Síria: Em terras alawitas

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Publicada em 25 /11/2014 Irã News

Masyaf, Síria,

(Prensa Latina) Rodeados pelas chamadas Montanhas dos Alauitas, dezenas de povos esparramados entre campos de árvores de oliveiras e figos dão as boas-vindas aos visitantes no município de Masyaf, na província central síria de Hama.

Com seus mausoléus, templos romanos e castelos, a região se destaca por seus vários sítios religiosos e históricos.

Imponente, levanta-se a Cidadela no meio da localidade de Masyaf, construída pelos bizantinos e famosa por ser um dos centros dos Hashshashin, conhecidos como a Seita dos Assassinos.

Localizada no vale do Orontes, em uma elevação de 20 metros, a obra foi construída pelo Império Bizantino para proteger as caravanas que por ali passavam e depois foi reformada pelos nizaríes, os mamelucos e os otomanos.

O lugar é popular por ser um baluarte dos nasridas ismailitas, um grupo religioso proveniente do Islã xiita, e cujos opositores chamaram depreciativamente e sem provas de Hashshashin (fumantes de haxixe).

Devido aos ataques dos líderes sunitas, majoritários na região, os nasridas se especializaram em matar a seus oponentes mediante todo tipo de técnica, incluindo o veneno, o que lhes atribuiu uma fama tenebrosa.

Por esse motivo, o termo ‘Hashshashin’ se popularizou no Ocidente latino e deveio na palavra ‘assassino’.

Na cidade também se destaca seu singelo zoco, ou mercado tradicional, onde se vendem todo tipo de produtos.

Diferente do resto o país, onde há muitas áreas desérticas, o município está pintado de verde pelas numerosas árvores que se perdem de vista.

No alto de uma colina, um quartel de bombeiros tem a missão de combater os habituais incêndios dos bosques circundantes.

A poucos quilômetros de Masyaf está o povoado de Deir Salib, que se destaca pelas ruínas de um templo romano, que ainda conserva sua cúpula quase intacta.

Perto dali se encontra a humilde localidade de Rabu, famosa entre os alauitas por seus vários sepulcros dedicados a santos.

Entre eles os principais são de Ahmed Salana, de São João Batista, São Sérgio e de Yusuf Rabu, quem lhe dá nome à aldeia, de cerca de três mil habitantes.

Este último é muito visitado pelos alauitas de todos os cantos da Síria, Líbano e Turquia, que deixam um grande número de oferendas.

Decorado com tapetes, o nicho que guarda o sarcófago deste santo está coberto de versões do Corão, quadros e fotos de shahids (mártires) que caíram combatendo os grupos armados presentes na Síria.

Esta região pagou um preço alto pela guerra que o país luta contra grupos extremistas patrocinados pelos Estados Unidos e seus aliados.

Aqui as imagens dos mártires cobrem os postes de eletricidade das principais ruas, as vezes sem asfalto.

Rabu se debate entre o orgulho e a dor pelos seus 73 jovens mortos na frente de combate.

Cheias de flores, fotos e bandeiras sírias, ao redor de vinte de tumbas a escassos 500 metros da aldeia são o lembrete da guerra contra o terrorismo.

Algumas famílias preferem enterrar seus seres queridos nas terras de seus antepassados, rodeados de árvores de oliveiras e figos.

Tal é o caso de Adib Mahfud, Hakim Razuk e Ahmad Musa, que morreram combatendo durante a batalha de Qaddam, nos arredores de Damasco em janeiro de 2014.

Ao se inteirar que seus amigos da infância estavam cercados, Musa, que se recuperava de uma ferida, voltou a Qaddam e ali caiu. Agora os três descansam juntos em singelos sarcófagos, entre oliveiras.

Acima de cristãos e drusos, os alauitas, um grupo religioso proveniente do Islã xiita, são o principal alvo dos extremistas sunitas, que os consideram hereges e apóstatas e portanto são assassinados sem misericórdia.

Ante tal situação, não é de estranhar a mobilização massiva em apoio ao governo e às forças armadas.

Ao amanhecer, enquanto várias pessoas saem a trabalhar na terra, uma idosa com o tradicional isharb (lenço que cobre a cabeça) visita uma tumba acompanhada de sua neta.

Por uma rua sem asfalto, um homem com uma jaqueta camuflada se desloca em uma cadeira de rodas automática devido às lesões sofridas em combate.

Ahmed Musa relata como foi ferido em uma perna nos combates na oriental província de Deir Ezzor, e agora, depois de se recuperar, acaba de ser chamado novamente às filas.

Com orgulho especial, os vizinhos contam a história de Saado Loulo, que com seus 65 anos se somou ao exército depois de perder seus três filhos. Perto dali, a situação é similar no povoado de Deir Salib, conhecido por sua combatividade.

Quase 60 tumbas espalhadas em uma ladeira se converteram em um lugar de peregrinação e homenagem.

“Há aqueles que se comprometeram a lutar e cumpriram sua palavra” reza uma das lápides de mármore, abundantes nesse campo santo, de onde se pode ver grande parte de Deir Salib.

Nestas aldeias é difícil encontrar grupos de homens jovens ou adultos, só restam idosos e meninos, ou feridos durante os combates. Aqueles aptos a empunhar um fuzil estão na frente [de combate].

Apesar da perda de seus seres queridos e da situação econômica que recai sobre a região, seus habitantes são otimistas. Estamos com o presidente Bashar al Assad, afirma cheia de orgulho Hassibah, mãe de sete filhos.

*Correspondente da Prensa Latina na Síria

 

 

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