Síria: Parte de uma guerra maior

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Estado Islâmico é mantido por Israel, EUA, Qatar…
Síria. No dia em que o rei saudita Abdullah morreu, o braço armado que representa os sauditas na guerra contra a Síria – o Jaish al-Islam de Zahran Alloush – disparou foguetes contra Damasco. Alloush anunciou por Twitter que faria “chover centenas de foguetes sobre a capital durante o dia todo, em resposta à barbárie que o regime cometera com ataques aéreos no Ghouta”. A guerra entre Alloush e o governo de Bashar al-Assad tornou-se guerra menor, mas nem por isso é escaramuça menos mortal na guerra maior no Iraque e Síria. Os inimigos do Presidente Bashar al-Assad não são absolutamente gentis, e assaltam áreas civis sem descanso e com requintes de crueldade.
Os ataques israelenses dentro da Síria contra o Hezbollah, da resistência libanesa, só complicarão cada vez mais a situação. Confrontos nas Fazendas Shebaa, uma parte do Líbano ocupada por Israel, poderia ter-se convertido em mais uma guerra de Israel contra o Líbano. Enquanto foguetes voavam nas duas direções, o Estado Islâmico distribuiu documento no qual dizia que seria “prematuro” declarar um emirado no Líbano. Beirute respirou aliviada. São raras as boas notícias na região.
Mais para o norte, o Estado Islâmico sofreu duas derrotas militares. Em Kobane – a Stalingrado dos curdos – as Unidades de Proteção do Povo Curdo [ing. Kurdish People’s Protection Units (YPG) finalmente conseguiram expulsar os milicianos do Estado Islâmico. Ataques pela Força Aérea da coalizão dos EUA ajudaram a cortar as linhas de suprimento do Estado Islâmico, embora a sempre porosa fronteira com a Turquia sempre lhes garanta algum socorro.
Também no Iraque, a Brigada Badr, uma milícias de xiitas, atacou o Estado Islâmico na província de Diyala, que foi libertada. Nem o exército iraquiano nem o exército sírio tiveram qualquer função nessas duas derrotas infligidas ao Estado Islâmicos. Mas o Estado Islâmico é difícil de eliminar. O grupo desapareceu dessas áreas, e encontrou outras áreas onde se abrigar. Um ataque pelo Estado Islâmico em Kirkuk tirou a vida de um respeitado líder curdo-iraquiano, brigadeiro-general Sherko Shwany; o Estado Islâmico mostrou que continua no jogo. Empurrado para fora do Iraque e do norte da Síria, talvez assuma afinal a via que o levará ao norte da Jordânia.
O Estado Islâmico manteve preso um piloto jordaniano, tenente Mu’ath al-Kaseasbeh, durante um mês, mas só ameaçou executá-lo depois da queda de Kobane e Diyala. Disse que pouparia a vida do piloto, se a Jordânia libertasse uma quase-suicida-bomba iraquiana Sajida al-Rishawi (a bomba dela não explodiu, num ataque em 2005 em Amã, Jordânia); mas fracassaram as negociações sobre a libertação da moça, e o Estado Islâmico executou dois reféns japoneses. Ao que se sabe, o piloto jordaniano continua prisioneiro do Estado Islâmico. As tensões estão subindo na Jordânia, sobre o papel do reino na coalizão contra o Estado Islâmico. É precisamente o tipo de fissura que o Estado Islâmico quer ver crescendo na Jordânia. Qualquer passo para o sul, fará soar os sinos de alarme na Arábia Saudita.
 
Mu’ath al-Kaseasbeh; foto maior, de branco
Entrementes, um alto oficial da inteligência jordaniana me informa que já ruiu completamente a tentativa dos EUA para criarem uma força moderada contra o Estado Islâmico. A [operação] Müs’terek Operasyon Merkezi, que a CIA construiu com aliados na Turquia já fracassou. Um depois do outro, todos os grupos rebeldes que a CIA arregimentara trocaram a CIA por outras formações – mais recentemente, foi o Exército Mujahedin que se uniu à Frente Islâmica, grupo que reúne dois outros afiliados da al-Qaeda, Ahrar al-Sham e a Frente al-Nusra.
Verdade é que nem os EUA nem a Arábia Saudita têm qualquer agenda que faça algum sentido na Síria. Permanecem obcecados com derrubar o governo do presidente Assad, mas já estão em pânico ante o crescimento do Estado Islâmico. Quanto maior a audácia do Estado Islâmico em seu território natal, mais potentes os ecos enviados para a Líbia e para o interior da Península Árabe.

[*] Vijay Prashad é professor de estudos internacionais no Trinity College. Dentre outros livros, é autor de The Darker Nations: A People’s History of the Third World e Arab Spring, Libyan Winter.
Publica artigos regularmente em Asia Times OnlineFrontline MagazineCounterpunch. É usualmente entrevistado pela TRNN – The Real News Network  sobre Geopolítica e Política internacional; é também Editor-Chefe do LeftWord Books, Nova Delhi. É colunista de al-Araby al-Jadeed e Information Clearing House
Fonte Rede castor
Tradução Vila Vudu
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