregue da propaganda no estrangeiro sob o título de « Diplomacia Pública e Relações Públicas » (Public Diplomacy and Public Affairs). Todavia, em abril de 2022, mais um passo foi dado: o « Presidente proclamado », Joe Biden, assessorou-se com uma especialista em propaganda, Nina Jankowicz.

O Secretário da Segurança da Pátria, o antigo juiz Alejandro Mayorkas, criou um « Conselho de Governança da Desinformação » (Disinformation Governance Board) e confiou-lhe a direção. Tratava-se, nada mais, nada menos, do que reconstituir o dispositivo de propaganda de guerra criado pelo Presidente Woodrow Wilson em 1917 [2]

Nina Jankowicz foi apresentada como uma jovem pesquisadora, especialista em «desinformação russa». Na realidade, era uma empregada do National Democratic Institut de Madeleine Albright, encarregado de defender os interesses dos Bidens na Ucrânia.

Esta encantadora dama trabalhou na equipe do candidato Volodymyr Zelensky, o atual Presidente da Ucrânia [3]. Anteriormente, em plena guerra civil, ela estava ao serviço de Pavlo Klimkin, o Ministro dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) do Presidente Petro Poroshenko. Ela opunha-se então aos Acordos de Minsk, muito embora tivessem sido avalizados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Durante esta longa estadia na Ucrânia, desenvolveu uma teoria sobre a “desinformação russa” à qual consagrou um livro: « Como perder a Guerra da Informação, Falsas Notícias e o Futuro do Conflito » (How to Lose the Information War: Russia, Fake News and the Future of Conflict). Esquecendo a realidade da guerra civil e dos seus 20. 000 mortos, ela expunha neste todos os clichês atuais sobre os malvados russos que queriam estender o seu império ao Donbass, assim mentindo aos Europeus. Durante este período, Nina Jankowicz utilizou a associação ucraniana StopFake, subsidiada pela National Endowment for Democracy (ou seja, pela CIA), pelo Governo britânico e por George Soros, a fim de fazer crer que o Golpe de Estado do Maidan fora uma revolução popular [4].

No vídeo abaixo, ela não cessa de mentir e faz a apologia das milícias « nacionalistas integralistas » Aidar (da qual a Amnistia Internacional havia já denunciado a prática da tortura), Dnipro-1 e, evidentemente, do batalhão Azov.

Em 2018, ela defendeu a milícia nazi C14 [5] garantindo que esta não tinha realizado “pogroms” contra os Ciganos; que tudo isso era … desinformação russa.

Esta perita em mentiras, não parou de mentir de novo nos Estados Unidos a respeito das acusações de traição inventadas contra Donald Trump (o dossier Steele) e para negar os crimes de Hunter Biden [6]. Ela foi mesmo ao ponto de apresentar o computador do filho do Presidente, apreendido pelo FBI, como uma « invenção russa ».

Perante as críticas, o Conselho de Governança da Desinformação foi dissolvido em 17 de maio [7], no entanto, minutas de uma estrutura dentro da Cybersecurity and Infrastructure Security Agency (Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura – CISA), uma agência do Departamento de Segurança da Pátria, mostram que ele persiste sob uma outra forma [8]. Além disso, segundo o Inspetor-Geral da Administração, a sua função continua a ser necessária [9].

Reino Unido

Os Britânicos, esses, preferiram apoiar-se numa «associação», o Institute for Strategic Dialogue, para fazer em lugar do Governo aquilo que este pretende fazer sem assumir responsabilidades. Este “Think-Tank”, criado por Lord George Weidenfeld, Barão Weidenfeld, um « sionista de aço » segundo suas próprias palavras, é suposto lutar contra o extremismo. Na realidade, também se consagra a espalhar mentiras para abafar verdades gritantes. O ISD redige relatórios da sua própria iniciativa (ou melhor, da do governo britânico), mas também a pedido dos governos europeus que o financiam.

O que é verdadeiro para os inventores da propaganda moderna acaba também a ser “verdade” na Europa.

Polônia

Em fevereiro, quer dizer, logo no início da guerra na Ucrânia, o Conselho de Defesa polaco (polonês-br) ordenou à sociedade francesa Orange, que é o principal provedor de acesso à Internet neste país, que censurasse vários sítios Internet, incluindo o da Rede Voltaire (Voltairenet.org). Contactada por carta registada, esta não quis transmitir-nos a carta das autoridades polacas. Quanto a estas, elas simplesmente não nos responderam. De acordo com os tratados europeus, o Conselho de Defesa tem autoridade para impor uma censura militar com fins de Segurança Nacional.

Itália

Em março, o geógrafo italiano Manlio Dinucci, que escrevia uma coluna no diário de esquerda Il Manifesto, viu-se subitamente censurado quando mencionou o plano, elaborado em 2019, da Rand Corporation para a guerra na Ucrânia [10]. O Corriere della Sera revelou então um programa governamental de vigilância de personalidades qualificadas como « pró-russas » [11]. A agência de notícias ANSA revelou mesmo um número do Hybrid Bulletin que o Departamento italiano de Informação para a Segurança (Dipartimento delle Informazioni per la Sicurezza) lhe consagra [11].

Alemanha

Na Alemanha, a Ministra do Interior, a social-democrata Nancy Fraeser, criou também um órgão de controle. Indo muito mais além do que os outros, ela fixou-lhe como missão « harmonizar as notícias » nos média (mídia-br). Há vários meses, no maior sigilo, reuniu os grandes patrões da imprensa e explicou-lhes aquilo que não deve ser publicado.

A Itália e a Alemanha viveram uma cruel experiência de censura durante o fascismo e o nazismo, é pois particularmente preocupante vê-los seguir este caminho. As mesmas causas produzem sempre os mesmos efeitos. Não é, portanto, surpreendente que, pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a Itália e a Alemanha tenham recusado, em 4 de Novembro de 2022, na Assembleia Geral das Nações Unidas, votar uma Resolução condenando o nazismo.

Tradução
Alva